Nenhuma proposta de investidor interessado em comprar a Usina São
Fernando foi apresentada no cartório da 5ª Vara Cível de Dourados, onde
fica a indústria. O prazo, estipulado pelo juiz Jonas Hass da Silva
Junior, começou a contar na segunda-feira (18) e terminou terça.
Pertencente à família do pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do
ex-presidente Lula e um dos réus já condenados na Operação Lava Jato, a
São Fernando teve a falência decretada em junho pelo juiz douradense. Os
dois filhos de Bumlai que administravam o complexo formado por cinco
empresas foram afastados e Jonas Hass nomeou como administradora
judicial a empresa VCP (Vinícius Coutinho Consultoria e Perícia).
O valor mínimo para venda era de R$ 716 milhões, mas nenhum lance foi feito. Com a ausência de propostas, Jonas Hass suspendeu a audiência pública que ocorreria ontem para abertura dos envelopes e a assembleia para os credores analisarem os lances, marcada para o dia 25 deste mês em primeira chamada e para 2 de outubro em segunda chamada.
O advogado Rafael Vincensi, assessor jurídico da Administração Judicial, disse que a ausência de propostas é uma surpresa e que ainda nesta semana a VCP vai traçar novas metas. Todo o ativo da usina, incluindo o parque industrial, a frota, as máquinas e o chamado patrimônio biológico – as lavouras de cana – foi colocado à venda em bloco, ou seja, não pode ser vendido separadamente.
Risco de fechamento
A venda da São Fernando é considerada peça-chave para evitar o
fechamento da indústria. Ao pedir autorização judicial para tentar
vender a indústria, em agosto, a administradora da massa falida informou
que apesar dos bons números obtidos após a decretação da falência, tem
encontrado dificuldade para dar continuidade às atividades,
especialmente devido à falta de confiabilidade dos fornecedores e ao
endividamento, ocorrido no período em que a usina foi administrada pelos
filhos de Bumlai.
A massa falida também enfrenta dificuldade para conseguir comprar cana-de-açúcar. Conforme a administradora, as geadas ocorridas na região neste ano também afetaram a produtividade das lavouras. “A medida requerida visa resguardar a integridade e preservar a valorização dos bens, bem como garantir a manutenção do funcionamento da indústria”, afirmou a VCP.
Funcionários – Também de acordo com a administradora judicial, a eventual demora na venda causa risco de encerramento das atividades num curto espaço de tempo, “o que certamente acarretará em enorme prejuízo aos trabalhadores e aos credores da massa falida”.
A interrupção das atividades, segundo a VCP, implicaria na desvalorização do ativo, já que haverá deterioração de instalações e máquinas, além da possibilidade de aumento do passivo por eventuais ações trabalhistas. A São Fernando tem pelo menos 1.200 funcionários.
“O risco ao resultado útil é concreto, atual e grave. Caso ocorra demora na realização do ativo [venda], a inviabilização da empresa tende a agredir os interesses dos atuais prestadores de serviços diretos e indiretos, bem como de todas as categorias de credores da massa falida”, argumentou a administradora judicial.
Balanço positivo
No início deste mês, a administradora judicial divulgou o balanço dos
cem dias após a falência e apresentou números positivos. Nenhum
funcionário foi demitido em razão da falência, os salários estão sendo
pagos em dia e foram mantidos os contratos de prestação de serviço
terceirizado, como colheita, transporte, alimentação e veículos.
Nos primeiros 52 dias de administração judicial, contados no período de 9 de junho a 31 de julho, a Massa Falida da São Fernando Açúcar e Álcool comercializou 25.745,03 metros cúbicos de álcool, gerando um faturamento bruto com álcool de R$ 38,6 milhões. Quando a VCP assumiu a usina, em junho, havia 1.200 reais em caixa
(Campo Grande News)
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