sexta-feira, 11 de abril de 2014

Crise do IBGE assusta os que querem o órgão independente

  Míriam Leitão 


Normalmente, eu faço o balanço da semana no comentário da CBN Brasil de sexta-feira, mas desta vez, os ouvintes pediram que eu comentasse a crise no IBGE. Foram vários e-mails e, por isso, o jornalista Carlos Alberto Sardenberg pediu que eu me concentrasse nesse ponto. Alguns ouvintes disseram que temem que aconteça aqui o que houve na Argentina.

A crise começou quando foi suspensa a pesquisa da Pnad Contínua. Na quinta-feira foram divulgados dados sobre o mercado de trabalho. Eles mostraram que a taxa média de desemprego no Brasil ficou em 7,1% em 2013. Os números por regiões, no entanto, mostram distorções: no Sul, por exemplo, está em 4,2%; no Nordeste, em 9,5%. O mercado de trabalho melhorou muito nos últimos anos, mas o desemprego de jovens continua alto. No Nordeste, é de quase 20%.

Esses números, vale lembrar, são mais altos que os da PME, porque calcula a taxa em todo o Brasil, não só em seis regiões. Portanto, não são comparáveis. Essa é uma pesquisa cuja implantação vem sendo feita cuidadosamente há anos, porque se trata de passar a ter dados de 211 domicílios em 3.500 municípios sobre vários indicadores. Mas a ex-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, hoje chefe da tropa de choque do governo no Senado, reclamou da margem de erro nos dados de renda, e a pesquisa foi suspensa. Segundo funcionários do órgão, sem consulta ao corpo técnico. Marcia Quintslr, diretora da pesquisa, pediu demissão do cargo e outros coordenadores ameaçaram segui-la. 

O IBGE tem um histórico de resistência a qualquer interferência em questões técnicas. A presidente é também funcionária do Instituto e explicou que não houve interferência. O IBGE, que resistiu à interferência no governo Sarney, resistiu aos cortes absurdos do orçamento no governo Collor, mantém sempre sua independência quando há alguma tentativa de intervenção.

O instituto é valioso demais para o Brasil e sobre sua independência não pode pairar qualquer dúvida. A torcida é para que tudo se esclareça e a senadora fique longe do instituto de estatísticas que tem 80 anos de bons serviços prestados ao Brasil.


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