sexta-feira, 12 de julho de 2013

Programa de Cooperação Brasil-Israel recebe dez projetos com investimentos de US$ 31 milhões em P&D


11/07/2013
Programa de Cooperação Brasil-Israel recebe dez projetos com investimentos de US$ 31 milhões em P&D

Brasília (11 de julho) - O Programa de Cooperação Tecnológica Brasil-Israel recebeu entre os meses de março e junho dez projetos para o desenvolvimento conjunto de tecnologia nos setores de Saúde, Defesa, Energia Renovável e Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC). Caso todos sejam aprovados, o investimento em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) pode chegar a US$ 31,2 milhões nos próximos três anos.

Esse valor pode aumentar, uma vez que o prazo para a apresentação de novas propostas foi prorrogado até o dia 14 de novembro, a pedido das empresas. Os recursos virão dos bancos públicos e agências de fomento dos dois países.

A parceria firmada pelo Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio Exterior (MDIC), do Brasil, e a Agência de Fomento à Pesquisa e Desenvolvimento Industrial (MATIMOP, na sigla em inglês), de Israel, prevê a união de empresas dos dois países para o desenvolvimento tecnológico. Para o secretário de Inovação do MDIC, Nelson Fujimoto, o número de projetos apresentados demonstra a importância do programa. “É grande o interesse das empresas nesse tipo de cooperação com parceiros estrangeiros”, afirmou.

O cientista-chefe do Ministério da Economia de Israel, Avi Hasson, disse que o fortalecimento das conexões com o Brasil é uma prioridade para o governo de Israel em razão do grande interesse demonstrado pela indústria do seu país. “Nosso programa bilateral demonstra a importância da cooperação internacional para a promoção da inovação e da tecnologia”, disse.

Prorrogação
Como quase metade das 62 empresas brasileiras e israelenses registrou-se no site do Programa de Cooperação somente no mês de junho, os governos dos dois países decidiram prorrogar o prazo de inscrição dos projetos de P&D até o dia 14 de novembro, a pedido dos empresários. Nesse período, essas empresas poderão negociar parcerias e apresentar novos propostas, sem qualquer prejuízo às empresas que já apresentaram seus projetos de cooperação.

As dez propostas já apresentadas serão avaliadas imediatamente e, em caso aprovação, poderão pedir o financiamento antes de novembro. O edital com o novo cronograma e as demais informações sobre o programa estão disponíveis no site http://www.brasilisrael.mdic.gov.br .

A cooperação tecnológica entre Brasil e Israel está prevista no Memorando de Entendimento assinado em 2007. As empresas são convidadas a elaborar propostas de cooperação em pesquisa e desenvolvimento (P&D) que resultem no desenvolvimento de novos produtos, processos ou serviços de aplicação industrial.

Os interessados em participar contarão com assistência no processo de busca de parceiros, o mecanismo conhecido como matchmaking. Além de permitir que as empresas brasileiras desenvolvam tecnologias inovadoras com novos parceiros e de facilitar a inserção internacional dessa produção, o programa de cooperação com Israel oferece uma oportunidade de financiamento para o mesmo projeto nos dois países.

Mais informações para a imprensa:Assessoria de Comunicação Social do MDIC
(61) 2027-7190 e 2027-7198
ascom@mdic.gov.br

ANP diz que OGX poderá ter que devolver Tubarão Azul


Caso a petroleira de Eike Batista considere que não tem condições de tocar o projeto, ela terá que devolver o campo para a agência

Mariana Durão e Wellington Bahnemann, do
Divulgação
plataforma da OGX
Plataforma da OGX no campo Tubarão Azul: a Superintendência de Desenvolvimento da Produção da ANP está analisando a viabilidade econômica do campo

Rio - A OGX poderá ter que devolver o campo de Tubarão Azul, caso a Agência Nacional do Petróleo (ANP) o considere viável. A Superintendência de Desenvolvimento da Produção da ANP está analisando a viabilidade econômica desse campo.

No dia 1º de julho a OGX anunciou que o campo, seu único polo produtor na Bacia de Campos, deve cessar vazão em 2014.

De acordo com a diretora-geral da ANP, Magda Chambriard, dos três poços de Tubarão Azul um produziu muito pouco mas outros dois têm uma produção "que merece ser mais bem analisada". A partir dessa análise e da capacidade produtiva desses poços a ANP definirá se considera Tubarão Azul econômico ou não.

Caso a avaliação seja positiva, a agência avisará à OGX que deve submeter um novo plano de desenvolvimento da área. Caso a petroleira considere que não tem condições de tocar o projeto, ela terá que devolver o campo.

"A comercialidade é uma questão intrínseca de cada companhia. Um campo pode ser comercial para uma empresa e não ser para a outra", disse Magda. Essa definição, explicou, depende da produtividade dos campos mas, também, de quanto se gasta para produzir nos mesmos.

A diretora-geral da ANP se reuniu nesta quinta-feira com a superintendência de produção e aguarda uma resposta sobre a análise na próxima semana.

Leilão do pré-sal

Em relação ao leilão do pré-sal, Magda afirmou que o número de participantes dos consórcios que irão disputar o campo de Libra, será limitado a sete empresas, incluindo a Petrobras e a Pré-sal Petróleo S.A (PPSA). Com isso, o governo abre espaço apenas para que os consórcios sejam por até cinco empresas não ligadas ao governo federal.

Por ser tratar de um dos maiores projetos da indústria de petróleo no mundo, a tendência era que os consórcios formados para disputar o leilão de Libra fossem compostos por um grande número de companhias, o que dificultaria o gerenciamento pela ANP.

Nesse sentido, o órgão regulador considerou que o número ideal de participantes seria de sete empresas. "Só que, com a Petrobras e PPSA, o número de participantes dos consórcios subiria para nove", afirmou.
Com isso, a ANP decidiu limitar para cinco o número de participantes dentro de um consórcio, que, com a Petrobras e a PPSA, chegaria a sete. Segundo Magda, tirando a Petrobras que terá um porcentual mínimo garantido de 30% no consórcio vencedor, não há exigência de porcentual mínimo de participação para as demais empresas.

"O que vamos licitar é 70% do projeto. Se uma empresa tiver participação de 1%, as outras demais do consórcio terão que suprir isso", explicou a diretora.

Dilma chega ao Uruguai e diz que manifestações têm de ser respeitadas


 
 
Ao desembarcar em Montevidéu (Uruguai) na noite dessa quinta-feira (11/7), para a reunião de cúpula do Mercosul, a presidente Dilma fez um balanço dos protestos promovidos em todo o país. 

Segundo ela, “as manifestações têm que ser respeitadas” porque reivindicar direitos sociais “e querer mais é algo muito positivo para a democracia”.

A presidenta criticou, no entanto, as interrupções de rodovias e os atos violentos que, em sua opinião, precisam ser condenados e coibidos pelo governo.
    
“Nós contamos também com o Judiciário, para multar aquelas organizações e aquelas entidades que paralisam estradas porque o direito de ir e vir é fundamental. É um direito democrático”, disse Dilma, em entrevista na porta do hotel em que está hospedada. Para ela, o governo deveria acelerar as reformas para atender às demandas da população. 
 
“Precisamos de melhor serviço no Brasil”. A presidente lembrou que, nos últimos dez anos, o país “avançou de forma expressiva”. Essas conquistas, disse, “vieram para ficar e não serão de nenhuma forma abaladas”. Cabe agora “aumentar os direitos sociais”.
 
O ministro da Educação, Aloizio Mercadante – que acompanha a presidenta na viagem a Montevidéu – também criticou o bloqueio de estradas porque “prejudica a vidas das pessoas e não constrói nada – não gera mais democracia, nem mais direitos sociais”.
 
 
Ele disse que as manifestações precisam ser respeitadas, mas que os manifestantes também precisam respeitar os direitos dos outros. “Isso faz parte do amadurecimento e acho que está cada vez mais sólido”.
 
Mercadante considera que os protestos estão “mais moderados”. Segundo ele, o Brasil está encerrando um ciclo. Para o ministro, a inflação vai cair. Ele voltou a defender destinação de 75% dos recursos dos royalties do petróleo e dos rendimentos do Fundo Social à educação e de 25% à saúde. 
 
Mercadante lembrou a licitação para o campo de Libra, na Bacia de Santos, em outubro. “É a maior licitação da história da economia internacional do petróleo. São entre 8 bilhões e 12 bilhões de barris. A estimativa é que Libras produza, em 35 anos, US$ 1 trilhão aproximadamente. Usar essa riqueza para a educação é um grande avanço”, completou.
  Fonte: Agência Brasil.

Não residente no Brasil poderá ter CPF para investir no mercado brasileiro



 
 
Convênio com a Receita Federal permitirá à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) atender não residentes interessados em obter CPF para investir no mercado brasileiro.

Pelo convênio, o serviço pode ser prestado por prazo indeterminado.
 
  "A CVM terá acesso via web service ao sistema CPF da RFB [Receita Federal do Brasil], permitindo que tanto o cadastro do investidor na CVM como a sua inscrição no CPF sejam realizados on-line por meio de um procedimento único", diz um comunicado da CVM. 
 
Segundo o órgão regulador, ainda não há uma data precisa para esse acesso pela internet estar implementado. Está previsto para o segundo semestre. Segundo a CVM, o convênio é um esforço conjunto das duas instituições para reduzir custos administrativos e aperfeiçoar o atendimento destes investidores que, nos termos da legislação em vigor, devem se inscrever no CPF e se cadastrar junto à CVM antes de realizar investimentos no mercado brasileiro.  
 
Assinado no fim de maio, o convênio prevê que a CVM poderá cobrar até R$ 5,70 pelo atendimento. A medida era aguardada pela BM&FBovespa, interessada em fomentar a negociação de ações brasileiras por pessoas físicas no exterior.
 
  
 Fonte: G1.globo.com

Mercado atento com queda de preços de importados e exportados nos EUA em junho


 
 
 
Os preços de importados e exportados nos EUA caíram em junho pelo quarto mês consecutivo, um sinal de crescimento econômico mais fraco no mundo que pode pesar sobre a economia norte-americana e preocupar as autoridades.

Os preços de importados caíram 0,2 por cento no mês passado, pressionados por outro mês de queda nos custos fora da categoria de combustíveis, mostrou o Departamento de Trabalho nesta quinta-feira, resultado abaixo do esperado em pesquisa da Reuters, com previsões de estabilidade de preços no período.

Já os preços de exportados recuaram 0,1 por cento, provavelmente refletindo a fraqueza na demanda global, que vem sendo atingida pela crise de dívida na Europa e a desaceleração do crescimento na China.


Fonte: Agência Brasil

Economia encolheu 1,4% em maio, na maior queda desde 2008, mostra BC


Do UOL, em São Paulo

A economia do Brasil encolheu 1,4% em maio em comparação com abril, segundo dados divulgados nesta sexta-feira (12) pelo Banco Central (BC). É a maior queda registrada desde dezembro de 2008, quando o indicador recuou 4,31%.

O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) é considerado uma prévia do PIB (Produto Interno Bruto).

Analistas consultados pela agência de notícias Reuters esperavam queda mensal de 0,9%.
O resultado anulou a alta vista em abril, quando houve crescimento de 0,96%, número revisado ante avanço de 0,84% divulgado anteriormente.

Na comparação com maio de 2012, o IBC-Br avançou 2,61% e acumula em 12 meses alta de 1,89%, ainda segundo o BC.
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Veja quais são os presidentes que tiveram 'pibinho'8 fotos

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Desde 1948, quando o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil começou a ser medido, sete presidentes enfrentaram anos de "pibinho", quando a economia brasileira cresceu menos de 1%, parou, ou até diminuiu. Vejam quais são: Leia mais UOL

Indústria recuou 2% e varejo ficou estável

O desempenho da indústria exerceu forte peso sobre a economia em maio, uma vez que recuou 2% ante o mês anterior principalmente com a piora nos bens de capital, uma medida de investimentos.

As vendas no varejo, por sua vez, não conseguiram atenuar o efeito negativo da indústria, já que mostraram estabilidade em maio ante abril, destacando a debilidade do consumo no país, abalado pela inflação alta, num setor que vinha sendo o motor da economia.

O IBC-Br é uma forma de avaliar e antecipar a evolução da atividade econômica brasileira. O índice incorpora informações sobre o nível da atividade dos três setores da economia: indústria, comércio e serviços e agropecuária.

O acompanhamento do indicador é considerado importante pelo BC para que haja maior compreensão da atividade econômica.

Economia brasileira patina

Na terça-feira (9), o FMI (Fundo Monetário Internacional) reduziu a previsão de crescimento da economia do Brasil para 2,5%. Em abril, a entidade já havia rebaixado a estimativa para o PIB de 3,5% para 3%.

Ainda assim, a previsão do FMI é maior do que a das instituições financeiras consultadas pelo BC para o Boletim Focus, que é de 2,34%.

Confederação Nacional da Indústria (CNI) também reduziu na semana passada a previsão de crescimento da economia brasileira para 2%.

Ainda na onda de pessimismo com a economia do país, no fim de junho, o Banco Central rebaixou sua estimativa de alta do PIB: cortou de 3,1% para 2,7%.

Até mesmo o governo reconheceu que deve rever para baixo a previsão de crescimento da economia para este ano, após o fraco resultado obtido no primeiro trimestre. A previsão de crescimento da economia já havia sido reduzida em abril, de 4,5% para 3,5%. As estimativas estão no projeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO).

Ao mesmo tempo, na última quarta-feira, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC elevou em 0,5 ponto percentual o juro básico do país para 8,50% ao ano, diante da necessidade de combater a inflação elevada. 

Brasil cresceu 0,6% no primeiro trimestre

A economia brasileira cresceu 0,6% no primeiro trimestre de 2013 em relação ao trimestre anterior. Em relação ao primeiro trimestre de 2012, o crescimento foi de 1,9%. Em valores correntes, o PIB alcançou a marca de R$ 1,11 trilhão.

Os dados vieram abaixo do crescimento esperado pelo mercado (0,9%). Nos últimos meses, o governo não tem feito previsões sobre os indicadores econômicos para evitar críticas.

Pão, carro e novela entram na conta; clique na imagem abaixo e entenda

  • Raphael Salimena/UOL
(Com Reuters e Valor)

quinta-feira, 11 de julho de 2013

INDÚSTRIA ‘HALAL’ EMPREGA REFUGIADOS MUÇULMANOS





O perfume de especiarias preenche o ambiente. Ayeda Lotfi Qodiseh cozinha. Os filhos e o marido acompanham o futebol pela televisão. De um cômodo a outro da casa de madeira, Ali, o filho do meio, anda e conversa aos berros com a mãe enquanto coloca os pratos na mesa. Samir, o marido, sentado no sofá, pede o isqueiro para Ammar, o primogênito, que lhe entrega, sem tirar os olhos da tela. Doha, a caçula, sai do quarto. A família tem visitas. Sarmad e Yamen, jovens de 20 e poucos anos, vieram para ver o jogo. Vão ficar para o jantar.

A cena poderia ser um retrato do cotidiano nos subúrbios de Bagdá. Mas as araucárias que se veem pela janela e, é claro, o exaltado locutor brasileiro da partida entre Palmeiras e Internacional denunciam que estamos no Brasil.

Um Brasil de sotaque árabe, onde, todos os dias, em média, 570 mil aves são abatidas em nome de Alá. Com pouco mais de 35 mil habitantes, Dois Vizinhos, no Paraná, já ganhou fama como a capital nacional do frango. Sua economia, baseada na avicultura, é a consolidação de um processo econômico de 30 anos, que trouxe, aos poucos, novos ingredientes à já plural formação cultural da cidade. Gaúchos descendentes de italianos que subiam para colonizar o oeste paranaense foram os primeiros a se fixar ali. Em seguida vieram os alemães, de Santa Catarina, os poloneses, oriundos de colônias mais ao sul, e os japoneses, que desciam do norte do estado.

O aumento na demanda de importação de carne de frango pelos países árabes nos anos 1980 gerou uma oportunidade para o setor. Assim como outros frigoríficos espalhados no Brasil, a empresa alimentícia sediada em Dois Vizinhos adaptou sua planta à exportação ao Oriente Médio. Para que o negócio seja efetivado, as aves devem ser sacrificadas de acordo com um conjunto de regras islâmicas que categoriza o alimento como halal, “ou seja, lícitos, liberados”, me explica o moçambicano Cubilas Juma Ibraim, o xeque da mussala de Dois Vizinhos, uma sala de orações que faz as vezes de mesquita. “As aves têm de estar viradas para Meca, e a pessoa que realiza o abate deve ser um homem muçulmano, que pronuncia a palavra bismillah [‘em nome de Deus’] toda a vez que sua faca tira a vida de um animal”, completa Imad Ismail, supervisor, em Dois Vizinhos, do Departamento de Halal do Centro de Divulgação do Islã na América Latina, que presta consultoria para o frigorífico.

A necessidade de homens muçulmanos para o halal trouxe os primeiros islamitas à cidade. Hoje, por volta de 50 estrangeiros, vindos de Palestina, Iraque, Jordânia, Líbano, Síria, Egito ou de países da África subsaariana, como Sudão, Costa do Marfim, Burkina Faso, Congo, Guiné e Senegal, estão contratados. Há também um número pequeno do Paquistão, de Bangladesh e, claro, do Brasil – alguns deles convertidos há pouco tempo. A maioria está em Dois Vizinhos como imigrante. Muitos, porém, tiveram a condição de refugiados reconhecida. Eles comprovaram que as razões para deixar os países de origem foram perseguição política, religiosa ou conflitos armados. Segundo o Ministério da Justiça, existem no Brasil, hoje, 4 500 refugiados.

A família Qodiseh está nessa lista, e viveu uma odisseia para chegar a Dois Vizinhos. Sentados na sala, enquanto tomamos café, servido em pequenas xícaras sem alça, Ali ajuda o pai, Samir, servindo-lhe de intérprete.

Filho de um palestino refugiado em Bagdá, Samir nasceu em 1953. Em 2003, a guerra no país colocou a família de novo em movimento. Assim como outros conterrâneos no Iraque após a queda do regime de Saddam Hussein, os Qodiseh corriam riscos com a onda de violência sectária por parte de milícias iraquianas. Ele e a esposa venderam tudo e partiram de Najaf, onde viviam, no interior, em direção à Jordânia. Ainda como refugiados palestinos – mesmo que fossem nascidos dentro de seu território, o Iraque não concedia cidadania aos palestinos –, os Qodiseh cruzaram a fronteira e se estabeleceram no campo jordaniano de Ruwaished, a 70 quilômetros do Iraque, sob a tutela das Nações Unidas.

Khaled Qodiseh, irmão de Samir, fez o mesmo em Bagdá, onde morava com a esposa, Ikhlas, e seus quatro filhos. Ao cruzar a fronteira entre o Iraque e a Jordânia, o primeiro grande problema apareceu. Por ser iraquiana, Ikhlas não podia ser aceita no campo. Durante seis meses, a família foi obrigada a ficar em outro acampamento, da Cruz Vermelha. Dois anos se passaram até que Khaled conseguisse se juntar ao irmão.
À espera de um destino, as famílias viveram todo esse tempo em barracas de lona. As temperaturas atingiam os 50ºC durante o dia. À noite, o frio imperava. Tempestades de areia e infestações de escorpião eram problemas cotidianos. Aos poucos, o campo de Ruwaished foi sendo evacuado até sua extinção, em dezembro de 2007. Ali Qodiseh, hoje com 20 anos, tinha 15. Sua prima Farah, filha de Khaled, tinha 5.

Em 10 de setembro de 2007, os Qodiseh deixaram a Jordânia. A família fez parte dos últimos 108 palestinos que foram trazidos de lá ao Brasil pelo programa Reassentamento Solidário, do Comitê Nacional para Refugiados, o Conare, órgão vinculado ao Ministério da Justiça, em parceria com o Alto Comissário das Nações Unidas para Refugiados, o Acnur. O programa é dedicado ao atendimento especial de refugiados que já estiveram em outros países, ou seja, que receberam um primeiro refúgio antes de chegar ao Brasil. Aqui, foram levados a Mogi das Cruzes, em São Paulo, onde, por meio de uma organização não governamental, receberam documentos, aulas de português e apoio financeiro. A primeira oportunidade de trabalho surgiu para Ammar Qodiseh e seu primo Mohammed. Os dois jovens foram pioneiros em Dois Vizinhos. Os pais de ambos, os irmãos Samir e Khaled, se juntaram a eles depois de uma tentativa frustrada de se estabelecer em Chuí, no Rio Grande do Sul.

Pergunto aos Qodiseh o que acharam da cidade quando chegaram. A resposta é direta: muito tranquila, mas difícil para os estrangeiros. Ali, que já carrega o sotaque cantado dos paranaenses, conta sua história emblemática do dia em que um garçom de uma lanchonete lhe pediu para que parasse de conversar com os amigos em árabe, pois isso incomodava os outros clientes. Após um silêncio enfático, Ali sublinha com o olhar quão ofensivo isso lhe pareceu.

Ayeda, a mãe, fala que sente falta do convívio com outros moradores. “No Iraque, as pessoas se visitam muito. Moramos nesta casa há três anos, mas só começamos a conversar com uma das vizinhas após a morte de seu marido”, diz ela.

Dois Vizinhos é uma cidade jovem. Fundada em 1961, o conjunto arquitetônico é composto por belas casas de madeira, com pequenos jardins bem cuidados, onde as famílias se reúnem para o chimarrão nos fins de tarde, e residências de alvenaria e prédios de dois ou três andares nada charmosos – sintoma do progresso econômico. O comércio do centro é agitado. Os carros fazem filas na avenida principal e, às vezes, competem por espaço com uma ou outra charrete. Aos domingos, jovens montados em caminhonetes brilhantes circulam com música sertaneja em volume alto pelas ladeiras.

Em um conjunto de sobrelojas de um bairro afastado, o Igrejinha, vive a maioria dos estrangeiros não árabes que trabalham no abatedouro. Nos horários de troca de turno, é comum ver homens negros de quase 2 metros de altura caminhando pela longa rua em declive que se origina no alto do morro, onde está o frigorífico.

Encontro o senegalês Cheikh Beye à porta de um dos apartamentos, ao lado de uma loja que expõe fogões a lenha na calçada. Vestido com o uniforme da seleção de futebol do Senegal, Beye me cumprimenta sem levantar os olhos. Assim como outros encontros com africanos em Dois Vizinhos, ele a princípio se recusa a compartilhar sua história. Mas a presença de Ali Qodiseh, meu guia na cidade, aos poucos alivia a desconfiança.

Em 2009, com 30 anos, conta ele, em um português arrastado, Beye deixou a esposa em Dacar, capital de seu país, para buscar trabalho em São Paulo. Na metrópole, foi absorvido pelo comércio informal da rua 25 de Março. Dois anos depois, cansado de perder mercadoria para os fiscais, ele decidiu aproveitar a indicação de um amigo senegalês para trabalhar em um abatedouro no Paraná. Os planos de Beye incluem ficar no Brasil, mas não em Dois Vizinhos. “Em São Paulo, você se sente parte da multidão. Aqui, não. O ônibus pode estar lotado que ninguém se senta a nosso lado, mesmo se só tiver aquele lugar vago.”

Um pequeno livro, Português para Falantes de Árabe, repousa em uma mesa na casa de Ikhlas Qodsieh. Ela esforça-se para contar sua história em português, mas logo pede socorro à filha Farah Qodiseh, de 12 anos, que domina com fluência os dois idiomas.

Khaled, marido de Ikhlas, tinha problemas cardíacos. Quando chegaram a Dois Vizinhos, buscaram acompanhamento médico, mas não conseguiram realizar o exame pelo sistema público de saúde brasileiro. Khaled contatou o escritório da Acnur em Brasília para pedir ajuda financeira e recorrer a clínicas particulares. A garota, então com 7 anos, era a única que falava e compreendia nosso idioma. Farah conta, com veemência, que, meses depois, seu pai “não foi ao médico, teve um infarto e morreu”. A informação é confirmada em um aceno de cabeça de Ikhlas.

Segundo o Acnur, Khaled recebeu todo o apoio possível dentro das condições do programa Reassentamento Solidário – que atua por mais tempo com os refugiados realocados mais de uma vez (portanto mais vulneráveis) do que com aqueles que estão em seu primeiro asilo. Como Dois Vizinhos está fora da área de atuação de uma associação parceira – a mais próxima é a Associação Antônio Vieira, de Porto Alegre –, o acompanhamento de situações particulares é mais difícil. “Em um país do tamanho do Brasil, fica impossível ter logística e recursos para atender a todas as demandas. Por isso, recomendamos que permaneçam próximos às regiões em que haja uma instituição parceira”, diz Andrés Ramirez, representante do Acnur no Brasil.

Após o término dos benefícios do programa em 2011, Ikhlas conta com a ajuda dos filhos, e vive com as filhas Farah e Hanan, de 21 anos, que trabalha, estuda e faz cursos profissionalizantes – sua jornada de três períodos impede que eu a encontre em sua casa. Farah, porém, está sempre com a mãe. Sorridente, traz, orgulhosa, o boletim do colégio enquanto conta que quer ser médica. Ao lado das notas do terceiro bimestre, sua caligrafia, ainda infantil, declara: “Passei!” O único espaço em branco é ao lado da matéria de ensino religioso. “Mas essa não vale nota”, diz.

Quando transcrevo o nome da garota em meu bloco de anotações e mostro para Ikhlas conferir a grafia. Ela confirma: “Farah. ‘Alegria’”.

O jantar está quase servido. Na casa da família Qodiseh, o clima é de festa. Ammar provoca Ali com sua camisa vermelha do Internacional. O time vence o Palmeiras por 2 a 1. Doha vem do quarto observar os últimos minutos da partida. Os jovens Sarmad e Yamen, no Brasil há pouco, interagem menos. Ainda não tiveram tempo de ser arrebatados pelo culto ao futebol brasileiro. Samir, o pai, observa a movimentação sentado no sofá. E fuma, quieto.

Ayeda Qodiseh põe os pratos na mesa: biryani, um arroz cozido com especiarias, macarrão, frango, batata, amendoim e ervilha. O iogurte é caseiro, e serve tanto para cobrir o biryani quanto como bebida, em versão mais líquida, batida no liquidificador com um pouco de sal.

Repetimos os pratos. Dona Ayeda está satisfeita com a casa cheia. Só depois de todos comerem, ela se senta à mesa. Sorri e murmura algo para o filho traduzir. Ali, com seu inconfundível sotaque paranaense, diz: “Piazada, esta casa é de vocês! As portas estão sempre abertas”.

Confirmo, então, a frase que li em um panfleto que me foi entregue na mussala de Dois Vizinhos. “O profeta disse: ‘Não é um crente aquele que enche seu estômago enquanto seu vizinho está com fome’.” E, em meio aos perfumes e às vozes que tanto viajaram, degusto meu café e a hospitalidade árabe nos rincões do Paraná.
Fernando Honesko
(NatGeo Brasil – 04/07/2013)