Na crise atual, da Venezuela, parece que os Estados Unidos ficaram no segundo plano em relação a Havana, Brasília e Buenos Aires.
Relatos, tuítes, frases, fotos e bastidores sugerem que o esforço para evitar uma grande crise em Caracas é um assunto, além de venezuelano, inteiramente latino-americano.
É verdade que a secretária assistente de Estado para a América Latina, Roberta Jacobson, teve pelo menos uma conversa com o vice-presidente venezuelano, Nicolás Maduro, que também conversa com outros americanos fora das fontes governamentais dos EUA, mas próximas destas.
E meu palpite é que altos funcionários de Bogotá e Brasília estejam mantendo Washington informada sobre os acontecimentos, pelo menos até certo ponto.
A imagem é espantosa. Raul e Fidel recebendo chefes de Estado e outros altos líderes governamentais, em algo que parece ser uma estratégia coletiva, embora liderada por Havana, para garantir na Venezuela uma transição estável que cubra o tempo da doença de Chávez e que perdure depois. (Sem falar que, ao mesmo tempo, Havana está sediando negociações de paz entre a Colômbia e as Farc.) Washington não tem prestígio suficiente para empreender esforços semelhantes.
O isolamento de Washington pode ser boa notícia para os atores sul-americanos envolvidos, e é bem possível que realistas pragmáticos na Casa Branca sintam-se gratos por, graças a isso, estarem de certo modo livres para se preocuparem com o sul da Ásia e o Oriente Médio.
Ou, numa era de expectativas baixas, para pelo menos assumirem um papel condizente com as ferramentas muito limitadas de política externa disponíveis para a região.
Eu sou a última a querer ver a arrogância imperial do passado retornar sob aparência mais palatável. É melhor que outros desfrutem de alguns sucessos e erros inevitáveis.
Mas, deixando de lado a "schadenfreude" tentadora desta nova normalidade desde a perspectiva latino-americana, e estipulando que, na Venezuela, os EUA provavelmente têm pouco a oferecer para melhorar as chances de um resultado estável e democrático, os americanos deveriam ter descoberto um jeito de encontrar lugar na nova mesa diplomática da América Latina.
É bem possível que o caminho a seguir passe por nossas políticas domésticas: a reforma da imigração e o controle de armas, duas questões que têm consequências importantes e potencialmente positivas para a América Latina, estão no topo da agenda de Obama para seu segundo mandato. Acrescente-se uma pitada de bom senso em relação a Cuba, e começa a emergir um caminho de volta à mesa.
Será que Washington aproveitará a oportunidade?
Julia Sweig é diretora do programa de América Latina e do Programa Brasil do Council on Foreign Relations, centro de estudos da política internacional dos EUA.
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