Exigência de visto para EUA acabará 'em pouco tempo', diz embaixador.
26/01/201317:58
O embaixador norte-americano no Brasil, Thomas Shannon, afirmou em entrevista aoG1 que
"em pouco tempo" os brasileiros não necessitarão mais de visto para
ingressar nos Estados Unidos. Segundo ele, a extinção da exigência do
visto é "um objetivo dos dois governos".
Shannon concedeu a entrevista por telefone na quinta (24) para falar sobre as relações entre Brasil e Estados Unidos no
segundo mandato do presidente Barack Obama, que começou na última segunda (21).
"Estamos
trabalhando nisso [a extinção de vistos para brasileiros]. Isso é
obviamente um objetivo dos dois governos, do Brasil e dos Estados
Unidos. Mas é um processo, uma série de acordos que temos que negociar
para chegar a esse ponto", disse.
Nesta quinta, chegou de volta ao Brasil uma
estudante de 16 anos que
ficou quase dois meses retida em um abrigo para adolescentes em Miami
depois de ter o ingresso no país negado devido à suspeita de que tinha
viajado com o objetivo de obter trabalho.
De
acordo com regulamentação do Congresso norte-americano, para que se
anule a necessidade de visto a cidadão de um país é necessário que ao
menos 97% dos pedidos sejam aprovados. No ano passado, a taxa brasileira
estava em 96%.
“Neste
momento, o Brasil está com algo como 95%, ou seja, quase está chegando a
esse ponto. Em pouco tempo, vai chegar lá", disse Thomas Shannon.
Mas,
de acordo com o embaixador, os dois governos têm que negociar uma série
de acordos que tem a ver com os documentos de identidade, a integridade
desses documentos e a habilidade de trocar informações sobre as pessoas
que estão viajando entre os dois países".
Segundo
ele, "essas negociações são sempre complicadas porque envolvem
informação que geralmente está protegida por lei de privacidade dos dois
países".
No
anúncio das duas novas sedes, a secretária de estado americana, Hillary
Clinton, disse que o objetivo era “facilitar a retirada de vistos e as
viagens, derrubar algumas barreiras que foram criadas e continuar a
promover o contato interpessoal".
Em
2012, foi instalado em Belo Horizonte, mais um consulado dos Estados
Unidos para a emissão de vistos e outros serviços diplomáticos. Um novo
consulado deve ser aberto em Porto Alegre e, com isso, o país passará a
ter seis consulados.
Shannon
considera que as relações entre Brasil e Estados Unidos estão
consolidadas, mas disse que, em um “mundo dinâmico", é necessário
reforçá-las.
"As
relações entre o Brasil e os Estados Unidos são excelentes, mas no
mundo dinâmico temos que trabalhar todos os dias para reforçar as
relações e procurar novas áreas de cooperação e colaboração. Eu acho que
o grande trabalho da presidente Dilma Rousseff e do presidente Obama é
procurar essas novas áreas de cooperação e colaboração", disse.
Universidades
Entre as “novas áreas”,ele citou, primeiramente, a educação. "Precisamos
construir os laços e vínculos entre as universidades brasileiras e
americanas para facilitar o intercâmbio de estudantes e professores.
Para realmente construir uma nova parceria na área educacional para o
bem estar dos Estados Unidos e do Brasil", disse.
O
embaixador vê o programa do governo brasileiro Ciência sem Fronteiras
como um “excelente começo” para melhorar o intercâmbio entre as
universidades. O programa dá bolsas para jovens brasileiros estudarem
fora do Brasil.
Para Shannon, também é preciso que mais norte-americanos estudem e falem português e mais brasileiros estudem inglês.
"Temos
que aumentar a quantidade de americanos estudando no Brasil e por isso
precisamos melhorar o ensino de português nos Estados Unidos. Acho que é
nesse sentido, melhorar o ensino de inglês no Brasil e o ensino de
português nos Estados Unidos que vai ser essencial nessa relação
educativa", afirmou.
As
relações entre o Brasil e os Estados Unidos são excelentes, mas no
mundo dinâmico temos que trabalhar todos os dias para reforçar."
Thomas Shannon, embaixador dos Estados Unidos no Brasil
O
embaixador também disse que é preciso investir mais no comércio e no
investimento com o Brasil. “Cada dia há mais interesse na economia
[brasileira]”.
Como
os Estados Unidos enfrentam a pior seca desde 1956, e a safra de grãos,
a maior do mundo, foi prejudicada, Shannon disse que o Brasil deve
passar a exportar mais soja ao país.
“O Brasil passou os Estados Unidos em produção de soja e deve exportar mais”, afirmou.
Política externa e doméstica
Sobre a política externa norte-americana, principalmente no Oriente
Médio e no norte da África, Shannon afirmou que os Estados Unidos, neste
segundo mandato de Obama, vão seguir “oferecendo suporte e apoio à
democracia na área”.
“Essa
região está mudando, estão em processo de evolução. Vamos seguir com o
apoio à democracia. É preciso ver que a Al Qaeda está procurando novos
locais para suas operações. Também vamos seguir com o combate ao
terrorismo”, disse.
Para
Shannon, mesmo com um mundo em transformação, as empresas
norte-americanas ainda são líderes, e "o papel dos Estados Unidos vai
ser ainda mais importante no mundo para reforçar os processos de paz e
de diálogo", disse.
“Os Estados Unidos ficam, os outros [como China e Índia], chegam”, disse Shannon.
O
embaixador afirmou que Obama implementou uma “reforma histórica na
saúde pública” e vai manter essa proposta no segundo mandato.
"[A
posse foi] primeiro uma celebração da nossa democracia e também uma
celebração da continuidade. Os segundos mandatos sempre são diferentes
dos primeiros mandatos, mas acho que o presidente Obama em quatro anos
fez muita coisa. Salvou a economia dos Estados Unidos, implementou uma
reforma histórica na saúde pública e também começou uma transformação e
uma mudança nas nossas relações com o mundo e ele vai continuar isso com
mais profundidade", afirmou.
Shannon
disse que gostou do discurso de posse de Obama, na última segunda-feira
(21), porque, segundo ele, mostrou os desafios nacionais e
internacionais do país.
"Eu
gostei muito do discurso. Ele ligou os desafios que temos na área
doméstica e internacional e mostrou claramente que os Estados Unidos têm
que procurar maneira de expressar os valores democráticos que são base
de nossa cultura política", disse.
G1