SANTIAGO, 28 Jan (Reuters) -
Há cinco anos, durante os discursos de encerramento de uma cúpula no
Chile, o rei da Espanha repreendeu o presidente da Venezuela, Hugo
Chávez, com o famoso "¿por qué no te callas?", numa discussão que passou
a simbolizar os infrutíferos encontros entre governantes europeus e
latino-americanos naquela época.
Dominadas pela retórica esquerdista e pela instabilidade nos
Andes, essas cúpulas pouco acrescentavam a uma Europa que crescia
rapidamente desde a implantação do euro como moeda corrente, uma década
antes.
Mas a crise da dívida europeia pôs de ponta-cabeça a relação das
antigas potências imperiais com suas ex-colônias. Os líderes da União
Europeia presentes no fim de semana a uma cúpula em Santiago foram
francos a respeito do seu interesse em pegar carona no impressionante
crescimento econômico latino-americano.
"Essa é agora uma relação estratégica entre parceiros iguais",
disse a primeira-ministra alemã, Angela Merkel, comandando uma enorme
delegação de políticos e empresários europeus.
Em meio a várias reuniões bilaterais durante os dois dias de
cúpula, Merkel mal havia terminado de proferir seu discurso e já saiu
apressada para o centro financeiro de Santiago, em busca de acordos
comerciais e de investimentos.
"Convidamos vocês a investirem na Alemanha", disse ela, ecoando o
apelo feito na véspera por seu colega espanhol, Mariano Rajoy, no
palácio presidencial chileno.
Num momento em que 60 por cento dos jovens espanhóis estão
desempregados e em que a Alemanha, maior economia europeia, luta contra o
impacto de uma crise de dívidas públicas que quase solapou a zona do
euro no ano passado, a América Latina claramente está em posição de
vantagem.
A economia da região deve crescer quase 4 por cento neste ano, ao
passo que o PIB conjunto dos 17 países da zona do euro deve se
contrair. A Europa espera que mais companhias latino-americanas sigam o
exemplo do magnata mexicano Carlos Slim, que investiu na empresa
holandesa de telecomunicações KPN.
Os governos europeus também desejam que suas empresas ganhem
lucrativas concorrências para obras portuárias, rodoviárias e
aeroviárias na América Latina, inclusive para a Copa de 2014 a e
Olimpíada de 2016 no Brasil.
"NUNCA FOI MELHOR"
Diplomatas na cúpula de Santiago disseram que o clima entre os
mais de 60 países participantes estava agora mais relaxado, em parte por
causa da maior humildade dos europeus.
"A América Latina gosta da ideia de que a União Europeia também
tem problemas", disse um diplomata europeu que trabalhou com colegas
chilenos durante a cúpula.
Claramente ansiosos por passar seu recado, dois dos mais
graduados funcionários da UE, Herman Van Rompuy e José Manuel Barroso,
proferiram cinco discursos em menos de dois dias, louvando os êxitos
latino-americanos e falando dos "destinos entrelaçados" das duas
regiões.
Isso caiu bem com líderes latino-americanos como a presidente da
Argentina, Cristina Kirchner, que elogiou o novo tom da UE. "Os europeus
finalmente perceberam que precisamos de uma relação em que ambos os
lados ganhem".
Reuters Brasil
(Reportagem adicional de Alejandro Lifschitz)
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