Bolinho típico das festas juninas do Vale do Paraíba, em São Paulo, é saboreado o ano inteiro na cidade de Jacareí
Por Janice Kiss
É secular a tradição do bolinho caipira no Vale do Paraíba, região que
abrange cidades paulistas e fluminenses. Na maioria delas, esse é o
principal quitute oferecido nas festas juninas, deixando para trás o
bolo de fubá, o pé de moleque, a canjica e a batata-doce. Mas, em
Jacareí, a 70 quilômetros de São Paulo, o salgado recheado e frito,
feito com farinha de milho, é uma verdadeira instituição - e pode ser
encontrado o ano inteiro no mercado municipal. A consideração do povo de
Jacareí pelo bolinho é tal que, neste mês, ele será reconhecido
oficialmente como patrimônio cultural da cidade.
Os primeiros registros da comercialização do petisco datam de 1925,
quando era preparado por Nicota Gehrke, dona de uma banca no mercado e
que vendia o produto também nas festas religiosas da cidade. Há quase 50
anos, essa tradição vem sendo mantida por José Maria de Souza, o
Zequinha do Mercadão. Num box montado 80 anos atrás por sua família, ele
serve salgadinhos variados - mas o campeão de vendas é mesmo o bolinho
caipira. "Por baixo, saem umas 120 unidades por dia, pelo preço de 40
centavos cada. Mas, quando faz frio, a quantidade duplica", garante
Zequinha. Ao longo do tempo, a receita original de seu salgado mais
famoso sofreu uma adaptação, passando a usar um tempero pronto com
glutamato monossódico. "Os mais tradicionais condenam, mas o paladar das
pessoas muda, e a gente tem de agradar o freguês", defende-se.
Diferentes versões do bolinho também são motivo de discórdia no Vale do
Paraíba. Em Jacareí, ele é comprido, feito com farinha de milho branca e
recheio de linguiça de porco. Na vizinha São José dos Campos, o costume
é prepará-lo com farinha amarela e carne moída e moldá-lo no formato
arredondado. As duas cidades asseguram ter a receita mais genuína.
Porém, o jornalista João Rural, nascido João Evangelista de Faria, um
estudioso da gastronomia do vale, acha difícil provar quem tem razão.
"Como nada foi documentado, ficam as histórias contadas pelos antigos",
comenta João, que prepara um livro sobre a culinária local.
Baseado nesses relatos, o jornalista concluiu que o preparo apareceu na
época da escravatura, sendo consumido após o trabalho braçal nas
fazendas da região. Já o historiador Alberto Capucci, diretor do
Patrimônio Cultural de Jacareí, acredita que a primeira versão do
bolinho - feita de beiju e recheada com peixes como lambari e pequira -
apareceu com os índios puris, que viviam nas margens do Rio Paraíba do
Sul.
Uma terceira teoria é apresentada por Eduardo e Jussara Gehrke, netos
de dona Nicota, a pioneira do mercado municipal. Eles sustentam que o
bolinho teria surgido entre os séculos XVII e XVIII por obra dos
tropeiros que atravessavam a região em direção a Minas Gerais à procura
de ouro. Entre as tralhas carregadas no lombo das mulas, figurava a
farinha de milho. O recheio do bolinho variaria conforme as paradas:
feito de peixe, se apeavam próximo aos rios, ou de porco, quando
encontravam criações pelos caminhos.
Essas duas preparações ao "estilo tropeiro" - com massa envolvendo
peixe e linguiça suína - poderão ser apreciadas num evento especial em
Jacareí neste mês. Entre os dias 11 e 13, o bolinho caipira ganha uma
festa só sua na cidade, para marcar seu reconhecimento como patrimônio
cultural.
BOLINHO CAIPIRA
100 unidades | Tempo de preparo: Cerca de uma hora | Dificuldade: baixa
100 unidades | Tempo de preparo: Cerca de uma hora | Dificuldade: baixa
INGREDIENTES
Massa
>>> 1 kg de farinha de milho branca
>>> 1 copo (tipo americano) de óleo
>>> 4 dentes de alho
>>> 1 maço de cheiro-verde
>>> 2 sachês (10 gramas) de tempero pronto com glutamato monossódico
>>> 3 litros de água
>>> sal a gosto
>>> 1 kg de farinha de milho branca
>>> 1 copo (tipo americano) de óleo
>>> 4 dentes de alho
>>> 1 maço de cheiro-verde
>>> 2 sachês (10 gramas) de tempero pronto com glutamato monossódico
>>> 3 litros de água
>>> sal a gosto
Recheio
>>> 300 g de linguiça de porco (ou a mesma quantidade de carne moída)
>>> 1 cebola ralada
>>> 1 sachê (5 gramas) de tempero pronto com glutamato monossódico
>>> cheiro-verde a gosto
>>> 1 cebola ralada
>>> 1 sachê (5 gramas) de tempero pronto com glutamato monossódico
>>> cheiro-verde a gosto
COMO FAZER
Refogue em óleo quente o alho e o cheiro-verde juntamente com o tempero
pronto. Coloque um litro de água e espere ferver. Em separado, esfarele
os flocos da farinha em uma bacia e adicione a água com os temperos.
Mexa com força, usando uma colher de pau. Acrescente aos poucos dois
litros de água fria, até a massa se desprender das mãos e ficar no ponto
de enrolar. Faça um furo no bolinho, recheie com a carne crua e
temperada de sua preferência e molde-o num formato alongado. Frite em
óleo bem quente. Nas festas juninas, o quitute é acompanhado de um copo
de quentão. Na banca do Zequinha do Mercadão, o costume é comê-lo com
café fresquinho.