Em abertura de feira, líderes das fabricantes de calçados brasileiras criticaram governo por não agir contra companhias estrangeiras
Lideranças das cadeias calçadistas e da moda elogiaram, nesta segunda-feira (14/11), na abertura da Feira Internacional de Calçados, Artefatos de Couro e Acessórios de Moda (Couromoda), em São Paulo, as medidas de desoneração tributária e da folha de pagamento adotadas pelos governos federal e estaduais.
Criticaram, no entanto, a falta de ações da União para impedir as importações predatórias, principalmente de calçados.
De acordo com o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Milton Cardoso, por causa da queda no comércio exterior do setor, o superávit da indústria calçadista, que já chegou a US$ 5 bilhões, não deverá atingir US$ 1 bilhão em 2012, devido ao aumento das importações e da prática da triangulação por parte do mercado chinês.
De acordo com Cardoso, a triangulação ocorre desde 2010, após o governo brasileiro adotar medidas antidumping sobre o calçado chinês, cujos produtos passaram a entrar no Brasil por meio de outros países como Taiwan, por exemplo.
Outra prática predatória permitida pelo governo brasileiro, segundo Cardoso, é a importação de partes de calçados para a montagem do produto no Brasil. "Não conseguimos entender como empresas que importam 94% dos produtos e somente montam o calçado no Brasil são consideradas regulares e legais", disse.
Segundo Cardoso, desde janeiro de 2012 a produção industrial do setor cai mês a mês ante igual período de 2011, exceto em fevereiro e outubro do ano passado. Já a queda no nível de emprego do setor ocorre repetidamente desde outubro de 2011. "Se o comércio cresce desde 2010 isso (essa queda) só pode ocorrer por conta dos problemas com as importações", disse.
Já o presidente da Associação Brasileira dos Lojistas de Artefatos e Calçado (Ablac), Carlos Ajita, cobrou ainda a ampliação da isenção do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) que já é feita na venda de calçados, tênis e confecções, para os artefatos de couro, que hoje tem uma alíquota de 10% de IPI.
A 40ª Couromoda, que acontece esta semana em São Paulo, reúne mais de mil expositores do setor presentes em 17 Estados do Brasil, movimenta R$ 70 bilhões e gera 1 milhão de empregos.
Posicionamento do governo
O ministro interino do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), Alessando Teixeira, afirmou, nesta segunda-feira, que o governo estuda novas medidas antidumping para as importações de calçados, nos moldes da sobretaxa adotada para a compra desses produtos da China, há três anos.
"Temos de trabalhar para a aplicação de medidas antidumping para outros países, começamos o trabalho com o apoio da . Abicalçados (entidade da indústria calçadista) e, ao longo deste ano, teremos medidas para o setor", disse o ministro, após abertura da Feira Internacional de Calçados, Artefatos de Couro e Acessórios de Moda (Couromoda), em São Paulo.
Desde 2010 há uma sobretaxa de US$ 13,85 por par de calçado importado da China, o que freou as importações daquele país. No entanto, a indústria calçadista brasileira denunciou, e o governo investiga, a triangulação dos calçados da China em outros países asiáticos antes de entrar no Brasil, como Vietnã e Indonésia.
No entanto, de acordo com o ministro, o governo não encontrou irregularidades nas possíveis importações de calçados chineses por meio do Vietnã. "No Vietnã, há uma produção local, com plantas industriais e algumas empresas até chegaram a deixar a China para produzir lá, o que não configura a operação (triangulação)", afirmou Teixeira, que ratificou a opção pela ampliação da tarifa antidumping para outros países, sem nominá-los.
Ele lembrou ainda que o setor no Brasil é protegido por outras medidas, como uma das mais altas tarifas de importação de calçados, de 35%.
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