Míriam Leitão
Normalmente, eu faço o balanço da semana no comentário da CBN
Brasil de sexta-feira, mas desta vez, os ouvintes pediram que eu
comentasse a crise no IBGE. Foram vários e-mails e, por isso, o
jornalista Carlos Alberto Sardenberg pediu que eu me concentrasse nesse
ponto. Alguns ouvintes disseram que temem que aconteça aqui o que houve
na Argentina.
A crise começou quando foi suspensa a pesquisa da
Pnad Contínua. Na quinta-feira foram divulgados dados sobre o mercado de
trabalho. Eles mostraram que a taxa média de desemprego no Brasil ficou
em 7,1% em 2013. Os números por regiões, no entanto, mostram
distorções: no Sul, por exemplo, está em 4,2%; no Nordeste, em 9,5%. O
mercado de trabalho melhorou muito nos últimos anos, mas o desemprego de
jovens continua alto. No Nordeste, é de quase 20%.
Esses números,
vale lembrar, são mais altos que os da PME, porque calcula a taxa em
todo o Brasil, não só em seis regiões. Portanto, não são comparáveis.
Essa é uma pesquisa cuja implantação vem sendo feita cuidadosamente há
anos, porque se trata de passar a ter dados de 211 domicílios em 3.500
municípios sobre vários indicadores. Mas a ex-chefe da Casa Civil,
Gleisi Hoffmann, hoje chefe da tropa de choque do governo no Senado,
reclamou da margem de erro nos dados de renda, e a pesquisa foi
suspensa. Segundo funcionários do órgão, sem consulta ao corpo técnico.
Marcia Quintslr, diretora da pesquisa, pediu demissão do cargo e outros
coordenadores ameaçaram segui-la.
O IBGE tem um histórico de
resistência a qualquer interferência em questões técnicas. A presidente é
também funcionária do Instituto e explicou que não houve interferência.
O IBGE, que resistiu à interferência no governo Sarney, resistiu aos
cortes absurdos do orçamento no governo Collor, mantém sempre sua
independência quando há alguma tentativa de intervenção.
O
instituto é valioso demais para o Brasil e sobre sua independência não
pode pairar qualquer dúvida. A torcida é para que tudo se esclareça e a
senadora fique longe do instituto de estatísticas que tem 80 anos de
bons serviços prestados ao Brasil.
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