Comercial mostra CEO da TransCanada cacarejando sobre como “algumas mentiras” fizeram com que americanos acreditassem em sua ideia de um oleoduto
Oleoduto da TransCanada: um bilionário da Califórnia adotou como meta pessoal provocar o fracasso de um projeto de US$ 5,4 bilhões da TransCanada
Calgary - Russ Girling, o CEO da TransCanada, aparece atravessando
vertiginosamente um oleoduto sinuoso, com petróleo bruto escorrendo pelo
rosto, cacarejando sobre como “algumas mentiras clássicas” fizeram com
que o ingênuo público americano acreditasse plenamente em sua ideia de
construir o oleoduto Keystone XL.
Ele sai disparado do outro lado para confessar com exuberância outro
engano. “Dissemos que o oleoduto Keystone tornaria os EUA mais
independentes em relação ao petróleo”, diz ele. “Quer saber quem se
tornará mais independente?”. Ele aponta para uma frota de
superpetroleiros chineses saindo da costa americana.
É claro, esse não é o verdadeiro Russ Girling. É um ator que o
interpreta em um anúncio criado pelo NextGen Climate Action, um grupo
ambiental contra o oleoduto Keystone XL. O comercial foi financiado por
Tom Steyer, o bilionário da Califórnia que adotou como meta pessoal
provocar o fracasso do projeto de US$ 5,4 bilhões.
Qual a reação de Girling quando viu o anúncio pela primeira vez? “Não
tive uma reação negativa, mas talvez devesse ter tido”, disse ele em uma
entrevista. “Mas mandei uma mensagem à minha esposa e aos meus filhos e
disse, ‘Talvez vocês vejam isso, então provavelmente vocês devam dar
uma olhada’. Você não pode deixar que isso lhe incomode pessoalmente”.
Outros não foram tão lacônicos. O jornal Financial Post do Canadá
considerou o comercial uma ofensa nacional e declarou que era “um golpe
baixo ao Canadá” e uma prova de que “os ativistas americanos
antipetróleo enlouqueceram” e precisam da “supervisão de um adulto”.
‘Pessoa comum’
Quando assumiu a chefia da TransCanada em 2010, vindo do lado das finanças, ele supôs o que a maioria dos canadenses supunha: que os EUA, há muito o principal parceiro de energia do Canadá, desejavam o oleoduto Keystone XL, os 4.000 ou mais empregos que sua construção geraria e o petróleo pesado de areias petrolíferas que alimentaria as refinarias na Costa do Golfo dos EUA, que tinham empreendido atualizações multibilionárias para aceitá-lo.
Desde então, a política se tornou irritante. O oleoduto de 1.897 quilômetros foi convertido em uma luta simbólica contra a mudança climática liderada por grupos ecologistas dos EUA. Os protestos se espalharam e envolveram Hollywood em agosto de 2011, quando a atriz Daryl Hannah se encadeou a uma grade da Casa Branca com outros ambientalistas.
Os críticos dizem que a TransCanada errou por não prever que a rota do oleoduto Keystone poderia ser alvo de polêmica e por resistir os pedidos iniciais de modificá-la antes que a situação se transformasse em uma batalha pública. De qualquer forma, os fazendeiros de Nebraska – preocupados com a potencial ameaça de uma ruptura do oleoduto sobre um vasto aquífero que corre sob uma área ecologicamente sensível, conhecida como Sand Hills – não demoraram em fazer lobby para mudar o trajeto da linha.
Nesses dias, quase quatro anos depois de se tornar CEO, Girling calcula que passa metade do tempo tentando reafirmar aos céticos que os oleodutos projetados para transportar o petróleo bruto das areias petrolíferas, também conhecido como betume, não destruirão o planeta. Um debate com Steyer teria se tratado mais de emoções do que de fatos, disse Girling.
Entretanto, Girling diz que está tão disposto a escutar quanto a fazer lobby. Em setembro, Judi Poulson, ativista contra o oleoduto Keystone XL e dona de casa de Fairmont, Minnesota, conseguiu entrar em contato com Girling através do telefone do escritório e conversar com ele por cinco minutos.
“Foi importante que ele tenha atendido minha ligação”, disse Poulson, 72. Ele escutou com atenção e perguntou por que ela pensava que a linha pioraria a mudança climática, disse Poulson. “Fiquei surpresa por ele ter sido tão amável”.