Ricardo Vélez Rodríguez incorreu em candente falta de habilidade ao enunciar seus bizarros conceitos interculturais
Ricardo Vélez Rodríguez é o
ministro da Educação do Brasil. Alheio – e bote alheio nisso – à vida
político-partidária brasileira desde o fim do primeiro turno das
eleições presidenciais, pouco a pouco vou tomando pé da situação. Com
torcida, é certo, mas sem maior entusiasmo. Foi nesse contexto de testar
a água fria com a ponta do pé, para só então me animar a mergulhá-lo
por inteiro, que tomei conhecimento de que este cidadão é colombiano de
nascimento, naturalizado brasileiro há uns 20 anos, e que tem como
grande trunfo o apadrinhamento de uma espécie de guru da família do
Presidente que, a seu turno, mora nos Estados Unidos. A uni-los, haveria
o horror ao pensamento dito marxista e a seus discípulos na academia.
Ressalto,
desde já, que nada tenho contra estrangeiros ocupando funções de relevo
no panorama político nacional. Pelo contrário, sempre achei que um dos
segredos do colosso dos Estados Unidos é justamente acolher como iguais
pessoas provindas do mundo todo, e ignorar seu lugar de nascimento na
hora de conferir-lhes altas responsabilidades. É o caso candente de
Henry Kissinger que nasceu na Alemanha e chegou a Secretário de Estado, o
último degrau antes da chefia do poder executivo. A admirável Madeleine
Albright é outro bom exemplo. Pois ocupou a mesma posição que Kissinger
e era tcheca de nascimento. Acolher os melhores é sempre bom negócio.
Tanto no futebol quanto nas mais altas esferas diplomáticas.
Na
terça-feira (5), contudo, o noticiário nacional comentava uma polêmica
entrevista que Ricardo Vélez teria dado à revista VEJA que circulou no
último fim de semana. Incrédulo com algumas colocações, resolvi
verificá-las. De muitas diatribes e algumas verdades bem a
contracorrente da sabedoria convencional, um parágrafo me chamou a
atenção. "O brasileiro viajando é um canibal. Rouba coisas de hotéis,
rouba o assento salva-vidas do avião; ele acha que sai de casa e pode
carregar tudo. Esse é o tipo de coisa que tem que ser revertido na
escola". Convenhamos, não sou homem de melindres, muito pelo contrário.
Mas quer me parecer que o ministro incorreu em candente falta de
habilidade ao enunciar seus bizarros conceitos interculturais.
Sei
que vivemos tempos em que os misteres da política são exercidos com
mais frontalidade e menos meias palavras. Sei que hoje valoriza-se mais o
sal e a pimenta do que o açúcar e a canela. Mesmo assim, quando um
sujeito fere os brios de seus governados ao incorrer numa generalização
caricata – que em parte poderia perfeitamente ser aplicada a seus
conterrâneos –, ele presta um desserviço às boas bandeiras que
desfraldou. Uma delas é o primado do ensino técnico sobre o
universitário, o que seria uma solução acertada para equilibrar
disfunções do mercado de trabalho, ademais de limar uma cultura
anquilosada de bacharéis em coisa alguma. É por esses reducionismos que
continuo observando uma prudente distância da política.
Um dia quero ler a cartografia dessa cabotagem trôpega, herança nefasta do populismo que tanto mal nos fez.
http://www.amanha.com.br/posts/view/7026
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