Fernando Vichi (à esq.), Renata e Celso Moraes, do CRM: dois anos de negociações para firmar acordo com a marca suíça.
A marca suíça de chocolates Lindt terá lojas no Brasil, e a
primeira unidade deve ser aberta em São Paulo até julho. O plano de
negócios está sendo desenhado por uma joint-venture que inicia suas
operações hoje, formada pela Lindt & Sprüngli e pelo grupo
brasileiro CRM - dono da Kopenhagen e da Chocolates Brasil Cacau. O
acordo foi assinado na sexta-feira, após dois anos de negociações.
Até agora, produtos da Lindt estão disponíveis no Brasil em lojas
"duty free" em aeroportos e no grande varejo, distribuídos pela
importadora Aurora Alimentos. Os novos espaços da marca terão um
portfólio mais abrangente, de cerca de 200 produtos - todos importados.
Além dos itens mais conhecidos dos brasileiros, como as trufas Lindor e
os tabletes, serão vendidas opções para presente, pralinés (tipo de
bombom com recheio de castanhas) e a linha jovem Hello. Segundo o
presidente do grupo CRM, Celso Ricardo de Moraes, o preço médio dos
produtos é semelhante ao da Kopenhagen - ambas as marcas estão no
segmento premium.
A Lindt tem 51% da nova empresa que vai administrar as lojas da marca
no Brasil. O restante pertence à dona da Kopenhagen. Num primeiro
momento, os pontos de venda da marca suíça no país serão próprios, mas
no futuro pode haver expansão por meio de franquias. A companhia suíça
está presente em cerca de 100 países e um de seus modelos de negócios
são as lojas.
O grupo CRM tem 820 lojas no Brasil, a maioria franquias. Suas vendas
somaram R$ 760 milhões no ano passado, em alta de 42% em relação ao ano
anterior. A companhia planeja encerrar este ano com mais de mil pontos e
ultrapassar R$ 1 bilhão em faturamento.
A marca Lindt, criada há quase 170 anos, tem capital aberto na Suíça.
Em 2013, as vendas cresceram 8% e somaram 2,88 bilhões de francos
suíços (US$ 3,28 bilhões). A companhia tem oito fábricas nos Estados
Unidos e na Europa.
Segundo Moraes, a companhia suíça tem buscado crescer em países
emergentes, e o Brasil, terceiro maior mercado de chocolates do mundo, é
uma das prioridades. Essa é a primeira joint venture da Lindt na
América Latina, mas a marca está presente em quase todos os países da
região por meio de parceria com distribuidores locais. Recentemente, a
Lindt criou subsidiárias em outros países em desenvolvimento, como China
e África do Sul.
Moraes, de 69 anos, comprou a Kopenhagen em 1996 das mãos da família
fundadora que dá nome à marca. Sua filha, Renata, e o genro, Fernando
Vichi, executivos do grupo, ficaram à frente das conversas com a Lindt.
Antes de fechar o negócio, o time suíço esteve algumas vezes no Brasil,
visitando as instalações da CRM e o mercado, inclusive o CEO, Ernst
Tanner.
A Lindt vai enviar executivos de finanças, marketing e logística, que
ficarão na sede do grupo CRM em São Paulo, uma luxuosa casa que
pertencia à grife Daslu.
Para Renata Moraes, vice-presidente de marketing do grupo CRM, a
decisão de criar a Brasil Cacau, rede com produtos mais baratos lançada
em 2009, provou que o grupo consegue administrar negócios diferentes.
No
ano passado, essa marca dobrou de tamanho e já tem 490 lojas. No
varejo, no entanto, a companhia não teve o mesmo sucesso. A linha de
doces de chocolate Dan Top, adquirida em 2007, foi retirada do varejo no
fim de 2011, mesmo ano em que o grupo anunciou investimentos para
revitalizá-la. Segundo Renata, a prioridade da companhia nos últimos
anos foi a Chocolates Brasil Cacau. "Além disso, vimos que era muito
diferente uma operação de varejo". Mas o presidente do grupo afirma que
pode reativar a marca mais para frente.
Segundo Renata, ter no portfólio lojas da Brasil Cacau, da Kopenhagen
e da Lindt contribui para o amadurecimento do mercado de chocolaterias
no Brasil. "A ideia é que o brasileiro que pensar em chocolates, de
qualquer classe ou faixa etária, encontre uma opção fora do
supermercado". Segundo Fernando Vichi, vice-presidente de finanças, "nas
últimas duas Páscoas, vimos uma migração forte do consumidor do
supermercado para as lojas especializadas."
A Lindt chegou a negociar com a Cacau Show, com 1,6 mil lojas, mas as conversas não avançaram, segundo fontes do mercado.