GENEBRA - O governo dos Estados Unidos buscou
garantias da parte de Dilma Rousseff em 2006 quando ela ainda era
presidente do Conselho da Petrobrás antes de dar o sinal verde para que a
empresa brasileira comprasse uma refinaria em Pasadena. Telegramas
confidenciais da diplomacia americana obtidas pelo grupo Wikileaks
revelam reuniões e missões enviadas ao Brasil pela Casa Branca diante da
possibilidade de que a estatal brasileira comprasse a refinaria
americana. Outro consultado foi o ex-diretor internacional da Petrobrás,
Nestor Cerveró, epicentro da crise.
Um dos telegramas de 12 de junho de 2006 é explícito em relação ao
assunto já em seu título: “A Aquisição da Petrobrás da Pasadena Refining
Systems”. O documento foi enviado pela embaixada americana em Brasília
ao Departamento de Estado norte-americano e relata os encontros de
ministros e delegações de Washington com autoridades nacionais, entre
elas Dilma Rousseff.
Uma das preocupações se referia à atuação da Petrobrás concorrendo
contra interesses americanos na América Latina e tirando proveito
justamente do fato de que governos da região começavam em 2006 a
nacionalizar investimentos americanos. O temor era de que esses
governos, uma vez recuperado os ativos de empresas americanas,
repassariam os investimentos para a Petrobrás.
Em
junho de 2006, uma missão encabeçada pelo secretário de Comércio do
governo de George W. Bush viajou ao Brasil para debater essa situação. O
governo americano queria garantias por parte da Petrobrás de que a
empresa não iria ocupar o lugar deixado pelas empresas dos EUA depois
que presidente Rafael Correa do Equador nacionalizou operações de
petroleiras americanas no país.
O caso era considerado como chave para entender a posição da
Petrobrás na região e a concorrência com os americanos. “A missão
recebeu garantias de forma repetidas, de maneira mais proeminente
durante a visita do Secretário de Comércio Gutierrez no dia 7 de junho
com a chefe da Casa Civil do presidente Lula, Dilma Rousseff – que
também atua como presidente do Conselho da Petrobrás – de que a
Petrobrás não tem interesse em assumir os ativos da Occidental
Petroleum’s Ecuador”, indica o telegrama.
“Diante dessas garantias, feitas em nível ministerial, o posto
acredita que o caso Occidental não deve ser um obstáculo para a proposta
da Petrobrás para adquirir 50% da Pasadena Refining Systems (PRS)”,
indicou o governo americano. “O posto não acredita que a aquisição da
Petrobrás da PRS signifique um risco à segurança nacional”, indicou a
embaixada americana, depois de citar o encontro com Dilma.
Cerveró
- O governo americano também aponta para
reuniões com o ex-diretor internacional da Petrobrás, Nestor Cerveró.
Ele foi o responsável pelo parecer técnico que baseou a decisão do
Conselho de Administração da Petrobrás de comprar a refinaria, alvo de
investigações.
O encontro ocorreu no dia 26 de maio de 2006 no Rio de Janeiro.
Washington queria saber de Cerveró se a Petrobrás estava interessada nos
ativos nacionalizados pelo Equador. “Seria um má política para a
Petrobrás minar sua relação com a Occidental assumindo seus ativos no
Equador”, indicou Cerveró.
A aquisição da refinaria nos EUA continuaria na agenda entre os dois
países. Em 11 de setembro de 2006, o embaixador americano no Brasil se
encontraria com o então presidente da Petrobrás, Sérgio Gabrielli.
“Gabrielli disse ao embaixador que, como parte de um esforço para
aumentar suas exportações e ativos globais, a empresa planejava forte
investimentos nos EUA”, disse o telegrama daquele dia. Segundo
Gabrielli, a refinaria em Pasadena faria parte desse projeto e outra na
Califórnia estaria sendo estudada pelo brasileiro. A meta era a de
incrementar a produção mundial de barris por parte da empresa de 2,4
milhões por dia para 4,5 milhões em 2011.
Num telegrama de 30 de junho de 2008, diplomatas americanos relatam o
encontro entre o então embaixador dos EUA no Brasli, Sobel, e o diretor
internacional da Petrobrás, Jorge Luiz Zelada. O brasileiro apontava na
ocasião como a empresa estava investindo US$ 5 bilhões nos EUA. “Zelada
afirmou que a Petrobrás está tentando adquirir os outros 50% da
refinaria Pasadena em Houston para a aliviar a pressão no que se refere à
refinaria no Brasil”, indicou o documento.
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