segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Receita diz que sociedade individual de advogado não pode optar pelo Simples

Benefício frustrado




A Receita Federal divulgou nota com o entendimento de que as sociedades individuais de advocacia não poderão optar pelo Simples Nacional, pois passou a valer neste ano e não está prevista no rol de beneficiados pelo regime simplificado.

A possibilidade de entrar no Simples Nacional foi um dos fatores que motivaram a criação da sociedade individual. Por isso, a nota surpreendeu a classe. O presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, Marcus Vinicius Furtado Coêlho, convocou uma reunião para discutir o tema, na próxima quinta-feira (28/1).

“Lamentável que a Receita não tenha ouvido a OAB antes de tomar essa posição. Temos de enfrentar essa questão assentados em sólidas bases jurídicas. Diante do parecer exarado asseverando a impossibilidade de utilização do Simples, solicitei à Comissão de Sociedade de Advogados análise sobre todos os aspectos da matéria, para apresentar sugestões de providências”, afirmou Marcus Vinicius à revista Consultor Jurídico.

Para a Receita, é preciso alterar primeiro a Lei Complementar 123/2006, que fixa normas para o tratamento diferenciado às microempresas e empresas de pequeno porte.

A criação da sociedade unipessoal de advocacia foi sancionada no último dia 12 de janeiro. A Lei 13.247/16 amplia o Estatuto da Advocacia, permitindo que um só advogado tenha os mesmos direitos e tratamento jurídico das sociedades tradicionais. 

O presidente da seccional paulista da OAB, Marcos da Costa, diz ter recebido a notícia “com surpresa”. Segundo ele, a Receita “parece confundir a pessoa do profissional autônomo com a da nova sociedade unipessoal”. Costa afirma que já está em contato com outras seccionais e com o Conselho Federal para chegar a um posicionamento sobre o tema e encomendar pareceres de tributaristas para embasar futuras providências.

Quando sancionada, a possibilidade de os advogados entrarem no Simples Nacional foi comemorada. O presidente do Instituto dos Advogados de São Paulo (Iasp), José Horácio Halfeld Rezende Ribeiro, avaliou os cerca de 900 mil advogados no país poderiam "se beneficiar de uma estrutura societária não somente pela vantagem do Simples e da carga tributária, mas também por ter acesso a outros benefícios como seguros e linhas de créditos".

O presidente do Conselho Federal da OAB também havia comemorado a possibilidade de a sociedade unipessoal ser beneficiada pelo simples: “O ano de 2016 começa com uma ótima notícia para a advocacia brasileira. A partir de agora, o advogado que criar uma sociedade individual poderá se cadastrar no Simples Nacional, usufruindo de alíquotas tributárias mais favoráveis, além de pagamento unificado de oito impostos federais, estaduais e municipais e da contribuição previdenciária, facilitando e descomplicando a vida profissional”, afirmou na ocasião.


Trabalho solitário
 

De acordo com a lei, nenhum profissional poderá integrar mais de uma sociedade, constituir mais de uma sociedade unipessoal de advocacia ou fazer parte, simultaneamente, de uma sociedade de advogados e de uma sociedade unipessoal de advocacia com sede ou filial na mesma área territorial do respectivo conselho seccional.


Leia a nota da Receita Federal:
Em função da criação de uma nova natureza jurídica, denominada "sociedade unipessoal de advocacia", por meio da Lei nº 13.247, de 12/1/2016, que alterou a Lei nº 8.906, de 4/7/1994 - Estatuto da Advocacia, informamos que aquele que se inscrever nessa natureza jurídica não poderá optar pelo Simples Nacional, em virtude de não haver previsão legal no art. 3º da Lei Complementar nº 123, de 14/12/2006, o qual determina que serão consideradas microempresas ou empresas de pequeno porte "a sociedade empresária, a sociedade simples, a empresa individual de responsabilidade limitada e o empresário a que se refere o art. 966 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil)".

Sendo assim, para que o novo tipo societário possa optar pelo Simples Nacional faz-se necessária alteração na Lei Complementar nº 123/2006.

 http://www.conjur.com.br/2016-jan-23/receita-simples-nao-vale-sociedade-individual-advogado

Governo reafirma compromisso com solidez fiscal, diz Barbosa




REUTERS/Ueslei Marcelino
Nelson Barbosa, ministro da Fazenda
Nelson Barbosa, ministro da Fazenda: Barbosa afirma que as reservas internacionais permitem ao país atravessar eventuais turbulências
 
Da REUTERS


Brasília - O ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, disse que a solidez fiscal assume caráter permanente no compromisso do governo com a sociedade brasileira, em mensagem no Plano Anual de Financiamento (PAF) para 2016, divulgado nesta segunda-feira pelo Tesouro Nacional.

No texto, Barbosa afirma que as reservas internacionais permitem ao país atravessar eventuais turbulências no mercado internacional sem crises no balanço de pagamentos, diferentemente do que ocorria com a economia em décadas passadas.

Das dez maiores obras do PAC, só 2 foram concluídas




Roberto Stuckert Filho/PR
Dilma participa de cerimônia de anúncio de investimentos do PAC 2 - Mobilidade Urbana em Belo Horizonte (MG)
Dilma participa de cerimônia de anúncio de investimentos do PAC 2, em 2010: a presidente Dilma Rousseff disse que lançaria a terceira fase do programa
 
 
Murilo Rodrigues Alves, do Estadão Conteúdo


Brasília e Rio - Para tentar estimular a economia, em meio a uma profunda recessão, o governo prepara uma série de medidas para destravar investimentos, um plano tratado internamente como uma espécie de "novo PAC".

Mas obras anunciadas ainda no primeiro PAC, em 2007, e que já deveriam ter sido entregues há anos, continuam inacabadas.

Levantamento feito pelo Estado mostra que, das 10 maiores obras anunciadas pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva no lançamento do Programa de Aceleração de Crescimento, há nove anos, apenas duas, na área de petróleo, foram totalmente concluídas.
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Outras três usinas de energia e uma refinaria até entraram em operação, mas de forma parcial - ainda estão em obras.

A maior obra anunciada em 2007, a refinaria Premium 1, no Maranhão, com projeção de investimentos de R$ 41 bilhões, foi simplesmente abandonada, com prejuízo de R$ 2,1 bilhões para a Petrobrás.

O PAC foi lançado no governo Lula, em tempos de bonança econômica, com o objetivo declarado de "estimular o aumento do investimento privado e do investimento público, principalmente na área de infraestrutura" e "desobstruir os gargalos que impedem os investimentos", nas palavras do então ministro da Fazenda, Guido Mantega.

O programa previa um total de R$ 503,9 bilhões em investimentos em mais de mil projetos. Em 2010, as obras ainda em andamento foram reembaladas, juntadas a outras e o governo lançou o PAC 2, com projeção de investimentos de R$ 1 trilhão.

No início do seu segundo mandato, no ano passado, a presidente Dilma Rousseff disse que lançaria a terceira fase do programa, que ainda não saiu do papel.

Apesar de ter sido criado para destravar a infraestrutura, dados compilados pela organização Contas Abertas mostram que, de 2007 a 2014, 34% de tudo que foi considerado investimento dentro do PAC se referiam a financiamentos habitacionais tomados pelos cidadãos em bancos públicos, a preços de mercado. Se incluídos os financiamentos subsidiados do programa Minha Casa Minha Vida, essa conta chega a 40%.

No complexo de favelas do Alemão, no Rio, onde Dilma foi batizada em 2008 por Lula de "mãe do PAC", só 53% das unidades habitacionais prometidas foram entregues.

O teleférico é a obra na região que mais chama a atenção - apesar de ter sido fechado só no ano passado 11 vezes, em função de tiroteios. 

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Adidas exige mais informações sobre reforma da IAAF


Jason Lee/Files/Reuters
O ex-presidente da Iaaf Lamine Diack
O ex-presidente da IAAF, Lamine Diack: a Adidas havia dito à IAAF que vai encerrar seu contrato de patrocínio de 4 anos antes do previsto por causa dos casos de doping e corrupção


Frankfurt - A Adidas, um dos principais patrocinadores do atletismo mundial, está em "contato próximo" com a Associação Internacional das Federações de Atletismo (IAAF, na sigla em inglês), sobre os escândalos de doping e corrupção no esporte, declarou nesta segunda-feira a empresa de material esportivo, em meio aos relatos de que estaria considerando encerrar seu acordo.

"Adidas tem uma política clara antidoping", disse a empresa alemã. "Estamos em contato próximo com a IAAF para saber mais sobre o seu processo de reforma", acrescentou. "Todos os patrocinadores e parceiros estão envolvidos em nosso processo de reforma", declarou a IAAF.

Uma reportagem da BBC afirmou que a Adidas havia dito à IAAF que vai encerrar seu contrato de patrocínio de quatro anos antes do previsto por causa dos casos de doping envolvendo o atletismo russo e das acusações de corrupção profundamente enraizada na gestão anterior da IAAF.
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No início deste mês, uma investigação da Agência Mundial Antidoping (Wada, na sigla em inglês) afirmou que a IAAF foi corrompida em seu interior por um "poderoso grupo de malfeitores" chefiado pelo seu presidente anterior, Lamine Diack, que conspirou para extorquir atletas, permitindo que russos flagrados em exames antidoping continuassem competindo.

Outros dirigentes da IAAF também cometeram delitos, disse o relatório condenatório da Wada. Eles tinham conhecimento do nepotismo de Lamine Diack que permitiu transformar a IAAF em um feudo pessoal durante o seu reinado de 16 anos como presidente.

Uma questão fundamental levantada pelo relatório é que a alegada corrupção sob Diack ia além da extorsão de atletas dopados e atingiu outras áreas da IAAF.

Investigadores da Wada defenderam uma investigação detalhada sobre a definição das sedes do Mundial de Atletismo entre 2009 e 2019, devido à evidência que eles encontraram possíveis irregularidades. Isso incluiu uma indicação de que Diack, um ex-membro do COI, vendeu seu voto no processo de escolha da sede da Olimpíada para a candidatura de Tóquio em troca de patrocínio de eventos da IAAF

Diack foi levado em custódia por autoridades francesas em novembro por acusações de corrupção e lavagem de dinheiro. Ele é suspeito de receber mais de 1 milhão de euros (mais de R$ 4,4 milhões) por chantagens e encobrimentos de resultados positivos em exames antidoping.

Dilma nega omissão do Brasil em relação à Venezuela


REUTERS/Ueslei Marcelino
Presidente Dilma Rousseff. 07/12/2015.
Presidente Dilma Rousseff: o governo brasileiro foi criticado pela oposição por não ter sido mais firme
 
Da REUTERS


Brasília - A presidente Dilma Rousseff defendeu, em entrevista ao jornal equatoriano El Comércio, a atuação do Brasil frente à crise política na Venezuela e negou que o país tenha se omitido durante as ameaças de ruptura democrática no país vizinho.

“Tivemos tudo menos silêncio por parte do Brasil em relação à Venezuela. Acompanhamos com muita atenção os acontecimentos no nosso vizinho do norte, país irmão com o qual mantemos excelentes e sólidas relações. E estamos muito presentes e atuantes, de forma individual ou em conjunto com os demais membros da Unasul (União das Nações Sul-Americanas)", afirmou na entrevista publicada no domingo.

“Pautamos nossa ação pelos princípios básicos de não ingerência e autodeterminação dos povos”, acrescentou.
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O governo brasileiro foi criticado pela oposição por não ter sido mais firme em relação às ações do governo venezuelano de perseguição a políticos. Nos últimos meses, no entanto, o tom da relação mudou.

O Itamaraty já divulgou pelo menos quatro notas mais duras sobre a atuação do presidente venezuelano, Nicolás Maduro, sendo a primeira delas sobre a prisão do prefeito de Caracas, Antonio Ledezma, ainda em fevereiro.

Durante as eleições para a Assembleia Nacional, o assessor especial da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, levou uma carta a Maduro lembrando os compromissos democráticos do Mercosul e da Unasul.

Na entrevista, Dilma reconheceu que a Venezuela passa por uma crise econômica e política.

“Com a instalação da nova Assembleia Nacional venezuelana temos a expectativa de que todos os atores políticos mantenham e aperfeiçoem o diálogo e a boa convivência, que devem ser a marca por excelência das sociedades democráticas”, afirmou.

“Não há lugar na América do Sul do século 21 para soluções políticas a margem da institucionalidade e do mais absoluto respeito à democracia e ao Estado de Direito.”
 

Corrupção


Dilma voltou a dizer que não há respaldo jurídico para o pedido de abertura de processo de impeachment contra ela, e que a melhor saída quando há “divergência de ideias” é o debate.

“Não é aceitável, em uma sociedade democrática e participativa, tirar um presidente apenas por divergência política, sem nenhum respaldo jurídico.”

Dilma também se disse “implacável contra a corrupção” desde seu primeiro mandato, e garantiu que em seu governo a Polícia Federal e o Ministério Público têm total autonomia de investigação.

“Não transigirei no combate a qualquer tipo de ação criminosa cometida por qualquer pessoa. O povo brasileiro é honesto e trabalhador e jamais aceitarei que pequenos grupos tentem se beneficiar do dinheiro público em proveito próprio”, disse.  

A presidente viaja nesta terça-feira para o Equador, onde terá encontro bilateral ainda na terça com o presidente equatoriano, Rafael Correa. No dia seguinte, participa da Cúpula dos Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac). 
 

Economia


Sobre a abatida economia brasileira, Dilma repetiu a necessidade de recuperar a confiança dos investidores e citou os programas de investimento em logística e energia e o Plano Nacional de Exportações como sinais de que o governo não está parado.

“O Brasil está passando por um momento de transição econômica. Estamos fazendo um grande esforço para nos adaptarmos à nova realidade global... Estamos empenhados em recuperar o equilíbrio fiscal, reduzir a inflação e restaurar a confiança dos investidores para que a economia brasileira comece um novo ciclo de crescimento e investimentos”, afirmou.

Nevasca nos EUA deve causar prejuízos multibilionários


Carlo Allegri/Reuters
Vista de Manhattan durante nevasca
Vista de Manhattan durante nevasca: o sistema meteorológico apelidado de tempestade de inverno Jonas deixou pelo menos 20 mortos em diversos Estados
 
 
Da REUTERS


Londres - Fortes nevascas que paralisaram grande parte da costa leste dos Estados Unidos nos últimos dias provavelmente vão causar perdas econômicas "multibilionárias", em uma das piores tempestades na região em mais de um século, informou a corretora de resseguros Aon Benfield nesta segunda-feira.

O sistema meteorológico apelidado de tempestade de inverno Jonas deixou pelo menos 20 mortos em diversos Estados, com a maioria das mortes por conta de acidentes de trânsito.

"Devido aos danos a propriedades, empresas e outras estruturas e automóveis, mais os altos custos pela suspensão de negócios, é esperado que termine sendo um custo econômico multibilionário", informou a empresa em relatório.

A tempestade provavelmente será classificada entre as 15 piores no Nordeste e Meio-Atlântico dos EUA desde 1900, acrescentou a companhia.

Ainda é cedo para calcular as perdas seguradas, informou a Aon Benfield, acrescentando que um sistema de tempestade similar em janeiro de 1996 causou uma perda econômica estimada em 4,6 bilhões de dólares.

Grandes riscos, grandes recompensas




As multinacionais emergentes buscam fusões como via de expansão
Por Universia Knowledge@Wharton*

Grandes riscos, grandes recompensas

As fusões e aquisições (M&A, na sigla em inglês) continuaram a ser o principal método de expansão das multinacionais emergentes (MEs), tanto em regiões desenvolvidas quanto subdesenvolvidas. Um estudo da Thomson Reuters informa que o montante anunciado de M&A nos mercados emergentes em 2014 saltou em torno de 29% em relação ao ano anterior [o valor total da atividade de M&A nos mercados emergentes em 2014 foi colossal: US$ 859 bilhões]. Ao comparar as atividades de M&A das multinacionais emergentes com as atividades das multinacionais ocidentais, Laurence Capron, professor de estratégia da INSEAD, observa que cerca de 35% a 40% dos negócios transnacionais feitos atualmente são realizados por empresas de mercados emergentes, ante cerca de 20% apenas em princípios dos anos 2000. 

China, Brasil e Índia (nessa ordem) ocupam as primeiras posições na lista da Thomson Reuters de economias emergentes com maior volume de atividades de M&A, uma estatística que não surpreende Anil Gupta, presidente de estratégia, globalização e empreendedorismo da Escola de Negócios Robert H. Smith da Universidade de Maryland. “Observa-se a ocorrência de M&A externas por parte dos mercados emergentes de maior porte”, diz ele, assinalando que as economias menos ricas, em geral, não têm necessidade de escala. É o que pensa também Exequiel Hernandez, professor de administração da Wharton. “As empresas que estão se expandindo dessa forma costumam ser muito bem administradas […] Não de trata de empresas insignificantes.”


As desvantagens da China
 

Insignificantes ou não, multinacional emergente ou não, as empresas que fazem M&A podem acabar descobrindo que negócios desse tipo nem sempre são lucrativos como podem fazer crer no papel. “Inúmeras pesquisas mostram que mais de 50% ? esse percentual hoje em dia é superior a 70% ? dos negócios de M&A não geram valor de fato para o comprador”, revela Gupta. Em primeiro lugar, falta a muitas empresas a capacidade organizacional para arquitetar um bom negócio e acabam pagando um preço alto demais. Além disso, muitos não lidam da forma certa com o período de integração posterior à fusão. Some-se a isso o fato de que algumas empresas adquirem ativos cujo estado não é considerado ideal. Gupta cita como exemplo a aquisição, em 2013, pela China National Offshore Oil Company, da Nexen, companhia canadense de petróleo e gás por mais de US$ 15 bilhões. “Foi um desastre. Os chineses compraram uma das piores companhias de petróleo do Canadá. A empresa foi adquirida no momento errado; o preço foi extremamente sobrevalorizado e eles não souberam gerenciá-la bem”, recorda. 

Gupta reforça que a China, embora apareça em primeiro lugar na lista de compradores de MEs e tenha por hábito fazer lances superiores aos de seus concorrentes, está em desvantagem no jogo das M&A porque as empresas estatais dominam sua economia. Como consequência desse ambiente dominado por estatais, os compradores chineses geralmente têm pouca experiência em M&A em seu currículo e tendem a ser motivados por uma missão nacional de tornar globais suas empresas, em vez de se guiarem pela lógica dos negócios. Ele ainda contrasta esse comportamento com o de países como Índia, Brasil, Turquia e África do Sul, em que as empresas que fazem M&A pertencem ao setor privado – e, em alguns casos, são controladas por famílias – resultando, em sua opinião, em transações comerciais de maior visão. “Eles dizem: ‘Se a empresa incursionar pelo exterior e a coisa não der certo, quem sairá prejudicado financeiramente serei eu, o CEO, e as finanças da família a que ele pertence´. Essas empresas tendem a não dar o passo seguinte sem antes ter pensado mil vezes sobre o assunto procurando garantir que levaram em conta todos os riscos ou que dispõem da capacidade necessária”, relata. 

A China também não se sai muito bem no momento de fechar o acordo. A pesquisa encabeçada por Gupta mostra que quando as companhias chinesas planejam fazer aquisições no exterior, cerca de 30% a 40% das M&A anunciadas jamais são concluídas. (Daí porque a posição da China no topo da lista de M&A da Thomson Reuters, que cobre acordos “anunciados”, deve ser interpretada com ressalvas). Em um artigo de 2013 no South China Morning Post, Capron identificou várias causas, entre elas, “a desconfiança política das empresas chinesas em vários países visados […] bem como questões políticas próprias da China que permitem às empresas tirar proveito das oportunidades de crescimento […], além de problemas para a conclusão do financiamento da transação”. A resistência demonstrada pela empresa-alvo também pode ser um problema. “A situação de uma organização japonesa que está sendo adquirida por uma companhia chinesa talvez seja diferente, por exemplo, de uma mesma situação em que o comprador é uma empresa norte-americana, pois as pessoas talvez temam pelo futuro do modelo de governança”, atesta o pesquisador. 


O desafio ocidental
 

A insistência em participar das atividades de M&A para “ganhar escala global” não se limita à China ou às estatais. Hernandez diz que algumas MEs podem simplesmente querer testar a si mesmas comprando ativos ocidentais motivadas por uma mentalidade do tipo “se consegui aqui, posso conseguir em qualquer lugar”. “Talvez não seja uma estratégia muito racional, embora haja empresas que tenham sido bem-sucedidas nisso.” Há consenso entre os especialistas de que as multinacionais emergentes não devem partir do princípio de que os acordos de M&A serão sua passagem para o sucesso. Se não são, de que maneira devem elas escolher seus alvos?

Capron observa que inúmeras empresas de mercados emergentes procuram sair do seu país em busca de aquisições de ativos que elas mesmas não possuem, tais como uma marca forte e tecnologia de primeira linha. Capron cita os exemplos de duas MEs bem-sucedidas no segmento automotivo que compraram duas marcas ocidentais bastante conhecidas: a Geely, que adquiriu a Volvo em 2010, e a indiana Tata, que comprou a Jaguar Land Rover em 2008 [A respeito da Tata, o New York Times publicou alguns anos depois da aquisição: “De acordo com os analistas, a Tata fez o que poucas empresas de mercados emergentes foram capazes de fazer ? dar meia volta e administrar com sucesso uma empresa ocidental com problemas”].

Na Turquia houve o caso da empresa de produtos alimentícios Yildiz Holding, que comprou a conhecida marca Godiva Chocolates da norte-americana Campbell Soup Company, em 2008. Gupta diz que a Godiva “foi muito bem administrada”, cresceu de forma formidável na China e na Europa Oriental. A Cemex mexicana, líder mundial na produção de concreto usinado, é outra empresa que, historicamente, baseou seus acordos de M&A em sólida lógica de negócios, segundo Hernandez. A Cemex foi fundada em 1906 com uma unidade no México. “A empresa não estava apenas afirmando: ‘Somos uma pequena empresa mexicana; queremos ter maior legitimidade no mundo, por isso vamos comprar a maior fabricante de cimento da Europa’”, diz Hernandez. Ele explica que a empresa, então novata, sabiamente escolheu mercados cujas indústrias de construção fossem contracíclicas em relação à indústria mexicana, ajudando dessa forma a proteger a empresa dos inevitáveis altos e baixos de sua economia doméstica.

Dizem os especialistas que outro ingrediente fundamental para o sucesso das M&A consiste em começar fazendo pequenas aquisições antes de tentar fazer aquisições maiores. “É um tipo de processo repetitivo: compro uma empresa, aprendo com ela, modernizo minhas capacidades e parto para o próximo negócio. Algumas empresas souberam fazer isso muito bem”, observa Capron. Ele ressalta que esse padrão foi seguido “até mesmo pelas P&Gs, IBMs e GEs deste mundo”, e que ele ajuda o comprador a aprender como integrar culturas e sistemas organizacionais. O Grupo Tata mencionado anteriormente, cujo patrimônio líquido hoje é de US$ 360 bilhões, teve como ponto de partida para M&A sua aquisição, em 2000, da empresa TetleyTea, do Reino Unido, por US$ 434 milhões. “Não foi uma compra particularmente grande, mas eles a fizeram como parte de um aprendizado: queriam aprender como negociar de forma engenhosa e jogar o jogo da M&A transnacional”, analisa Gupta. 


Lidando com os detalhes práticos
 

Uma vez concluído o negócio, há um período complicado de integração pós-fusão em que duas empresas devem se tornar uma só. No caso da M&A transnacional, o comprador está lidando não apenas com diferentes culturas organizacionais, mas com culturas de países diferentes. Isso pode ser uma dificuldade para alguns compradores, mas para outros é vantajoso. Capron destaca que a experiência de integração das M&A para as multinacionais emergentes pode ser muito diferente dependendo do alvo, isto, se se trata de um mercado emergente ou de uma empresa de país desenvolvido. “Se a empresa entra em um mercado emergente, ela poderá, de certa forma, estar mais bem posicionada porque sabe o que é preciso para trabalhar com as diferentes partes interessadas na empresa [os chamados stakeholders] […] Talvez eles saibam como se integrar melhor localmente. Por outro lado, se a empresa adquirida for do mundo desenvolvido, talvez não estejam habituados, por exemplo, a um tipo de ambiente anglo-saxão”, completa. Gupta compara as M&A das rivais Índia e China no tocante às suas capacidades organizacionais e afirma que os compradores indianos gerenciam melhor as diferentes culturas. “Como a Índia é um país muito mais heterogêneo do que a China no que se refere à religião, língua e antecedentes étnicos, os compradores indianos lidam com a integração das M&A com um preparo mais completo sobre como respeitar e gerir diferenças, quando recuar e quando se impor”, relata. 

“Embora o quadro corporativo tradicional esteja repleto de acordos fracassados, várias das multinacionais de mercados emergentes de perfil mais sofisticado tornaram-se ainda mais sofisticadas e prosperaram exatamente através de suas aquisições”, escrevem Mauro Guillen e Esteban Garcia Canal no livro “Regra dos mercados emergentes: estratégias de crescimento dos novos gigantes globais” [Emerging Markets Rule: Growth Strategies of the New Global Giants]. Para as multinacionais emergentes que se aventuram nas M&A, os desafios são complexos, mas as recompensas são excelentes.

*Serviço gratuito disponibilizado pela Wharton, Escola de Administração da Universidade da Pensilvânia, e Universia, rede de universidades que conta com o apoio do Banco Santander.


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