quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Chinesa State Grid toma fôlego para avaliar oportunidades no Brasil, diz diretor

State Grid Brazil Holding S.A.

PARACAMBI, Rio de Janeiro (Reuters) - A elétrica chinesa State Grid está satisfeita com os resultados de seus negócios no Brasil, onde chegou em 2010, e segue com forte interesse em crescer no país, mas a companhia agora precisa de algum tempo para avaliar as diversas oportunidades de investimento disponíveis e escolher as que podem gerar maior sinergia com os ativos que já possui, disse nesta quinta-feira um alto executivo da empresa. 

O diretor-geral de cooperação internacional da State Grid, Zhu Guangchao, afirmou a jornalistas que a empresa reforçou a aposta no Brasil mesmo em meio à crise dos últimos anos e agora já vê o cenário começando a dar sinais positivos, com o início de uma recuperação na economia e de uma redução nas taxas de juros, que reforçam a confiança no mercado local.

“Estamos avaliando várias oportunidades no Brasil, mas precisamos de tempo para analisar, para ver quais ativos têm melhor sinergia com o que temos agora... estamos muito interessados nas áreas de transmissão, distribuição e energias renováveis”, disse ele, nos bastidores do lançamento da pedra fundamental das obras de um enorme linhão de ultra-alta tensão que a companhia construirá entre o Pará e o Rio de Janeiro, orçado em 9,6 bilhões de reais.

“Durante esses sete anos, sempre tivemos grande confiança nesse mercado, e creio que agora a economia do Brasil começa a dar sinais de melhora, por isso confiamos ainda mais nesse mercado... a State Grid mantém uma estratégia de longo prazo, com certeza nosso negócio no Brasil vai crescer”, comentou Zhu, que também é vice-presidente de Engenharia da State Grid na China.

 https://br.reuters.com/article/businessNews/idBRKCN1C32NI-OBRBS

Statoil avança no projeto de expansão da produção no Brasil

Resultado de imagem para logo da Statoil operadora de petroleo

Inscrita para os dois próximos leilões de áreas da camada pré-sal do governo brasileiro, previstos para 27 de outubro, a norueguesa Statoil informou nesta quinta-feira, 28, que contratou a TechnipFMC para fornecer cabos umbilicais submarinos, risers e dutos de vazão para a terceira plataforma que será instalada no campo de Peregrino, na bacia de Campos.

A Statoil é a segunda maior operadora de petróleo e gás natural do Brasil, apesar da produção ainda ser bem distante da primeira colocada Petrobras. Em julho, foram produzidos 78,9 mil barris de óleo equivalente (boe) nos campos operados pela companhia, enquanto a estatal já supera os 3 milhões de boe diários.

Mas o portfólio da Statoil inclui descobertas nos blocos BM-S-8 – localizado no pré-sal da bacia de Santos e próximo ao campo de Carcará, que será oferecido no leilão do pré-sal em outubro -, e o BM-C-33, no pré-sal da bacia de Campos, também com grande potencial de produção.

A empresa afirmou em nota que a estratégia é crescer no País. “Intensificar nossas operações no Brasil faz parte da estratégia corporativa da Statoil”, disse Anders Opedal, presidente da Statoil no Brasil, em um comunicado.

Os trabalhos de engenharia, aquisição e fabricação da terceira plataforma começarão imediatamente, enquanto o trabalho de instalação offshore (no mar) ocorrerá entre o quarto trimestre de 2019 e o primeiro trimestre de 2020. O contrato inclui todo o trabalho submarino relacionado a Peregrino II. 

Participaram da concorrência apenas empresas brasileiras, informou a companhia.

A fase II de Peregrino ampliará a vida produtiva do campo e agregará 273 milhões de barris em reservas recuperáveis (que podem ser produzidas). O primeiro óleo deverá chegar em 2020. A chinesa Sinochem é parceira no campo com 40%. Na fase I de Peregrino, as reservas estavam entre 300 e 500 milhões de barris”, disse a Statoil em nota.


Marcas de tecnologia são campeãs em relevância no País

Marcas de tecnologia são campeãs em relevância no País



Uma pesquisa realizada pela agência Ogilvy apontou que as empresas de tecnologia são campeãs entre os consumidores brasileiros quando o assunto é relevância de marca. Entre as dez marcas eleitas como as mais relevantes do levantamento apresentado ontem pela Ogilvy, cinco são do setor de tecnologia: Google, Facebook, Netflix, Samsung e Apple.

Para o presidente do grupo Ogilvy Brasil, Fernando Musa, a relação dos clientes com as marcas evoluiu. 

Hoje, o principal atributo é a utilidade que uma empresa tem na vida das pessoas. Quanto mais indispensável o serviço prestado por uma marca, melhor costuma ser a avaliação sobre o negócio.

Isso pode explicar a liderança do Google e também a ascensão da Netflix. “A Netflix é uma empresa recente, mas que chegou com uma proposta de valor muito clara: oferecer entretenimento de qualidade a um preço muito menor do que o de seus concorrentes”, disse o executivo.

Para realizar o estudo, que ouviu pouco mais de 2 mil consumidores de 18 a 64 anos e que atuam no mercado de trabalho, a Ogilvy utilizou uma lista de 50 marcas, selecionadas a partir de rankings de marca e de relevância de mercado – todos os principais bancos e operadoras de telefonia, por exemplo, foram avaliados pelos entrevistados, mas não chegaram ao “top 10”.
Além de Google (1.º), Facebook (2.º), Netflix (5.º), Samsung (7.º) e Apple (9.º), aparecem na lista três marcas de capital brasileiro: Natura (3.º), Havaianas (4.º) O Boticário (6.º). As multinacionais Nestlé (8.º) e Nike (10.º) completam o ranking. 
 As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Resultado de imagem para fotos da usina CEMIG


Esta quarta-feira, 27, foi de alívio para a equipe econômica com o sucesso de dois leilões. Em São Paulo, pela manhã, foram concedidas a estrangeiros quatro usinas da estatal mineira Cemig. E, à tarde, no Rio, foram arrematados 37 blocos para exploração e produção de petróleo e gás. O ágio das concorrências surpreendeu as expectativas do próprio governo, garantindo uma receita extra de R$ 4,2 bilhões para o caixa da União.

O reforço no caixa deu alívio fiscal num momento de dificuldade política para o presidente Michel Temer e abriu espaço para uma liberação maior das despesas do Orçamento até o final do ano, além dos R$ 12,8 bilhões anunciados na semana passada.

O governo contava inicialmente com R$ 11 bilhões com o leilão das usinas da Cemig e R$ 700 milhões com a venda dos blocos de petróleo. Mas o resultado alcançado foi de R$ 12,1 bilhões na licitação das usinas e R$ 3,8 bilhões nas áreas de exploração de petróleo.

Os R$ 15,9 bilhões de receitas ainda em 2017 afastaram, na prática, o pior risco fiscal que estava no caminho do governo: a possibilidade concreta de uma paralisação efetiva da máquina administrativa pelo forte corte em vigor que tem maltratado muitas áreas essenciais do serviço público. A manutenção do corte atual de R$ 45 bilhões por mais tempo seria insustentável. A discussão agora na equipe econômica é se a liberação maior das despesas poderá ser feita logo.

Para o governo e analistas econômicos, o sucesso do leilão também afastou o risco de descumprimento da meta fiscal deste ano. Essa possibilidade continuava no radar mesmo depois de o Congresso ter mudado a meta fiscal permitindo um rombo de até R$ 159 bilhões.


Refis


A opção será liberar agora um valor maior ou deixar uma margem de segurança para administrar riscos de perda de receitas até o final do ano, inclusive com o Refis (parcelamento de débitos tributários) aprovado ontem com grandes mudanças que favorecem os contribuintes devedores. A margem obtida com os leilões pode compensar a perda de arrecadação com a flexibilização das regras do Refis.

A equipe econômica ainda tem uma espécie de “colchão” de R$ 4 bilhões com a liberação de receitas de precatórios (ordens de pagamento de ações perdidas pela União, mas que não foram resgatadas pelos vencedores há mais de dois anos). Segundo apurou o Estadão/Broadcast, o Ministério do Planejamento só vai recomendar uma liberação maior se pareceres forem editados para garantir os recursos. Entre perdas e ganhos, a margem para um desbloqueio maior do Orçamento subiu para cerca de R$ 7 bilhões.

Na Fazenda, porém, há uma avaliação de que a liberação de R$ 12,8 bilhões prevista para ser feita amanhã já seria suficiente. O argumento é de que qualquer expansão de despesas neste momento criaria pressão em 2018 em função do teto de gastos (que trava o crescimento dos gastos públicos à inflação).

Para o economista-chefe da corretora Tullet Prebon, Fernando Montero, começaram a aparecer dados bons também do lado fiscal, inclusive melhoria da arrecadação de tributos. Ele lembrou que até 15 dias atrás havia muita dúvidas fiscais, que agora começam a se dissipar. 

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Brasil tem os piores políticos do mundo, diz pesquisa do Fórum de Davos

Brasil tem os piores políticos do mundo, diz pesquisa do Fórum de Davos

Por Clóvis Rossi

Os políticos brasileiros são os menos confiáveis do mundo.

Não, não é uma opinião pessoal nem alguma mensagem postada nessa usina de maldades que são as redes sociais.
 
Trata-se de uma constatação do Fórum Econômico Mundial, aquele que reúne, todos os janeiros, a elite global em seu encontro anual em Davos.
 
Está no Índice de Competitividade Global, divulgado nesta terça-feira (26) e cujos detalhes de fundo mais econômico a Folha já resumiu na edição desta quarta (27).
 
No sub-item "Confiança do público nos políticos", o Brasil aparece na 137ª posição, o último lugar, já que são 137 os países que compõem o Índice.
 
Apesar dessa vergonhosa colocação, o Brasil melhorou 11 posições no quesito "instituições", um dos 12 pilares que são medidos pelo Fórum e do qual a confiança nos políticos é um sub-item.
 
Melhora que, segundo o relatório que acompanha o ranking, se deve pelo menos em parte à Operação Lava Jato. Não deixa de ser um desmentido aos comentários interessados feitos discreta e marotamente por acusados e seus defensores de que a Lava Jato prejudica a economia, ao atingir grandes empresas e seus principais executivos.
 
O texto diz que o ganho de 11 pontos no pilar instituições "mostra os efeitos de investigações que levam à uma maior transparência e à percepção de procedimentos bem sucedidos para reduzir a corrupção dentro dos limites institucionais da Constituição do Brasil".
 
Melhorar nesse quesito significa muito pouco, no entanto. Mesmo subindo 11 posições, o Brasil fica em 109º lugar no pilar "instituições", sempre entre 137 países. Ou seja, há apenas 28 países com instituições menos favoráveis à competitividade do que o Brasil.
 
No conjunto do ranking, como a Folha já mostrou, o Brasil ocupa a 80ª posição, na metade de baixo da tabela, portanto.
 
Nada surpreendente: há outros itens em que a posição brasileira fica perto dos últimos lugares no mundo ou até em último, como na confiança nos políticos. É o caso, por exemplo, do "efeito da tributação no incentivo para trabalhar", no 137º lugar. Ou do "efeito da tributação no incentivo para investir", no penúltimo posto.
 
Fica claro que o sistema tributário brasileiro é um gargalo enorme para a competitividade, mas entre as reformas na agenda do governo Temer não figura a tributária.
 
Há outros vexames na classificação, de resto tradicionais. Exemplos: em qualidade da educação primária, o Brasil fica no 127º lugar. Na qualidade do ensino de matemática e ciência na universidade, pior ainda (131º lugar).
 
Bem feitas as contas, a grande qualidade brasileira independe da ação dos governos, do empresariado ou da sociedade: é o tamanho do seu mercado ou seja de sua população. Nesse "pilar", o Brasil é o 10º colocado, mesmo assim duas posições abaixo da que ocupava no ano anterior.
 
Pior: esse gigantesco mercado não funciona bem. O pilar "eficiência do mercado de bens" leva o país para o 122º lugar.
 
Como competitividade é fator chave para o desenvolvimento econômico, o ranking do Fórum coloca o Brasil no terceiro mundo 

(Folha de S.Paulo, 28/9/17)

quarta-feira, 27 de setembro de 2017

E o Governo Federal Escondeu R$ 10 Trilhões



Todo ano R$ 360 bilhões entram no “Caixa” do Ministro da Fazenda, a Débito. 30 x 360 = 10 Tri.

São as contribuições previdenciárias que fazemos para as nossas aposentadorias.

E como contrapartida esse valor de 10 Tri deveria aparecer no Passivo, como uma “Dívida Previdenciária A Pagar” .

Mas nossos Ministros da Fazenda registraram essa entrada de dinheiro não como a dívida que ela é, mas como “Receitas Correntes” do governo.

Só que “Receitas” são os serviços prestados pelo Governo, que não é o caso da Previdência, que é um serviço a prestar.

Esconderam uma pedalada fiscal de 10 trilhões.

Mas não contem a ninguém, só vocês e eu vamos ficar sabendo.

 http://blog.kanitz.com.br/governo-federal-escondeu/?utm_source=feedburner&utm_medium=email&utm_campaign=Feed%3A+stephen_kanitz+%28Fa%C3%A7a+Uma+Pausa.+Levante%2C+estique+os+bra%C3%A7os%2C+leia+algo+diferente.%29

A bolsa sufoca a inovação


VP de manufatura da Embraer constata que as companhias de capital aberto inovam menos que outras empresas

 

Por Eugênio Esber

VP de manufatura da Embraer constata que as companhias de capital aberto inovam menos que outras empresas – inclusive as familiares


Grande parte dos associados da Amcham Porto Alegre que foi ouvir o vice-presidente de manufatura da Embraer, José Luiz Fragnan, em uma agradável manhã de julho, queria saber sobre o Uber Elevator e outros tiros-na-lua que possam estar sendo pensados na companhia que colocou o Brasil na vanguarda da aviação comercial e executiva. Fragnan não desviou desses assuntos, apesar da carga de incerteza que ainda os cerca. Mas compartilhou os resultados um tanto surpreendentes de uma sondagem que ele realizou em 77 empresas brasileiras de vários tamanhos, setores e estruturas de capital, com o objetivo de “mapear o DNA de uma empresa inovadora” para seu trabalho de conclusão de um MBA. Foi sobre essas conclusões que versou a seguinte entrevista de Fragnan a AMANHÃ.

Em sua pesquisa, companhias com ações em bolsa de valores se revelaram menos inovadoras que empresas familiares. O que explica esse fenômeno?
Antes, uma ressalva: minha pesquisa leva a hipóteses que estão sujeitas ou não a confirmação. Mas não me surpreendeu essa correlação mostrando que empresas de capital aberto sejam menos inovadoras que as de capital fechado e também aquelas de controle familiar. As companhias que têm ações em bolsa de valores são seguidas muito de perto pelos investidores, e uma parte significativa deles têm um olhar focado em retornos de mais curto prazo. Essa circunstância, embora seja positiva por oportunizar maior visibilidade e transparência à gestão, acaba levando a uma certa volatilidade. 

A angústia de investidores por resultados de curto prazo cria, então, um quadro de ansiedade que desfavorece a inovação?
Exatamente. Essa é uma hipótese bem válida para a evidência que apareceu em minha pesquisa. Investidores ditam seu comportamento conforme avaliam se sua decisão de investimento naquelas ações está indo bem ou mal. E é natural que inovação e tecnologia disruptiva impliquem algum risco para a organização, no sentido de saber se, efetivamente, ela está no caminho certo. 

Você concluiu, também, que companhias inovadoras apresentam tolerância menor ao erro. É o contrário do que têm dito e repetido estudiosos da inovação...
Essa foi uma correlação bem inesperada, e tive dificuldades de criar uma hipótese para isso. Tenho dois caminhos para explicar esse dado da pesquisa. A primeira hipótese pega carona em outra constatação do meu trabalho – a de que as empresas mais inovadoras são aquelas que estão focadas na identificação de demandas dos clientes. Dessa forma, imagino que a inovação passa a ser dirigida para atender a uma determinada demanda. Portanto, o espectro de variação de erro fica reduzido, e então são menos necessárias as situações de tentativa-e-erro, por conta de já se ter identificado pontualmente qual é a demanda e em que direção devemos dirigir essa inovação. Essa é uma hipótese que tem sustentação, como disse, dentro da minha própria pesquisa. 

E qual é a sua segunda hipótese para relacionar inovação com menos tolerância a erros?
Existe algo que aqui na Embraer chamamos de erro honesto. São aquelas falhas e insucessos que já são considerados inerentes ao processo de desenvolvimento de uma nova tecnologia, de um novo produto ou processo. Essas falhas, eu e todos nós na Embraer não consideramos um erro, mas um tryout (uma tentativa válida). O que pode ter acontecido na pesquisa é que a pessoa, ao responder à pergunta sobre tolerância a erro, considerou fundamentalmente falhas resultantes de negligência ou imperícia, os erros de fato. Isso pode explicar essa correlação inesperada que minha pesquisa trouxe. 

A Embraer orienta a inovação para o atendimento a demandas de mercado já identificadas?
Dentro do nosso programa Embraer de Inovação Gerenciada, temos, por exemplo, um processo que se chama “Desafio Inova”. Se alguém, em qualquer área, está tendo uma dificuldade com relação a produto ou processo, lança essa dificuldade em espaço compartilhado, através do qual as pessoas podem sugerir, participar, dar ideias, buscar soluções para aquilo. É natural que nesse espaço deve surgir uma série de ideias, algumas não aplicáveis, mas outras que vão direto na solução do problema e que merecem um tryout – o que já reduz o risco de falha no processo de inovação.  A solução que consideramos viável já pode ser dirigida para o “Desafio Inova” da Embraer.  Em resumo, é isso: um pacote grande de contribuições, uma seleção das ideias mais promissoras e, em consequência, uma margem menor para erro. 

Em ambientes de livre geração de ideias, ainda há espaço para chefes que ditam o que fazer e como fazer?
Vejo que esse tipo de liderança está caindo em desuso, seja por estar saindo do mercado, se aposentando ou por uma evolução natural – as pessoas estarem percebendo um papel diferente de liderança e evoluindo para acompanhar essa mudança. É óbvio que ainda existem algumas lideranças do tipo “você faz e eu mando”. Aqui é assim e sempre se fez assim. Mas não vão prosperar. No momento em que só repetimos o que o chefe manda fazer, a gente perde as oportunidades de inovar e de manter uma espiral virtuosa de melhoria constante. 

A média gerência seria uma camada hierárquica ainda resistente a essa abordagem de maior liberdade?
Em empresas como a Embraer, seguramente não. Mas serei sincero com você: tenho dificuldade em falar por todas as empresas pesquisadas. Diria, no entanto, que esse tipo de comportamento pode aparecer tanto no nível da supervisão quanto no nível da gerência, e até na diretoria. Eu diria que todas as funções de liderança têm de evoluir nesse sentido, e qualquer uma delas pode se tornar um entrave se não tiver um posicionamento mais moderno. Já não estamos mais vivendo naquela época do “faça que eu mando”. Acho que as empresas de hoje já tiveram algum ciclo de renovação e têm pessoas com essa visão mais moderna. Líderes com essa linha mais antiga de trabalho vão se tornando mais raros em todas as empresas. 

Sua pesquisa revelou que o respeito à hierarquia é um elemento ausente ou de menor relevância na cultura das empresas mais inovadoras, onde ideias se impõem ante os crachás. Como os líderes podem exercer seu papel numa empresa com hierarquias mais fluidas, mais voláteis?
Nós, da Embraer, continuamos tendo as lideranças formalmente nominadas. Temos coordenadores, temos supervisores, gerentes, diretores, vice-presidente, presidente. Temos a hierarquia claramente definida, e as pessoas conhecem suas posições, suas responsabilidades e suas autonomias. Disso, não resta a menor dúvida. O importante, nesse caso, é que quando falamos em respeito hierárquico não significa subordinação a um quadro em que não existe diálogo, no qual o chefe fala “faça isso” e acabou. Não é isso. Falamos do papel do novo líder. Esse novo líder não precisa ter aquela responsabilidade técnica do produto ou da área que ele coordena ou comanda. Ele não precisa ser o maior especialista. Ele tem realmente uma função de conduzir as equipes. A função do líder hoje é ser um cara que dá um propósito para a equipe. Ele dá um  norte baseado em um propósito. Ele dá conteúdo para o trabalho das pessoas, e fortalece nelas um senso de pertencimento à organização. Em vez de dizer “vão”, diz “sigam-me”. É muito mais importante para um líder ter seguidores do que ter subordinados. Aqui na Embraer tínhamos um vice-presidente que dizia: “Cuidem das pessoas, que as pessoas cuidam dos aviões”. 

Empresas que não têm uma área de Pesquisa & Desenvolvimento podem ser mais inovadoras que aquelas que têm seu P&D formalmente estabelecido?
Uma parcela muito grande das empresas inovadoras são startups, empresas que estão começando, fazendo tryout, fazendo suas tentativas, identificando demandas de mercado e buscando soluções. E, para fazer isso, não  necessariamente precisam ter uma área de P&D. Se olharmos as startups do Vale do Silício, se virmos como as empresas de lá estão inovando, isso fica mais claro. O Facebok, por exemplo, começou como um trabalho de estudantes, quase como brincadeira, até o momento que começou a ter injeção de capital, e a empresa então se estruturou de uma forma mais organizada. Aí, sim, eles criam departamentos de P&D. Mas leva tempo para chegar a esse estágio. 

Em suma, ter uma área formal de P&D não é, em si, significativo?
Na nossa mentalidade, e até no nosso inconsciente, é natural associar área de P&D com inovação. Mas, veja, a Xerox inventou o mouse e nunca usou. A Kodak desenvolveu a primeira câmera digital e não levou a descoberta em frente. Acho que aquele invento poderia matar o negócio dela, de filmes fotográficos. Então, essa questão de ter P&D não está necessariamente relacionada a inovação. De que valeu, para a Kodak, desenvolver um produto novo e disruptivo em seus laboratórios, se ela não soube trabalhar a inovação e valorizá-la? Teve a oportunidade, mas não aproveitou porque viu aquilo como ameaça para a sua galinha dos ovos de ouro – os filmes e produtos para revelação de fotos. É claro que foi questão de tempo para alguém chegar ao mesmo desenvolvimento. 

Por que empresas que crescem de forma orgânica tendem a ser mais inovadoras que as organizações que se expandem e se fortalecem via fusões e aquisições?
Parte da explicação está naquela conclusão de que as empresas mais inovadoras são as que têm um foco muito forte em identificar demandas do mercado e mobilizar seus esforços para atender àquela oportunidade. Em boa parte dos casos, tais empresas não têm um porte muito grande e nem dispõem de capital para sair comprando outras companhias. Por isso, sua estratégia de crescimento é baseada no conhecimento que elas têm do seu mercado, na proximidade que têm com o seu cliente. As soluções inovadoras começam, realmente, muito talhadas para alguma demanda específica. 

Qual tem sido o resultado da Embraer com a criação de uma universidade corporativa?
É um valor grande. A Embraer investe bastante em educação. Temos duas escolas de segundo grau que mantemos nas cidades de São José e Botucatu para atender a uma população carente. No âmbito da educação superior, temos o Programa de Especialização em Engenharia da Embraer. Esse programa é uma pós-graduação lato sensu, um mestrado profissional reconhecido pela Capes. O programa resulta de uma parceria que fizemos com o ITA, o Instituto Tecnológico da Aeronáutica, que é, seguramente, a melhor escola de aeronáutica do país.  Nessa parceria, pagamos bolsa para alguns formados em Engenharia fazerem esse mestrado profissionalizante no ITA e saírem com uma especialização em Engenharia Aeronáutica. Nos últimos anos, temos contratado praticamente 100% desses participantes, imediatamente após o curso. Já formamos mais de mil profissionais. 

Quanto a Embraer investe para voar alto num mercado de gigantes?
O processo de inovação faz parte desde o início do nosso processo de planejamento estratégico. Dizemos aqui que inovação e ousadia são a nossa marca. E são mesmo. Estão no nosso DNA desde o nascimento. Se você voltar para o Brasil dos anos 1970, éramos um país quase que rural. Nosso grande programa de alfabetização era o Mobral. A gente se via como país de terceiro mundo. Imaginar, naqueles tempos, uma empresa brasileira fazendo um produto de alta tecnologia, como aviões, foi muito ousado. E fizemos valer essa ousadia. Hoje, o percentual de nosso faturamento investido em pesquisa é extraordinário. Está ao redor de 10%. Grandes empresas, de variados setores, investem em pesquisa cerca de 2% a 3% do faturamento. A indústria aeronáutica realmente pede um alto nível de investimentos. Aqui na Embraer temos quase 30% do nosso pessoal alocado em pesquisa. 

Que resultado a Embraer vem obtendo a partir dessa aposta?
Hoje, 52% das nossas receitas são oriundas de produtos ou serviços que geramos nos últimos cinco anos. Essa marca é difícil de alcançar, porque avião é um produto que leva seis anos ou mais para ser desenvolvido.  Então, nossa área de inteligência de mercado merece um reconhecimento especial por enxergar exatamente o que o mercado vai precisar no futuro, o que é um exercício bastante difícil. Apesar de termos produtos novos bem-sucedidos, também temos muitos serviços novos, como os de suporte à aviação executiva, por exemplo. Existe uma revista norte-americana, a Pro Pilot, que faz uma pesquisa de satisfação dos clientes com o atendimento pós-venda dos fabricantes de aviões. Éramos os sétimos no ranking. Hoje, somos os primeiros. Isso  eleva a possibilidade de termos receitas oriundas de negócios e de modelos de negócios desenvolvidos mais recentemente. 

Por falar em novo modelo de negócio, o que levou a Embraer a substituir fornecedores por parceiros?
Desde os anos 1990, quando começamos a trabalhar o projeto do 145 (ERJ-145, primeiro jato comercial produzido pela Embraer após a privatização), identificamos que investir sozinhos não era o melhor caminho, até pelas limitações de recursos que nós tínhamos na época. Então, iniciamos um processo que foi se acentuando nas décadas seguintes, que consiste em escolher parceiros para compartilhar o desafio, o risco e também os resultados da criação de novos produtos. Essa é, sem dúvida, uma evolução. Se você tem a oportunidade de compartilhar o risco, compartilhe, porque é muito positivo para o desempenho – além de gerar um comprometimento forte, de ambas as partes, com o resultado. 

Como foi a evolução deste modelo, baseado no compartilhamento de risco e de resultado?
Nos anos 1980, a Embraer fez o Brasília. Para isso, gerenciou 500 fornecedores. Nos anos 1990, quando lançamos o 145, já seguíamos outro modelo. Reunimos quatro parceiros e um número bem menor de fornecedores, 350, para viabilizar o lançamento desse avião. Os parceiros entraram com uma parcela substancial do investimento. Cada seção entregue à responsabilidade de um parceiro era desenvolvida por ele, que iria naturalmente participar dos resultados do projeto também.  Isso deu muito certo. Já nos anos 2000, quando a gente fez os jatos da família E-1, aprofundamos ainda mais o modelo de compartilhamento. Tivemos 16 parceiros, e diminuímos significativamente o número de fornecedores para 22. Em síntese, a Embraer passou a comprar muito mais sistemas que componentes. Em relação ao modelo de negócio que tínhamos, foi uma inovação de grande valor. O desenvolvimento de uma aeronave exige bilhões de dólares. Se você tiver parceiros que entrem com você no projeto, ajuda. E muito. 
A presença da Embraer no Vale do Silício obedece a que estratégia precisamente?
Acho que a presença da Embraer no Vale do Silício é muito importante, mas não apenas lá. Também estamos em Boston e temos planos de estar em outros clusters de inovação pelo mundo. São ambientes realmente diferentes. Não dá para você simplesmente mandar uma pessoa lá ver o que está acontecendo. Tem de estar realmente imerso, sentindo, conversando. São muitas pessoas, muitas empresas envolvidas, muitas startups, muitos investidores. É um ecossistema específico. E achamos que existem dois pilares envolvidos nesse nosso esforço. Primeiro: novos modelos de negócios que podem estar surgindo, e é importante estarmos lá, não necessariamente para participar, mas para conhecer. E também um pouco do contato, principalmente na área do Vale do Silício, com novas tecnologias. Tem uma porção de coisas acontecendo, que podem ser úteis para a gente – realidade aumentada, impressão de peças em 3D, motores elétricos. São esses os dois pilares. Faz parte da nossa estratégia estar imersos nesses ambientes de inovação, buscar estar em contato com novos modelos de negócio e novas tecnologias.

Agora, o tiro na lua: o Uber Elevator. O que há de miragem e o que há de concreto nessa experiência que une Embraer e Uber, entre outros parceiros?
Isso faz parte do nosso perfil inovador, do nosso perfil de ousadia. O Uber Elevator é uma frente ainda bastante embrionária. Já anunciamos essa parceria e temos objetivos claros. Em 2020, esperamos ter o protótipo do Uber Elevator operando em duas cidades, Dallas e Dubai. São, sem trocadilho, projetos-piloto. Neste momento, nosso papel é trabalhar no desenvolvimento desse veículo que tem especificações importantes. É um veículo de decolagem vertical, preferencialmente elétrico. Também estamos estudando soluções para questões ligadas a poluição e mobilidade... mas, como todo tiro na lua, ainda estamos no começo, ainda estamos discutindo. 

É verdade que os aviões já poderiam voar sem tripulação, José Luiz?
Já voam. Porque os drones são aviões que de fato voam sem tripulação. Aviões militares já voam sem tripulação. Esses aviões militares são controlados por câmeras. Não são autônomos: têm um controle que fica fora do avião. Muitos desses aviões são operados de uma base que pode estar a quilômetros de distância, onde um piloto, dentro de uma sala, somente acompanha o que está acontecendo. 

Mas e a ideia de embarcar em um avião sem piloto na cabine de comando e pousar em Paris, por exemplo?
Tecnologia já existe. E quando começamos a especular sobre o futuro existem inúmeras possibilidades. A árvore de hipóteses é infinita. Mas quanto a isso se tornar realidade... É natural que, independentemente de as tecnologias estarem disponíveis ou não, os processos de certificação para uma aeronave autônoma ou com piloto remoto ainda estão distantes, a meu ver. O fato é que as inovações se sucedem. Alguns anos atrás, tínhamos navegador dentro do avião. O cara ia com um astrolábio guiando a direção. Depois, tivemos um avanço: a presença de um mecânico de voo que ia reparando problemas dentro do avião. Essas funções existiram... A tecnologia leva algum tempo, mas depois que se consolida vai eliminando funções. O sistema de posicionamento acabou com a necessidade do astrolábio. Depois que se conseguiu um grau de confiabilidade imenso nos motores e nos componentes não há mais engenheiro de voo ali para colocar óleo ou medir alguma coisa. Foram avanços. E se você olhar em retrospectiva, a tecnologia vem permitindo sucessivas inovações.

Quanto tempo até o avião comercial sem piloto a bordo?
Podemos comparar com carros sem motorista. A tecnologia para isso já está disponível, mas há muitas questões de autorização e homologação a percorrer até que isso se materialize. Ainda existe a necessidade de que haja um motorista para intervir em um caso inesperado. O ser humano é a última fronteira para algum erro. Não tenho pesquisa ou nenhum dado que diga que as pessoas já estão preparadas para entrar num avião sem nenhum piloto. Eu não sei se eu mesmo estou preparado para entrar num avião sem piloto. Mas as próximas gerações já estarão habituadas com isso.


 http://www.amanha.com.br/posts/view/4557/a-bolsa-sufoca-a-inovacao