Nos últimos 50 anos os papéis das diferentes agências de comunicação
são muito claros. A agência de propaganda é a chefe responsável por
desenvolver o conceito master da campanha e pelo nobre papel de comprar
toda a mídia. A agência de promoções é quem tem o papel não tão nobre,
financeiramente falando, de colocar o conceito na rua. A agência
digital é quem tem o papel ainda menos nobre de transformar o conceito
em site e, eventualmente, num advergame bacaninha. A agência de RP
resolve as eventuais crises. O que não é nada nobre, financeiramente
falando.
Só que da mesma forma que colocou de pernas para o ar a industria
fonográfica e de conteúdo em geral, a tecnologia vem mudando rapidamente
a forma como as empresas se relacionam com seus consumidores e,
consequentemente, o negócio das agências de comunicação.
Sentar numa mesa de briefing hoje está bem mais complicado e
delicado. O conceito master que funciona na mídia de massa, entendido
por 100% da população, já não necessariamente funcionará bem na mídia
social, onde precisa ser de alguma forma disruptivo para ser viralizado.
Então quem fica responsável pelo conceito master? Também não está claro
se o relacionamento com formadores de opinião será feito pela agência
de RP ou pela agência digital, já que na internet todo mundo é um
formador de opinião.
Ou seja, os rótulos que funcionavam na cabeça do anunciante já não
estão funcionando tão bem e as sobreposições são cada vez maiores.
O consenso geral é que agências especializadas não vão desaparecer,
mas que um novo formato de agência vai subir em importância estratégica
junto aos clientes. O que começamos a ouvir e é minha aposta para esta
nova agência, ainda não rotulada, envolve as seguintes 4 competências:
- Domínio do ambiente digital: simplesmente porque será cada vez mais insustentável a mídia de massa. Novos produtos e serviços surgem numa velocidade maior do que conseguimos consumi-los. Ter um punhado de veículos que promova o encontro entre a oferta destes novos produtos e a sua demanda num ambiente analógico fica impossível do ponto de vista da relevância e, em breve, será mais caro do que tentar atingir o mesmo público de forma fragmentada. A agência precisa estar preparada para trabalhar numa realidade que performance é a palavra chave e precisará contratar muitos engenheiros para construir uma mensagem que utilize todas as possibilidades desta comunicação em rede.
- Técnicas de RP: neste mundo da mídia socializada, onde cada pessoa é ao mesmo tempo consumidora e veículo de comunicação, é preciso saber a diferença básica entre o que é notícia e o que não é notícia. Pensando como RP, Steve Jobs fez um telefone celular que é notícia, saindo espontaneamente na capa de todas revistas do mundo e a cada upgrade do sistema operacional vira trend topic no Twitter. As agências precisam pensar campanhas como notícia.
- Talento editorial: as empresas descobriram o que o mundo do entretenimento já sabe há muito tempo: é muito bom ter fãs, pois eles falam apaixonadamente dos seus ídolos e compram tudo que podem sobre eles. Se antes apenas artistas e atletas tinham fãs, hoje a tecnologia que permite qualquer um atingir grandes audiências, faz com que qualquer marca possa (e deva) ter fãs. E para alimentar DIARIAMENTE
- DNA Social: se você não notou, a mídia socializou. Hoje qualquer pessoa produz conteúdo em texto, áudio ou vídeo e, mais importante, consegue distribuir este conteúdo para uma grande audiência. A agência precisa ter na veia a habilidade de introduzir as marcas nesta conversa global que os mercados se transformaram. Sem medo de ouvir críticas ou de não agradar a todos.
Estes milhões de fãs que algumas marcas já possuem em seus canais proprietários nas plataformas sociais, é preciso que a agência saiba desenvolver um editorial próprio para cada posicionamento de marca que também consiga entreter sua base de fãs-consumidores.
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