O
endurecimento da fiscalização ambiental na China desde o ano passado
está provocando mudanças relevantes na dinâmica global do agronegócio,
sobretudo nas áreas de defensivos, algodão e carne suína. E, se no
segmento de agroquímicos as mudanças têm afetado o Brasil de maneira
negativa, pelo menos neste momento, nos outros dois mercados os reflexos
são positivos.
Em 2017, mais de 700 fábricas de empresas químicas chinesas foram
fechadas por irregularidades ambientais, e cerca de 30 mil companhias
foram multadas. Como o país é um importante exportador de defensivos
genéricos, o movimento reduziu a oferta global de produtos como
glifosato e gerou alta de preços, que ainda tende a se intensificar.
Segundo Pequim, as matérias-primas originadas na China deverão subir 15%
nos próximos dois anos.
"Temos informações de aumentos de preços entre 15% e 30% neste ano no
Brasil. Mas tem caso de matéria-prima que ficou 70% mais cara", afirma
Eduardo Leduc, presidente do conselho diretor da Associação Nacional de
Defesa Vegetal (Andef).
Para as empresas de agroquímicos que atuam no país, os problemas
começaram a aparecer no segundo semestre do ano passado. Em novembro,
Rodrigo Gutierrez, presidente da israelense Adama no país, reclamou que
já não tinha glifosato para vender havia três meses – e isso que a múlti
é controlada pela estatal ChemChina.
Segundo Silvia Fagnani, diretora do Sindicato Nacional da Indústria
de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg), houve queda de 50% na
produção chinesa de glifosato.
Para analistas e executivos, no longo prazo as restrições chinesas
poderão beneficiar a indústria brasileira, na forma de novos
investimentos na ampliação da produção local. "Química com tecnologia
limpa é muito mais cara. No fim, era uma competição desleal da China com
outros países", afirma Leduc.
Também por causa das mudanças na China, a alemã Basf já vem ampliando
os aportes no Brasil. Nos últimos cinco anos, investiu cerca de US$ 100
milhões e dobrou a capacidade de formulação de fungicidas e inseticidas
no país.
A Adama também não quer sofrer com dependência. A empresa planeja
investir entre US$ 30 milhões e US$ 50 milhões para ampliar sua produção
no Brasil. Até 2019, pretende implantar mais duas unidades em seu
complexo em Londrina (PR), que já tem três plantas, e planeja outras
duas fábricas até 2020 em Taquari (RS).
A indústria de fertilizantes vem sendo impactada pelas mudanças
chinesas há mais tempo. Oito anos atrás, o país passou a limitar o
consumo de carvão, o que afetou a indústria de nutrientes derivados do
nitrogênio, que utiliza o insumo. Os preços subiram, e agricultores e
indústrias tiveram que se adaptar no mundo todo. Hoje, a China usa
apenas 50% de sua capacidade de produção de fertilizantes nitrogenados.
O endurecimento das regras ambientais no país asiático também
provocou o fechamento de fábricas de tecidos sintéticos, cujos resíduos
não tratados poluem rios e o ar. As que não fecharam tiveram de se
adequar, e os preços da fibra sintética ficaram mais salgados. Com isso,
afirma Victor Ikeda, analista do Rabobank, as fibras naturais tem sido
beneficiadas, e o Brasil pode ter boas oportunidades.
O Brasil é um dos cinco maiores países produtores e exportadores de
algodão, e o aumento da demanda pela commodity – e dos preços – levou a
um crescimento de 21,9% da área plantada no país neste ciclo 2017/18,
segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
De acordo com o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), na safra
internacional 2017/18, que terminará em agosto, a demanda global por
algodão crescerá 4,9%, para 26,2 milhões de toneladas de pluma. Segundo a
Conab, o Brasil deverá exportar 975 mil toneladas, 17% a mais que em
2016/17. E o cenário poderá ser até mais favorável a depender dos
desdobramentos da guerra comercial entre a China e os EUA.
Outro segmento que vem sentindo os efeitos das leis ambientais mais
duras na China é o de proteínas animais. Em 2016, cerca de metade dos
800 milhões dos suínos do mundo estavam no país, a maior parte em
granjas com até 500 animais. Aproximadamente 200 mil foram fechadas com o
compromisso chinês de reduzir a poluição nos rios, e o número caiu para
350 milhões.
"A China tinha como proposta aumentar a produção de suínos, mas
esbarrou na legislação ambiental. Acontece que a classe média e o
consumo de carne suína seguem aumentando", lembra o economista Felippe
Serigati, da Fundação Getulio Vargas (FGV).
Ainda não é possível afirmar que o Brasil vá abocanhar parte da
demanda adicional da China decorrente da redução da oferta doméstica,
mas há sinais promissores nesse sentido. Isso porque o país asiático já é
um cliente importante para os exportadores brasileiros. No ano passado,
importou 48,9 mil toneladas de carne suína do Brasil (US$ 100,6
milhões). Em fevereiro, foi o principal destino dos embarques do Brasil –
absorveu 28,4% de exportações que somaram 310,5 mil toneladas.
De acordo com dados da Associação Brasileira de Proteína Animal
(ABPA), no primeiro trimestre do ano as exportações brasileiras de carne
suína para a China somaram 39,2 mil toneladas, 152% mais que no mesmo
período de 2017. Hong Kong foi o destino de 46,4 mil toneladas, um
incremento de 23% na mesma comparação.
Em dezembro de 2015, sob crescente pressão da comunidade
internacional, o governo chinês anunciou diversos objetivos ambientais
que terão de ser alcançados por Pequim e arredores no médio prazo, entre
os quais está uma diminuição de 40% na concentração das partículas mais
poluentes no ar até 2020 na comparação com os patamares de 2013. A meta
é reduzir a presença na atmosfera de partículas de diâmetro inferior a
2,5 milésimos de milímetro – as mais nocivas – de forma que não superem,
na média diária, os 64 microgramas por metro cúbico.
Em 2013, essa média superava a expressiva marca de 100 microgramas no
corredor Pequim-Tianjin-Hebei. Diminuir a dependência do carvão é outra
importante meta fixada pelo governo da China. O carvão é a principal
fonte de energia no país asiático, que responde por aproximadamente
metade do consumo mundial da matéria-prima. A produção de carvão,
entretanto, é a causa de 70% da poluição de partículas inferiores a 2,5
milésimos de milímetro e de 80% das emissões de dióxido de carbono.
O
país também estabeleceu como meta manter o consumo doméstico de carvão
abaixo do limite de 4,1 bilhões de toneladas e reduzir para 58%, até
2020, a participação desse combustível em sua matriz energética.
Em 2016, a fatia desse combustível fóssil na matriz energética
chinesa recuou para 62%, ante um percentual de 64% em 2015.
(Assessoria
de Comunicação, 8/5/18)