Sérgio Lima -/Folhapress | ||
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que deixará o cargo no próximo dia 17 |
O anúncio
de que o acordo de delação premiada da JBS poderá ser revisto por
omissões importantes é a maior derrota política do procurador-geral da
República, Rodrigo Janot, em seu embate com o presidente Michel Temer
(PMDB).
Às vésperas de entregar uma nova denúncia contra o peemedebista,
o reconhecimento do problema na apuração é um desastre para o
procurador-geral. Como ele mesmo disse, o que foi descoberto pode vir a
anular privilégios dados aos irmãos Batista, mas não interferirá na
validade das provas até aqui coletadas no caso que envolve não só Temer,
mas nomes graúdos da elite política do país.
Isso pode ser verdade, juridicamente, embora certamente haverá
contestações. Do ponto de vista político, contudo, fica reforçado o
discurso do Planalto e de políticos aliados a Temer de que os Batista
são "bandidos" que teriam ou manipulado os investigadores para obter
benefícios ou coisa pior –como o que transpareceu até aqui na relação do
procurador Marcelo Miller com a JBS insinua.
Na noite desta segunda (4), políticos governistas já trocavam mensagens
por aplicativos comemorando o "fim de Janot". É claro que isso é um
exagero, mas é evidente que a maré interna no Congresso tenderá a virar
em favor do presidente na avaliação da nova denúncia.
Até aqui, deputados da base governista vinham pintando um cenário difícil para o peemedebista, que teve a primeira denúncia barrada
em agosto na Câmara à custa do adiantamento de verbas de emendas
parlamentares e promessas de cargos. Como parte da fatura não foi
honrada, os parlamentares começaram a subir o preço do novo apoio em
forma de ameaça ao Planalto.
O fato de que vai deixar o cargo no próximo dia 17 também atrapalha a
vida de Janot. Em vez de concentrar-se exclusivamente no caso, terá de
lidar com a agenda negativa e as implicações graves para o trabalho de
investigação da Operação Lava Jato.
Depois, o problema será de Raquel Dodge,
a nova procuradora-geral. Os olhos do mundo político estarão sobre ela e
na forma com que conduzirá os esforços da Lava Jato. Quem a conhece
aposta numa atuação mais discreta, mas tecnicamente rígida e imune a
concessões.
A flechada no pé, para ficar na expressão imortalizada por Janot, coroa
uma série de acusações de açodamento, talvez motivado por messianismo
político, direcionadas ao procurador-geral, o que ele sempre negou.
Na vida pública, atos finais costumam ter peso maior do que o conjunto
da obra na hora de avaliar uma carreira. Como dizem os chineses que
receberam o antípoda Temer nos últimos dias, basta um pedaço de carne
podre para estragar todo um cozido. Janot corre esse risco.
https://www1.folha.uol.com.br/poder/2017/09/1915808-as-vesperas-de-nova-denuncia-janot-sofre-maior-derrota-politica.shtml
Nenhum comentário:
Postar um comentário