Eles querem ganhar dinheiro, é claro. Mas não abrem mão do sonho de transformar o mundo em um lugar melhor. Saiba quem são e o que fazem esses empresários e como essa tendência pode ajudar o seu negócio
Pedro Paulo Diniz é um nome bem conhecido dos brasileiros. Não
somente por se tratar de um integrante da família Diniz, um dos mais
importantes e tradicionais clãs do varejo nacional. A verdade é que
Pedro, filho de Abilio, sempre procurou trilhar seu próprio caminho. No
início da vida adulta, se enveredou pelas corridas de carros. Chegou à
categoria mais importante do automobilismo, a Fórmula 1, disputando o
campeonato entre 1993 e 1999, por diversas equipes. Naquela época, ele
morou em Mônaco e desfrutou da companhia de algumas das mulheres mais
cobiçadas do mundo, como a top model Naomi Campbell e a atriz Fernanda
Lima.
Ao deixar as pistas, entrou para o mundo dos negócios – o que não foi
difícil, considerando seus recursos financeiros e sua boa formação
acadêmica, na London School of Economics. Teve como sócio, por exemplo, o
piloto Alain Prost e a montadora Renault, em projetos que envolviam o
mundo dos motores. Chegou até a vender equipamentos para piscinas.
Enfim, Pedro fazia o típico perfil do herdeiro: rico, bem formado,
cobiçado e com tudo pronto para dar continuidade ao império familiar.
Mas tudo isso mudou, em algum ponto de 2003.
Ele não diz exatamente quando ou o que o fez repensar suas escolhas.
Talvez tenha sido a ioga, que começou a praticar, dizem, por influência
da ex-mulher, Tatiane Floresti. O filme Uma Verdade Inconveniente,
produzido pelo ex-vice-presidente americano Al Gore, sobre o aquecimento
global, também contribuiu para a transformação. O fato é que decidiu
abandonar esse estilo de vida e, em 2009, se mudou para a Fazenda da
Toca, um dos retiros de veraneio da família, localizada em Itirapina,
pequeno município de 16 mil habitantes a cerca de 200 quilômetros da
capital paulista. Na propriedade, que atualmente soma 2,3 mil hectares,
após a compra de algumas fazendas vizinhas, ele construiu sua casa, a
uma distância razoável da sede, onde os Diniz ainda hoje costumam passar
momentos de férias, e decidiu cultivar alimentos orgânicos.
Hoje, o local produz e comercializa, em parceria com outros
produtores, 700 toneladas de milho por ano, 570 toneladas de polpa de
frutas como laranja, goiaba, manga, limão e maçã, além de 65 mil ovos
diariamente, graças à criação de 107 mil aves. Tudo é vendido para
grandes varejistas, como Pão de Açúcar e Carrefour, no caso dos ovos, e
para indústrias, no caso das polpas. Foi uma resolução tão racional
quanto espiritual. “Foi uma decisão de vida. Veremos, na minha geração,
uma grande mudança nas empresas e no jeito de se investir”, afirmou
Diniz à DINHEIRO. “Ficou claro para mim, quando deixei a minha outra
vida e voltei ao Brasil, no início dos anos 2000, que só fazia sentido
investir no que traz retorno à sociedade.” O herdeiro magnata cansou da
vida que tinha, se mudou para o mato e abraçou a sustentabilidade.
A história do ex-piloto que virou agricultor está longe de ser um
caso isolado. Diniz faz parte de um movimento cada vez maior de
empresários, altos executivos e herdeiros que estão questionando algumas
bases do capitalismo. Nesse processo, eles estão quebrando paradigmas e
desenvolvendo um modelo melhorado do sistema econômico que hoje rege o
mundo. A ideia é criar negócios que tenham um impacto social positivo e
tragam benefícios à sociedade, sem, no entanto, perder o contato com o
lucro. Parte-se do princípio que toda empresa precisa gerar retorno
financeiro e social, sendo que uma coisa está ligada à outra.
Ou seja, sem lucro, não há como melhorar a sociedade. Mas o
lucro às custas da sociedade não é, de fato, um ganho, é uma ilusão do
sistema capitalista. A quebra de paradigma, no caso, está na
constatação de que o próprio negócio se encarrega de fornecer esse
retorno social. Não basta simplesmente utilizar parte dos ganhos para
criar um programa filantrópico, ou coisa do tipo. É preciso que toda a
atuação da empresa seja pensada de forma responsável e que a
consequência do trabalho, seja ela um produto ou um serviço, esteja
imbuída de efeitos positivos aos clientes, funcionários, acionistas e,
claro, ao planeta.
Essa tendência é muito forte lá fora e está chegando de forma mais
intensa ao Brasil. Aqui, a expectativa é de que esses empreendimentos
atraiam R$ 50 bilhões por ano em investimentos, até 2020, segundo
cálculos da Força Tarefa de Finanças Sociais (FTFS), grupo criado para
incentivar aportes do tipo, que conta com apoio de empresas e
instituições como J.P. Morgan, Vox Capital, BNDES, Fundação Getúlio
Vargas, entre outros. Lá fora, entre os grandes precursores do movimento
chamado de capitalismo consciente está o Whole Foods, adquirido pela
Amazon há dois anos. Outros exemplos são a grife de roupas Patagonia e a
companhia áerea Southwest, pela postura agressiva de neutralização de
carbono e ações de apoio social.
No Brasil, DINHEIRO mapeou uma série de iniciativas de impacto
social, capitaneadas por nomes ligados a famílias tradicionais ou que
possuem um histórico de sucesso no mundo corporativo, que já estão em
fase avançada de desenvolvimento. Esses empresários, dos setores de
indústria, serviços e finanças, possuem histórias de vida diferentes,
mas uma coisa em comum: recursos financeiros abundantes, seja por
sucesso profissional, seja por herança. Em certo ponto de suas vidas,
eles decidiram que deveriam fazer algo mais significativo com seu
dinheiro. A consequência é um movimento de pessoas influentes na
economia, com nome, reputação, capacidade de fazer a roda girar e a
disposição de enfrentar riscos e a incredulidade de seus próprios pares.
O que os move é a certeza de que o capitalismo pode ser melhorado. E
que o sucesso de um não é a desgraça do outro.
Onde muitos podem enxergar certa dose de hipocrisia, há, na verdade,
tentativas sinceras de se criar grandes negócios transformadores. A
Fazenda da Toca é emblemática nesse sentido. Se, por um lado, existe uma
motivação espiritual no movimento, por outro, Pedro Paulo Diniz e sua
família – em maior ou menor grau, dependendo do parente, ele ressalta –
acreditam que a fazenda é um modelo do que virá a ser o capitalismo do
futuro. “As empresas que não mostrarem o benefício que trazem para a
sociedade serão dispensadas”, afirma Diniz. A intenção dele, portanto,
não é viver sossegado cultivando hortinhas, ou produzir alimentos
orgânicos para entrar em um nicho de mercado. Sua missão é tornar a
agricultura orgânica tão competitiva quanto a que utiliza agrotóxicos.
Para isso, a empresa aposta no conceito de agrofloresta.
Basicamente, trata-se de um modelo que replica a perfeita harmonia
entre diferentes espécies da natureza. Na Toca, árvores frutíferas como
bananeiras, pés de maracujá e de limão são plantados juntamente com
eucaliptos e outras culturas. Os agrônomos da fazenda entendem que as
pragas são sinais de que alguma coisa está desbalanceada. Então, em vez
de apostar na monocultura e nos venenos, eles buscam formas de agregar
várias plantações no mesmo local. Até os animais, como as galinhas,
recebem tratamento especial: apenas se alimentam com ração orgânica e
têm horários de passeio pela natureza. É difícil, mas compensa.
Ao contrário da agricultura tradicional, em que os custos aumentam à
medida que o solo vai sendo danificado pelo uso de produtos químicos, na
agrofloresta, a cada colheita, fica mais barato plantar. Pelos cálculos
de Diniz, que não revela cifras de seus negócios, o sistema de
agrofloresta representa uma redução de até 75% nos custos totais, já que
não há despesa para regularização do solo danificado. Além da vantagem
financeira, o objetivo é chegar a um ponto de perfeição em que o próprio
ciclo da natureza se encarregue praticamente de tudo, incluindo
adubação, proteção e irrigação. No fim do dia, Diniz estará com uma
verdadeira mina de ouro nas mãos. E os benefícios sociais são claros:
comida boa e acessível, menos consumo de água e nenhum químico, como
querem muitos consumidores.
Um negócio de impacto social difere do tradicional pelo fato de levar
em conta absolutamente tudo que está em volta da empresa. No jargão
corporativo, esse modelo abraça o chamado triple bottom line (do inglês,
as três consequências): dinheiro, pessoas e planeta. Se alguma dessas
instâncias é afetada, o negócio não é bom e, portanto, precisa mudar.
Pode não parecer, mas trata-se de uma ideia bastante capitalista. “Esse
modelo traz mais retorno e menos risco para os investidores”, afirma
Daniela Barone Soares, CEO da Granito & Capital, banco de
investimentos devotado, em suas próprias palavras, a “transformar a
economia global em uma economia de impacto social.” Ex-executiva do
mercado financeiro, ela trabalhou em posições de destaque em
instituições como BankBoston, Citibank e Goldman Sachs, no Brasil, na
Europa e nos Estados Unidos.
Há cerca de dez anos, ela passou a atuar com filantropia. Entre 2006 e
2015, foi CEO da Impetus Private Equity Foundation, uma das principais
instituições filantrópicas do Reino Unido. Em agosto passado, Daniela e
um grupo de peso do mercado financeiro lançaram a Granito&Capital,
startup que tem como meta captar US$ 2 bilhões para projetos de impacto
social. Dentre os setores principais, estão no foco energias limpas e
mobilidade. Entre os sócios investidores da Granito&Capital estão
Fabio Barbosa, ex-presidente dos bancos ABN Amro, Real e Santander no
Brasil, Heinz-Peter Elstrodt, que comandou a consultoria McKinsey na
América Latina, e Antonio Ermírio de Moraes Neto, cujos nome e
sobrenome, iguais aos do avô, dispensam apresentações.
O banco faz parte do Granito Group, holding dedicada à economia de
impacto com operações globais a partir de Londres, Zurich, Miami e São
Paulo, fundada em 2015 por Rodrigo Tavares, especialista em relações
internacionais e consultor da ONU. Além do braço financeiro, o grupo
atua como consultoria com a Granito&Partners e tem um think tank sem
fins lucrativos, o Impact Economy Foundation, para promover o debate em
torno dos princípios de sustentabilidade. Já que é para mudar o mundo, é
melhor começar com nomes de impacto. Dentre os clientes de consultoria e
investimentos do Granito estão Microsoft, Siemens, Fibria, J. Safra
Sarasin, WWF, RichMond Global e a MinutoMed.
MILLENIALS
São dois os principais motivos para
investidores e empresas buscarem ativos de impacto social em seus
investimentos. Primeiro, como diz Daniela, os riscos são menores, pois
elimina-se, de cara, qualquer adversidade que venha surgir nas searas
ambiental, social e de governança. Adicional-mente, como a qualidade do
ativo é melhor, os ganhos são maximizados. “É um bom negócio”, insiste.
Mas há um segundo aspecto, mais importante e inevitável. “As novas
gerações não admitem empresas que não tenham um propósito”, diz a
executiva. Uma coisa é líquida e certa: nos próximos 30 anos, haverá a
maior transferência de renda da história da humanidade, das gerações
baby boomer e X, nascidos após a Segunda Guerra Mundial, nas décadas de
1940 a 1960, para a geração Y, formada pelos que vieram ao mundo nos
anos 1980 em diante, também conhecidos como millenials.
O fenômeno, diz Daniela, vai gerar transformações profundas em todos
os setores. “Em algum ponto das próximas três décadas, isso vai
acontecer, e é preciso estar preparado”, afirma. Preparar-se
significa encontrar a missão social que move sua empresa. Millenials, ao
contrário dos seus pais, não trabalham apenas por dinheiro.
Eles são motivados por ideais de vida e pelo entendimento de que é
possível passar por esse mundo sem causar nenhum impacto negativo. Eles
também não se apegam ao propósito de defender o capitalismo a qualquer
custo. Ninguém quer o comunismo, mas isso não significa que o atual
modelo seja perfeito.
Isso fica claro quando se olha para o quadro de funcionários da
Avante, empresa fundada por Bernardo Bonjean, ex-sócio da XP
Investimentos e sobrinho do diplomata Sérgio Vieira de Melo, morto em um
ataque terrorista no Iraque, em 2003, quando atuava na ONU.
Especializada em microcrédito, a Avante é quase um microcosmo desse
movimento. Bonjean criou o negócio após se tornar pai. “Eu tinha uma
posição financeira segura, mas me questionei se era isso que eu queria
deixar para meus filhos”, diz o empresário. A empresa atua apenas em
regiões periféricas e de baixo desenvolvimento social.
Resumindo, ela empresta dinheiro para pessoas pobres. Com isso,
espera ajudar no desenvolvimento dessas comunidades. Exige retorno, como
todo banco. Mas justo e que possibilite o pagamento sem comprometer a
renda do tomador. Para isso, utiliza um método de avaliação mais
pessoal. Os empréstimos são feitos por meio de agentes que moram dentro
das comunidades. Assim, se consegue ter uma relação mais próxima e de
confiança com os clientes. Seus índices de inadimplência, assegura
Bonjean, são menores do que a média do mercado. Qualquer semelhanca com o
modelo criado pelo Prêmio Nobel da Paz, Muhammad Yunus, no Grameen
Bank, não é mera coincidência..
Quando visitou o escritório da Avante, na capital paulista, a
reportagem da DINHEIRO foi recebida por um jovem vestindo camisa de
flanela, num visual meio grunge. Simpático, ele fez questão de preparar e
servir um café aos visitantes, enquanto aguardava pela chegada do
chefe. O “recepcionista” em questão era Felipe Steinbruch, filho mais
novo de Benjamin Steinbruch, principal executivo e acionista da
siderúrgica CSN, um dos ícones do industrialismo brasileiro nas últimas
décadas. Steinbruch é colega de trabalho de Laís Trajano, sobrinha de
Luiza Helena Trajano, a mulher de ferro do varejo nacional, controladora
do Magazine Luiza. Laís assumiu, recentemente, a diretoria de RH da
Avante. São jovens que poderiam estar trabalhando praticamente em
qualquer lugar, ou nem trabalhar. Mas escolheram um negócio de impacto
social.
Ambos são, ainda, colegas de Edinho Luis da Silva, morador da favela
de Paraisópolis, na Zona Sul de São Paulo e que já teve seus problemas
com a lei, mas hoje opera como agente da empresa na comunidade. Em
junho, Edinho e Bonjean estiveram na ONU, em Nova York, para receber um
prêmio de empreendedorismo – como nada na vida é fácil, os dois foram
assaltados na Big Apple. “Nosso objetivo é criar oportunidades”, diz
Bonjean. Há dois meses, a empresa captou R$ 38,6 milhões em uma rodada
de investimentos, sendo avaliada em R$ 263 milhões. A Avante já concedeu
mais de R$ 100 milhões em microcréditos, impactando cerca de 30 mil
empreendedores.
Nivelar o acesso às oportunidades é, indiscutívelmente, uma questão crucial para o capitalismo,
segundo o professor Carl Voigt, da Universidade do Sul da Califórnia
(USC), nos Estados Unidos, cujo mais recente trabalho aborda os desafios
da indústria de alimentos em garantir a segurança alimentar, diante de
um cenário de retrocesso na globalização. “O sistema capitalista depende
da globalização”, disse o professor à DINHEIRO. “Porém, nesse processo
competitivo entre os países, algumas pessoas acabam sendo deixadas de
fora.” O resultado disso é a ascensão do populismo e do nacionalismo,
como pôde ser observado com a eleição de Donald Trump, nos EUA, e a
votação do Brexit, no Reino Unido. “A sociedade e as empresas precisam
do chamado level playing field (jogo nivelado, em tradução livre) ”,
afirma Voigt. “O sucesso de uma pessoa não pode depender do lugar onde
ela nasceu.” Infelizmente, não é isso que acontece. E um dos principais
motivos está no acesso à educação. Resolver esse problema é o foco de
Claudio Sassaki, fundador da Geekie.
Nascido em uma família de imigrantes japoneses, Sassaki teve de
trabalhar para se bancar durante os estudos – a faculdade saiu de graça,
já que ele passou em primeiro lugar no vestibular da Universidade de
São Paulo, onde cursou engenharia. De berço, não veio dinheiro, mas o
gosto e a dedicação pelo estudo. A inteligência acima da média e o
esforço pessoal o levaram ao topo do mundo corporativo. Como executivo
do setor financeiro, ele ocupou o cargo de vice-presidente do Credit
Suisse nos Estados Unidos. A modéstia, ou a clareza de como funciona o
universo, o impedem de requerer para si os louros da brilhante carreira.
“Eu não consegui nada sozinho”, diz Sassaki. A partir dessa conclusão, e
da vontade de deixar um legado positivo, ele fundou a Geekie, uma
plataforma de ensino que utiliza a tecnologia para personalizar e
aprimorar o aprendizado. “Com nosso sistema, nos locais em que atuamos
já conseguimos zerar a defasagem entre escolas públicas e privadas.”
O sistema da Geekie utiliza algoritmos que identificam as
dificuldades individuais de cada aluno. Assim, o professor consegue
criar, de forma automática, planos personalizados de estudo. É uma ideia
simples, mas que envolve matemática complexa. Em 2015, a empresa
recebeu um aporte de US$ 7 milhões de dois fundos, incluindo a Omidyar
Network, empresa filantrópica criada pelo fundador do eBay, Pierre
Omidyar. Até hoje, mais de 5 mil escolas utilizaram a plataforma, com
cerca de 5 milhões de alunos. A maioria delas particulares, mas o
objetivo é levar o sistema, principalmente, ao ensino público. Nesse
quesito, a Geekie esbarra na burocracia do governo, uma vez que as
licitações raramente contemplam tecnologias voltadas para a educação.
FINANCIAMENTO
A burocracia é um problema que envolve
praticamente todo empreendedor que tente levar adiante esse modelo.
Segundo o Mapa de Negócios de Impacto Social + Ambiental, produzido pela
consultoria Pipe.Social, apenas 8% das empresas sociais em fase de
organização do negócio no País recebem apoio de editais do governo. Nas
fases de idealização e protótipo, diz a pesquisa, os maiores incentivos
vêm dos chamados 3Fs: family, friends and fools (família, amigos e
bobos, em inglês). Nessa questão dos recursos, o Brasil está bem
atrasado em relação aos países desenvolvidos. “As startups têm
dificuldade de acesso a investimento em um período chamado vale da
morte, que compreende os estágios iniciais de vida”, afirma Carolina
Aranha, cofundadora da Pipe.Social. “A grande barreira para o investidor
apostar em negócios de impacto está no alto rendimento do dinheiro no
banco. Com juros altos, os riscos ficam menos atrativos.”
Apesar da falta de apoio do governo e do cenário econômico adverso, a
consultoria mapeou 579 negócios de impacto social no Brasil, 70% deles
formalizados. Agora, o impacto social não está restrito a novas
empresas. Pedro Paulo Diniz afirma que na Península, holding que
concentra os negócios da família Diniz, da qual ele é um dos
conselheiros, há várias discussões sobre como difundir o conceito nos
investimentos da holding, entre eles a BRF, maior processadora de
alimentos do Brasil. Mas é preciso coragem para fazer transformações
profundas em negócios estabelecidos. É o que não falta a Jorge Hoelzel
Neto, herdeiro da Mercur, fabricante de produtos à base de látex.
Fundada em 1924, a companhia é conhecida pelas borrachas escolares, que
vinham marcadas com a figura de um indiozinho. Hoje, a Mercur atua na
área médica e esportiva, com bolsas de água quente, almofadas
terapêuticas e ataduras elásticas.
Desde 2010, Hoelzel vem tocando um programa para estabelecer um
modelo diferente de fornecimento de látex, em parceria com comunidades
ribeirinhas na região de Altamira, no Rio Xingu. O empresário é
considerado um modelo de atuação responsável até pelas ONGs que atuam na
área, como o Instituto Socioambiental (ISA). A ideia é que a relação
seja feita em mão dupla. O preço do produto é definido diretamente com
as comunidades de seringueiros, de acordo com a necessidade deles e a
disponibilidade de extração. Dessa forma, evita-se a criação da figura
do intermediário, necessária quanto a demanda é por um preço baseado na
cotação de mercado. Pequenas comunidades extrativistas têm dificuldade
em manter uma produção recorrente. O impacto desse tipo de atividade é
praticamente zero, pois o extrativismo depende da conservação da
floresta.
Mas Hoelzel não se limitou a revolucionar a cadeia de fornecimento da
Mercur. Por sinal, a lenda em Altamira é de que a transformação do
empresário ocorreu após uma viagem de férias pela Amazônia, em que ele
teve contato com um universo, até então, desconhecido e passou por um
momento de revelação espiritual – Hoelzel, porém, não entra em detalhes.
O fato é que, além do projeto de extração de látex, o empresário
decidiu abolir da sua empresa a figura do chefe. Não apenas do
presidente e dos diretores: na Mercur, não há gerentes, supervisores ou
qualquer cargo de chefia. O modelo é o de comissões focadas em tarefas
específicas.
Os líderes dos projetos são escolhidos conforme o trabalho a ser
feito. “Se o assunto for o café, por exemplo, quem encabeça é a
copeira”, explica Hoelzel. Trata-se de um experimento que já dura alguns
anos, e com bons resultados. A empresa fatura mais de R$ 100 milhões
por ano e seu crescimento é constante. “É algo novo que estamos
tentando, e tivemos alguns aprendizados. Mas está valendo a pena”,
afirma. Como costumam dizer os americanos, o primeiro a atravessar o
muro sempre fica ensanguentado. Mas a grande recompensa está do outro
lado. O momento é de quebrar barreiras e acreditar que é possível ter
sucesso e mudar o mundo. E viva o capitalismo.
http://www.istoedinheiro.com.br/as-novas-caras-do-capitalismo-brasileiro/
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