quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Gerdau já colhe frutos de “reinvenção”

Grupo moderniza cultura corporativa e exibe resultados acima dos previstos pelo mercado no segundo trimestre

 Por Marcos Graciani
graciani@amanha.com.br


 



A competitividade chinesa e os desafios da siderurgia mundial levaram a Gerdau a modernizar sua cultura corporativa. Fazem parte do receituário ações como dar maior autonomia para as operações, desenvolvimento de novas lideranças e a adoção de um modelo de gestão mais voltado para o cliente. Outro passo importante está sendo a contínua reavaliação de ativos da maior empresa da região, de acordo com o ranking 500 MAIORES DO SUL, publicado por AMANHÃ em parceria com a PwC. A unidade operacional que não atingir determinada meta de rentabilidade, por exemplo, pode ser passível de negociação. Isso ocorreu recentemente com a venda da produtora de aços especiais na Espanha para a Clerbil SL, em maio. 

“O escopo de possibilidades é amplo. Podemos, futuramente, anunciar [a formação de uma] joint venture ou fazer uma venda parcial, por exemplo. Não temos pressa ou meta específica, mas importantes decisões devem ser tomadas ao longo deste ano e do próximo. Temos alternativas e estamos explorando várias delas. Isso faz parte da Gerdau que estamos reinventando”, anunciou André Gerdau Johannpeter, diretor-presidente da companhia, durante conferência nesta quarta-feira (10). Outra novidade na Gerdau é a adoção da TI em áreas como logística e vendas. 

Os conceitos, adotados há cerca de dois anos, já rendem frutos. Tanto é que alguns dos principais números do segundo trimestre vieram acima da expectativa do mercado. O lucro líquido reportado foi de R$ 184 milhões no período, valor 15,7% maior do que previa a XP Investimentos. Este lucro foi 1.214% superior ao do trimestre anterior, quando a companhia havia lucrado um valor modesto, de R$ 14 milhões. A receita líquida atingiu R$ 10,2 bilhões entre abril e junho, avanço de 2% em relação ao trimestre anterior (veja outros dados na tabela ao final desta reportagem). 

Parte desse resultado também se deve ao aumento da confiança na melhora da economia brasileira, algo que a Gerdau tem presenciado nos últimos meses. “Há um sentimento de que o país parou de cair. Ainda é cedo para dizer se haverá retomada e quando, porém há pequenos sinais que me fazem crer que o segundo semestre será melhor. A venda de carros parou de cair, entretanto ainda há necessidade da volta do emprego para que as pessoas possam consumir”, analisou Johannpeter revelando que a capacidade operacional da companhia atingiu o índice de 75% no segundo trimestre (era 65% entre janeiro e março). Outra expectativa do executivo é que o governo possa acelerar o processo de concessão de portos, rodovias e aeroportos – o que aumentaria a demanda por aço no Brasil e compensaria a queda das vendas nos segmentos da construção civil e automóveis. “Ainda está sendo desenvolvida a regulação dessa política. Mas acho que a discussão está indo na direção certa”, opinou Johannpeter. 

Informações selecionadas
2º Tri 16
2º Tri 15
Var. (em %)
1º Tri 16
Var. (em %)
Vendas (Mil Toneladas)
4.240
4.271
(0,7)
3.851
10,1
Receita Líquida  (R$ Milhões)
10.249
10.759
(4,7)
10.085
1,6
Margem Ebitda  (%)
11,7
11,1
-
9,2
-
Lucro Líquido (R$ Milhões)
184
265
(30,6)
14
1.214,13
*Lucro líquido ajustado no 2T16 por eventos extraordinários.


- See more at: http://www.amanha.com.br/posts/view/2673#sthash.zPzdPXTI.dpuf


Gerdau já colhe frutos de “reinvenção”

Grupo moderniza cultura corporativa e exibe resultados acima dos previstos pelo mercado no segundo trimestre

Por Marcos Graciani

graciani@amanha.com.br
A competitividade chinesa e os desafios da siderurgia mundial levaram a Gerdau a modernizar sua cultura corporativa. Fazem parte do receituário ações como dar maior autonomia para as operações, desenvolvimento de novas lideranças e a adoção de um modelo de gestão mais voltado para o cliente. Outro passo importante está sendo a contínua reavaliação de ativos da maior empresa da região, de acordo com o ranking 500 MAIORES DO SUL, publicado por AMANHÃ em parceria com a PwC. A unidade operacional que não atingir determinada meta de rentabilidade, por exemplo, pode ser passível de negociação. Isso ocorreu recentemente com a venda da produtora de aços especiais na Espanha para a Clerbil SL, em maio.
“O escopo de possibilidades é amplo. Podemos, futuramente, anunciar [a formação de uma] joint venture ou fazer uma venda parcial, por exemplo. Não temos pressa ou meta específica, mas importantes decisões devem ser tomadas ao longo deste ano e do próximo. Temos alternativas e estamos explorando várias delas. Isso faz parte da Gerdau que estamos reinventando”, anunciou André Gerdau Johannpeter, diretor-presidente da companhia, durante conferência nesta quarta-feira (10). Outra novidade na Gerdau é a adoção da TI em áreas como logística e vendas. Os conceitos, adotados há cerca de dois anos, já rendem frutos. Tanto é que alguns dos principais números do segundo trimestre vieram acima da expectativa do mercado. O lucro líquido reportado foi de R$ 184 milhões no período, valor 15,7% maior do que previa a XP Investimentos. Este lucro foi 1.214% superior ao do trimestre anterior, quando a companhia havia lucrado um valor modesto, de R$ 14 milhões. A receita líquida atingiu R$ 10,2 bilhões entre abril e junho, avanço de 2% em relação ao trimestre anterior (veja outros dados na tabela ao final desta reportagem). 
Parte desse resultado também se deve ao aumento da confiança na melhora da economia brasileira, algo que a Gerdau tem presenciado nos últimos meses. “Há um sentimento de que o país parou de cair. Ainda é cedo para dizer se haverá retomada e quando, porém há pequenos sinais que me fazem crer que o segundo semestre será melhor. A venda de carros parou de cair, entretanto ainda há necessidade da volta do emprego para que as pessoas possam consumir”, analisou Johannpeter revelando que a capacidade operacional da companhia atingiu o índice de 75% no segundo trimestre (era 65% entre janeiro e março). Outra expectativa do executivo é que o governo possa acelerar o processo de concessão de portos, rodovias e aeroportos – o que aumentaria a demanda por aço no Brasil e compensaria a queda das vendas nos segmentos da construção civil e automóveis. “Ainda está sendo desenvolvida a regulação dessa política. Mas acho que a discussão está indo na direção certa”, opinou Johannpeter. 
Informações selecionadas
2º Tri 16
2º Tri 15
Var. (em %)
1º Tri 16
Var. (em %)
Vendas (Mil Toneladas)
4.240
4.271
(0,7)
3.851
10,1
Receita Líquida  (R$ Milhões)
10.249
10.759
(4,7)
10.085
1,6
Margem Ebitda  (%)
11,7
11,1
-
9,2
-
Lucro Líquido (R$ Milhões)
184
265
(30,6)
14
1.214,13
*Lucro líquido ajustado no 2T16 por eventos extraordinários.

- See more at: http://www.amanha.com.br/posts/view/2673#sthash.zPzdPXTI.dpuf

China, economia de mercado?

Da forma mais discreta possível, autoridades da área comercial de todos os países-membros da Organização Mundial do Comércio (OMC) estão discutindo um tema tecnicamente delicado, que poderá ter desdobramentos políticos a partir de 2017: a China seria, de fato, uma economia de mercado?

O Protocolo de Acessão da China à OMC, assinado em dezembro de 2001, dispõe sobre as obrigações que permitem o ingresso do país no sistema multilateral do comércio. As modificações a que, para isso, o governo chinês deveria proceder, previstas pelo protocolo, englobam obrigações relativas a câmbio, subsídios, transparência das medidas, políticas de controle de preços, tratamento concedido a empresas comerciais estatais, direito ao comércio e investimentos, entre outras. A OMC, por esse documento, decidiu que o país asiático não seria tratado como economia de mercado até dezembro de 2016. A China, no entanto, considera que depois dessa data, de forma automática, não mais poderá ser vista como uma economia em transição e que ao país deverão ser aplicadas as regras vigentes a todas as economias de mercado.

A questão não é simples porque as organizações internacionais e países-membros da OMC diferem quanto ao conceito de economia de mercado. No Brasil, a avaliação sobre economia de mercado está regulada pela Circular 59/2001, que em seu artigo 3.º estabelece que, para avaliação da existência de condições de economia de mercado, serão observados, entre outros itens, o grau de controle governamental sobre as empresas ou sobre os meios de produção; o nível de controle estatal sobre a alocação de recursos, preços e decisões de produção de empresas; a legislação aplicável em matéria de propriedade, investimento, tributação e falência; o grau em que os salários são determinados livremente em negociações entre empregadores e empregados; o grau em que persistem distorções herdadas do sistema de economia centralizada relativas a, entre outros aspectos, amortização dos ativos, outras deduções do ativo, trocas diretas de bens e pagamentos sob a forma de compensação de dívidas, além do nível de interferência estatal sobre operações de câmbio.

Quais as consequências do reconhecimento da China como economia de mercado? Do ponto de vista das empresas, o principal efeito será sobre o método de cálculo para a aplicação de medidas de defesa comercial em relação a dumping ou subsídios. E também pela possibilidade de continuar a utilizar salvaguardas para conter o rápido aumento de importações.

Caso algum país reconheça a China como economia de mercado, haverá a obrigatoriedade da utilização dos preços praticados no mercado interno chinês para o cálculo da margem de dumping. Em face de distorções existentes no mercado interno chinês, o resultado poderão ser margens de dumping menores e mesmo a perda da eficácia da medida antidumping. O reconhecimento também implicaria dificuldades na superação de desafios relacionados a eventuais desalinhamentos cambiais (em razão do controle da taxa de câmbio pela China) e subsídios fornecidos pelo governo chinês a setores econômicos específicos, por exemplo. Levando em conta as distorções existentes no mercado chinês, o resultado prático tenderá à fixação de margens de dumping menores ou mesmo negativas, o que impossibilitaria a aplicação da medida antidumping.

Alternativamente, se um país não reconhecer a China como economia de mercado, será preservado, mesmo após dezembro de 2016, o recurso à metodologia aplicada hoje em relação à apuração de margens de dumping, visto que os preços praticados internamente podem ser descartados em razão de sua artificialidade. Em seu lugar seriam usados valores alternativos, tal como o preço de venda em economias realmente de mercado (exemplo: Alemanha), o que permitiria o estabelecimento de margens mais elevadas de dumping. Também continuariam a ser aplicadas, após consulta bilateral, salvaguardas pelo tempo necessário para prevenir ou conter importações em quantidade ou sob condições que causem ou ameacem causar distorções no mercado doméstico do país de destino.

Em 2004 o Brasil assinou o Memorando de Entendimento com a República Popular da China sobre Cooperação em Matéria de Comércio e de Investimento, reconhecendo a China como economia de mercado. Em mais um exemplo da maneira equivocada como agia o lulopetismo, o memorando não entrou em vigor porque até hoje não foi oficialmente internalizado por ato do Executivo.

Na última reunião do G-20, em Xangai, e mais recentemente por correspondência de altos funcionários chineses, as autoridades brasileiras receberam uma clara mensagem: a China espera que seja mantido o compromisso do memorando de 2004.

O setor privado brasileiro está dividido, mas a maioria das associações empresariais tem-se manifestado contrária ao reconhecimento do novo status da China pelas consequências negativas sobre a preservação de seus interesses comerciais.

O assunto está em consideração pelo governo brasileiro, que deve dar uma orientação para as empresas que se sintam prejudicas pela agressiva ação comercial chinesa. Tendo em vista o prazo até dezembro, não há urgência na definição da posição oficial. Melhor fariam as autoridades competentes se seguissem a atitude da Europa e dos EUA no sentido de evitar uma definição pública sobre a questão mesmo depois de dezembro. Não seria adequado fixar agora as diretrizes de governo por decreto ou outra medida burocrática, nem desenvolver uma nova metodologia para o cálculo de margens de dumping.

A Câmara de Comércio Exterior (Camex), em seu novo formato, vinculada à Presidência da República, deveria examinar o assunto e decidir sobre a política a ser seguida tendo em vista, sobretudo, a nossa defesa comercial.


Fonte: O Estado de S.Paulo.

O setor elétrico brasileiro caiu no colo dos chineses




Stringer Shanghai/Reuters
CTG
Usina de Três Gargantas, da CTG: dono da maior hidrelétrica do mundo avança sobre o Brasil
 
 
 
 
 
São Paulo — Fica difícil entender a diferença entre megalomania e realismo quando se trata das ambições globais da China. Quem não duvidava, há cerca de duas décadas, do potencial econômico do país? Hoje, como se sabe, a China é a segunda maior economia do mundo, exporta mais do que qualquer um e empurra, praticamente sozinha, o PIB global.

Mas, mesmo para os padrões chineses, chamou a atenção o plano da estatal de energia State Grid para a construção de uma rede elétrica global, divulgado em março. A empresa anunciou o objetivo de investir, até 2050, 50 trilhões de dólares (isso mesmo, trilhões) para interligar o parque energético mundial, em parceria com outros sócios.
Publicidade

É bem verdade que, se há uma empresa com musculatura para ter essa ambição toda, essa empresa é a State Grid. Trata-se da maior companhia de energia do mundo, e disparado — com 1,5 milhão de funcionários, fatura 340 bilhões de dólares por ano. E, a julgar pelos movimentos recentes, o colosso energético chinês quer começar seu plano de conquista do mundo pelo Brasil.

A State Grid desembarcou no país há seis anos e, para usar o léxico popular, “chegou chegando”. Após uma série de aquisições, tem hoje 7 000 quilômetros de linhas de transmissão em funcionamento e outros 6 600 em construção. Em junho, a empresa anunciou a compra da participação do grupo Camargo Corrêa na CPFL, distribuidora paulista de energia e uma espécie de joia da coroa do setor.

É quase certo que comprará também a participação dos demais controladores e assumirá 100% da companhia, a um custo estimado em 25 bilhões de reais. Quando concluí­da, a aquisição será a maior da história do setor elétrico brasileiro.

Mas o que chama mais a atenção de quem observa o setor elétrico brasileiro é o fato de o apetite da State Grid ser apenas a demonstração de um fenômeno que parece estar em estágio inicial — a dominação do mercado por empresas chinesas. Pelo tamanho que a State Grid tem, é natural que esteja à frente desse processo. Mas ela não é a única.

Nos últimos cinco anos, os chineses investiram cerca de 40 bilhões de dólares no setor elétrico brasileiro. A China Three Gorges (CTG), que opera a hidrelétrica de Três Gargantas (a maior do mundo), entrou no Brasil em 2013 com a aquisição de ativos da portuguesa EDP — 17 bilhões de reais e três aquisições depois, a CTG é hoje a segunda maior geradora do país fora do sistema estatal.

Até mesmo grupos totalmente desconhecidos, como Huadian, SPIC e CGN, estão avaliando a aquisição de ativos de energia no Brasil. Fôlego não faltará: em suas operações chinesas, a Huadian gera o equivalente a toda energia elétrica produzida no Brasil. Hoje, essas empresas são favoritas à compra de uma série de operações à venda no país.

“Eles vão comprar tudo”, diz um banqueiro de investimento que participa das negociações. A visão um tanto fatalista do banqueiro reflete uma realidade — quando os chineses querem comprar alguma coisa, não há concorrentes para eles. “A conta fecha porque seus planos de negócios são de 30 anos”, diz Guilherme Malouf, especialista em mercado de capitais do Machado Meyer Advogados.

Como são estatais, as companhias acessam o crédito de baixo custo dos bancos chineses. A State Grid chegou ao cúmulo de quitar antecipadamente um empréstimo de 1,5 bilhão de reais com o BNDES (com juros de pai para filho) porque preferia captar o dinheiro em casa.

Para vencer o leilão do linhão que transmite energia da usina de Belo Monte para a Região Sudeste, em 2014, a State Grid ofereceu um inacreditável deságio de 38% — a segunda colocada ofereceu 12%. “Essa operação era estratégica para os chineses, e eles não queriam correr o risco de perder”, afirma um assessor que participou da operação.

Na negociação pelas hidrelétricas de Jupiá e Ilha Solteira, em novembro, a CTG pagou 14 bilhões de reais — não houve competição, já que era a única empresa capaz de levantar aquela dinheirama em tão pouco tempo. Pe­lo contrato de concessão, a compradora teria de pagar 10 bilhões de reais já em dezembro e o restante até junho deste ano.

Em maio, a companhia emitiu um bônus de dez anos para pagar a última parcela, com juros de 2,8% ao ano. Para uma empresa brasileira de alta qualidade de crédito, uma emissão teria taxa mínima de 5% em dólar. No mercado bancário, a diferença também é grande. Em operações de infraestrutura do Brasil, o banco de fomento chinês CDB concedeu financiamento a taxas anuais de 6%.

No BNDES, a taxa média é de 11%. “Não nos consideramos mais agressivos em preços. Fazemos uma avaliação racional de valores”, diz Li Yinsheng, presidente da CTG no Brasil. Em cada transação relevante em curso no setor hoje no Brasil há um chinês em discussões avançadas.

A Huadian negocia a compra da Santo Antônio Energia, que tem entre os acionistas Odebrecht e Cemig, que tentam reduzir o endividamento — a Cemig também quer vender o controle da Light, a distribuidora de energia do Rio de Janeiro. A CTG e a State Grid estão discutindo a compra de parques eólicos do grupo Queiroz Galvão.

A State Grid já está de olho na Eletropaulo — a americana AES decidiu vender a empresa. A Eletrobras também busca sócios e estuda a venda parcial ou total de suas distribuidoras. A chinesa Shangai Electric tem interesse em ser sócia da Eletrosul, mas impõe a condição de ser majoritária.

A SPIC, que entrou no Brasil com a compra de operações da australiana Pacific Hydro, e a Gezhouba, que já tem operações em vizinhos da América Latina, também buscam aquisições no país. Os chineses estão ainda investindo diretamente em projetos — a Astroenergy está investindo 1 bilhão de reais em dois parques de geração solar no Ceará.

O estilo de negócios das companhias chinesas vem mudando ao longo dos anos para padrões cada vez mais internacionais. O receio inicial de um navio ancorado no porto de Santos e centenas de trabalhadores dormindo em contêi­neres — como aconteceu na costa africana — aparentemente ficou para trás. A CTG é considerada a mais “ocidentalizada” das companhias em operação no Brasil.

Seu presidente fala inglês nas reuniões com bancos e tem diretores brasileiros sob seu comando. Na State Grid, para cada brasileiro, há um “equivalente” chinês.

Nas negociações, os escritórios de advocacia se apressaram porque precisaram traduzir todos os documentos e contratos para mandarim — a demanda aumentou tanto que, numa transação recente, os tradutores no Brasil estavam saturados de serviço, e os assessores jurídicos tiveram de contratar tradução na China mesmo.

Tudo, aliás, tem de ser feito com antecipação para dar tempo de ir e voltar da China com as definições: as empresas têm hierarquia rígida. Quanto menos internacionalizada for a companhia, mais longas são as reuniões — chegam a durar 14 horas quando os compradores preferem que sejam feitas em português e mandarim.

 

Estratégia global


A empreitada chinesa no Brasil faz parte de uma lógica maior de investimentos mundo afora. Em 2014, os chineses atingiram, pela primeira vez, a marca dos 100 bilhões de dólares de investimento anual no exterior. Somente no primeiro semestre deste ano, foram mais 87 bilhões de dólares. O investimento internacional é uma orientação do governo.

Em maio do ano passado, o primeiro-ministro Li Keqiang esteve no Brasil para firmar acordos de 53 bilhões de dólares — e para dar uma sinalização explícita às empresas chinesas de que o país deveria ser destino de investimentos.

“Com a desaceleração da economia chinesa e mais de 3 trilhões de dólares em reservas, os chineses precisam achar formas de gastar esse dinheiro fora“, diz Luiz Augusto Castro Neves, presidente do Conselho Empresarial Brasil-China. O avanço em solo brasileiro também se deve a uma mudança radical no comportamento do governo federal.

Há pouco mais de cinco anos o governo fa­zia os esforços possíveis para mostrar aos chineses que não eram bem-vindos aqui. Quando a State Grid tentou comprar a fatia da espanhola Iberdrola na ­Neoenergia em 2010, os espanhóis foram co­mu­nicados que a transação “não agradava” — ou seja, o governo vetaria se fosse preciso.

Em 2013, quando a mesma empresa tentou adquirir a fatia da Camargo Corrêa na CPFL (a mesma que acabou de comprar), o governo chamou os fundos de pensão que são sócios da empresa para exercerem o direito de preferência de compra e, com isso, fechar o caminho para os chineses. A operação acabou não ocorrendo.

Mas a realidade do setor se impôs e o governo teve de mudar de postura. O apetite chinês encontrou um Brasil em que nunca houve tanta oferta de ativos e participações em empresas de energia. Segundo banqueiros e advogados ouvidos por EXAME, pelo menos 60 bi­lhões de reais em ativos estão em busca de um comprador.

Parte desse feirão se deve à presidente afastada Dilma Rousseff e à famigerada Medida Provisória no 579. A medida obrigou as companhias de energia a renovar antecipadamente suas concessões por taxas 20% mais baixas — quem não aceitasse a im­posição não poderia renovar. Para quem aceitou e para quem recusou, a medida mudou a lógica do negócio, já que afetou o fluxo de receitas e de caixa progra­mado.

Nas contas da consultoria Thymos, o efeito foi um rombo de 67 bilhões de reais para geradoras, transmissoras e distribuidoras. Em seguida ao ajuste, grandes investidores do setor, como Petrobras, Eletrobras, Camargo Corrêa, Odebrecht, OAS e Queiroz Galvão, foram surpreendidos pela Operação Lava-Jato.

Com necessidade de capital para reduzir dívidas, bancar investimento nos projetos e pagar multas e indenizações em negociações de leniên­cia com o governo, essas empresas colocaram seus ativos à venda. Para investidores brasileiros interessados, pesa o alto custo de financiamento.

Para estrangeiras, como a franco-belga Engie e a alemã E.ON, atrapalham a desaceleração da economia europeia e os ajustes de resultados das operações na América Latina.

“Os chineses são praticamente os únicos com disponibilidade financeira hoje para viabilizar os grandes leilões do governo brasileiro”, diz Fernando Camargo, diretor da LCA Consultoria. Eis a ironia maior: as trapalhadas nacionalistas de Dilma Rousseff vão fazer o setor elétrico nacional cair no colo dos chineses.

Cide maior da gasolina estimulará R$ 40 bi na economia com etanol





Cide maior da gasolina estimulará R$ 40 bi na economia com etanol

O governo do presidente interino Michel Temer estuda aumentar a Cide, tributo que incide sobre os combustíveis. Porém, não há nada definido, apesar do preço artificial da gasolina por vários anos no governo Dilma Rousseff, já que a Petrobras importava o combustível fóssil mais caro e vendia mais barato no País. Fato este que promoveu uma concorrência desleal com o etanol a base de cana de açúcar, impactando esta cadeia produtiva brasileira, o que gerou a maior crise do setor sucroenergético. A fim de reverter esta situação e voltar a movimentar bilhões adicionais na economia com a retomada do incremento do etanol na matriz energética, com efeitos na geração de emprego e renda, o presidente da Federação dos Plantadores de Cana do Brasil (Feplana), Alexandre Andrade Lima (Foto), reuniu-se com membros do governo e o ministro de Minas e Energias, Fernando Filho. A reunião foi realizada em Brasília nesta terça-feira (9).

A Feplana defendeu o reajuste da Cide da gasolina e a aplicação de um critério ambiental onde taxa o combustível a partir do seu teor poluente. O ministro ficou de se reunir com a equipe econômica do governo para avaliar a viabilidade da medida, bem como de outros pleitos do setor. "O aumento do tributo é uma forma de garantir a justa competitividade do etanol, já que o governo congelou por anos o preço da gasolina"disse Andrade Lima.

O líder dos canavieiros do Brasil também ressaltou a importância da medida para a ampliação do consumo do combustível a base de cana - uma matéria prima renovável, limpa e sustentável. Com isso, haverá grande movimentação financeira com positivos reflexos na economia. O dirigente lembrou que mais de US$ 40 bilhões poderá ser investido pelo setor para atender a demanda dos consumidores, além de todos os benefícios a ser gerados com milhares de novos empregos. A iniciativa ainda ajuda com o país a cumprir sua meta posta na COP 21.

A questão ambiental também foi frisada pela Feplana durante a reunião com o ministro ao defender a adoção de critérios graduais para a taxação da Cide sobre os combustíveis a partir do seu teor de poluição. Paulo Leal,vice-presidente da entidade canavieira, defendeu o proposta de transformar a Cide em um Gren Tax já existente em alguns países. A 'taxa verde' consiste em beneficiar combustíveis renováveis e taxar mais os poluentes.

O dirigente aproveitou para lembrar ao ministro que 80 usinas fecharam nos últimos anos e mais de 80 estão em recuperação judicial. Além de Leal e Lima, a reunião com Fernando Filho contou com a participação do diretor da Feplana, Murilo Paraíso, do presidente da Sindicato dos Cultivadores de Cana de PE, Gerson Carneiro Leão, do deputado federal André Amaral (PMDB/PB) e do secretário nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, Marcio Felix.
Cooperativas e BR Distribuidora

Andrade Lima ainda tratou com o ministro de Minas e Energias sobre a liberação da comercialização de etanol de cooperativas de canavieiros do Nordeste com a Distribuidora BR, empresa vinculada à Petrobras. O dirigente solicitou ação ministerial para destravar a proibição descabida da venda de etanol da cooperativa que administra a Usina Cruangi em Pernambuco à Distribuidora. A estatal bloqueou a negociação por conta de pendências dos donos da usina,mesmo sem haver nenhum passivo da Cooperativa formada por agricultores.

"Enquanto o governo pernambucano estimula o cooperativismo, até com a elevação do crédito presumido do ICMS do etanol produzido no local, a União, através da BR Distribuidora, está dificultando a retomada desta importante atividade socioeconômica para a região, com esse bloqueio sem lógica", reclamou o dirigente. Lima solicita que o ministro de Minas e Energia revise esta injusta situação com o setor, de modo que permita a comercialização do etanol da cooperativa com a referida estatal, o que garantirá o restabelecimento de uma relação comercial normal, como já acontece entre a cooperativa com as demais companhias distribuidoras 

 (Assessoria de Comunicação, 14/8/16)

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Isolux diz estar negociando linhas de energia no Brasil


Divulgação
Isolux Corsán
Isolux Corsán: segundo a fonte, a empresa busca compradores para seus ativos, mas ainda não há negócios fechados devido a um desentendimento em relação a valores
 
Da REUTERS


São Paulo - A espanhola Isolux está em negociações para a eventual venda de ativos de transmissão de energia elétrica no Brasil, que incluem empreendimentos como um linhão na região Norte, ligando a usina de Tucuruí e cidades como Macapá (AP) e Manaus (AM), afirmou a companhia à Reuters nesta segunda-feira.

Segundo uma fonte, a chinesa State Grid e a canadense Brookfield estão entre as interessadas nos ativos, que estão no mercado devido a dificuldades financeiras da Isolux, que acaba de aprovar uma reestruturação de dívidas com credores na Espanha.
Publicidade

"Não temos condições de confirmar nomes de empresas potencialmente interessadas em ativos do Grupo Isolux Corsán, mas podemos escrever que há negociações em curso, em função da qualidade dos referidos ativos", disse o grupo espanhol em nota.

Segundo a fonte, próxima das conversas, que falou sob a condição de anonimato, a Isolux busca compradores para seus ativos, mas ainda não há negócios fechados devido a um desentendimento em relação a valores.

"São ativos um pouco mais caros, é complicado... O que manda é a flexibilidade do preço... A precificação precisa alinhar o risco com o apetite pelo ativo", afirmou a fonte.

A Brookfield disse que não irá comentar. A State Grid não respondeu aos contatos da reportagem.

As vaias brasileiras estão chamando a atenção do mundo





Mariana Bazo/Reuters
A goleira americana é fotografada em jogo no Mineirão, em Belo Horizonte, Minas Gerais
Hope Solo: ela tem sido vaiada durante as partidas da Rio-2016
 
 
 
 
São Paulo - A goleira americana Hope Solo, que jogou na última terça-feira contra Colômbia em Manaus, no Amazonas, tem dado o que falar no Brasil. 
 
Ela tem sido vaiada frequentemente durante as partidas da Rio-2016, após ter causado polêmica no Instagram, com uma postagem jocosa sobre a epidemia de zika no Brasil. 

Mas a americana está longe de ser o único alvo das reações inflamadas dos brasileiros.

A torcida já vaiou o tenista alemão Dustin Brown, quando torceu o tornozelo, e alguns nadadores russos, que, mesmo tendo sido liberados para competir, causaram alvoroço devido ao escândalo nos casos de doping.

Além de dividir opiniões entre os próprios brasileiros, a controversa postura da torcida ganhou repercussão na imprensa internacional.

O jornal americano The New York Times, por exemplo, já descreveu que é comum os alertas de “Silêncio” e “Shh!” nas competições, dados pelos torcedores e pelos próprios atletas, incomodados com as vaias.

O jornal afirma que, ainda que cada esporte tenha suas particularidades sobre os momentos adequados para torcer ou fazer silêncio, "nenhuma delas se aplica aqui (nos Jogos do Rio)".

A agência de notícias Reuters chegou a explicar que as vaias são chamadas de "zoeira" pelos brasileiros, que as destinam principalmente aos grandes nomes dos esportes, tais como EUA, Rússia e China, além da principal rival, a Argentina.

E lembra que nem mesmo "os deuses do esporte brasileiro", a Seleção de futebol, estão "imunes às vaias”.

O site da rede de televisão BBC, por outro lado, criou um guia para explicar aos estrangeiros a diferença de 6 tipos de vaias na Olimpíada do Rio.

Entre as definições levantadas, estão as vaias por diversão; aos favoritos; aos russos e aos políticos. 
Há também aquelas que são geradas por patriotismo e, claro, as direcionadas aos juízes.


Janot pede que STF não aceite ação de Lula





Miguel Schincariol / AFP
Ex-presidente Lula
Lula: o procurador pede ainda que uma decisão liminar (provisória) concedida pelo presidente da Corte, ministro Ricardo Lewandowski, na mesma ação, seja anulada


Brasília - O procurador-Geral da República (PGR), Rodrigo Janot, entregou um documento ao Supremo Tribunal Federal (STF) no qual pede que uma ação levada à Corte pela defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não seja aceita.

O procurador pede ainda que uma decisão liminar (provisória) concedida pelo presidente da Corte, ministro Ricardo Lewandowski, na mesma ação, seja anulada.
Publicidade

Em julho, a defesa do ex-presidente levou um recurso ao STF, onde os advogados pediram liminarmente que toda a investigação sobre Lula volte a tramitar no Supremo.

Os advogados alegam que os parlamentares citados em diálogos com o ex-presidente têm foro privilegiado e, por isso, só podem ser julgados pela Corte.

Durante o recesso do judiciário no mês passado, o presidente do Supremo decidiu que a parte em que Lula aparece em conversas grampeadas com políticos deveria ser separada para que o relator do processo, ministro Teori Zavascki, analisasse a legalidade da investigação. Durante o recesso, o presidente da Corte julga as ações consideradas urgentes.

No mês de junho, uma decisão do ministro Teori Zavascki remeteu as investigações sobre o ex-presidente para o juiz Sérgio Moro.

Teori anulou uma gravação feita durante a Operação Lava Jato em que Lula aparece conversando com a então presidenta Dilma Rousseff.

Na manifestação entregue ontem (9), Janot alega que, na liminar concedida por  Lewandowsk, durante o recesso, não foi tratado de maneira suficiente se caberia ou não o tipo de ação usado pela defesa para apresentar os fatos ao Supremo.

Janot disse que Moro não está descumprindo a decisão de Teori, que remeteu o processo à primeira instância e que o juiz, segundo as informações que foram prestadas no processo, “está adotando as cautelas necessárias para dar efetividade à referida decisão”.

Antes de conceder a liminar, Lewandowski pediu que Moro envie informações à Corte.

No documento, Janot lembra ainda que, apesar do ministro Teori Zavascki ter anulado a gravação da conversa entre Dilma e Lula, as demais foram preservadas.

“ (...) houve reconhecimento da nulidade do conteúdo de conversas colhidas após a determinação judicial de interrupção das interceptações telefônicas, não daquelas outras colhidas antes da decisão de interrupção, que permanecem válidas e podem ser utilizadas se tiverem relevância probatória em futura ação penal”, diz o texto.

“Posto isso, não há desrespeito à decisão dessa Corte Suprema, tampouco usurpação de sua competência, devendo ser cassada a liminar concedida, julgando improcedente a reclamação”, pede Janot na manifestação.

O pedido será analisado pelo ministro Teori Zavascki, que é o relator do caso.