SÃO PAULO - Bolsa,
dólar e juros sobem no último pregão da semana. No mercado de juros,
ainda há ajustes que refletem a preocupação com o rumo da política
monetária. O mercado absorve tanto o tom da ata do Copom e das
declarações do presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini como
os riscos elevados no cenário de inflação.
Na Bovespa, o dia é volátil, mas com tendência positiva no começo da
tarde. O índice, para surpresa de muitos operadores e embalado por fluxo
financeiro, volta a subir, após três pregões de queda.
O dólar tem ajuste técnico e volta a perder força ante o real nesta sexta-feira, mas sobe.
Nos mercados internacionais, o dia também é de volatilidade, a exemplo da Bovespa, mas o tom é majoritariamente negativo.
Câmbio
O dólar volta a perder força ante o real nesta sexta-feira, saindo
das máximas do dia e passando a operar perto da estabilidade. Segundo
profissionais, entradas pontuais de recursos e o não rompimento de uma
resistência técnica no mercado futuro acabaram estimulando um apetite
mais vendedor, que conseguiu devolver a cotação para próximo do
fechamento de ontem.
Ao redor de 13h50, o dólar comercial subia 0,31%, para R$ 2,2110,
após ter alcançado R$ 2,2200 na máxima do dia. No mercado futuro, o
contrato de maio registrava valorização de 0,06%, para R$ 2,2195.
“O mercado hoje está mais técnico, operando em pontos específicos”,
diz o profissional da área de câmbio de uma asset. Segundo ele, o quadro
geral ainda não mudou: o dólar pode continuar caindo com fluxos para
portfólio, mas nada que sinalize uma melhora de médio e longo prazo na
percepção com o Brasil.
As constantes injeções de liquidez pelo Banco Central (BC) e a
percepção de que a autoridade monetária não trabalhará contra novas
quedas do dólar também ajudam a reduzir o apetite comprador. O BC
novamente vendeu hoje todos os quatro mil contratos de swap cambial
tradicional, em operação que funcionou como uma “injeção” de US$ 198,2
milhões no mercado futuro.
Além da venda líquida de papéis, o BC fez a rolagem de mais 10 mil
contratos de swap cambial tradicional ofe rtados em leilão, postergando o
vencimento do equivalente a US$ 494,0 milhões nesses contratos. Com a
operação de hoje, o BC elevou a US$ 2,9638 bilhões o montante rolado
referente aos swaps com vencimento em maio, de um total de US$ 8,733
bilhões.
Citando uma mudança no “mix” de política, melhora “moderada” na
perspectiva do lado fiscal e uma recuperação dos termos de troca, o
banco americano revisou para baixo a estimativa para o dólar no fim do
ano. A expectativa de que o governo induza uma estabilidade do real
devido à inflação pressionada e à aproximação do fim do ciclo de aperto
mon etário também justifica a melhora no prognóstico para a moeda
brasileira.
O banco americano vê agora o dólar encerrando o ano a R$ 2,40, ante
previsão anterior de R$ 2,50, segundo relatório enviado a clientes. O
J.P. Morgan estima uma melhora em torno de 5% nos termos de troca, com a
valorização das commodities agrícolas compensando o declínio nos preços
do minério de ferro. O banco considera ainda que os modelos para a taxa
real efetiva de câmbio estão “consistentes” com o dólar a R$ 2,32.
Para o J.P. Morgan, o fato de o BC continuar fazendo rolagens de swap
a despeito do nível mais baixo do dólar é um indicativo de que a taxa
de câmbio é o instrumento que provavelmente servirá para amortecer
pressões de preços. “O BC tem colaborado com a ideia de que um real mais
forte é bem-vindo, conforme continua ofertando US$ 200 milhões em swaps
cambiais por dia e rolando papéis com vencimento no próximo mês”,
afirmam os estrategistas, acrescentando que, no atual ritmo, o BC deve
rolar a maior parte dos US$ 8,7 bilhões em swaps com vencimento em maio.
Em entrevista ao “The Wall Street Journal”, Tombini disse que a
depreciação do real no ano passado atrapalhou a estratégia de reduzir a
inflação, apesar do aperto monetário já em curso na ocasião. O
presidente do BC afirmou ainda que parte do movimento de alta da Selic
desde o ano passado esteve relacionado à tentativa de conter os efeitos
secundários da depreciação cambial e reconheceu que os movimentos da
taxa de câmbio influenciam, sim, a trajetória da inflação.
A leitura do mercado, reforçada pela ata do Copom de ontem, é que o
BC não fará grandes esforços para impedir uma valorização adicional do
real, o que traria um alívio à inflação. Essa ideia ganhou força depois
que o BC anunciou que faria leilões de rolagem de swap cambial
tradicional mesmo com o dólar oscilando em torno de R$ 2,20.
“O BC nunca vai admitir isso, mas as ações dele dizem que, sim, o
câmbio é uma arma contra a inflação que não será descartada”, afirma o
profissional da asset.
O mercado observa ainda eventuais fluxos oriundos do pagamento da
primeira parcela de remuneração mínima a acionistas da Vale, no valor de
US$ 2,1 bilhões. Esse montante será convertido em reais pela Ptax desta
sexta-feira. O pagamento será feito em 30 de abril.
Juros
O mercado de juros deu sequência ao movimento de inclinação da curva a
termo, refletindo ainda a preocupação com o rumo da política monetária e
seus efeitos sobre a inflação. Ontem, o tom da ata do Copom e também
das declarações do presidente do BC reforçou a visão de que o ciclo de
aperto monetário pode ser encerrado em breve. Diante de riscos elevados
no cenário de inflação, a reação típica dos agentes é de ampliar o
prêmio de risco nos contratos mais longos.
Depois da divulgação de uma ata com sinais sobre a intenção da
autoridade monetária parar de subir os juros, Tombini falou ao The Wall
Street Journal que uma pausa no ciclo de aperto monetário “é uma
possibilidade”. “Vamos ver, temos quase dois meses até a próxima
reunião, que será no fim de maio.” Ele afirmou que o principal fator
para a decisão será a evolução das perspectivas de inflação.
Existe o receio de que a inflação não autorize essa pausa. Afinal,
após o IPCA de março, que subiu 0,92%, a probabilidade de a inflação
superar o teto da meta ficou ainda mais próxima. “Como o BC vai parar de
subir a Selic em maio, justamente quando o IPCA acumulado em 12 meses
deve ficar acima de 6,5%?”, observa um operador.
Além disso, agentes veem no risco de um racionamento de energia
elétrica uma razão de cautela para a política monetária. Essa é uma
variável que será acompanhada de perto pelos agentes nas próximas
semanas. Para profissionais, se o abastecimento de energia realmente
alcançar níveis mais críticos, então o ciclo de aperto monetário poderá
ter de ser mantido, ainda que em doses de 0,25 ponto, dizem operadores.
Esse conjunto de fatores explica o movimento observado entre ontem e
hoje, de elevação do prêmio de risco na curva de juros. Enquanto os
juros mais curtos cedem, os longos avançam. E a diferença entre o DI
janeiro/2015 e o janeiro/2017 alcança 1,29 ponto nesta manhã. Isso, a
despeito da intensa queda dos juros dos títulos do Tesouro americano,
que reagem à aposta de que não haverá aperto monetário nos Estados
Unidos tão cedo. Nesta manhã, apesar do resultado positivo da confiança
do consumidor americano, o rendimento da T-note segue em nível baixo, em
2,628%, depois de toar a mínima de 2,607% no início do dia.
Em tempo: O presidente do BC participa hoje da reunião de ministros
da Fazenda e presidentes de bancos centrais dos países do G20, no FMI,
em Washington. Mas a informação é de que o encontro será fechado, sem a
possibilidade de participação da imprensa.
Na BM&F, o DI janeiro/2017 operava a 12,38%, de 12,31% ontem. O DI janeiro/2015 marcava 11,07%, de 11,05% ontem.
Bolsa
O Ibovespa tem uma tarde positiva, depois de uma manhã no vermelho. A
correção do índice, por enquanto, durou apenas três dias. Depois de
bater mínima de 1,19% pela manhã, virou pouco antes do meio-dia e subia
0,33% ao redor de 13h50, para 51.296 pontos. Segundo o estrategista da
SLW Corretora, Pedro Galdi, volta o fluxo comprador à Bovespa e o índice
passa por ajuste depois de ter caído por três pregões seguidos.
Petrobras PN avançava 1,28% e Vale PNA declinava 1,15%.
Galdi observa ainda que o Ibovespa melhorou com as bolsas dos Estados
Unidos, que não chegam a subir, mas diminuíram bem as quedas depois da
divulgação do índice de confiança do consumidor de Michigan, que subiu a
82,6 pontos na prévia de abril.
Pela manhã, a perda foi puxada por discussões acerca do crescimento
chinês, após declaração do primeiro ministro chinês, Li Keqiang, de que a
expansão do PIB do país pode ficar abaixo da meta de 7,5%. A declaração
veio após os decepcionantes dados referentes ao comércio externo de
março.
Por aqui, a ação da Sabesp lidera as perdas do Ibovespa e cedia 4,7%,
depois de a Agência Reguladora de Saneamento e Energia do Estado de São
Paulo (Arsesp) desistir de publicar a revisão tarifária da empresa.
As incertezas do calendário de 2014 estão deixando o ano cada vez
mais difícil de prever quando o assunto é investimento em ações no
Brasil. Bancos estrangeiros têm adotado posições opostas nas
preferências para aplicações, em meio a um quadro cada vez mais volátil e
com indicadores dissonantes. É o caso de Citibank e Credit Suisse.
Ontem, as duas casas divulgaram relatórios sobre as ações brasileiras,
com posições distintas. O Citi recomenda posição underweight (abaixo da
média do mercado) e o Credit overweight (acima da média do mercado).
Para os analistas Stephen Graham e Fernando Siqueira, do Citi
Research, os investidores devem manter uma postura defensiva e de
exposição abaixo da média, a não ser que encontrem maneiras de se
proteger contra os riscos que a bolsa pode oferecer entre o final de
2014 e o começo de 2015. Entre eles estão eleições e necessidade de
ajuste fiscal.
Mercados Internacionais
Os mercados internacionais têm mais volatilidade nesta sexta-feira,
com Wall Street passando por um novo dia de perdas. Na Europa, as
principais bolsas fecharam em queda, o que também ocorreu na Ásia mais
cedo. Em um dia com poucos dados importantes, o movimento negativo de
ontem se mantém, ainda que Nova York tenha mostrado certa reação no meio
do pregão.
Assim, nas praças americanas, o Dow Jones declinava 0,42%. O Nasdaq cedia 0,30% e o S&P 500 perdia 0,28%.