quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

EUA fora do jogo em Caracas

16/01/2013 - 04h33

 

"Diplomacia de ponte aérea" ("shuttle diplomacy") é um termo geralmente associado ao Oriente Médio e a estadistas americanos (e americanas) voando a qualquer hora do dia ou da noite para impedir crises e evitar guerras. Mas é difícil lembrar-se da última vez em que diplomatas americanos estiveram na linha de frente da prevenção de conflitos na América Latina.

Na crise atual, da Venezuela, parece que os Estados Unidos ficaram no segundo plano em relação a Havana, Brasília e Buenos Aires.
Relatos, tuítes, frases, fotos e bastidores sugerem que o esforço para evitar uma grande crise em Caracas é um assunto, além de venezuelano, inteiramente latino-americano.

É verdade que a secretária assistente de Estado para a América Latina, Roberta Jacobson, teve pelo menos uma conversa com o vice-presidente venezuelano, Nicolás Maduro, que também conversa com outros americanos fora das fontes governamentais dos EUA, mas próximas destas.
E meu palpite é que altos funcionários de Bogotá e Brasília estejam mantendo Washington informada sobre os acontecimentos, pelo menos até certo ponto.

A imagem é espantosa. Raul e Fidel recebendo chefes de Estado e outros altos líderes governamentais, em algo que parece ser uma estratégia coletiva, embora liderada por Havana, para garantir na Venezuela uma transição estável que cubra o tempo da doença de Chávez e que perdure depois. (Sem falar que, ao mesmo tempo, Havana está sediando negociações de paz entre a Colômbia e as Farc.) Washington não tem prestígio suficiente para empreender esforços semelhantes.

O isolamento de Washington pode ser boa notícia para os atores sul-americanos envolvidos, e é bem possível que realistas pragmáticos na Casa Branca sintam-se gratos por, graças a isso, estarem de certo modo livres para se preocuparem com o sul da Ásia e o Oriente Médio.
Ou, numa era de expectativas baixas, para pelo menos assumirem um papel condizente com as ferramentas muito limitadas de política externa disponíveis para a região.

Eu sou a última a querer ver a arrogância imperial do passado retornar sob aparência mais palatável. É melhor que outros desfrutem de alguns sucessos e erros inevitáveis.
Mas, deixando de lado a "schadenfreude" tentadora desta nova normalidade desde a perspectiva latino-americana, e estipulando que, na Venezuela, os EUA provavelmente têm pouco a oferecer para melhorar as chances de um resultado estável e democrático, os americanos deveriam ter descoberto um jeito de encontrar lugar na nova mesa diplomática da América Latina.

É bem possível que o caminho a seguir passe por nossas políticas domésticas: a reforma da imigração e o controle de armas, duas questões que têm consequências importantes e potencialmente positivas para a América Latina, estão no topo da agenda de Obama para seu segundo mandato. Acrescente-se uma pitada de bom senso em relação a Cuba, e começa a emergir um caminho de volta à mesa.
Será que Washington aproveitará a oportunidade?

 Julia Sweig é diretora do programa de América Latina e do Programa Brasil do Council on Foreign Relations, centro de estudos da política internacional dos EUA.

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