Inaugurada a temporada de caça ao petróleo brasileiro
Paulo Metri:
Fonte: Ascom/OM/Rumos do Brasil | 7 de janeiro de 2013
A campanha contra a Petrobras na mídia atingiu novo patamar neste
domingo (6/1) com a matéria mostrada no “Fantástico”, da Rede Globo,
onde a petrolífera verde-amarela, uma das maiores e mais eficientes do
mundo, foi apresentada para milhões de brasileiros como uma empresa
corrupta e incapaz. O engenheiro Paulo Metri, do Clube de Engenharia,
mostra neste texto didático e imperdível o que está por trás disto: as
megajazidas do pré-sal descobertas pela Petrobras. (OM)
Nos
dias atuais, proliferam veículos, na mídia brasileira, que utilizam a
desinformação. Como exemplo, surgem artigos, editoriais, notícias e
entrevistas dizendo que as rodadas de leilão de áreas para produzir
petróleo devem ser realizadas, a Petrobras não tem capacidade para
explorar sozinha o Pré-Sal, devido a suas limitações financeira,
gerencial e tecnológica e, para ajudar o Brasil a vencer esta
dificuldade, as empresas petrolíferas estrangeiras precisam ser
convidadas.
Nestas mensagens, para atraí-las, é necessário que as
concessões do Pré-Sal sejam firmadas sob as regras da lei 9.478, o que
significa revogar no Congresso a lei 12.351, recém-aprovada, devolvendo o
Pré-Sal à antiga lei 9.478.
Trata-se de uma arrogância sem igual,
típica de quem se acha imbatível. Para tentar convencer os leitores ou
espectadores, supondo todos desatentos, lançou-se mão de inverdades,
acreditando que ninguém vai contestar um grande jornal, revista semanal,
rádio ou televisão.
Arquitetaram com grande esmero o que pode ser
chamado de a “temporada de caça ao petróleo brasileiro”. Felizmente,
existem alguns sites, blogs e veículos digitais que estão dispostos a
conscientizar a população e publicam novos dados e análises.
Contudo, a mídia do capital, aquela que não prioriza a sociedade, às
vezes comete erros, por partir do princípio de que o povo tem um baixo
nível de compreensão política. Durante dez anos seguidos (de 1999 a
2008), existiram rodadas de leilões de áreas para exploração de
petróleo. Nunca trouxeram para seus veículos uma voz que advogasse a não
realização destas rodadas. Em compensação, disseminaram matérias
contando as supostas maravilhas das rodadas. Os leitores ou espectadores
atentos devem pensar: “Que estranho insistirem tanto em um mesmo
ponto!”.
Neste instante, eles querem ter acesso a algo, não
necessariamente divergente, mas com diferente ângulo de visão, e não
encontram, porque estas matérias só existem na imprensa alternativa.
Mais cedo ou mais tarde, eles conhecerão os veículos livres,
comprometidos com as causas sociais, e entenderão que a grande mídia é
um braço camuflado do capital, principalmente o internacional.
Na
atual temporada de caça ao nosso petróleo, inúmeras matérias de
comunicação satisfazem, sem serem explícitas, aos interesses
estrangeiros sobre nosso petróleo. Se fosse rebater cada material
divulgado, este artigo iria ficar longo e cansativo; então, comento a
seguir as principais acusações dos detratores.
Começo pela que diz
que, depois da descoberta do Pré-Sal, o Brasil, em vez de começar a
exportar petróleo, está se distanciando da autossuficiência. Para
explicar o que ocorre, é preciso desenvolver um raciocínio preliminar.
A velocidade que o governo brasileiro impõe à exploração no setor de
petróleo, com uma rodada de leilões por ano, de 1999 até 2008, é do
interesse único das empresas estrangeiras, que não têm petróleo em seus
países de origem, e dos países desenvolvidos, que precisam do petróleo
para mover suas economias. Se não forçassem a Petrobras a ter que
participar de tantos leilões, mais recursos sobrariam para os
desenvolvimentos de campos e a autossuficiência estaria garantida há
mais tempo.
Por outro lado, em cada leilão que a Petrobras não
participa e não ganha, há uma perda enorme para o país. Além disso, é
preciso saber que, entre a declaração de comercialidade de um campo
marítimo e o início da sua produção, são necessários em média cinco
anos.
Entretanto, estamos hoje bem próximos da autossuficiência, o
que não ocorreria, com absoluta certeza, se em 1953 o projeto de
interesse das petrolíferas estrangeiras tivesse sido aprovado. No nosso
país, hoje, não existiria a Petrobras e a produção nacional seria
mínima. As empresas estrangeiras não iriam para a plataforma continental
quando a Petrobras foi, em 1974, pois a lógica do capital as levaria
para a Arábia Saudita, o Iraque, o Cazaquistão e outros lugares
promissores para o petróleo, como de fato ocorreu. Também, certamente
ninguém saberia, hoje, da existência do Pré-Sal.
É interessante que
não se conta, para garantir a autossuficiência, com o petróleo
produzido no país pelas empresas estrangeiras. De forma pouco soberana,
raciocina-se que este petróleo é delas e elas não têm a obrigação de
abastecer o Brasil. Esta falta de lógica social é resguardada pela lei
9.478 de 1997 e é parte do pensamento subserviente da década de 1990,
que imaginava o Brasil como economia complementar à dos desenvolvidos,
mero exportador de minerais e produtos agrícolas.
Como boas
críticas neoliberais, as matérias lembram sempre os prejuízos da
Petrobras no segundo trimestre de 2012. Ela teve prejuízo porque o
governo determinou que segurasse o preço dos derivados, uma vez que os
aumentos destes preços repercutem muito no índice de inflação. Não se
pode beneficiar o cidadão brasileiro em detrimento dos dividendos
maravilhosos que seriam dados aos acionistas? Não se pode fazer isto
eternamente, mas, de vez em quando, se pode. Além disso, os acionistas
não vão ficar sem dividendos. Só não vão ter aqueles maravilhosos.
Acusam gratuitamente as mudanças do setor porque modificaram o sistema
de royalties, fato catastrófico, porque desencadeou no Congresso disputa
entre os parlamentares dos diferentes estados sobre a distribuição dos
mesmos. É verdade que discutir o sistema de royalties foi catastrófico,
mas o que os autores não percebem é que, mesmo que a lei 9.478 fosse
utilizada para o Pré-Sal, os parlamentares iriam querer modificar seus
artigos que estabelecem a distribuição dos royalties arrecadados. O que
atraiu estes parlamentares a buscarem mudar esta distribuição foi a
perspectiva de arrecadações milionárias deste tributo, quando o Pré-Sal
entrasse em operação.
Criticam a lei 12.351 por atribuir à
Petrobras participação obrigatória de 30% em cada consórcio e por esta
empresa ser a operadora única dos novos contratos do Pré-Sal,
determinações estas que seriam desnecessárias, além de outros adjetivos
pesados.
Assim, transmitem a visão que nos desejam impingir, a qual
favorece as empresas estrangeiras. A Petrobras ser a operadora dos
consórcios é primordial, pois quem compra bens e serviços para as fases
de exploração, desenvolvimento e produção é a operadora. E, dentre as
empresas que atuam no Brasil, só a Petrobras compra aqui. As empresas
estrangeiras ganharam áreas para explorar petróleo desde 1999 e, até
hoje, 14 anos depois, nenhuma delas comprou uma plataforma no Brasil. Os
30% são explicados porque nenhuma empresa consegue ser a operadora com
menos de 30% de participação no consórcio.
Criar nova empresa
estatal para gerir o programa, que também é motivo de crítica, é na
verdade muito importante para, dentre outros objetivos, fiscalizar as
contas de todos os consórcios.
Finalizando, os autores
invariavelmente criticam o governo por procurar viabilizar uma
exploração do Pré-Sal que visa satisfazer a sociedade. Neste momento,
dizem que “o governo tenta ressuscitar a ideologia nacionalista de
outros tempos”. Buscam impor o conceito de que nacionalismo é ruim. E
trazem, como única crítica ao nacionalismo, o fato de ser “de outros
tempos”. Além de ser um preconceito contra o velho, chega a ser
engraçado, porque princípios liberais estão nos textos de Adam Smith
(1723-1790).
Aliás, seria bom reconhecermos que, graças ao
nacionalismo, o Pré-Sal é nosso. Em primeiro lugar, porque o
nacionalismo o descobriu. Em segundo lugar, porque foram visões
nacionalistas de órgãos do governo brasileiro que lutaram para o
estabelecimento da Zona Econômica Exclusiva de 200 milhas, onde se
encontra mais de 90% do nosso Pré-Sal. E a conquistaram junto às Nações
Unidas.
(*) Paulo Metri – É conselheiro da Federação Brasileira de Associações de Engenheiros e do Clube de Engenharia
Fonte: http://www.rumosdobrasil/...
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