ESTRANGEIROS DESCONFIAM DO RITMO DA ECONOMIA BRASILEIRA
Especialistas afirmam que os investidores estrangeiros estão
desconfiados com o Brasil. Contudo, eles discordam dos motivos para essa
insegurança. Parte deles acredita que essa situação é resultado do
ritmo da condução da política econômica brasileira - com medidas
intervencionistas -, instabilidade nas perspectivas para a variação do
Produto Interno Bruto (PIB) e baixa taxa de retorno em determinados
projetos. Outros apontam que não só o País, como também o mundo precisam
mostrar sinais melhores de recuperação.
Na semana passada, a
diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine
Lagarde, disse que se sente insegura a respeito das perspectivas para a
economia brasileira.
Na opinião do economista-chefe do Espírito
Santo Investment Bank no Brasil (BES Investimentos), Jankiel Santos, é
mais um agente internacional que mostra uma preocupação na situação
brasileira. "Meus clientes, que são de vários países como Estados Unidos
e da Europa, também demonstram essa mesma insegurança", diz.
O
economista comenta que tentar atrair investidores apenas mostrando a
demanda que o Brasil possui não está sendo suficiente, além de que há
várias dúvidas sobre o desempenho econômico neste ano e nos próximos.
"Com todas as medidas feitas para acelerar o PIB, por que o País não
apresentou uma taxa de expansão mais alta ao longo de 2012? Outra
questão é se mesmo o empenho que o governo está mostrando para atrair
investimentos, isso irá resultar em garantias."
Jankiel Santos
acredita ainda que o Brasil deixou de ser o "queridinho" dos
investidores estrangeiros. "O governo precisa melhorar a burocracia,
diminuir os impostos e que o retorno do capital seja maior. A discussão
sobre esse retorno tem que ser entre governo e empresa, ou o mercado
ditar qual seria o patamar ideal", aconselha o economista. O
diretor-presidente da Fractal, Celso Grisi, que recentemente teve
contato com representantes de fundos de investimentos na Itália e na
Espanha, endossa a argumentação de Jankiel Santos. "Essa questão da
insegurança não é uma opinião minha. Se conversar com qualquer
investidor estrangeiro, ele fará esse discurso, de que as promessas de
crescimento econômico e metas fiscais no Brasil frustraram e o número de
intervenções do governo mostra uma política econômica mais voltada para
o social, do que para o capitalismo", diz.
Ele aponta que as
soluções para aumentar a credibilidade do País também envolvem marcos
regulatórios mais liberais, que mostrem segurança jurídica, garantias ao
capital, "como o empresário vai ficar com a posse de uma propriedade e
que o governo não vai libera-la para movimentos como dos sem-terra". "Há
um desencantamento dos estrangeiros com o Brasil, e o ingresso de
investimentos estrangeiros diretos [IED] deve ficar por volta de US$ 60
bilhões", avalia Grisi.
Por outro lado, Marcio Cardoso,
sócio-diretor da Título Corretora, avalia que a desconfiança do
investidor estrangeiro não acontece somente por causa da situação
brasileira. "Como os níveis de crescimento estão baixos, a tendência
sempre é de mais cautela. Existem vários investidores com dinheiro em
caixa e esses serão os que mais vão pedir garantias", diz. "O Brasil
ainda tem muita liquidez e possui um mercado forte. Mas precisamos, com
urgência, melhorar a infraestrutura para atrair ainda mais capital."
E segundo Cardoso essa desconfiança não é só dos estrangeiros. O
boletim Focus, divulgado ontem pelo Banco Central (BC) mostrou que os
analistas revisaram de 3,19% a previsão de expansão do PIB para 2013
conforme registrado na semana passada, para 3,10%.
Investimento menor
De acordo com último balanço do setor externo divulgado pelo BC, em
2012, os ingressos líquidos de IED alcançaram US$ 65,3 bilhões, queda de
2,10% ante o resultado de 2011. Os países que mais investiram no
acumulado do ano passado foram Estados Unidos (US$ 12,310 bilhões),
Países Baixos (US$ 12,213 bilhões), Luxemburgo (US$ 5,965 bilhões),
Suíça (US$ 4,333 bilhões) e Espanha (US$ 2,523 bilhões).
Na
comparação com igual período de 2011, dois países reduziram seus envios
de recursos ao Brasil. No caso dos investimentos dos Países Baixos, que
em 2011, foi o que apresentou o maior direcionamento, a queda foi de
30,32%. A Espanha também reduziu 70,64%. Já com relação aos EUA,
Luxemburgo e Suíça, os envios subiram 38,17%, 219,5% e 263%,
respectivamente, de 2011 para o ano passado.
Fonte: Diário do Comércio e Indústria
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