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RIO DE JANEIRO, 31 Jan (Reuters) - A Petrobras tem atrasado pagamentos a
fornecedores e provocado dificuldades financeiras na cadeia de
prestadores de serviços, após ter adotado uma política de redução de
custos em meio a prejuízos na sua divisão de Abastecimento, aumentos de
custos e produção estagnada.
Há também o atraso de pagamento para fundos de recebíveis criados para
financiar esses prestadores de bens e serviços, segundo afirmaram fontes
à agência de notícias Reuters, observando que a estatal alterou sua
política de pagamentos recentemente e vem olhando com mais rigor os
contratos.
Com isso, tem demorado mais tempo para liberar os recursos. Em uma
espécie de efeito dominó, os prestadores de serviços também atrasam seus
compromissos financeiros.
"Não vou dizer que a Petrobras é inadimplente, mas que está em atraso.
Enquanto algumas companhias estão sofrendo, estou confiante que os
pagamentos serão feitos", disse à Reuters Fernando Werneck, gestor de um
portfólio de fundos creditórios na BI Invest, exclusivos de
fornecedores da Petrobras.
Alguns dos fundos de investimento dedicados exclusivamente aos fornecedores da Petrobras registraram aumento da inadimplência.
Os pagamentos em atraso em cinco Fundos de Investimento em Direitos
Creditórios (FIDC) saltaram 58,6%, para R$ 18,4 milhões, em 31 de
dezembro, ante R$ 11,6 milhões em setembro, segundo uma pesquisa da
Reuters junto à CVM (Comissão de Valores Mobiliários).
O FIDC existe para ajudar a Petrobras a terceirizar o negócio de
financiamento aos fornecedores. Fundos de investimento fazem empréstimos
às empresas que possuem contratos com a estatal utilizando como
garantia os recebíveis junto à Petrobras.
Ao longo dos últimos dois anos a Petrobras aportou cerca de R$ 7 bilhões para ajudar os fornecedores.
Pedidos de falências
Problemas financeiros já empurraram algumas empresas fornecedoras da
estatal menores, como a GDK, a um processo de recuperação judicial.
Grandes empresas, tais como a Lupatech, tiveram que vender ativos e
levantar capital novo para evitar o pior.
Preocupações sobre como fazer negócios no Brasil, onde a Petrobras é
responsável por mais de 90% da produção de petróleo, levaram a uma queda
de 34% nas ações da italiana Saipem na quarta-feira.
A empresa prestadora de serviços e equipamentos offshore disse que os
problemas do Brasil poderiam ajudar a cortar o seu lucro em 80% em 2013.
As concorrentes Subsea 7 e Technip França, ambas também fornecedoras da
Petrobras, chegaram a cair mais de 6% na quarta-feira (30).
O programa de redução de despesas, que visa cortar custos de R$ 32
bilhões no período de 2013 a 2016, foi anunciado no final do ano
passado, após a Petrobras ter acumulado nos nove primeiros meses de 2012
mais de R$ 17 bilhões em prejuízo na área de Abastecimento
(combustíveis), ao mesmo tempo que tem um plano de cinco anos de
investir mais de US$ 200 bilhões.
Nessa conjuntura que favorece o crescimento do passivo, a agência de
classificação de risco Moody's alterou em dezembro para negativo o
rating da dívida da companhia.
Dificuldade para receber
Segundo fontes de empresas que prestam bens e serviços à estatal, a
Petrobras tem demorado mais tempo para liberar os aditivos aos
contratos.
Nas licitações, as empresas ganhavam oferecendo um orçamento abaixo do
valor de mercado e depois recorriam aos aditivos, uma prática comum, já
que depois esses aditivos eram liberados com mais facilidade.
"Agora há um rigoroso processo de avaliação por parte da estatal e
sempre há a necessidade de mais e mais documentos. Enquanto isso, o
dinheiro não sai", disse uma fonte de uma empreiteira de médio porte que
presta serviço à Petrobras.
Com a demora na liberação dos pagamentos, as empresas precisam tomar
empréstimo de curto prazo, disse a fonte, a custos altos, gerando um
desequilíbrio nas contas.
"Em geral tem demorado uns meses a mais. Como dois terços do nosso
faturamento depende de contratos com a Petrobras, há um desajuste",
disse à Reuters o executivo, na condição de não ter seu nome divulgado.
Algumas empresas têm quase a totalidade das receitas atreladas aos
contratos com a Petrobras e podem acabar falindo com o atraso dos
pagamentos.
É o caso da Tenace Engenharia, que com 90% de faturamento oriundo da estatal pediu falência no fim do ano passado.
A empresa tinha um grande contrato de construção de uma unidade de
gasolina e diesel no Polo de Guamaré, no Rio Grande do Norte. Também
prestava serviços para a estatal em Urucu, no Amazonas.
Segundo uma fonte da empresa, a Petrobras não concordou em renegociar
aditivos aos contratos. A Tenace enviou um comunicado aos seus credores
responsabilizando a estatal pelo seu fechamento, segundo a fonte, que
preferiu não ser identificada.
A construtora GDK, também grande fornecedora da estatal, teve o seu
pedido de recuperação judicial aprovado no dia 10 de janeiro pela
Justiça da Bahia, segundo nota enviada pela empresa à Reuters.
E a construtora Egesa, responsável por parte das obras de uma unidade
de fertilizantes da Petrobras, também anunciou recentemente aos seus
funcionários e credores que "está passando por uma reestruturação
financeira em função do cenário econômico atual".
Segundo a Petrobras, os pagamentos de seus compromissos "reconhecidos"
são realizados de acordo com os prazos estabelecidos contratualmente.
Procurada pela Reuters, a estatal disse em nota que os eventuais
pleitos de pagamentos adicionais aos contratados por parte dos
fornecedores são submetidos a uma avaliação técnica por uma comissão
constituída para este fim, bem como a uma avaliação jurídica.
"Após a conclusão deste processo, que está de acordo com contrato e com
a legislação vigente, a negociação é submetida à aprovação das
instâncias corporativas competentes. Dessa forma, eventuais pleitos não
representam a existência de dívida por parte da Companhia", disse a
estatal.
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