Por Clóvis Rossi
Os políticos brasileiros são os menos confiáveis do mundo.
Não, não é uma opinião pessoal nem alguma mensagem postada nessa usina de maldades que são as redes sociais.
Trata-se
de uma constatação do Fórum Econômico Mundial, aquele que reúne, todos
os janeiros, a elite global em seu encontro anual em Davos.
Está no
Índice de Competitividade Global, divulgado nesta terça-feira (26) e
cujos detalhes de fundo mais econômico a Folha já resumiu na edição
desta quarta (27).
No sub-item "Confiança do público nos políticos", o
Brasil aparece na 137ª posição, o último lugar, já que são 137 os
países que compõem o Índice.
Apesar dessa vergonhosa colocação, o
Brasil melhorou 11 posições no quesito "instituições", um dos 12 pilares
que são medidos pelo Fórum e do qual a confiança nos políticos é um
sub-item.
Melhora que, segundo o relatório que acompanha o ranking,
se deve pelo menos em parte à Operação Lava Jato. Não deixa de ser um
desmentido aos comentários interessados feitos discreta e marotamente
por acusados e seus defensores de que a Lava Jato prejudica a economia,
ao atingir grandes empresas e seus principais executivos.
O texto diz
que o ganho de 11 pontos no pilar instituições "mostra os efeitos de
investigações que levam à uma maior transparência e à percepção de
procedimentos bem sucedidos para reduzir a corrupção dentro dos limites
institucionais da Constituição do Brasil".
Melhorar nesse quesito
significa muito pouco, no entanto. Mesmo subindo 11 posições, o Brasil
fica em 109º lugar no pilar "instituições", sempre entre 137 países. Ou
seja, há apenas 28 países com instituições menos favoráveis à
competitividade do que o Brasil.
No conjunto do ranking, como a Folha já mostrou, o Brasil ocupa a 80ª posição, na metade de baixo da tabela, portanto.
Nada
surpreendente: há outros itens em que a posição brasileira fica perto
dos últimos lugares no mundo ou até em último, como na confiança nos
políticos. É o caso, por exemplo, do "efeito da tributação no incentivo
para trabalhar", no 137º lugar. Ou do "efeito da tributação no incentivo
para investir", no penúltimo posto.
Fica claro que o sistema
tributário brasileiro é um gargalo enorme para a competitividade, mas
entre as reformas na agenda do governo Temer não figura a tributária.
Há
outros vexames na classificação, de resto tradicionais. Exemplos: em
qualidade da educação primária, o Brasil fica no 127º lugar. Na
qualidade do ensino de matemática e ciência na universidade, pior ainda
(131º lugar).
Bem feitas as contas, a grande qualidade brasileira
independe da ação dos governos, do empresariado ou da sociedade: é o
tamanho do seu mercado ou seja de sua população. Nesse "pilar", o Brasil
é o 10º colocado, mesmo assim duas posições abaixo da que ocupava no
ano anterior.
Pior: esse gigantesco mercado não funciona bem. O pilar "eficiência do mercado de bens" leva o país para o 122º lugar.
Como
competitividade é fator chave para o desenvolvimento econômico, o
ranking do Fórum coloca o Brasil no terceiro mundo
(Folha de S.Paulo,
28/9/17)
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