Diante da falta de mão de obra especializada no país, o governo está
investindo na atração de lideranças científicas internacionais e na
busca por “cérebros” no exterior –brasileiros que concluíram doutorado
ou pós-doutorado em instituições estrangeiras e não retornaram ao país.
Por meio do programa Ciência sem Fronteiras, 597 especialistas já
foram selecionados para desenvolver pesquisas em solo nacional. A meta é
chegar a 1.250 até 2015.
Duas modalidades do programa, lançado no final de 2011, estão focados
nessa tarefa: a bolsa para “atração de jovens talentos” e a de
“pesquisador visitante especial”.
As áreas prioritárias são as mesmas da escolha de alunos de graduação
para intercâmbio: engenharias, ciências exatas e da saúde, biologia,
tecnologias e indústria criativa.
“Eu espero que haja uma imigração grande para o nosso país. Não para
competir, mas para criar junto com os nossos”, afirma Helena Nader,
presidente da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência).
O movimento já traz resultados. Na Faculdade de Medicina da USP, uma
bióloga cubana está envolvida na construção de um laboratório para
estudo da sinusite.
Outra pesquisadora, brasileira, desenvolveu uma fórmula para o
tratamento de infecção na córnea e já pediu a patente da descoberta.
Os cientistas recebem uma bolsa mensal de R$ 7 mil ou R$ 14 mil, além
de auxílio anual para desenvolvimento da pesquisa. Até agora, R$ 155
milhões já foram comprometidos com a ideia.
A remuneração dos bolsistas contrasta com a feita aos pesquisadores
com bolsas da Capes e CNPq, agências de fomento no Brasil. Uma bolsa
para alunos de pós-doutorado da Capes é de R$ 3.700, pouco mais da
metade da remuneração de jovens inscritos no Ciência sem Fronteiras.
“O governo brasileiro precisa acabar com a ideia de que ser
pesquisador é hobby. Esse valor não é um auxílio”, pondera Ariana
Serrano, 36 anos, selecionada pelo programa federal.
Com graduação e mestrado em engenharia elétrica na USP, Ariana
retornou ao Brasil no ano passado após fazer pós-doutorado na
universidade de Grenoble, na França.
A italiana Noemi Spagnoletti concluiu doutorado há três anos no Piauí
sobre macacos-prego e voltou ao país para pesquisa sobre a relação
desses animais com moradores da região.
O projeto começou ano passado, com auxílio da bolsa do Ciência sem Fronteiras.
A maioria dos bolsistas vêm da Europa. É lá que está o polo mais
importante de estudo sobre causas da sinusite, segundo o professor de
medicina da USP, Richard Voegels.
Com auxílio da bióloga Claudina Novo, da Universidade de Ghent, na
Bélgica, a faculdade planeja construir um laboratório para estudo das
causas da sinusite.
Flávia Foreque
(Folha de S. Paulo – 21/01/2013)
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