terça-feira, 24 de novembro de 2015

Pfizer levará fusões na área de saúde acima de US$600 bi


François Lenoir/Reuters
Sede Pfizer em Bruxelas, na Bélgica
Sede Pfizer em Bruxelas, na Bélgica: o setor de saúde tem visto uma onda sem precedentes na atividade de fusões desde o início de 2014
 
Da REUTERS

O iminente acordo da Pfizer para comprar a fabricante do Botox Allergan por mais de 150 bilhões de dólares vai coroar uma corrida iminente para fusões e aquisições no setor de saúde, levando o valor total das negociações em 2015 para mais de 600 bilhões de dólares.

Ajudado por financiamentos baratos, o setor de saúde tem visto uma onda sem precedentes na atividade de fusões desde o início de 2014, se estendendo desde grandes farmacêuticas comprando rivais menores à consolidação entre fabricantes de medicamentos genéricos e acordos entre seguradoras.

A aquisição da Allergan pela Pfizer, que pessoas familiarizadas com o assunto disseram ter tido aval do conselho no domingo, fará a indústria de saúde saltar ao primeiro posto em negociações por setores, à frente de ambos os setores de energia e tecnologia.
Dados da Thomson Reuters mostraram que as fusões e aquisições na indústria de saúde no fim da última semana já atingiram 460,2 bilhões de dólares, superando o recorde do ano de 392,4 bilhões de dólares em 2014. As fusões em energia ficaram em 572,4 bilhões de dólares e as de alta tecnologia em 514,4 bilhões.

O acordo entre Pfizer e Allergan é o maior da história no setor de saúde, superando o recorde anterior de 1999, quando a Pfizer comprou a Warner-Lambert por 90 bilhões de dólares para ganhar o controle do medicamento contra colesterol Lipitor.

JBS reconquista investidores após onda de aquisições




Paulo Fridman/Bloomberg
Logo da JBS
JBS: empresa deve essa façanha improvável principalmente à desvalorização do real
 
Emma Orr, da Bloomberg

A maior exportadora de carne do mundo está reconquistando os investidores em bonds desencantados com a onda de aquisições da empresa no início deste ano.

Os US$ 750 milhões em notas da JBS para 2024 viram retornos totais de 8 por cento desde que atingiram o nível mais baixo em seis meses em 29 de setembro. É mais de duas vezes o ganho médio em mercados emergentes.

Apesar de investir US$ 3,5 bilhões para abocanhar produtoras de carne suína e de ave no Reino Unido e nos EUA, a JBS, que tem sede em São Paulo, conseguiu reduzir a alavancagem ao nível mais baixo em oito anos.
A empresa deve essa façanha improvável principalmente à desvalorização do real.
Com classificação de grau especulativo, a produtora de carne gera mais de 80 por cento de suas receitas em dólares, o que a deixou endinheirada no momento em que o real sofre o maior colapso entre as moedas dos mercados emergentes.

Em 12 de novembro, a JBS reportou lucro recorde com a queda do real ajudando a impulsionar a receita em 40 por cento no terceiro trimestre em relação ao ano anterior.

“Muitas pessoas sentiram que as estratégias deles eram agressivas porque eles se alavancaram muito para comprar as outras empresas, mas eles foram capazes de reverter essa alavancagem muito rapidamente”, Carlos Gribel, chefe de renda fixa da Andbanc Brokerage, disse de Miami.

“Esta é realmente uma história incrível”.

A JBS revelou a aquisição da unidade americana de carne suína da Cargill, por US$ 1,45 bilhão, em julho, um mês depois de dizer que pagaria US$ 1,51 bilhão para adquirir a produtora de frango Moy Park, com sede no Reino Unido. Essas aquisições elevaram o total que a JBS investiu em aquisições na década passada para cerca de US$ 20 bilhões.

E pode haver mais no horizonte, disse Jerry O’Callaghan, diretor de relações com investidores da JBS.

“Sem colocar em risco o nosso balanço e com a visão de manter as métricas de dívida e alavancagem em níveis confortáveis, nós poderíamos buscar criar mais valor para os nossos acionistas por meio de aquisições futuras”, disse ele por e-mail.
 

Queda na dívida


A dívida líquida da JBS caiu para 2,3 vezes os lucros ajustados antes de juros, impostos, depreciação e amortização no terceiro trimestre, nível mais baixo desde que a empresa abriu seu capital em 2007.

A queda dos níveis de endividamento da JBS poderá ajudá-la a ganhar um grau de investimento no ano que vem, disse Omar Zeolla, analista da Oppenheimer & Co.

A Fitch e a Standard & Poor’s já elevaram a classificação da JBS neste ano para BB+, um nível abaixo do grau de investimento.

“As agências de classificação a verão como uma empresa que tem muitas receitas e ativos fora do Brasil”, disse Zeolla. “Eu acho que eles só precisam de mais alguns trimestres de resultados estáveis”.
 

Novo impulso


Apesar de a alta nos bonds da JBS ter ajudado a empurrar os custos dos empréstimos da empresa para baixo, o yield sobre sua dívida não reflete as expectativas dos investidores de uma classificação mais elevada.

Em 6,79 por cento, as notas da empresa para 2024 têm um yield 1,28 ponto porcentual maior que a média para as dívidas de mercados emergentes com a nota de investimento mais baixa.

Contudo, Flávia Bedran, analista da S&P, disse que a JBS poderá receber outro impulso nos próximos 12 a 18 meses se continuar reduzindo a alavancagem.

“Nós elevamos a empresa para BB+ porque ela poderia continuar gerando esses tipos de caixa e porque a empresa irá desalavancar muito rapidamente”, disse ela, de São Paulo. “Isso poderia resultar em uma potencial subida para BBB-”.

Cade aprova venda de fatia do Grupo Santander na Konecta



Pilar Olivares/REUTERS
Mulher passa em frente à agência do Santander
Mulher passa em frente à agência do Santander: o Grupo Santander detinha 51,85 por cento das ações da Konecta
 
Da REUTERS


São Paulo - O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) aprovou, sem restrições, a operação de venda de ações detidas pelo grupo espanhol Santander na companhia de serviços de externalização Konecta à empresa de investimento privado europeia PAI Partners.

O Grupo Santander detinha 51,85 por cento das ações da Konecta. Com a operação, a PAI Partners passa a deter fatia indireta de 34,18 por cento na empresa, similar à do Banco Santander, de acordo com documento do Cade.

A Konecta oferece serviços de externalização para os setores de telecomunicações, seguros, bancário e de administração pública, entre outros, em dez países. No Brasil, a empresa oferece serviços nos segmentos de atendimento ao cliente, cobranças, vendas ativas, back-office e retenção de clientes.
O aval foi dado em despacho publicado no Diário Oficial da União desta terça-feira.

Quem é o chinês HNA Group, que comprou 23% da Azul




Regasterios/Wikimedia Commons
Avião da Hainan Airlines, do HNA Group
Avião da Hainan Airlines, do HNA Group: ele investe em bancos, cointainers, navios a aeroportos
São Paulo - O grupo chinês HNA acabou de anunciar um investimento de 450 milhões de dólares na Azul, por uma participação de 23,7% de participação na companhia aérea. O HNA Group se torna, assim, o maior acionista individual da brasileira e poderá indicar um membro ao conselho de administração.

O objetivo é “se beneficiar do tráfego substancial entre a China e o Brasil, que são fortes parceiros globais no comércio”, com desenvolvimento de novas rotas, expansão de programas de fidelidade e com code sharing, diz o grupo em comunicado.

Este é o segundo investidor estrangeiro que entra na Azul em poucos meses. Em junho, a americana United Airlines comprou 5% da brasileira por 100 milhões de dólares - ela também passou a contar com um membro no conselho de administração.
A entrada de capital vem logo após a compra da portuguesa TAP, em junho, numa disputa contra a Avianca.

De turismo a financiamentos



O primeiro avião do HNA Group voou pela primeira vez em maio de 1993. Em pouco mais de 20 anos, ele passou de uma pequena companhia aérea chinesa a um conglomerado gigante, com negócios nas áreas de aviação, indústria, finanças, turismo e logística.

O grupo chinês controla de supermercados a bancos, de arrendamento de cointainers e logística a agências de turismo, com mais de 110.000 funcionários em todo o mundo.

O grupo figurou pela primeira vez na lista das 500 maiores empresas do mundo da Fortune este ano, ficando na 464a posição. 

Em 2014, o lucro somou 206 milhões de dólares, 26% a mais que no ano passado. O faturamento foi de 25,65 bilhões de dólares, aumento de 36%.

O braço de aviação é o mais forte dentro do grupo. A HNA Aviation opera Hainan Airlines, Tianjin Airlines, Deer Jet, Lucky Air, Capital Airlines, West Air, Fuzhou Airlines, Urumqi Air, Yangtze River Express, MyCARGO, Africa World Airlines, Aigle Azur e outras companhias.

O grupo é o maior cliente da Embraer na Ásia e a subsidiária Tianjin foi a primeira chinesa a comprar o jato E190 da Embraer, tendo hoje 50 aviões desse modelo.

A Hainan Airlines é a maior companhia aérea privada da China e a quarta maior em tamanho de frota, com 561 aeronaves. Ela opera mais de 630 rotas nacionais e internacionais para 210 cidades na China e no Mundo.

Já na sua divisão financeira, a HNA Capital atua em leasing, seguros, bancos, serviços financeiros, fundos, entre outros. Na área de leasing, a Bohai Leasing arrenda aviações, navios e estruturas de infraestrutura, além de ser a maior do mundo em arrendamento de containers.

O segmento de turismo opera em conjunto com serviços financeiros e de comércio eletrônico, levando 30 milhões de viajantes a cada ano para a Ásia, Europa e Américas. Ela possui 89 agências de turismo e opera o cruzeiro de luxo Henna.  

A TransForex, casa de câmbio do grupo, atua em 23 cidades com 500 localidades. 

Com mais de 440 hotéis pelo mundo, o HNA Hospitality é uma das maiores companhias hoteleiras na China. Também controla os Hotéis e Resorts Tangla.

O grupo gerencia, ainda, 8 aeroportos que tiveram um fluxo de 38 milhões de passageiros no ano passado. 

A companhia de negócios imobiliários tem investimentos em 33 projetos. Atualmente, a área que está em construção é de 5 milhões de metros quadrados, mais de 600 campos de futebol.

O grupo ainda atua no varejo, com 330 lojas em várias áreas. São dele as lojas de departamento chinesas Xi’an MINSUNg e os supermercados Hunan JOINDOOR e Shanghai Jiadeli. 

 

No mundo


O grupo está expandindo sua atuação para fora do território chinês.

Recentemente, ele adquiriu o Swissport, maior provedor de serviços de carga no solo do mundo. A companhia suíça foi adquirida por 2,7 bilhões de francos suíços. A empresa suíça opera serviços de carga em 270 aeroportos em 48 países.

Na Bélgica, o grupo detém três hotéis de quatro estrelas e, na Turquia, controla a myTECHNIC, empresa de manutenção de aeronaves e aeroportos.

Também são do grupo a SinOceanic Shipping, empresa da Noruega de fretamentos e investimento em navios de containers, a Ghana AWA Airlines Company, companhia aérea africana, e a Seaco SRL, empresa de arrendamento de containers de Cingapura.

A fórmula da Havaianas para deixar o mundo aos seus pés

 



Luiza Belloni, do HuffPost Brasil

São Paulo- Se perguntar para um estrangeiro qual marca é a cara do brasileiro, ele provavelmente vai responder: “Havaianas”. Se esta pergunta for feita aqui no Brasil, é provável que a resposta será a mesma.

Pouquíssimas marcas no mundo conseguiram se reinventar e conquistar status internacional sem precisar mudar a essência de seu produto por décadas como fez a Havaianas.

Afinal, não é pra qualquer um tornar uma commodity (produto feito em larga escala, com foco na redução dos custos de produção) em um objeto de desejo de todas as classes sociais em mais de cem países.
Poucas pessoas sabem, mas esta virada só foi possível por causa de uma crise de vendas na qual a empresa se afundou 30 anos após sua criação. Foi a partir daí que a então Alpargatas São Paulo (dona da Havaianas) mudaria a história das sandálias de borracha mais usadas no mundo.

As sandálias Havaianas foram criadas em 1962, inspiradas na tradicional sandália de dedo japonesa Zori, com tiras de tecido e sola de palha de arroz. Em vez das solas de palha, entrou a borracha, mas sem deixar suas raízes: o grão de arroz inspirou a textura da palmilha. Já o nome foi pensado no Havaí – projetado por Hollywood como o lugar dos sonhos dos anos 60.

Com o histórico brasileiro na extração da borracha, os gerentes da Alpargatas decidiram que a sandália teria de ser deste material, feita com uma fórmula especial que não deforma, nem solta tiras e não tem cheiro, como dizia o velho slogan da marca.

Mais de 53 anos depois, nem suas principais concorrentes, como a Ipanema, da Grendene, conseguiram imitar e trabalham com materiais como o plástico.

Assim, as tradicionais sandálias de borracha, com palmilha branca e tiras e solas coloridas, foram lançadas e milhões de pares foram vendidos em três décadas.

O sucesso, no entanto, chegou ao seu limite. Sem grandes investimentos em marketing e no fortalecimento da marca, os chinelos foram associados às classes mais baixas e suas vendas despencaram – nem mesmo a fórmula exclusiva de seu material salvou a Havaianas de uma difícil crise de lucratividade no início dos anos 90.

“Até 1994, tínhamos um produto único: era uma sandália de borracha de palmilha branca com tiras azul claro, amarelas ou preta, mas basicamente era uma commodity. Com a estagnação da marca, a gente resolveu mudar”, conta Rui Porto, um dos diretores envolvidos em um dos projetos mais importantes da marca: a transformação do “chinelo de pobre” para a marca que “todo mundo usa”.

Para mudar a percepção dos consumidores, conta Rui, foi preciso deixar de produzir apenas um produto e começar a criar um valor agregado à marca. “Lançamos a Havaianas Top, monocromáticas, mais confortáveis e com o nome gravado na tira. Ela continua até hoje, mas chamadas de ‘Tradicional’. Foi uma revolução.”

As Havaianas Top foram o início de uma revolução que nem a Alpargatas poderia prever. Aos poucos, a Havaianas deixou de ser a marca “com atestado de pobre”, como disse Rui, para virar um acessório de moda.

Para isso, a Alpargatas não poupou investimentos: novas estampas com cores, tiras e formatos diferentes. Hoje, há mais de 400 modelos em um produto que, basicamente, continua o mesmo.

Para tanto sucesso em um único produto, a maior mudança foi na construção da marca. "De patinho feio da Alpargatas, na época, ela virou a grande estrela.”

Sem dúvida, a Havaianas é a menina dos olhos da companhia fundada em São Paulo, em 1907. Hoje a marca corresponde a 48% dos lucros da Alpargatas, que também é dona das marcas Mizuno, Timberland, Dupé, Osklen e do empreendimento Meggashop, outlet da Alpargatas.

No segundo trimestre deste ano, a receita líquida da Alpargatas foi de R$ 996,9 milhões, aumento de 14% em relação ao segundo trimestre de 2014.

Nesta segunda-feira, a Alpargatas foi comprada por R$ 2,67 bilhões pela J&F Investimentos, uma holding de investimentos dos irmãos Joesley e Wesley Batista, que controla a JBS. Ela pertencia ao grupo Camargo Corrêa, envolvido na Operação Lava Jato. A transação ainda depende de aprovação do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica).

Agregando valor, conquistando cada brasileiro


De chinelo de pobre, a sandália de dedo não tem mais nada. Além de aderir às estampas da moda e seguir tendências do mundo inteiro, a marca fez parcerias com grandes estilistas e investiu fortemente nos veículos de comunicação de massa e nos segmentados.

“Antes éramos focados apenas em meios massivos, como televisão e rádio. Começamos a fazer anúncios em revistas de moda e de celebridades. Patrocinamos eventos de moda como o São Paulo Fashion Week e emprestamos sandálias em desfiles”, conta Rui, que tem mais de 30 anos de casa e hoje é consultor de mídia e braço direito do presidente da Alpargatas, Márcio Utsch.

A ideia, porém, nunca foi deixar de atingir as classes mais baixas, nem mesmo focar em faixas etárias específicas. A ordem era agregar.

“Acho que foi um caso único no mundo. Marcas mudam, a gente não exatamente mudou. A gente agregou, como uma família. Antes era algo único e hoje é uma multidão.”

Para isto, o jeito foi encontrar a “justa medida”, segundo o consultor de mídia. Os comerciais são detalhadamente pensados para não delimitar qualquer público, por exemplo.

“Como nosso país é imenso, a gente tenta fazer um anúncio que todos vão compreender. Não usamos valores de uma determinada classe social, por outro lado, não afastamos este público”, explica Rui. 

“Nossos comerciais têm que ser bem humorados, com uma certa irreverência, certa sexualidade brasileira. Tentamos usar personalidades que sejam bem conhecidas.”

Entre estas personalidades que protagonizaram comerciais da marca, Malu Mader é um exemplo da transição da marca. Associada ao ideal de elegância, a atriz protagonizou uma peça publicitária em que calçava a Havaianas dentro de casa.

Os preços também começaram a variar. Com peças assinadas por estilistas e customizadas até com cristais de Swarovski, hoje há pares de Havaianas que chegam a custar R$ 400. Por outro lado, as tradicionais não saíram de linha e são opções acessíveis (a partir de R$ 13,90).

“Para cada mídia, seja revista, jornal, TV ou rádio, temos uma abordagem diferente. Embora o esqueleto sirva para todos, conforme a mídia, a gente adapta para seu público.”

A internacionalização da marca


A Havaianas começou a ganhar o mundo na virada do milênio, entre 1999 e 2000. Antes, a marca já era exportada para países vizinhos, como Bolívia e Paraguai, mas como um produto para uso funcional – propósito totalmente oposto à nova estratégia da marca, que buscava apropriar sofisticação às sandálias.

Antes de procurar distribuidores mundo a fora, no entanto, a marca esperou virar febre no Brasil. A ideia era deixar que os próprios brasileiros começassem a exportar as sandálias, para dar de presente a amigos e parentes que moravam no exterior.

“Queríamos mostrar que era uma moda que vinha do Brasil. Para isso, soubemos gerenciar a marca antes de ir pra fora.”

De acordo com Rui, as sandálias já eram um sucesso em 1997, mas só por volta de 2000 começaram a exportar. Primeiro, elas desembarcaram em Portugal, na Austrália e no Japão, pela origem das sandálias.

Depois, elas chegaram aos Estados Unidos e em outros países da Europa e da América do Sul, como Argentina e Uruguai.

Havaianas


“Não estávamos exportando um produto com ‘certificado de pobreza’ como ela era, mas exportando uma marca com valor agregado. Esta foi uma missão que soubemos fazer direitinho.”

O plano de expansão para fora foi tão "direitinho" que a Havaianas é hoje uma das marcas brasileiras mais conhecidas pelos norte-americanos e europeus.

As "flip-flops" logo ganharam os pés dos estrangeiros e mais espaço nas lojas e boutiques de países como Estados Unidos, França, Alemanha, Itália, Espanha e Reino Unido. Em 2003, um par de Havaianas chegou a custar em Londres, na Inglaterra, o equivalente a R$ 500.

Atualmente, a Havaianas está presente em 117 países e tem centros de operação em 11 deles: Estados Unidos, Portugal, Espanha, França, Itália, Reino Unido, Áustria, Holanda, Bélgica, Luxemburgo e Alemanha.

As sandálias ocuparam um espaço que até então estava vazio no mercado mundial. Para isso, Rui diz que dois pilares foram fundamentais: ter feito sucesso no próprio país e entender os mercados locais.

Além das sandálias: a descentralização da marca


Após décadas fabricando somente um produto, a Havaianas começou, timidamente, a marcar presença em outras frentes. Primeiro, foram lançadas toalhas, chaveiros e capas de celular e outros acessórios.

A maior aposta, no entanto, estava reservada às alpargatas, as “Havaianas cobertas”. “Fizemos um teste piloto na Europa, um mercado que necessitava de uma ‘Havaianas de inverno’ e foi um sucesso.”

Depois de ganhar o mercado europeu, a marca trouxe para o Brasil, que fez grande sucesso neste ano. 
Para apresentá-las aos brasileiros, a Alpargatas não poupou sua fórmula de sucesso: com muita irreverência, as alpargatas foram apresentadas numa campanha em que brinca com a inversão de gênero dos casais Cléo Pires e Rômulo Neto e José Loreto e Débora Nascimento:

Agora, a empresa expandiu para tênis e roupas, que são vendidas em apenas três lojas no Brasil. Os próximos passos são distribuir para as franquias no país, que somam mais de 390, e exportar as primeiras peças para a Europa, onde tem nove lojas próprias.

Em setembro deste ano, a marca anunciou outra novidade: um contrato de licenciamento de marca com a Safilo Group, empresa italiana que atua no mercado mundial de óculos premium. O acordo permitirá a criação e distribuição mundial de uma coleção de óculos da marca Havaianas.

“Óculos tem tudo a ver com a marca, um produto ligado ao verão e ao calor. A marca é bastante conhecida e queríamos expandir para outras categorias”, conta Rui.

Questionado sobre o receio de desvirtuar a marca, Rui esclarece que cada produto lançado passa antes por muitos processos. “A gente faz tudo com muito cuidado. Fazemos testes, pensamos na qualidade. Acho que só afetaria a marca-mãe se o produto fosse mal feito. A gente está livre desse risco.”

Da crise, a oportunidade


Até da crise econômica brasileira a marca conseguiu se salvar. Após um primeiro trimestre ruim, com queda de 8,7% na receita líquida em relação ao mesmo período de 2014, a Havaianas conseguiu voltar a ter lucro graças à…. Desvalorização do câmbio.

Um ano antes da crise dar seus primeiros passos, por volta de 2014, a Alpargatas informava a inauguração da nova fábrica em Montes Claros, Minas Gerais, que ampliou a capacidade produtiva da sandália em 40%, para mais de 102 milhões de pares por ano.

Além de Montes Claros, a marca tem fábrica em Campina Grande, na Paraíba. Mas o aumento da produção em tempos difíceis de vendas acabou sendo oportunidade para explorar ainda mais outros mercados.

“A crise atinge todo mundo, o ano não está uma maravilha. Mas o que nos salvou foi a exportação”, esclarece Rui. “Com a alta do dólar, a exportação foi beneficiada e já no segundo trimestre sentimos um boom nas vendas.”

Segundo Rui, a grande variedade de preços foi outra carta na manga da empresa. “Você tem desde modelos tradicionais que podem ser vendidos por R$ 10 até modelos de R$ 400, toda customizada. Este mix ajuda muito.”

Além disso, aos olhos da marca, a crise é uma oportunidade de consolidar ainda mais a marca. “Os consumidores não querem ousar e preferem recorrer aos produtos que já conhecem. Em crise, se corre para onde tem mais confiança”.

Hoje, a marca Havaianas detém 85% do mercado de sandálias de borracha. Já entre sandálias no geral, ela tem uma fatia de cerca de 50%.

Diante da crise, os planos não foram afetados, garante o consultor.

“A crise não mudou os planos. Inauguramos uma fábrica em Montes Claros e o investimento já foi feito. Temos capacidade de aumentar participação no Brasil e no mundo. Então, não tem como ter crise.”


Você não sente a dor do outro


Talvez até imagine, comova-se, solidarize-se. Mas certas experiências são individuais e somente quem as tem consegue compreendê-las totalmente


REUTERS/Christian Hartmann


Certo dia, estava indo à rodoviária pegar um ônibus de Jerusalém a Tel Aviv. Era cedo pela manhã e, para quem não conhece, há um mercado público bem agradável não muito longe. Eu passei pelo mercado e, olhando aquelas gostosuras, fiquei tentado a parar. Olhei o horário dos ônibus e resolvi que se pegasse um lanche rápido na rodoviária mesmo conseguiria entrar no próximo. Então desisti do mercado, apertei o passo e segui em frente.

No caminho, ouço um barulho alto, parecia uma batida, mas não soube identificar muito bem. Chegando à rodoviária, ouço no rádio que um carro bomba tinha acabado de explodir – exatamente no local onde momentos antes eu estava parado, pensando se ficaria ali para comer.

O sentimento é desconcertante. Na hora, fui até o telefone público e liguei para os meus pais no Brasil para dizer que está tudo bem. Só com eles na linha sem entender muito o que eu estava dizendo me dei conta de que eles não sabiam onde eu estava e ainda não tinha dado tempo para a notícia chegar aos jornais internacionais, se é que chegaria.

Mais tarde, vendo as notícias na TV, fiquei sabendo que o terrorista se explodiu sozinho e não levou mais ninguém. Menos mal. Confesso que, por alguns dias, aquilo mexeu comigo, a imagem na TV de um carro explodindo, no exato lugar em que eu tinha parado alguns minutos antes.

Anos mais tarde, vi na TV que uma pizzaria que eu frequentava também explodiu. Um dos atendentes morreu, e fiquei pensando depois se eu o tinha conhecido.

Quando vemos uma notícia sobre algo que mal conhecemos, é extremamente difícil, senão impossível entender exatamente o que aquilo significa. Eu saí ileso, não tive um arranhão, mas o objetivo do “terror” é exatamente esse, e posso dizer que me lembro do sentimento de aterrorizado após o fato.

Seja na Internet, em livros, palestras ou o que quer que seja, costumamos ver palavras como superação e resiliência jogadas de um lado ao outro, geralmente bem fora de seu contexto. Tudo pode ser explicado, tudo pode ser relativizado. Alguém sempre vai dizer que tem alguém pior que você em algum lugar do mundo. Que tudo pode ser superado de acordo com a sua mentalidade.

Eu sempre tive um problema com isso. A verdade é que nossa experiência na terra sempre vai ser limitada. Você pode saber o que é ter uma bicicleta roubada, eu posso saber o que é levar um susto desses, alguém pode saber o que é ter uma doença grave. Por mais que se possam fazer relatos, a experiência subjetiva é de cada um. Quem sou eu para dizer que alguém que chora por que teve uma bicicleta roubada é menos digno do que alguém que lida com outro problema? Ninguém tem o monopólio sobre a condição humana. Provavelmente, eu nunca vou saber o que é ser um refugiado de guerra, nem nunca vou saber o que é perder tudo que tenho por uma queda de barragem.

E é por isso que fico horrorizado quando vejo julgamentos e justificativas, tanto na mídia quanto nos famosos “textões" de Facebook. Quando alguém minimiza um problema como é “apenas uma demissão”, “apenas um problema qualquer”, ou quando dão opinião realizando um julgamento sobre o que mal entendem, e talvez nunca vão entender.

Sim, sou a favor de colocar as coisas em perspectiva. Mas há tempo para tudo. É preciso, de vez em quando, se dar uma folga e dizer: sou só humano. É preciso, também, dar uma folga a todos os outros. Somos todos humanos, falhos e cada um com seus problemas. Se não podemos entender a diversidade das experiências humanas, talvez o melhor seja apenas aprender a respeitar, dar o tempo de cada um, e estender uma mão no momento de se levantar.

Por que o amigo de Lula foi preso na Lava Jato



Ueslei Marcelino/ Reuters
Empresário Bumlai embarca em avião em Brasília - 24/11/2015
Empresário José Carlos Bumlai durante o embarque hoje, em Brasília
São Paulo – Na manhã desta terça-feira, a Polícia Federal deflagrou a 21º fase da Operação Lava Jato que prendeu o empresário José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva

De acordo com os investigadores envolvidos no caso, a nova fase foi batizada de "Passe Livre" por conta de um suposto livre acesso de Bumlai ao Palácio do Planalto.

O pecuarista entrou no grupo de investigados depois que Eduardo Musa, ex-gerente da Petrobras, e do lobista ligado ao PMDB Fernando Baiano, relataram, em delação premiada, um suposto repasse de recursos para uma nora do ex-presidente Lula e recebimento de propina por lobby na Petrobras.
As investigações desta etapa, no entanto, estão concentradas na contratação sem licitação do navio-sonda Vitória 10.000 do Grupo Schahin para a Petrobras.

De acordo com a PF, há indícios de que Bumlai teria usado de influência para fraudar o procedimento licitatório como forma de pagamento de empréstimos ao Grupo. 

Em outubro de 2004, Bumlai contraiu um empréstimo no valor de R$ 12 milhões que nunca foi quitado. Em dezembro de 2005, depois de novos pedidos de recurso, o valor já somava 18 milhões de reais.

O pecuarista diz que o pagamento do novo empréstimo, foi quitado pela venda de embriões bovinos às fazendas do Grupo Schahin, mas o MPF acredita que o valor que teria sido repassado ao Partido dos Trabalhadores (PT) e a funcionários  da Petrobras para obtenção de vantagem na contratação do navio-sonda. O caminho exato do dinheiro ao partido ainda está sendo investigado.

"Segundo as apurações, complexas medidas de engenharia financeira foram utilizadas pelos investigados com o objetivo de ocultar a real destinação dos valores indevidos pagos a agentes públicos e a diretores da estatal", afirma a PF em nota. "Existem indicativos claros do uso de falsos documentos para a falsa quitação".

De acordo com o procurador do MPF Diogo Castor de Mattos, além do montante envolvendo a Petrobras, há outros empréstimos de dezenas de milhões de reais que envolvem pessoas próximas a Bumlai. Inclusive, empresas suas sem comprovação de atividade ou com pedidos de falência em curso teriam recebido mais de 500 milhões de reais em empréstimos do BNDES.

A operação mobilizou 140 policiais federais para cumprir os 25 mandatos de busca e apreensão nas cidades de São Paulo, Lins, Piracicaba, no estado de São Paulo, Rio de Janeiro, Campo Grande, Dourados e Brasília. Bumlai tinha depoimento marcado para hoje na CPI do BNDES.

Na semana passada, a 20ª fase, batizada de Corrosão, prendeu o ex-gerente executivo da Petrobras, Roberto Gonçalves, e Nelson Martins Ribeiro, apontado como um dos operadores do esquema de corrupção que supostamente teriam recebido propina em contratos das refinarias Abreu e Lima e Pasadena.