domingo, 20 de outubro de 2013

Libra não terá dinheiro do Tesouro', diz Mantega

 

 

 

 

Libra não terá dinheiro do Tesouro', diz Mantega

João Villaverde, Adriana Fernandes, Lu Aiko Otta e Marcelo Moraes | Agência Estado

A Petrobras tem totais condições de pagar sua parte bilionária no leilão do bloco de pré-sal do campo de Libra, que ocorre amanhã, e, por isso, não contará com nenhuma ajuda do Tesouro Nacional. A informação é do ministro da Fazenda, Guido Mantega, que também é o presidente do conselho de administração da estatal do petróleo. "Não haverá qualquer interferência do Tesouro no leilão de Libra", assegurou Mantega, em entrevista exclusiva ao Estado, concedida de seu gabinete em Brasília.

Como, pelo regime de partilha da produção, que será inaugurado com a exploração do bloco de Libra, a Petrobras vai deter no mínimo 30% do consórcio que vencer o leilão de amanhã, a estatal também terá de pagar, no mínimo, o equivalente a 30% do bônus de assinatura do contrato. O bônus foi definido em R$ 15 bilhões, e a parcela da Petrobras será de pelo menos R$ 4,5 bilhões. "A companhia tem caixa para isso", disse Mantega.

Ao tirar qualquer possibilidade de o Tesouro auxiliar a Petrobras, o ministro da Fazenda sinaliza com um objetivo maior, que é o de melhorar a situação fiscal do País. Principal alvo das críticas de economistas, investidores internacionais e agências de rating, a política fiscal brasileira tem sofrido, entre outros aspectos, pelos recorrentes repasses bilionários de recursos do Tesouro para o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Na entrevista ao Estado, Mantega informou pela primeira vez a quantia que o BNDES receberá do Tesouro em 2013 - serão R$ 35 bilhões, ao todo.

Assim, um empréstimo de R$ 20 bilhões do Tesouro para o BNDES será autorizado nos próximos dias, uma vez que uma primeira parcela de R$ 15 bilhões já foi transferida em junho, por meio de aumento de capital do banco.

Mantega também falou sobre os rumos da política fiscal, garantiu que o ano eleitoral de 2014 não vai alterar a condução da economia em Brasília, e arriscou que o Produto Interno Bruto (PIB) do ano que vem pode crescer 4% caso a economia mundial melhore de forma mais consistente.
A seguir, os principais trechos da entrevista.

Muito tem se falado que, dada a situação de caixa da Petrobras, por causa do congelamento do preço da gasolina e a obrigação de realizar investimentos, que o Tesouro Nacional poderia auxiliar a estatal no leilão de Libra. É verdade?

Mantega - Absolutamente não. O Tesouro não dará nem nunca deu ajuda para a Petrobras. Não cabe a ele fazer isso. O Tesouro não vai participar da operação de Libra, não tem por que participar. Na capitalização da empresa, em 2010, foi outra história. O governo vendeu 5 bilhões de barris à Petrobras, e ela nos pagou por isso, em exploração. Mas não haverá qualquer interferência do Tesouro no leilão de Libra.

Mas, com as dificuldades de caixa, a Petrobras terá condições de pagar pelo menos R$ 4,5 bilhões pelo bônus de assinatura do contrato? Isso se ela não superar os 30% de participação mínima, o que vai exigir ainda mais recursos...

Mantega - Claro que terá condições. A Petrobras tem caixa para isso, eu sei porque sou o presidente do conselho de administração da empresa. O caixa da Petrobras tem várias dezenas de bilhões de reais. Não vou dizer quanto porque isso é confidencial. Mas posso dizer que o caixa da Petrobras é semelhante ao de empresas do seu porte e magnitude. Ela tem caixa, e quando falta ela faz captações externas, para complementar as necessidades. Neste ano ela deve investir ao todo R$ 97 bilhões, e no primeiro semestre captou US$ 11 bilhões.

O leilão de Libra é muito criticado pela esquerda, porque ele representa a entrega do petróleo para multinacionais, e pela direita, que o considera estatizante, diante da participação obrigatória da Petrobras. Como o sr. vê?

Mantega - O leilão de Libra não é estatizante. Ele será fruto de uma parceria entre o setor publico e o privado, porque a Petrobras não tem o monopólio como tinha no passado. Ela tem 30%, pode ter até um pouco mais, e deverá se juntar a grupos privados para a exploração desse poço maravilhoso que é um dos mais rentáveis do mundo. Para nós é importante não só pelo bônus, mas porque ele vai provocar um volume de investimentos inéditos, US$ 180 bilhões em 35 anos. Nos primeiros 10 anos, R$ 80 bilhões. Vai causar um grande estímulo para a economia. Vai ter que construir navios, barcos... O Brasil vai ser um grande produtor. Tem um grande potencial que vai ser aproveitado pelos brasileiros.

Um reajuste no preço da gasolina não daria uma folga para a Petrobras? O controle do preço força a empresa a vender o combustível mais barato do que ela compra no exterior, certo?

Mantega - Não há política de controle de preços, mas sim de ajuste, algo que se dá ao longo do tempo. Quando o câmbio sobe, a Petrobras fica mais apertada, mas aí ele cai e isso dá uma aliviada. A gente sempre vem buscando aperfeiçoar esses modelos de preços. O câmbio foi a R$ 2,40 e em razão da crise na Síria, o preço do barril de petróleo também subiu. Mas agora o preço do barril caiu, e também a taxa de câmbio, então houve uma aproximação dos preços.

O sr. vem falando em mudança no papel e, principalmente, no tamanho do BNDES. Como será isso, e quando começará efetivamente?

Mantega - Temos desenvolvido o mercado de capitais, que a meu ver é a melhor fonte de financiamento das empresas. Desde, é claro, que a Selic não esteja em patamar elevado, como houve nas últimas décadas, porque ela inviabiliza o mercado de capitais. Então uma reforma importante que nós fizemos foi baixar a taxa, e isso permite que o mercado de capitais ganhe força. Temos criado novos produtos, como um mercado forte de debêntures e também de FIDCs. O movimento da Bovespa aumentou dez vezes de 2002 para cá. A essa altura o BNDES pode diminuir o seu raio de ação e se concentrar no seu básico, no seu ideal. Em infraestrutura ele estará presente, mas temos conversado com todos os bancos privados e eles vão entrar na infraestrutura também. Há uma evolução no papel dos bancos privados. Então, estamos caminhando muito na expansão do mercado de capitais, e o BNDES vai ficar para trás. Você acha que eu gosto de dar subsídio para o BNDES? Isso afeta o Tesouro e me dá uma dificuldade maior para fechar as contas, e para nós fechar as contas é fundamental.

Ainda assim, um novo aporte do Tesouro ao BNDES terá de ocorrer nos próximos dias, para completar as necessidades para o fim do ano...

Mantega - É verdade. Este ano vai chegar a R$ 35 bilhões, ao todo. Vamos seguir nossa trajetória de repasses menores, ano a ano. Foram R$ 100 bilhões em 2009, seguidos de R$ 80 bilhões em 2010, R$ 55 bilhões em 2011, e R$ 45 bilhões no ano passado. O BNDES deve ficar mais focado, e onde ele não for mais necessário, ele vai sair. Temos de dar condições do setor privado entrar.

O Brasil ainda precisa fazer superávit primário tão alto? 

Mantega - Temos sempre de fazer esforço fiscal, tem de ser permanente. Temos de entregar um superávit que seja suficiente para estabilizar e reduzir a dívida pública. Mas há flutuações na economia ao longo do tempo. Tivemos uma flutuação em 2012 a partir de um benefício que demos na economia. Fizemos muitas desonerações e isso pesou na nossa arrecadação, é claro. Agora, é importante ou não desonerar a folha de pagamentos, a cesta básica e outros itens? Todo mundo não reclamava dos tributos no Brasil? Aí faço desonerações e passam a reclamar que o superávit primário não foi o mesmo.

O sr. é favorável à proposta do seu ex-secretário executivo Nelson Barbosa, de criar uma banda para o superávit primário?

Mantega - Sou tão favorável que ela já existe. A banda já está formalizada na LDO. Ela estipula que o superávit primário será de 3,1% do PIB, mas dele posso abater até determinado volume em investimentos e desonerações. Com isso, você sabe qual é a banda inferior e a banda superior da meta fiscal. Não é um sistema de banda? Já temos isso há muito tempo. Sempre estamos atentos à questão fiscal, aqui não tem moleza nem com a inflação nem com a política fiscal.

Essas medidas todas têm sido tomadas por causa dos alertas recentes das agências de classificação de risco, que ameaçam reduzir a nota do Brasil?

Mantega - Eu não fico olhando para elas, não é isso que pauta a nossa política econômica. Seria ridículo. Nós fazemos a mesma política fiscal de sempre. Em alguns momentos tivemos dificuldades, e elas foram por causa das desonerações. Nós demos uma desoneração de R$ 50 bilhões no ano passado. Os Estados e municípios também fizeram um esforço menor. A situação vai melhorar.

A meta fiscal então será maior em 2014 do que em 2013?

Mantega - Nós paramos de fazer desonerações, não haverá novas desonerações. O custo vai diminuir e a economia vai crescer mais, e quando ela cresce mais a arrecadação aumenta. Em 2012 a economia cresceu pouco, e minha arrecadação sofre quando crescemos apenas 0,9%. Agora vai crescer 2,5%, e continuamos em ritmo ascendente, então certamente 2014 será melhor em termos fiscais.

Dá para crescer mais que 3% no ano que vem?

Mantega - É claro que dá. Mesmo sem grande recuperação da economia mundial, o PIB vai crescer 3% no ano que vem, e se houver uma boa recuperação pode chegar a 4%.

Como o sr. vê o horizonte para a taxa de câmbio e o papel do Banco Central?

Mantega - O papel do BC é o de diminuir a volatilidade no mercado. O câmbio é flutuante, e ele deu sinais positivos nesse sentido. A turbulência arrefeceu, mas se o BC vai continuar ou não isso é assunto dele, não meu. Sei que aquele dólar a R$ 2,40 era um câmbio estressado. Espero que o mercado seja sábio e com a ajuda do BC deixe o câmbio em um patamar adequado.

A condução da política monetária e da política econômica como um todo pode mudar em 2014, por ser um ano eleitoral?

Mantega - A gestão da economia não vai mudar. Quero deixar isso muito claro: em 2010, por exemplo, nós subimos os juros. Se precisar, sobe. Este ano, que já é quase eleitoral, os juros estão subindo. O que tem de ser feito, mesmo que não seja algo popular, será feito. Não nos pautamos pelo ciclo eleitoral.

Se o BC precisar elevar a Selic para dois dígitos, como ele sinaliza que precisará, ele vai poder?

Mantega - Se ele precisar elevar, ele vai. Agora é preciso saber se ele quer elevar. O mercado é que está dizendo. Eu não vi o BC falar nada disso. Você viu o BC? Não confunda o BC com o mercado. Mas é claro que o BC tem a liberdade para fazer o que achar o necessário. (João Villaverde, Adriana Fernandes, Lu Aiko Otta e Marcelo Moraes) 

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Cortina de Ouro, por Cristovam Buarque




Em uma noite morreram 359 pessoas tentando atravessar o Mediterrâneo, de países pobres para ricos. Estima-se que 280 morrem, em um único ano, tentando atravessar a fronteira entre a América Latina e os Estados Unidos, contra 809 que morreram tentando pular o muro de Berlim em todos os 28 anos de sua história.

O número de mortes é muito maior se considerarmos milhões que morrem por não terem dinheiro para saltar os muros dos bons hospitais em busca de atendimento médico com qualidade.

O mundo derrubou a Cortina de Ferro, separando a escassez nos países socialistas dos benefícios nos capitalistas, e construiu uma Cortina de Ouro, que serpenteia o planeta por dentro de cada país, separando as necessidades dos pobres dos privilégios dos ricos.

O que aconteceu à margem da Ilha de Lampedusa chamou atenção pelo tamanho da barbaridade concentrada em uma noite sobre emigrantes tentando sair da pobreza da África para a riqueza da Itália.
Mas todos os dias morrem muito mais pessoas por não conseguirem saltar os muros que fazem parte da Cortina de Ouro, que cercam as boas escolas para impedir que nelas entrem crianças de famílias de baixa renda.


De um lado do muro, uma famosa foto mostra o edifício de apartamentos de luxo no bairro Higienópolis de São Paulo e, no outro, uma favela chamada Paraisópolis.

A escada que permitiria o salto de um lado para o outro seria colocar as crianças dos dois lados em escolas com a mesma qualidade.

Mas a Cortina de Ouro está sendo consolidada entre países, por muralhas ou polícia de fronteira; e, dentro de cada país, visíveis ou não, pelos muros de shopping-centers, escolas, hospitais e condomínios. Mas, em vez de espalhar os benefícios construídos pela modernidade, a civilização parece estar preferindo fazer uma humanidade dividida. O Brasil é um exemplo. Somos um país dividido, com a população separada por uma Cortina de Ouro.

A tarefa dos abolicionistas foi derrubar, por meio de uma lei, o muro que separa escravos-negros de livres-brancos. A Cortina de Ferro foi derrubada pelos martelos nas mãos dos moradores de Berlim Oriental.
A derrubada da Cortina de Ouro só será possível com leis que assegurem ao professor brasileiro ser tratado com o reconhecimento máximo.

Mas parece que estamos longe disso. Talvez não seja coincidência que, no mês em que morrem africanos fugindo para a Itália, nas vésperas do Dia do Professor, tenhamos mestres em greve no Brasil, em busca de pequenos aumentos salariais. Alguns deles sendo vítimas de violência policial.

Ao cometer o crime de depredar bens públicos ou privados, os manifestantes, ao lado dos professores, estão provavelmente sem saber e por caminhos errados lutando para derrubar a Cortina de Ouro, como os berlinenses fizeram com a cortina de ferro.

Cristovam Buarque é senador (PDT-DF).

Mundo: União Europeia e Canadá se aproximam de um acordo de livre comércio


União Europeia e Canadá
A União Europeia (UE) e o Canadá estão prestes a fechar um acordo comercial após anos de negociações, tendo chegado a um terreno comum sobre questões agrícolas que bloqueavam há meses o acerto.
 
O primeiro-ministro do Canadá, Stephen Harper, chegou a Bruxelas na quinta-feira à noite para conversas com líderes da UE, e a expectativa era de que as duas nações alcançassem um consenso sobre o texto do acordo de livre comércio ainda hoje.

O acordo entre a UE e o Canadá iria além da eliminação de tarifas no comércio de mercadorias. Também daria mais acesso para empresas de serviços em ambas as regiões e desmantelaria algumas regras que limitam o comércio, tais como diferentes padrões automotivos. Esse modelo também está sendo usado em outras duas importantes negociações de livre comércio da UE, com o Japão e os EUA.

A Comissão Europeia, braço executivo da UE, calcula que metade dos benefícios econômicos do negócio derivaria de ganhos em serviços, enquanto um quarto viria de eliminar as barreiras regulatórias ao comércio.

O comércio entre a UE e o Canadá, avaliado em mais de 80 bilhões de euros (US$ 109 bilhões) por ano, cresceria 23% por causa do negócio, de acordo com estimativas da comissão. O comércio entre as duas regiões é dominado por máquinas, equipamentos de transporte, produtos químicos e serviços, tais como transporte, serviços bancários e de seguros. Mas eram questões agrícolas que atrasavam as negociações, que foram iniciadas em junho de 2009.

O acordo quebraria o impasse, aumentando as cotas de exportação para carnes bovina e suína e o milho doce canadenses exportados para a Europa e para os produtos lácteos europeus exportados para o Canadá. A carne suína exportada para a Europa não poderá ser de animais alimentados com ractopamina, uma substância química normalmente usada para alimentar porcos no Canadá e nos EUA, mas que é proibida em 28 nações da UE.

Grupos de lobby de produtores agrícolas da UE já expressavam preocupação. “O lado negativo é o impacto potencial para os segmentos de carne suína e bovina na Europa”, disse Pekka Pesonen, secretário-geral do Copa-Cogeca, principal grupo de agricultores da Europa. “Ambos os setores estão enfrentando dificuldades.”

Sob o acordo, o Canadá também vai impedir suas empresas de vender versões de muitos produtos com “indicações geográficas” europeias, como presunto de Parma ou Champagne. Em um compromisso particularmente delicado, o acordo permitirá que fabricantes canadenses que já produzem cinco tipos de queijo europeu (feta, gorgonzola, munster, asiago e fontina) continuem usando os nomes, mas novos produtores estariam proibidos de fazê-lo sem indicar que o produto é uma imitação. O acordo dobraria as exportações de queijos da Europa para o Canadá, disse um funcionário da UE.

Embora o acordo esperado para sexta-feira selaria o texto, ainda precisará ser aprovado pelos governos nacionais da UE e pelo Parlamento Europeu. Províncias canadenses também teriam de aprová-lo, disseram pessoas familiarizadas com as negociações. Embora o governo federal tenha jurisdição exclusiva sobre a regulamentação do comércio, a natureza abrangente do acordo significa que alguns compromissos envolvem assuntos sob jurisdição provincial.

Fonte: Estadão


Por que é difícil encontrar mão de obra qualificada no país

Segundo a Hays, Brasil está entre as nações onde hoje é difícil contratar mão de obra qualificada. Veja os fatores que impedem país de chegar ao equilíbrio

REUTERS/Atef Hassan
homem em refinaria de petróleo
Segundo a pesquisa, o Brasil sofre com a escassez de profissionais qualificados nas áreas de infraestrutura, petróleo e gás

São Paulo - Uma pesquisa que avalia a eficiência dos mercados de trabalho das nações colocou o Brasil no grupo daquelas onde é difícil contratar mão de obra qualificada. Mesmo assim, o país está no caminho certo para chegar a um equilíbrio, pelo menos do ponto de vista do empregador. É o que aponta o relatório "The Hays Global Skills Index 2013", elaborado pela empresa de recrutamento e seleção Hays (veja tabela completa dos países ao final).

A pontuação brasileira caiu de 5.7, em 2012, para 5.6 neste ano - o que é bom. Segundo a Hays, uma nota perto de 5.0 significa que a capacidade das empresas do país de recrutar, reter ou substituir os seus talentos-chave é a ideal. Acima, indica dificuldade.

Em relação ao mercado de trabalho brasileiro, apesar da nota não tão distante da ideal, vivemos uma escassez de profissionais qualificados, especialmente em áreas onde a demanda está em um nível alto, como: infraestrutura e petróleo e gás.

O Brasil está entre os piores do ranking em termos de qualidade da educação do ensino secundário. "A história do desempenho educacional no nível secundário tem impacto na oferta de competências para os empregadores hoje e continuará a ter-lo no futuro, caso nada seja feito", afirma o relatório.

Segundo a Hays, os principais desafios no Brasil são o mercado de trabalho inflexível e os altos custos associados a fazer negócios por aqui. Por outro lado, o país é considerado o centro natural para o estabelecimento das multinacionais na América Latina, o que oferece oportunidades para os profissionais.

A pesquisa mosta ainda que as habilidades mais procuradas pelas empresas entre os trabalhadores brasileiros são o domínio da língua inglesa e pensamento estratégico. "As empresas brasileiras estão se concentrando em produtividade e na retenção de talentos", explica a diretora da Hays Brasil, Carla Rabelo. 


Mundo


A principal conclusão da pesquisa deste ano aponta que a eficiência dos mercados de trabalho não está diretamente relacionada com o estado atual da economia. "Nosso índice mostra que fatores estruturais, como educação e flexibilidade do mercado de trabalho, têm mais impacto sobre a eficiência deste mercado", afirma o relatório. 

A pesquisa demonstra que os países onde as empresas podem ser ágeis para reagir à dinâmica do mercado de trabalho - por exemplo ajustando os salários regionais - diminuem significativamente as chances de incompatibilidade de talentos e desemprego de longa duração.

Além disso, a Hays afirma que é preciso diminuir a diferença entre o que os jovens aprendem na universidade e o que o mercado de trabalho espera deles.

"A reforma da educação deve ser desenvolvida através de uma estreita colaboração entre os governos e a comunidade empresarial. Há uma séria desconexão entre empregadores, instituições de ensino superior e graduados quando se trata de requisitos educacionais", diz a pesquisa.

Como resultado, muitos jovens estão entrando no mercado de trabalho com uma qualificação 'no papel', mas sem as habilidades e experiências necessária para garantir o emprego a longo prazo.


Pesquisa


Veja na tabela a seguir como as notas do Brasil em cada quesito se comparam com as de outros países:


  Flex. de educação Particip. no mercado de trabalho Flex. do mercado de trabalho Incompat. de talentos Pressão salarial geral Pressão salarial em indústrias de alta competência Pressão salarial da alta qualific. Total
Brasil 6.0 6.0 8.8 5.5 3.9 4.4 4.7 5.6
Canadá 5.6 5.1 3.9 8.0 5.6 6.5 6.7 5.9
Chile 6.0 5.2 5.9 6.0 6.7 2.4 1.1 4.8
México 4.8 5.8 7.4 5.7 4.7 10.0 3.0 5.9
Estados Unidos 6.6 5.8 4.3 10.0 4.2 7.8 6.4 6.4
Austrália 4.3 5.0 4.4 4.0 7.1 8.0 6.0 5.5
China 1.3 3.0 8.0 6.0 8.6 3.0 5.0 5.0
Hong Kong 1.7 4.9 1.7 4.8 8.7 5.6 1.0 4.1
Índia 0.2 4.6 7.0 5.0 4.1 3.6 5.0 4.2
Japão 3.0 5.4 7.1 9.1 9.5 6.1 5.9 6.6
Cingapura 0.8 5.6 0.6 5.9 2.6 8.5 8.5 4.6
Dinamarca 6.3 5.6 2.9 6.1 2.5 0.0 5.8 4.2
França 3.5 4.2 8.0 6.9 4.7 5.2 4.0 5.2
Alemanha 6.4 4.7 6.9 4.1 5.7 10.0 6.6 6.3
Holanda 4.6 6.2 4.8 3.5 0.0 6.1 4.6 4.3
Polônia 5.6 4.6 6.6 3.3 3.9 7.3 4.9 5.2
Reino Unido 4.3 6.6 4.9 9.0 1.2 5.8 4.5 5.2
Portugal 4.6 6.4 6.1 10.0 4.7 10.0 0.0 6.0
Rússia 7.5 4.1 7.6 5.0 5.6 8.0 4.8 6.1
Suécia 7.1 3.7 6.2 6.4 6.1 10.0 4.7 6.3
 
Veja o que significa cada indicador:
 
Flexibilidade da educação: mede se o sistema educacional consegue se adaptar às necessidades das empresas

Participação do mercado de trabalho: mede se o grau de talentos do país é totalmente utilizado. Uma pontuação alta indica que a proporção de pessoas em idade ativa que essão empregados não está aumentando, o que indica restrições na disponibilidade de recursos adicionais.

Flexibilidade do mercado de trabalho: Avalia o ambiente legal e regulatório enfrentado pelas empresas. Uma pontuação mais alta significa que a legislação laboral é considerada inflexível e que há restrições em relação à colocação de imigrantes para preencher as lacunas de talentos.

Incompatibilidade de talentos: Mede o descompasso entre as competências necessárias por parte das empresas e das competências possuídas pela força de trabalho. A pontuação mais alta significa que a mão de obra disponível não tem as habilidades que os empregadores querem.

Pressão salarial geral: mede se os salários estão mantendo o ritmo com a inflação, que é uma medida de aperto global do mercado de trabalho. A pontuação mais alta significa que os salários reais estão aumentando rapidamente.

Pressão salarial em indústrias de alta competência: a pontuação mais alta significa que os salários em indústrias altamente qualificadas estão subindo mais rápido do que em setores de baixa qualificação.

Pressão salarial em ocupações de alta qualificação: Mede o prêmio salarial pago em ocupações altamente qualificadas, o que é um indicador da falta de talentos-chave. A pontuação mais alta significa que os salários em profissões altamente qualificadas estão subindo mais rápido do que em ocupações de baixa qualificação.

OAB foca em bandeiras da advocacia e consegue vitórias


Marcus Vinícius Furtado Coêlho - 28/03/2013 [Spacca]Logo após vencer uma antropofágica eleição para o comando do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, o piauiense Marcus Vinícius Furtado Coêlho viu, no início do ano, as seccionais divididas. Quinze anos de paz regada a acordos de rodízio na Presidência acabaram em clima de inimizade. Hoje, passados nove meses, a entidade não mostra sequelas. Pelo contrário, adquiriu musculatura ao diminuir o tom dos discursos por punições a bandidos na sociedade e focar batalhas onde podia ser protagonista. O que tem dado bons resultados.

A primeira vitória foi a derrubada da Emenda Constitucional 62/2009, fruto da chamada PEC do Calote, que permitia ao poder público parcelar o pagamento de seus precatórios e fazer leilões para quem quisesse receber primeiro — e menos do que tinha direito. Em março, o Supremo Tribunal Federal declarou a norma inconstitucional.

A mais recente veio na última semana, quando a Câmara dos Deputados rejeitou, por maioria esmagadora, projeto de lei que pretendia acabar com o Exame de Ordem.

Nesse ínterim, o Conselho Federal assumiu brigas paulistas no Conselho Nacional de Justiça. A seccional bandeirante foi uma das que se opuseram à candidatura de Marcus Vinícius, mas teve o apoio dele contra norma do Tribunal de Justiça do estado que reduziu o horário de atendimento nos fóruns. A regra acabou suspensa por uma liminar confirmada pelo Plenário do Conselho. Reclamação contra outro tribunal com sede em São Paulo, o Tribunal Regional Federal da 3ª Região, também foi encampada pela OAB no CNJ, que defendeu — e ganhou — o direito de a advocacia ter assento na comissão de concurso para juízes federais da corte.

Escolher as brigas — e os adversários — garantiu poder de fogo. O novo Código de Processo Civil, um dos projetos de lei mais polêmicos sobre temas jurídicos em tramitação no Congresso, tem a assinatura da Ordem em temas caros como a igualdade de honorários a serem pagos tanto pelo particular quanto pelo poder público em causas opondo Fazenda e cidadão, e as tão aspiradas férias dos advogados, com a suspensão dos prazos processuais entre 20 de dezembro e 20 de janeiro. O texto já passou pelo Senado e aguarda votação na Câmara.

As conquistas encorajaram a entidade a ser intérprete das manifestações de junho e encampar bandeiras pouco ligadas à classe, como a reforma política e o Saúde +10, projeto em que a autarquia propõe que o governo federal seja obrigado a gastar 10% do orçamento com o sistema público de saúde. Segundo Marcus Vinícius, o texto é de iniciativa popular e já conta com 2 milhões de assinaturas.

O avanço deu ainda coragem ao Conselho Federal para mexer em um vespeiro: decidir se a quarentena a que se submetem juízes aposentados para advogar vale também para os escritórios dos quais são sócios. Por unanimidade, os conselheiros entenderam que sim. A decisão respondeu a uma consulta formulada há mais de três anos e causou polêmica. Na Justiça, a norma tem sido contestada, tendo sido derrubada liminarmente e, posteriormente, declarada válida pelo ministro Joaquim Barbosa, do Supremo Tribunal Federal.

Estão na mira, agora, batalhas pela criação das sociedades individuais de advogados e da inclusão da classe no regime tributário do Simples, a criminalização da violação de prerrogativas e o pagamento de honorários sucumbenciais nas causas trabalhistas.

No próximo dia 23 de outubro, a Ordem faz a última audiência pública para entregar ao Ministério da Educação sua proposta para reformar o curso de Direito no país, após fazer audiências em todas as seccionais desde março. No próximo ano, devem sair também novas regras para os Tribunais de Ética da OAB — o que passa pela revisão das atuais restrições em vigor, como a que proíbe o marketing pelos profissionais.

Marcus Vinícius visitou a redação da ConJur no último dia 12 de outubro, acompanhado do presidente da Comissão Especial de Defesa dos Credores Públicos, Marco Antonio Innocenti, quando concedeu a entrevista.

Leia trechos da conversa:

ConJur — A última campanha pela Presidência da OAB foi muito disputada e criou dissensões principalmente em relação às seccionais de São Paulo e Paraná. Como está o quadro agora?

Marcus Vinícius — Está tudo pacificado. Fui homenageado pela Academia Paulista de Letras Jurídicas e o presidente Marcos da Costa, da OAB-SP, esteve sentado comigo na mesma mesa durante o jantar. O Paraná está totalmente integrado também. Vou, inclusive, fazer um evento em Foz do Iguaçu a convite da seccional. A Ordem hoje não tem mais aquele clima de oposição. Isso ficou na eleição. Eu chamei os que perderam e abri as portas. Basta ver os atuais integrantes das comissões. Além disso, várias vitórias de São Paulo tiveram a participação do Conselho Federal. Um exemplo foi a questão da redução do horário de expediente para atendimento a advogados no Tribunal de Justiça. Entramos no CNJ a favor da OAB de São Paulo. Outro exemplo foi o da manutenção do nome do indicado da OAB para compor a comissão de concurso do TRF-3, que conseguimos também no CNJ. Temos trabalhado em parceria. Em relação à OAB do Paraná, estamos na briga pela implantação dos novos tribunais regionais federais.

ConJur — Quais são hoje as principais bandeiras da OAB?

Marcus Vinícius — A Ordem é dos advogados, mas também do Brasil. Por isso, temos pautas corporativas e de defesa da sociedade. A pauta corporativa inclui a defesa da profissão, na qual podemos colocar o Simples dos advogados, a sociedade individual de advocacia, os honorários da advocacia trabalhista e a criminalização da violação das prerrogativas. Tem as pautas mistas, que ficam entre a valorização da profissão e a defesa da sociedade, na qual eu colocaria a questão do ensino jurídico, para a qual estamos estudando um novo marco regulatório, a do Exame de Ordem e a dos precatórios. Há também causas da República e da sociedade, que são também missões da Ordem, como a reforma política, a lei de defesa dos usuários de serviços públicos e o programa Saúde +10, que é um projeto de lei que propusemos.

ConJur — Em que pé está cada uma dessas batalhas?

Marcus Vinícius — Quanto à sociedade individual do advogado, estamos dialogando com o autor e o relator do projeto de lei da Câmara para dar celeridade ao assunto. Já existe a figura da sociedade individual no mercado, mas o Estatuto da Advocacia não permite para advogados. Como o Estatuto da OAB é uma lei específica, tem que ser alterado para se adequar a essa nova realidade.

ConJur — E por que que isso é bom?

Marcus Vinícius — Porque hoje temos 800 mil advogados e só 24 mil pessoas jurídicas. Há cerca de 500 mil advogados não formalizados.

ConJur — Mas eles não prestam serviços como autônomos?

Marcus Vinícius — Sim, e recebem pela pessoa física. Com a sociedade individual, poderão receber pela pessoa jurídica e ter um alívio tributário.

ConJur — E quanto aos demais projetos?

Marcus Vinícius — Também lutamos pela inclusão do advogado no Simples, do que já conseguimos aprovação neste ano no Senado. O assunto está na Câmara dos Deputados, com pedido de regime de urgência subscrito por todos os líderes partidários. E também estamos lutando pelos honorários da advocacia trabalhista. Conseguimos aprovação este ano na Câmara e o texto agora está no Senado. Já conseguimos aprovação na Comissão de Assuntos Sociais e o projeto foi para a Comissão de Assuntos Econômicos. Ter honorários na Justiça do Trabalho vai ser bom para todos. É o único ramo da Justiça onde as causas têm conteúdo econômico, mas não há honorários de sucumbência. É inadmissível essa discriminação. Com honorários, as reclamações serão mais realistas, haverá menos pedidos descabidos. Por outro lado, não se dará ao reclamante o custo completo do processo, que ele tem hoje. Além de ter que ir atrás dos seus direitos, ele tem que pagar sozinho os honorários, ou seja, assume o custo do processo, o que é uma injustiça.

ConJur — O que é o Saúde +10?

Marcus Vinícius — Dentre as causas da República, entendemos que a sociedade necessita do cumprimento do direito constitucional à saúde. A OAB, junto com diversas entidades, colheu 2 milhões de assinaturas e apresentou ao Congresso Nacional, como projeto de lei de iniciativa popular, a obrigação de que o governo federal gaste 10% do seu orçamento em saúde. E postulamos pela criação do cargo de auditor do SUS, porque queremos que haja controle da aplicação desses recursos.

ConJur — A iniciativa tem a ver com as manifestações populares de junho?

Marcus Vinícius — A população disse que queria saúde “qualidade Fifa”, e a OAB dá voz à sociedade. Assim como disse também que queria serviço público “qualidade Fifa”. Por isso, propusemos, em julho, uma Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão para que o Congresso Nacional crie um Código de Defesa dos Usuários dos Serviços Públicos. Porque a Constituição, na Emenda Constitucional 19, há 15 anos prevê a necessidade de existência desse código, que nunca foi editado. O Supremo Tribunal Federal, pelo ministro relator da ação, Dias Toffoli, concedeu a liminar, reconheceu a mora do Congresso e determinou um prazo de 120 dias, que já está correndo, para que o Congresso legisle sobre a matéria. Se o Congresso não legislar nesses 120 dias, a OAB vai requerer ao ministro que aplique aos usuários dos serviços públicos os mesmos parâmetros do Código de Defesa do Consumidor em favor dos usuários de serviços públicos. O cidadão que necessita do hospital público e não tem o tratamento adequado tem que ter um organismo de reclamação, que pode ser o próprio Procon.

ConJur — E o contribuinte?

Marcus Vinícius — Temos priorizado a defesa da Constituição no que tange aos limites do poder de tributação do Estado. A OAB está estudando e iremos propor já no início do próximo ano um Código de Defesa do Contribuinte brasileiro. Estamos apoiando um projeto de lei que tramita no Senado que edita normas gerais do processo administrativo fiscal no Brasil, que nós não temos. O país não pode tratar as empresas como inimigas. Claro que respeitando o valor social do trabalho, o direito do consumidor, o respeito ao meio ambiente, mas respeitando também o direito das empresas de se desenvolverem, gerarem empregos e progresso para o país.

ConJur — A OAB também defende uma reforma política. Qual a proposta?

Marcus Vinícius — Essa é a mãe de todas as reformas. Vimos hoje nas manchetes dos jornais que o PCC está se articulando para ter candidatos para participar da cena política. Por que isso é possível no Brasil? Porque o sistema eleitoral permite a compra de mandatos, por meio de caixa dois de campanha, gastos que não possuem limites máximos fixados pela lei e nem pela Justiça, milhares de candidatos personalíssimos que impedem o controle sobre a campanha de cada um e fazem com que não haja discussão de propostas, de ideias e de projetos para o futuro. Por isso a Ordem, ao passo que defende a advocacia e também causas republicanas, entende que é compromisso dela, histórico inclusive, não se omitir na defesa de uma reforma política democrática que traga eleições limpas, criminalizando o caixa dois, fazendo com que haja discussão de propostas, ideias e projetos, e com que o eleitor tenha oportunidade de votar na lista de propostas do candidato em um primeiro momento e, no segundo momento, votar no candidato. Porque aí a população terá dois controles éticos.

ConJur — A OAB já terminou a proposta pedida pelo Ministério da Educação para uma mudança nos cursos de Direito?

Marcus Vinícius — Nós fizemos audiências públicas em todo o Brasil. No próximo dia 23 de outubro, na OAB, faremos a audiência pública nacional, em que iremos fazer a sistematização do que o Brasil todo propôs. Estamos ouvindo professores, estudantes, coordenadores de cursos, advogados e membros da sociedade para que possamos ter uma proposta de novo marco regulatório do ensino de Direito que seja construído a partir daqueles que vivenciam a experiência do ensino. Não será uma proposta fechada em gabinete. Fizemos audiências públicas em todos os estados.

ConJur — Uma das ideias é aumentar o período para seis anos. A OAB vai encampá-la?

Marcus Vinícius — Não posso dizer ainda se a maioria pensa assim. Mas é preciso ter um último ano para que o cidadão direcione sua escolha profissional, seja ele o quinto ou um possível sexto ano.

ConJur — De onde surgiu a ideia?

Marcus Vinícius — Firmamos um termo de cooperação com o Ministério da Educação com prazo de 12 meses. Ele foi subscrito em março deste ano. Até março do próximo ano, o novo marco deve ser editado. Uma das ideias é levar em consideração o resultado do Enade [Exame Nacional de Desempenho de Estudantes]. O exame recentemente mostrou que 30% das faculdades de Direito estão abaixo do mínimo considerado admissível, o que vai muito ao encontro do índice do Exame de Ordem. As faculdades que não são bem avaliadas no Enade acabam também não tendo boa aprovação no Exame de Ordem. Esses dois índices podem ser usados como critério da classificação das faculdades de Direito no Brasil, para que os alunos saibam em que faculdade estão ingressando.

ConJur — Por que ter mais faculdades é ruim?

Marcus Vinícius — O que interfere na qualidade e no índice é ter um número de faculdades maior do que o de professores de qualidade. É o que acontece em alguns estados.

ConJur — O Exame de Ordem foi mantido em votação na Câmara dos Deputados. Como a OAB conseguiu essa vitória?

Marcus Vinícius — Temos que celebrar a vitória da cidadania brasileira com a manutenção do Exame de Ordem, em votação absolutamente expressiva na Câmara. Por acaso, era a votação da Medida Provisória do programa Mais Médicos. A OAB vê com muito reconhecimento a votação dos deputados, também agradece as lideranças partidárias. Praticamente todas foram a favor do Exame de Ordem. Apenas uma liderança, a liderança do PMDB, cujo líder é autor da proposta para acabar com o Exame de Ordem, se posicionou contrariamente. Mas ainda assim vai o agradecimento ao PMDB, porque, pelo placar, se percebe que até mesmo o partido, em sua maioria, votou a favor do Exame de Ordem. Se tivéssemos um pensamento materialista ou mercadológico, seria até melhor para Ordem não ter mais o Exame, porque ela teria um milhão a mais de novos bacharéis pagando R$ 700 de anuidade, ou seja, R$ 700 milhões a mais de arrecadação. E não teria a necessidade de elaborar um Exame. Hoje, ele é realizado em cerca de 200 lugares ao mesmo tempo em todo o Brasil. A Ordem contratou uma das empresas mais bem conceituadas na área do ensino, que é a Fundação Getúlio Vargas, para fazer o Exame. Ocorre que a OAB prefere fazer uma opção pela sociedade, que é defender a qualidade da prestação de serviço ao cidadão. Porque se o bacharel não consegue em diversas tentativas demonstrar ter a capacidade mínima para exercer a profissão, vai prejudicar o cidadão.

ConJur — Nenhuma outra profissão tem esse filtro.

Marcus Vinícius — O Exame de Ordem é praticado em quase todo o mundo civilizado. É exigência na Itália, no Japão, no Chile, nos Estados Unidos, na Espanha, na Inglaterra. Onde o Estado de Direito é importante, relevante e tradicional, o Exame de Ordem é exigido. Depois, ao contrário das outras carreiras profissionais, no Brasil, nos últimos 20 anos, nós saímos de 200 para 1,3 mil faculdades de Direito. Só o Direito possui essa característica de ter ampliado em 1,1 mil faculdades.

ConJur — Não se trata de reserva de mercado?

Marcus Vinícius — Apesar do Exame de Ordem, temos no Brasil cerca de 60 mil novos advogados por ano. São formados cerca de 120 mil estudantes por ano no Brasil. No último Exame de Ordem concluído, foram aprovados 30 mil. No atual, na primeira fase, foram 18 mil. Como são três exames por ano, há uma média de 60 mil aprovados. Sessenta mil é o número total de advogados na França. O Brasil passa a ter uma França por ano de novos advogados. Que reserva de mercado é essa?

ConJur — Qual o motivo da nova regra do Exame, de que o candidato reprovado na segunda fase não precisa repetir a primeira ao tentar uma segunda vez?

Marcus Vinícius — O objetivo do Exame de Ordem não é escolher os melhores. Os melhores o mercado vai selecionar. O objetivo é selecionar aqueles que possuem o conhecimento mínimo. Se o candidato foi aprovado na primeira fase, surgem algumas hipóteses para a reprovação na segunda. Ou ele ficou nervoso na hora de uma prova prática, ou coincidentemente apareceu uma matéria que ele não dominava. Com a matrícula apenas na segunda fase na próxima tentativa, ele vai poder se concentrar no estudo da prova prática.

ConJur — Ele nunca mais precisa repetir a primeira fase?

Marcus Vinícius — Se no Exame seguinte ele não conseguir aprovação na segunda fase de novo, daí terá que repetir o Exame completo a partir de então. Porque se na outra oportunidade ele foi reprovado, a presunção passa a ser de que não foram as hipóteses que mencionei que levaram o candidato a ser reprovado, mas que ele não tem um mínimo de conhecimento.

ConJur — Há alguns anos a OAB tem assumido um discurso moralista ao tratar de investigações de corrupção que correm no Judiciário. Ao pedir penas, a Ordem não se desvia de sua vocação de ser a única a favor do direito de defesa?

Marcus Vinícius — A OAB não pode comentar o mérito de casos que estejam sendo submetidos a apreciação do Judiciário. Ela deve se preocupar com causas, não com casos. Nesse sentido, deve pautar sua atuação pelo que determina o artigo 44 do Estatuto da Advocacia, que é uma lei federal, que diz que cumpre à OAB a defesa da ordem jurídica do Estado Democrático de Direito. Quando a Constituição assegura à OAB, entre as entidades de classe, a legitimação universal para propor Ação Direta de Inconstitucionalidade, Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão e Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental; quando concede à OAB o direito de indicar dois membros para o CNJ, dois para o CNMP, e dá assento à Ordem nesses órgãos com direito de voz, na condição custus legis; quando permite à OAB indicar um quinto dos membros dos tribunais e um terço dos membros do STJ, alternadamente com o Ministério Público; de participar dos concursos para juiz, para membros do Ministério Público, e para a advocacia pública; mostra que a Ordem possui sim voz na defesa da sociedade. E ao se posicionar como voz constitucional da sociedade brasileira, a OAB se fortalece como entidade e pode utilizar, e vem fazendo isso, essa força em favor da defesa da profissão.

ConJur — Dá para cuidar do advogado e do Brasil ao mesmo tempo?

Marcus Vinícius — A Ordem é mencionada 19 vezes pela Constituição. Ela surgiu na Revolução de 1930, no momento em que o Brasil passou a ter o voto das mulheres, a criação da Justiça Eleitoral, a ampliação da democracia, a diminuição das fraudes eleitorais, a população querendo participar mais da vida política do Brasil. Com a modernização do nosso país, é criada a Ordem dos Advogados do Brasil. Logo em seguida, a Ordem se opôs ao Estado Novo, à ditadura militar. Com um diálogo importante com o então ministro da Justiça Petrônio Portella, o então presidente da OAB Raimundo Faoro deu uma contribuição significativa para a anistia e para a democratização. Depois, participamos ativamente das Diretas Já e da convocação da Constituinte, momentos relevantes da história da República. Por isso digo que a OAB tem duas missões, a primeira é a valorização do advogado como instrumento essencial à defesa do Estado Democrático de Direito. E a segunda é a defesa de causas da República e da sociedade, com o objetivo de contribuir para a unificação do Estado Democrático de Direito. Essas causas não são excludentes, mas complementares. Na medida em que se luta por uma advocacia forte, milita-se por um cidadão respeitável, por uma sociedade justa. Quando se milita por uma sociedade melhor, o objetivo é a efetivação dos valores constitucionais. Para que a Ordem não caia na armadilha de ter posicionamentos contra o direito de defesa, ela deve se omitir de se manifestar sobre o mérito de questões sobre casos concretos, salvo quando ocorrer uma violação ou um abuso de direitos.

ConJur — Qual sua opinião sobre a forma como o Supremo julgou os acusados no processo do mensalão?

Marcus Vinícius — Esse é um caso que pode exemplificar o que eu acabei de dizer. A Ordem não pode ter opinião sobre o mérito da decisão do Supremo. Nós não podemos ter qualquer posição sobre essa matéria. Agora, ela pode e deve se manifestar, como fez, quando o ministro Ricardo Lewandowski é impedido de manifestar sua posição no julgamento. O fato de um ministro da Suprema Corte ter suas ideias censuradas significa uma ofensa à Constituição da República, à liberdade do julgador. Por isso a Ordem editou uma nota para que fosse assegurado o direito à divergência no Supremo Tribunal Federal.

ConJur — O que a OAB tem feito para valorizar o advogado?

Marcus Vinícius — O lema da nossa gestão é justamente esse: advogado valorizado e cidadão respeitado. Como primeiro ato da gestão, criamos a procuradoria nacional de defesa das prerrogativas. Por meio dela, a Ordem está ingressando nos processos judiciais, desde que o advogado requeira, para postular aumento de honorários. Como segundo passo criamos a Ouvidoria dos honorários. O advogado ingressa no site da OAB, digita seu caso, nós analisamos e, se realmente for um caso de injustiça contra o advogado e aviltamento dos honorários, a Ordem ingressa a favor do advogado. Sabemos que esse ingresso nem sempre é admitido pelo STJ. Mas mesmo quando o STJ não admite expressamente, ele leva em consideração, porque acaba aumentando os honorários. Essa é uma causa coletiva, de sobrevivência da profissão.

ConJur — A procuradoria da OAB pode ser acionada a partir do momento em que uma decisão não determina honorários dentro do parâmetro de 10% a 20% do valor da condenação, como previsto no CPC?

Marcus Vinícius — Com certeza. A OAB não tinha um setor destinado a defender profissionalmente esses casos. Fizemos um seleção, contratamos advogados. Hoje há uma estrutura com vários advogados só para essa procuradoria. O Conselho Federal atua diretamente nas causas que estão no âmbito de nossa competência, nos tribunais superiores e nos tribunais regionais federais. Mas nós também criamos um sistema de defesa de prerrogativa em todo o país. Fizemos recentemente o primeiro Encontro Nacional de Prerrogativas da OAB, com todos os presidentes de comissão de prerrogativas, com a procuradoria, com todos os procuradores de prerrogativas estaduais, para que eles pudessem traçar estratégias combinadas de defesa.

ConJur — A criminalização da violação de prerrogativas é um sonho antigo do advogado. Ele vai se concretizar?

Marcus Vinícius — É uma prioridade da nossa gestão. Tanto que estamos, no Congresso Nacional, lutando para aprovar a pena de 2 a 4 anos.

ConJur — O projeto de novo CPC é bom para a advocacia?

Marcus Vinícius — O projeto de novo CPC contempla bandeiras importantes da advocacia brasileira. Primeiro, as férias dos advogados, entre 20 de dezembro e 20 de janeiro, período em que não correrá prazo e não haverá audiência que necessite da presença de advogado. Depois, os prazos correrão em dias úteis apenas. Terceiro, os honorários advocatícios passarão a ter natureza alimentar, com tratamento de crédito trabalhista. Eles serão pagos ainda que a parte seja apenas parcialmente vencedora, tornando sem efeito a súmula do STJ que prevê a compensação de honorários. Eles poderão ser recebidos por pessoa física ou jurídica, à escolha do advogado, com inegável ganho tributário. Além disso, acabará a desigualdade hoje existente entre a Fazenda Pública e o particular. Haverá uma tabela progressiva de honorários, que valerá para o particular e para a Fazenda, de acordo com o valor da condenação. Quanto maior o valor, menor a porcentagem de honorários. O mínimo é de 1% a 3%, para causas milionárias. Não ficará mais a critério do juiz. O novo CPC também prevê honorários recursais, o que significa dizer que se o advogado terá que trabalhar mais por causa de um recurso, ganhará novos honorários, até atingir o percentual de 20%.

ConJur — O texto aprovado reduz o número de recursos. Isso é conveniente?

Marcus Vinícius — O novo código muda a disciplina do Agravo de Instrumento. Atualmente, o advogado é obrigado, sob pena de preclusão, a agravar qualquer decisão interlocutória do juiz. O novo código aplica ao processo civil algo que já existe no processo eleitoral e no processo do Trabalho, que é o seguinte: não haverá mais Agravo de Instrumento para decisões interlocutórias, essas questões serão resolvidas no mérito do julgamento. Porque se o tribunal de Justiça julga Agravos, não está julgando causas, está julgando incidentes. Nós temos que transformar o tribunal de Justiça em um tribunal de apelação, que vai julgar questões. O novo CPC faz uma opção que, de certo modo, como não vai haver mais a preclusão, fará com que o advogado possa discutir todas as questões interlocutórias na Apelação, de uma vez só.

ConJur — Mas isso não compromete uma liminar, uma medida de urgência?

Marcus Vinícius — Não. Para as medidas de urgência, o Agravo permanece. Esse é outro avanço do novo CPC. Você deixa de ter a atual polêmica sobre se determinada matéria deve ser apreciada em ação cautelar, em tutela antecipada, em tutela específica. O novo código acaba com o livro das cautelares e diz: "As tutelas são somente as de urgência", e ponto final. E cria também a tutela da evidência, que são aqueles casos que já estão sumulados, casos em que o direito é evidente e o juiz já antecipa o julgamento.

ConJur — Não há risco de arbitrariedades?

Marcus Vinícius — Não. O juiz não pode deduzir. Ele tem que se basear na existência de uma súmula do tribunal, de uma jurisprudência reiterada. Se o juiz abusar, haverá o Agravo de Instrumento para conter. É importante registrar que nós precisamos mudar nossa cultura. Primeiro, por uma necessidade da efetividade das decisões judiciais. Se as decisões judiciais não forem efetivas, se o processo judicial for moroso, a sociedade deixa de acreditar no Judiciário. E isso é ruim para a advocacia. O advogado é valorizado quando a Justiça é célere. Essa é a experiência de quem atua na Justiça Eleitoral, na Justiça do Trabalho, que é um pouco menos lenta do que as outras. Os advogados acabam sendo mais valorizados. Porque as partes sabem que acontecerá algo no processo. Quando nada ocorre no processo, os advogados não são valorizados. Então, a cultura de que a demora do processo é boa para alguém tem que acabar no Brasil. Nós temos que criar a cultura da celeridade, com o respeito ao direito de defesa. A Constituição, desde a Emenda Constitucional 45, tem um novo princípio constitucional chamado “razoável duração do processo”. E se nós defendemos a Constituição, temos que defender como um todo.

ConJur — Por que a Ordem é contra a PEC dos Recursos?

Marcus Vinícius — A Constituição quer um processo célere, mas com o direito à ampla defesa e com os recursos inerentes. São dois princípios constitucionais que devem ser integrados no processo. Seja por necessidade social, seja para cumprir a Constituição, nós temos que construir um sistema processual que esteja no equilíbrio. A Justiça rápida traz pacificação social e, portanto, cumpre a previsão constitucional da razoável duração do processo. E o direito ao contraditório, a ampla defesa, o devido processo legal, com os recursos inerentes, trazem segurança jurídica e qualidade nas decisões judiciais. O processo tem que cumprir essas suas duas missões, que não são excludentes, mas complementares.

ConJur — O novo CPC faz isso?

Marcus Vinícius — Ele resolve parte do problema. Hoje, o sistema para oitiva de testemunhas no processo civil, por exemplo, é um convite à morosidade. Você não indica as testemunhas na inicial da ação, nem na contestação. Você não é obrigado, porque a lei diz que você pode indicar até dez dias antes da audiência. Então, todos deixam para indicar no último dia. Mas a parte que quiser fazer o processo demorar indica testemunhas que nunca são encontradas. Logo, a audiência não se realiza. Para uma audiência marcada não ocorrer basta que o endereço da testemunha tenha sido informado errado. A parte é, então, intimada a dizer qual é o endereço certo, logo, a audiência não se concretiza. Se uma testemunha ficar doente e apresentar um atestado, a audiência também não se realiza. Quem paga essa conta é o contribuinte, que movimenta a máquina do Judiciário e não tem um resultado. O novo CPC resolve o assunto. As testemunhas serão indicadas na inicial da ação e na contestação, e serão as partes que ficarão responsáveis por levar as testemunhas ao juízo, como acontece na Justiça do Trabalho e na Eleitoral. Outro exemplo: cada incidente processual hoje forma autos apartados. No novo CPC, tudo é disposto nas preliminares da contestação.

ConJur — Basta só mudar a lei processual?

Marcus Vinícius — O novo CPC é importante, mas não é suficiente para o processo célere. Nós precisamos também mudar a forma como os tribunais são administrados. Temos uma administração concentrada, amadora e não transparente dos tribunais. Concentrada porque os recursos da Justiça são aplicados nas cúpulas dos tribunais e não espalhados pelas varas e comarcas onde a Justiça e os processos correm aos milhões. Amadora porque não há um profissionalismo na gestão, e as gestões não são continuadas. Cada presidente inicia projetos novos sem ler o que foi feito na gestão anterior e sem planejar a próxima gestão. E não transparente porque não se sabe por que as decisões são tomadas, por que uma vara é criada em uma comarca que tem 5 mil processos e outra cidade que tem 50 mil processos não tem vara. Às vezes, a criação é feita porque aquela primeira comarca foi onde o presidente do tribunal começou sua carreira, conhece as pessoas ou quer fazer currículo.

ConJur — O processo eletrônico é outra saída para acelerar o trâmite na Justiça. Por que a OAB tem se oposto?

Marcus Vinícius — Quando os trens começaram a circular, as tribos atiravam pedras porque pensavam que era algo endiabrado. A Ordem não vai atirar pedras nos trens. Ter um procedimento eletrônico pode contribuir para a economia de papel e também para uma maior celeridade, mas isso não pode ser implantado de forma açodada. Durante 10 anos foi permitido ao cidadão entregar por via eletrônica ou física sua declaração de Imposto de Renda. Hoje, ninguém mais quer entregar pela via física, todo mundo prefere a eletrônica. A Ordem defende que haja alternativa, a convivência do processo eletrônico e físico por um bom tempo.

ConJur — Por quê?

Marcus Vinícius — Vivemos em um país em que a banda larga não existe na maior parte do território. Como ter processo eletrônico sem banda larga? Há casos de falta de estrutura em varas e comarcas, até mesmo de internet. Há juízes que trabalham sem internet. Essas aplicações lineares de uma decisão, não reconhecendo que o Brasil é um país continental de realidades díspares, demonstram uma falta de conhecimento e de sensibilidade. Apresentamos ao Conselho Nacional de Justiça uma reclamação com 52 impropriedades do Processo Judicial eletrônico, ferramenta desenvolvida pelo CNJ para implantação do processo virtual em todas as varas. Vai bem o CNJ na tentativa de unificar. Mas não pode unificar com um peticionamento eletrônico que possua tantas impropriedades.

ConJur — A OAB defende a criação dos novos TRFs. Não seria mais efetivo aumentar o número de desembargadores nos atuais do que criar novos? 

Marcus Vinícius — É preciso que seja tomada uma medida ou outra, ou as duas. Mas é importante que seja tomada alguma medida. Porque o atual número de processos nos tribunais não permite que tenhamos uma distribuição de justiça de forma célere. E há uma visão de que quanto mais próxima a Justiça do jurisdicionado, melhor. Ter novos tribunais aproxima a decisão do cidadão, faz com que haja uma tendência de melhor aplicação do direito. Mas eles devem ter poucos desembargadores e, tendo em vista o processo eletrônico, poucos assessores, e utilizar os prédios públicos já existentes, de tal modo que não haja um grande gasto e que seja muito distante o gasto daquele que foi anunciado publicamente.

ConJur — Por que a advocacia vê com reservas a possibilidade de mediação nos cartórios?

Marcus Vinícius — A OAB apoia esses instrumentos alternativos de solução de conflitos. Temos representantes da OAB tanto na comissão do Senado quanto na comissão do Ministério de Justiça que discutem projetos de mediação e arbitragem. Temos uma comissão nacional, criada em nossa gestão, cuidando do assunto. Queremos, inclusive, em um futuro próximo, no novo marco regulatório do ensino jurídico, colocar como cadeira obrigatória do curso de Direito a mediação, a conciliação e a arbitragem, e que essas sejam matérias cobradas no Exame de Ordem. Ocorre que o cartório é um órgão registral, criado para fazer registros. Assim como os cartórios não podem administrar uma conta bancária, não podem substituir o corretor para vender um imóvel, também não podem substituir o Judiciário, a advocacia e o Ministério Público, eles próprios fazendo a mediação. Eles não foram criados com esse instrumental. Todos que fizeram concurso para tabelião ou que herdaram seus cartórios não foram municiados para essa tarefa. Por isso o Conselho Federal e a OAB de São Paulo ingressaram com ação no CNJ e conseguiram liminar, homologada pelo plenário do CNJ, sustando esse tipo de prática.

ConJur — Como começou a discussão que culminou com a determinação da OAB de que a quarentena que impede juízes recém aposentados de advogar vale também para os escritórios que os contratam?

Marcus Vinícius — A decisão plenária tomada pelo Conselho Federal ainda no primeiro semestre deste ano resulta de uma consulta que esperava resposta há dois anos. Era uma dúvida que todos tinham, algo que há muito tempo o Conselho Federal tinha que responder. E foi dada uma resposta unânime a essa consulta. A quarentena diria respeito apenas à pessoa física do juiz ou atingiria a pessoa jurídica da qual ele faz parte? Essa foi a questão. E daí foi feita uma interpretação da Constituição. O que a Constituição quis, com a quarentena, foi dizer que não pode ser beneficiado com decisão judicial o advogado, juiz aposentado, que fez parte daquele tribunal nos últimos três anos. Então, se ele é sócio do escritório, é automaticamente beneficiado com a decisão. Porque o dinheiro pago ao escritório pertence a todos os sócios.

ConJur — O sentido foi evitar a concorrência desleal?

Marcus Vinícius Furtado Coêlho — A Ordem não objetivou algo específico, não tomou a iniciativa de nada. Ela estava respondendo a uma pergunta. Esse efeito pode ser colateral.

ConJur — Há uma conotação de reserva de mercado numa decisão como essa.

Marcus Vinícius — Hoje, no Brasil, são 800 mil advogados. Os que se tornaram ex-magistrados nos últimos três anos devem ser entre 500 e mil pessoas. É um número absolutamente insignificante para o mercado.

ConJur — O que o presidente diz aos juízes aposentados que hoje são advogados e foram prejudicados com a decisão?

Marcus Vinícius Furtado Coêlho — Não foi uma decisão fácil para o plenário do Conselho Federal, porque obviamente se está cortando na própria carne, é uma decisão que acaba não sendo entendida como positiva por alguns advogados que foram magistrados. Mas digo a esses colegas advogados, que considero pessoas íntegras, probas, que não tenho em relação a eles qualquer tipo de sentimento negativo. Não foi isso que motivou a resposta a essa consulta.

ConJur — Esse entendimento obriga as seccionais a investigar para punir?

Marcus Vinícius — As seccionais da OAB não costumam ter um sistema de policiamento da profissão. Elas atuam quando são provocadas, quando há alguém que faz uma representação, e o Tribunal de Ética e Disciplina aprecia.

ConJur — Que atenção tem sido dada à área disciplinar da OAB?

Marcus Vinícius — Criei uma comissão para elaborar um novo código de ética e disciplina. E vamos colocar metas de julgamento para os Tribunais de Ética das seccionais. Queremos um procedimento mais célere para o julgamento ético-disciplinar.

ConJur — As regras também vão ser modernizadas? Restrições como a que limita totalmente o marketing não são anacrônicas?

Marcus Vinícius — Isso está em discussão. A intenção é adaptar. Vamos ter uma atualização do Código de Ética. Nossa ideia é, primeiro, criar um procedimento menos burocrático para que seja mais célere a atuação da Ordem em matéria disciplinar. E, segundo, atualizar os tipos de infração disciplinar para o atual momento em que vivemos. O atual Código de Ética tem cerca de 20 anos. Houve muita evolução nesse período.

ConJur — A declaração, pelo Supremo, da inconstitucionalidade da Emenda Constitucional 62 teve o impulso da OAB. Quais foram os frutos dessa decisão?

Marcus Vinícius — Uma das primeiras providências da nossa gestão foi ir a uma audiência com ministro Luiz Fux, no Supremo, pedir preferência no julgamento da ADI contra a PEC do calote, o que foi atendido pelo ministro, que julgou inconstitucional esse parcelamento a mais não poder dos precatórios. A emenda foi prejudicial porque isso diz respeito à não efetivação das decisões judiciais. Elas contribuem para um sentimento de que não há justiça no Brasil, ainda mais com relação ao poder público, que teria a obrigação de seguir as normas, de cumprir as decisões. Há vários pontos positivos a serem destacados. Primeiro, o fato de que essa ADI é preventiva, não haverá mais oportunidade de o Congresso fazer uma nova emenda de parcelamento. Já houve uma emenda que parcelou em cinco anos, outra em 10 e a última em 15. Daqui a pouco se poderia ter uma emenda para parcelar em 20 anos. Preventivamente, essa decisão resolveu o assunto. Segundo, o Supremo disse que o índice de correção dos precatórios tem que ser o mesmo que a Administração usa para cobrar seus tributos. É importante que haja o pagamento. Mas se não houver, é importante também que a correção seja feita por um índice que mantenha o valor do direito.

Brasil empaca em ranking global de incentivo a negócios

 
ÉRICA FRAGA
DE SÃO PAULO



O Brasil apresentou, nos últimos oito anos, um avanço pífio em direção ao que o Banco Mundial classifica como a fronteira de excelência para a realização de negócios. 

Evoluiu apenas 0,5 ponto percentual, para 47,5 (em uma escala de 0 a 100) em direção ao patamar regulatório e institucional considerado o melhor existente, segundo indicadores que usam dados de 174 nações, desde 2005.

O país patina entre as 20 nações com menor avanço nessa medida, chamada de "distância até a fronteira". Ela passou a ser calculada pelo Banco Mundial como complemento ao ranking do relatório "Doing Business". 

Os países que mais têm se destacado são chamados de "top reformers" (principais reformadores). A Geórgia, que teve o maior progresso de 2005 a 2012, evoluiu 31,5 pontos percentuais; a Colômbia, melhor entre os latino-americanos, avançou 15,3 pontos. 

O desempenho dos "top reformers" é creditado a reformas para tornar o ambiente de negócios mais rápido, prático e previsível. Pesquisas recentes têm medido o impacto positivo dessas mudanças. 

Segundo o Banco Mundial, um avanço de dez pontos percentuais em direção à "fronteira" leva ao registro de uma nova empresa para cada 1.000 pessoas em idade ativa por ano. Melhoras em educação e infraestrutura também são fundamentais. 


Editoria de Arte/Folhapress
O papel das reformas como chaves para destravar as barreiras ao crescimento será tratado pela Folha em uma série de reportagens. 

O forte aumento da renda per capita da Coreia é, por exemplo, creditado em grande parte a um salto educacional. No início da década de 50, o PIB per capita da Coreia era 12% menor do que o do Brasil. Em 2010, já era aproximadamente o triplo (as medidas são ponderadas pelo poder de compra). 

A desaceleração da economia do Brasil nos últimos anos é relacionada à falta de reformas para reduzir a burocracia e melhorar a educação e a infraestrutura.

O Banco Mundial registrou progressos recentes feitos pelo país, como a maior sincronização eletrônica entre as autoridades tributárias federais e estaduais e a criação do cadastro de crédito positivo. Mas outras nações têm avançado em ritmo mais rápido. 

No best-seller "Por que as Nações Fracassam", lançado em 2012, os economistas Daron Acemoglu e James Robinson mostram o papel crucial, na prosperidade das nações, de instituições que reforçam direitos de propriedade e incentivam investimentos em tecnologias e talentos.

sábado, 19 de outubro de 2013

"O Brasil não depende da Microsoft nem do Google"


Marcos Mazoni, presidente do Serpro

"O Brasil não depende da Microsoft nem do Google"

Integrante do grupo do governo do Rio Grande do Sul que introduziu o soft­ware livre no Brasil, ainda no final dos anos 1990

Por Denize BACOCCINA

O administrador gaúcho Marcos Mazoni, presidente do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro), está prestes a transformar a empresa, um órgão do Ministério da Fazenda que fatura R$ 2 bilhões por ano, na administradora de três milhões de contas de e-mails. Por determinação da presidenta Dilma Rousseff, será implantado um e-mail seguro em todos os órgãos da administração federal. Trata-se de uma resposta à bisbilhotice de agências de segurança do governo americano, praticada com a cumplicidade de empresas de tecnologia. “O Brasil não depende da Microsoft nem do Google”, afirma Mazoni à DINHEIRO. “Não precisa se submeter à espionagem para isso.” 

DINHEIRO – O Serpro vai implantar o Expresso V3, um sistema de e-mail, webcam e webconferência, em todos os órgãos do governo federal. Como isso muda a segurança da comunicação do governo?
MARCOS MAZONI – O sistema retira do nosso ambiente de comunicação esses softwares que podem trazer algum risco de segurança. Mais especificamente produtos ligados aos fabricantes americanos, que, ao obedecer à legislação do seu país de origem, são obrigados a permitir esses back doors, essas portas dos fundos, para uso do governo dos Estados Unidos, se forem solicitados. Isso faz com que tenhamos muita vulnerabilidade. A determinação da presidenta Dilma é para que todo o governo use os nossos serviços, desenvolvidos a partir de soft­ware livre, com conhecimento dominado por brasileiros.
 
 
 
DINHEIRO – Como será esse e-mail?
MAZONI – Será um webmail, com um visual parecido com o e-mail do Google. Nos equipamentos oficiais haverá a opção da criptografia. Em outros equipamentos, como smartphones, isso ­não será possível, mas ainda assim o sistema é seguro, porque o túnel é criptografado. 
 
 
 
DINHEIRO – Isso aconteceu por causa das denúncias de espionagem ?
MAZONI – Sim, é por isso. Há uma preocupação adicional com essa vigilância. E há outro aspecto extremamente positivo, que é o reconhecimento da nossa capacidade intelectual de prover essas soluções. O Brasil não é dependente dessas empresas de tecnologia. O Brasil não depende nem da Microsoft nem do Google. Não precisa se submeter à espionagem para isso. Temos capacidade para prover essas soluções. É um padrão de complexidade que nós dominamos.
 
 
 
DINHEIRO – E por que essa capacidade nunca foi utilizada pelo governo?
MAZONI – Nós temos uma demanda muito grande de soluções, de produtos que não existem no mercado e precisam ser desenvolvidos, como renegociação de dívida e modernização de portos. O e-mail, como já é oferecido por outras empresas, acabou ficando para depois. Alguns órgãos já utilizam o nosso sistema, mas o número de usuários ainda é pequeno, cerca de 70 mil pessoas. Pela questão cultural, muitos optaram por soluções proprietárias de empresas como Microsoft e Google. Agora, temos a determinação da presidenta, o que vai fazer com que essa migração aconteça.
 
 
 
DINHEIRO – Não havia uma certa ingenuidade no governo quanto à vulnerabilidade dos sistemas de e-mails contratados dessas empresas americanas?
MAZONI – Acho que havia uma ingenuidade na sociedade mundial, com exceção de alguns países, como a Alemanha, que desde a Segunda Guerra usa soluções abertas, justamente para não ficar dependente de nenhuma empresa. Mesmo os Estados Unidos, onde estão sediadas essas empresas, tiveram muitos problemas na Guerra do Golfo com a comunicação com os aliados ingleses e os espanhóis. Essa não era uma questão premente para nós. Mas a sociedade está mudando e, atualmente, as invasões são cibernéticas e não mais físicas.
 
 
 
DINHEIRO – A presidenta Dilma vem usando o Gmail e o Outlook em suas comunicações pela internet. O presidente americano, Barack Obama, quando foi eleito, teve de deixar de usar o seu Blackberry, e só voltou a usá-lo depois que foi desenvolvido um sistema seguro. O Brasil não se deu conta da falta de segurança? Ninguém disse à presidenta Dilma que esses e-mails eram vulneráveis?
MAZONI – O problema não é a segurança do sistema, mas o fato de o servidor estar nos Estados Unidos e, portanto, sujeito às leis americanas. Então, o acesso pode ser feito pela via jurídica. A preocupação do Serpro com segurança é muito grande, porque nós cuidamos do sigilo fiscal dos brasileiros. A ferramenta que gera o Imposto de Renda foi desenvolvida por nós. Por isso, desenvolvemos os nossos próprios sistemas, a nossa nuvem. Essa preocupação com a segurança é natural para nós, mas não é tão natural para pessoas de outras áreas. De um modo geral, as pessoas têm uma grande preocupação com segurança física e acham que os produtos de software são inofensivos. Agora, estamos descobrindo que não são inofensivos, que essas possibilidades estão embutidas.
 
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A presidenta Dilma Rousseff, que foi espionada pelo governo de Barack Obama
 
DINHEIRO – Qual é o faturamento do Serpro e quanto ele pode crescer?
MAZONI – Faturamos R$ 2 bilhões no ano passado, e devemos ter um acréscimo em torno de R$ 600 milhões no próximo ano, em função desse contrato com a Presidência. Mesmo sendo uma empresa pública, temos contratos com os órgãos de governo e recebemos pagamentos pelos serviços. É uma ampliação proporcional ao investimento que teremos de fazer para aumentar nossa capacidade de processamento e armazenamento dos e-mails.
 
 
 
DINHEIRO – Quanto a empresa investe em tecnologia?
MAZONI – Investimos R$ 200 milhões por ano, mas no próximo ano o valor será superior a R$ 300 milhões, porque estamos montando um quarto datacenter, em São Paulo, a um custo de R$ 250 milhões. Já temos três centros, em Brasília, 
São Paulo e no Rio de Janeiro.
 
 
 
DINHEIRO – Quanto foi o investimento em nuvem?
MAZONI – Para colocar a nuvem do Serpro no ar, no mês passado, investimos R$ 10 milhões. É um investimento pequeno, porque nós usamos software livre e todo o conhecimento é do pessoal do Serpro. Temos 11 mil funcionários e 11 centros de desenvolvimento em todo o País, cada um deles com uma especialidade diferente.
 
 
 
DINHEIRO – Onde o serviço de e-mail será hospedado?
MAZONI – Totalmente no Brasil, nos centros de dados que já temos. A comunicação por internet na Esplanada dos Ministérios será feita por fibra ótica, através da infovia administrada pelo Serpro. A Telebras vai prover os serviços de longa distância. Quando contratamos operadoras, só contratamos os circuitos, usamos os nossos próprios roteadores. Toda a rede e o tráfego são administrados por nós.
 
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Agência dos Correios, em Brasília
 
DINHEIRO – Se este sistema já estivesse em funcionamento, ele teria evitado os casos de espionagem que vimos?
MAZONI – Sim. Agora teremos controle sobre todo o processo.
 
 
 
DINHEIRO – Além dos órgãos diretos do governo, vocês vão atender também empresas estatais, ou mistas, como a Petrobras?
MAZONI – A determinação da presidenta é que o conjunto do governo se dirija a uma solução aberta, como o Expresso V3. Alguns órgãos do governo têm a sua própria área de tecnologia de informação. Eles podem fazer download do produto e implantar, com suas equipes.
 
 
 
DINHEIRO – O sistema está disponível também para empresas privadas?
MAZONI – Qualquer empresa pode baixar os códigos-fonte sem pagar nada por isso. Inclusive uma empresa de TI pode oferecer o Expresso V3 a seus clientes. Ela não pode cobrar licença, mas pode cobrar pelo serviço de instalação e manutenção. Como se trata de um produto aberto, ele é mais seguro porque não existem autorizações prévias, tudo é autorizado no momento da instalação. É inclusive mais seguro quanto a vírus, porque as modificações feitas por cada usuário impedem que o vírus se dissemine.
 
 
 
DINHEIRO – O Serpro pode se transformar numa Microsoft brasileira?
MAZONI – Não é nosso objetivo. Já somos a maior empresa estatal de TI da América Latina. Nosso objetivo é continuar trabalhando para o governo. Já temos clientes como a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, o Ministério do Meio Ambiente, ICMBio, Ministério do Planejamento, e temos o Expresso na Autoridade Olímpica e na Receita.
 
 
 
DINHEIRO – E agora o universo será ampliado para todos os funcionários?
MAZONI – Sim, serão cerca de três milhões até junho de 2014.
 
 
 
DINHEIRO – Quanto o governo gasta hoje com pagamento de licenças para empresas como Microsoft e quanto vai economizar?
MAZONI – Num primeiro momento o governo pode economizar cerca de R$ 50 milhões. Em 2010, último dado disponível, o governo poupou R$ 350 milhões com o não pagamento das licenças. Somente os portais do governo, no sistema Linux, resultaram numa economia de R$ 15 milhões com as licenças iniciais, que precisam ser renovadas todos os anos.
 
 
 
DINHEIRO – Como é o contrato do Serpro com os Correios?
MAZONI – Estamos desenvolvendo um projeto para desmaterializar as correspondências. Os clientes terão uma conta exclusiva para receber boletos e contas, como a caixa de mensagem, que está hoje nos sites dos bancos. Outro projeto, que foi pedido agora pelo governo, é o de um e-mail gratuito, para o público em geral, que será oferecido pelos Correios, utilizando a tecnologia Expresso V3.
 
 
 
DINHEIRO – O Serpro administra todo o sistema da Receita Federal. Vocês já tiveram alguma invasão?
MAZONI – Nunca. Tivemos tentativas de derrubar o sistema, especialmente próximo ao prazo de entrega das declarações, mas nunca foram bem-sucedidas. Nós rastreamos tudo e bloqueamos.
 
 
 
DINHEIRO – Haverá mudanças em 2014?
MAZONI – Todo ano temos inovações no Imposto de Renda. Em 2013, lançamos a possibilidade de fazer declarações pelo tablet. Agora vamos permitir o uso também de smartphones e começar a trabalhar com informações pré-editadas. A declaração virá pronta e o contribuinte só precisa confirmar se está tudo certo e enviar para a Receita. Ou corrigir, se houver algo errado. É assim que funciona no Chile. Vamos cruzar as informações disponíveis em cerca de 30 bancos de dados do governo.