(Arquivo) A comissária europeia de Comércio, Cecilia Malmstrom - AFP/Arquivos
“Estamos nos aproximando”, disse Malmström nesta quarta-feira sobre
este acordo com o bloco formado por Brasil, Argentina, Paraguai e
Uruguai. O tratado é negociado há mais de 20 anos e sua última rodada de
diálogos em março passado foi, para ela, “um sucesso”.
O principal sindicato agrícola francês, a Federação Nacional dos
Sindicatos Exploradores Agrícolas (FNSEA), reagiu imediatamente em um
comunicado, no qual alertou sobre “as consequências catastróficas que
este acordo teria na agricultura europeia e francesa”.
“Brasil e Argentina, onde os modelos de produção estão sujeitos a
normas ambientais, sociais e fitossanitárias muito inferiores às
vigentes na França, se beneficiam de custos de produção altamente
competitivos”, afirma a FNSEA.
Para esta federação, os produtores franceses, que já têm dificuldades
devido a uma profunda crise no setor “não sobreviverão durante muito
tempo diante de importações maciças de açúcar, carne bovina, de frango,
ou milho desses países”.
Malmström não descartou que as atuais discussões passem do nível dos
negociadores ao político em julho. “É possível”, afirmou. Contudo,
moderou seu “otimismo” ao lembrar que “há quase cinco anos disse que
estávamos prestes a alcançá-lo”.
– ‘Produto sensível’ –
Até agora, um dos maiores obstáculos para a assinatura foi a abertura
do mercado europeu à carne do bloco sul-americano, sobretudo na França.
A Federação de Produtores Bovinos (FNB), que representa 82 mil
pecuaristas franceses, está muito preocupada porque o acordo em
discussão prevê que os quatro países do Mercosul exportem 99 mil
toneladas de carne bovina à Europa anualmente sem tarifas.
Esse volume se somaria às 270 mil toneladas de carne bovina que os países já podem exportar à Europa, indica a Federação.
Sua preocupação também vem do fato de acreditarem que as normas
sanitárias nos países do Mercosul não são tão exigentes quanto na
Europa. Eles denunciam que os produtores sul-americanos recorrer à
utilização de hormônios de crescimento, antibióticos e pesticidas
proibidos na UE.
“Queremos alertar os futuros deputados europeus (…) que sob nenhum
pretexto este acordo deve ser aceitado”, pediu Bruno Dufayet, presidente
da FNB, em uma entrevista coletiva em Paris, poucos dias antes das
eleições para o Parlamento Europeu.
Segundo esta federação, a carne, que é um “produto sensível” deve ser
“eliminada” por completo de todos os acordos de livre-comércio que
estão sendo negociados pela UE.
– ‘Impacto catastrófico’ –
A preocupação com a iminência deste acordo não atinge apenas a
França. A Coordenadoria de Organizações de Agricultores e Pecuaristas
espanhóis (Coag) também alerta para os prejuízos que este tratado
causaria a todo o bloco europeu.“Um acordo bilateral com o Mercosul teria um impacto catastrófico no setor agrícola da UE”, afirmam fontes da Coag.
“Quase 80% da carne bovina importada pela UE é proveniente do
Mercosul (…), de modo que consideramos que não são necessários
contingentes adicionais livres de tarifas aduaneiras”, acrescentaram.
Os países da UE e do Mercosul tentam desde 1999 criar um espaço de
livre-comércio de cerca de 760 milhões de pessoas dos dois lados do
Atlântico. Os diálogos ficaram estagnados durante anos após uma troca de
ofertas fracassada em 2004, mas foram retomados novamente em 2010.
https://www.istoedinheiro.com.br/produtores-de-carne-franceses-vivem-panico-por-acordo-ue-mercosul/