segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

Entrevista: O que uma gestora com US$ 420 bilhões em gestão pensa sobre o ESG no Brasil



Eletrobras
A matriz energética limpa coloca o Brasil em uma posição de destaque no mundo, avalia a Janus (Imagem: Divulgação/ Eletrobras)

Apesar de o Brasil ser visto internacionalmente como um país que tem perdido a batalha contra o desmatamento da Amazônia, outros aspectos ambientais, sociais e de governança, os critérios ESG, oferecem uma perspectiva positiva.

“O Brasil mostrou-se disposto e capaz de se tornar uma nação sustentável por meio de ações de base, engenhosidade e políticas públicas. Eu diria que o futuro é promissor”, explica Dan Raghoonundon, chefe de pesquisa ESG da Janus Henderson, gestora com cerca de US$ 420 bilhões sob gestão.

Em entrevista ao Money Times, Raghoonundon dá a sua visão sobre como os investidores internacionais têm visto o Brasil, além de uma visão única sobre quem trabalha com ESG no dia a dia e toma decisões de investimentos com base nelas. Confira:

As empresas no Brasil têm alguma vantagem ou desvantagem em relação ao ESG? O fato de termos uma matriz energética limpa nos favorece, ou reduz o espaço para melhorias e, portanto, estamos em desvantagem?

O Brasil deu passos significativos na transição para um planeta mais sustentável, mas ainda há muito a ser feito.

Como você aponta, o Brasil tem uma matriz energética que depende da hidroeletricidade. É importante ressaltar que o país também tem uma política bem estabelecida em energia nuclear, que poderia servir como um apoio juntamente com a hidreletricidade, caso haja necessidade.

Aproveitando a abundante disponibilidade de água, o Brasil também se tornou um ator fundamental na sustentabilidade alimentar global e é um dos principais produtores de vários produtos agrícolas, incluindo mandioca, café, açúcar, trigo, açúcar e proteínas, como carne bovina e aves.

Na frente social, o Bolsa Família foi um projeto social de referência que, desde então, foi replicado em muitos países ao redor do globo. O país fez muito pela igualdade de gênero, principalmente tendo uma mulher como chefe de Estado.

As investigações da Lava Jato lançaram luz sobre o nexo entre o Estado e as empresas no Brasil, e a governança corporativa melhorou consideravelmente desde então. Atualmente, a maioria das grandes empresas adere aos padrões globais de governança corporativa.

Dito isso, o país poderia se sair melhor em áreas como descarte de água e tratamento de esgoto. O desmatamento continua a um ritmo insustentável. A desigualdade é gritante no Brasil e a oferta de serviços básicos, como educação e saúde, está aquém das expectativas da população.

Em suma, o Brasil mostrou-se disposto e capaz de se tornar uma nação sustentável por meio de ações de base, engenhosidade e políticas públicas. Eu diria que o futuro é promissor.

O que conta mais: nossas credenciais ambientais ou a imagem que é mostrada internacionalmente?

O desastre da Barragem de Mariana e os derramamentos de óleo certamente atraíram a imprensa negativa, mas, para seu valor, as autoridades brasileiras responsabilizaram os responsáveis ​​e medidas corretivas foram adotadas após o ocorrido para evitar a repetição dos acidentes. Os protocolos de segurança do Brasil estão alinhados com os padrões globais e o registro é bom em sua maioria.

Dan Raghoonundon
“Podemos esperar com segurança uma melhora rápida nos próximos anos” (Imagem: Divulgação/ Janus)

São muitos os pontos positivos, inclusive o pioneirismo do país em biocombustíveis. O Brasil produz 30% do etanol do mundo e é o segundo maior produtor global. A Agência Internacional de Energia vê a liquidez global do mercado de biocombustíveis triplicar até 2030 em seu cenário net zero, e o Brasil vem aproveitando o momento por meio do programa RenovaBio e do desenvolvimento do etanol de segunda geração.

O Brasil desenvolveu seu primeiro mercado de carbono regulamentado em 2017 sob o programa RenovaBio, que busca obrigar os distribuidores de combustíveis a comprar créditos de carbono chamados CBios de produtores renováveis. O Brasil lançou os carros flex fuel em 2003 e hoje quase 100% dos carros vendidos são flex fuel. Nesse caso, o Brasil demonstrou notável previsão.

Em quais ações ou setores a Janus está investindo em ESG no Brasil? Os investidores têm pedido esse critério?

Todas as mesas de investimento da Janus Henderson Investors incorporam ESG em seu processo de investimento. Acreditamos firmemente que as considerações ESG melhoram as decisões de investimento tanto do ponto de vista da mitigação de risco quanto da geração de retornos superiores. Pesquisas abundantes mostraram que empresas com altas classificações ESG tendem a apresentar desempenho financeiro robusto, e nossa própria experiência sugere o mesmo.

Os investidores estão muito interessados ​​em ouvir sobre nossa avaliação de ESG e a incorporação do fator ESG em nossos processos de alocação e seleção há quase uma década. A Janus Henderson Investors acredita que o setor de gestão de ativos, incluindo nós mesmos, tem um papel fundamental para facilitar a transição contínua, canalizando capital para entidades que valorizam a sustentabilidade.

O ESG é um critério fundamental, ou seja, pode impedir a decisão de investimento de um fundo?

As considerações ESG certamente nos levam a evitar certas empresas e setores. Algumas das principais estratégias ESG que usamos são triagem negativa (ou seja, excluindo empresas ou setores específicos), triagem positiva (ou seja, concentrando-se em setores específicos), investimento de primeira linha (ou seja, selecionando o melhor em relação a ESG), ativismo (ou seja, apresentar petições e votar em assembleias gerais anuais de acionistas) e engajamento (ou seja, reunir-se com o conselho e a administração e tentar convencê-los a ter um melhor desempenho em ESG).

Adecoagro Cana-de-açúcar Sucroenergia
O Brasil produz 30% do etanol do mundo e é o segundo maior produtor global (Imagem: Reprodução/Adecoagro)

A Janus Henderson Investors tomou medidas para fornecer aos analistas de pesquisa e gerentes de portfólio as ferramentas e informações para identificar riscos e oportunidades dentro dos portfólios e tomar decisões de investimento que levem em consideração informações ESG financeiramente relevantes.

Isso inclui a criação de uma equipe de Pesquisa ESG liderada por mim para facilitar a identificação e incorporação de fatores ESG no processo de tomada de decisão de investimento.

Como a Janus avalia o ESG das empresas? São utilizados critérios próprios ou de terceiros?

A Janus Henderson Investors usa um complemento de dados proprietários e de terceiros. A empresa realiza milhares de compromissos relacionados a ESG anualmente, o que apóia nossa avaliação das questões ESG. Nosso envolvimento é personalizado, pois ESG não é uma questão neutra para empresa, setor ou país e precisa ser adaptada às circunstâncias.

Como as métricas objetivas para medir o desempenho ESG estão evoluindo e quando devemos esperar que elas amadureçam?

Subscrevo a opinião expressa pelo falecido economista americano Allan Meltzer de evitar colocar um número numa data. Dito isto, os dados ESG são de qualidade muito melhor agora. Podemos esperar com segurança uma melhora rápida nos próximos anos, à medida que os reguladores domésticos exigem divulgações padronizadas, aumentos de garantia ESG, empresas estabelecem equipes ESG e várias entidades são responsabilizadas em relação ao seu impacto nas pessoas e no planeta.

 

 https://www.moneytimes.com.br/entrevista-o-que-uma-gestora-com-us-420-bilhoes-em-gestao-pensa-sobre-o-esg-no-brasil/?e=

 

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