sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Risco de apagão obriga data centers do Brasil a investirem em contingência

Empresas revisam planos e montam esquemas alternativos para garantir funcionamento das operações em caso de racionamento ou novos blecautes em 2013.

Edileuza Soares

23 de janeiro de 2013 - 07h30

A possibilidade de o Brasil vir a ter um apagão de energia por conta da redução dos reservatórios e crise do setor elétrico preocupa os empresários dos data centers brasileiros, mas eles garantem que têm contingência para manter suas operações, caso aconteçam novos blecautes no País em 2013.
Os data centers estão entre os maiores consumidores de energia elétrica por operaram com infraestrutura de alta densidade. Mesmo com adoção da virtualização e processamento em nuvem, que permitem compartilhar servidores, essas empresas ainda são grandes puxadoras de eletricidade. Como são responsáveis pela operação de muitos sistemas críticos de TI de diversos segmentos da economia que não podem parar, essas companhias  precisam investir pesado em sistemas de contingência.
Caso fiquem fora do ar por falta de energia ou qualquer outro incidente, muitas empresas terão seus negócios impactados, principalmente agora que as companhias estão terceirizando mais serviços de tecnologia e aderindo às aplicações que rodam na nuvem. Para elas, ter esquemas de energia alternativa e redundância é vital para manutenção das operações.
"Nossas operações estão preparadas para funcionar independente do fornecimento das distribuidoras de energia", garante Fabiano Agante Droguetti, CTO da Tivit, que processa aplicações de 1,2 mil empresas, sendo 300 das 500 maiores do País. Um de seus clientes é a Cielo, que processa meios de pagamentos eletrônicos com cartão de crédito e de débito.
Droguetti observa que a distribuição de energia no Brasil é instável e apresenta micro interrupções com muita frequência, o que obriga os data centers a terem planos robustos de contingência e evitar que as operações sejam suspensas.

No caso da unidade de São Paulo, localizada em Santo Amaro, por exemplo, ele informa que a empresa conta com cinco geradores, sendo que dois funcionam como backup. Esses equipamentos são alimentados por óleo diesel e estão preparados para manter as operações da Tivit em operação por até sete dias, sem precisar de reabastecimento, segundo Droguetti.

"Nosso gerador leva cinco minutos para entrar em operação. Nesses cinco minutos, nossos sistemas são alimentados por nobreaks que oferecem uma autonomia de até 30 minutos", conta Droguetti. Como a energia da distribuidora é instável e apresenta custos elevados no final da tarde, ele afirma que o data center chega a utilizar os geradores praticamente todos os dias por algumas horas, o que faz com que os equipamentos passem por manutenção constantemente.

Ainda como parte do plano de contingência, Tivit se abastece de energia convencional por meio de duas subestações da AES Eletropaulo. Embora a distribuidora seja a mesma empresa, Droguetti informa que essa forma de contratação dá mais segurança, pois se uma das redes cair a outra assume a operação do data center automaticamente.

Segundo o CTO da Tivit, o negócio de data center exige contingência. O investimento é alto, mas ele diz que uma parada arranha a imagem da empresa. Assim como a Tivit, o executivo acredita que todos os grandes centros de processamentos de dados estejam preparados para enfrentar um eventual apagão. "Em 11 anos de operação nunca ficamos fora do ar", afirma. "Existe apreensão, mas o risco de apagão não é um problema", diz o CTO.

Na Ativas, data center localizado em Belo Horizonte (MG), o risco de um apagão preocupa, mas a empresa investiu pesado em esquema alternativo. Antônio Phelipe CTO da Ativas explica que a companhia já nasceu preparada para enfrentar esse tipo de ameaça.
A empresa foi a primeira do seu segmento na América do Sul a obter a certificação Tier III, concedida pelo Uptime Institute, que garante disponibilidade de 99,98% de suas operações. O grupo também é credenciado pela TÜV Rheinland, que comprova que seus processos seguem as boas práticas.

A exemplo da Tivit, o data center da Ativas é abastecido por duas subestações diferentes da Cemig, distribuidora de energia de Minas Gerais, que detém 49% do seu capital, o que segundo a empresa, é uma vantagem competitiva ter um sócio do setor. "Às vezes não é nem o blecaute que gera falta de energia. A queda de uma árvore pode interromper o fornecimento e ter dois caminhos alternativos aumenta a redundância", explica Phelipe. 

"Usamos duas redes distintas de energia e a troca é automática", garante o CTO da Ativas, mencionando que a companhia conta um esquema alternativo com dois geradores, sendo um backup ligado por um sistema de barramento para subir imediatamente, caso o primeiro falhe.

Ter uma subestação própria de energia aumenta a contingência e dá mais segurança para o data center. É para  ter mais tranquilidade que a Level 3 está investindo nesse tipo de projeto para alimentar o data center de São Paulo, que hoje é atendido pela AES Eletropaulo.

Além da unidade de São Paulo, a Level 3 conta com outras duas, uma localizada no Rio de Janeiro e outra em Curitiba. Vagner Moraes, diretor da unidade data center da companhia explica que a energia fornecida pela distribuidora oscila muito. Ele contabiliza que em 2012 ocorreram cerca de mil registros de interrupções da rede convencional, o que motivou a companhia a investir na construção de uma subestação própria, que ficará pronta dentro de 24 meses.
"Apesar de termos um data center construído nos padrões de alta disponibilidade, nos preocupa diretamente a possibilidade de um apagão", admite Emerson Ferreira, gerente de compliance da Algar Tecnologia. Segundo ele, o data center do grupo mineiro, que conta com unidade em Uberlândia e Campinas (SP), está equipado com geradores com abastecimento garantido por 48 horas. Entretanto, ele observa que outros serviços podem não ter plano de contingência, como é o caso de transporte para reabastecimento de diesel.
 
Problema com a legislação

De acordo com a legislação brasileira, as empresas não têm opção de contratar dois fornecedores de energia, uma vez que há apenas uma distribuidora por região. Essa situação obriga os data centers a recorrerem aos planos alternativos como construção de usinas próprias e contratação de duas linhas da mesma fornecedora.
"Temos que construir sites prevendo que não podemos depender do fornecimento externo de energia para manter nossas operações em funcionamento. Os mais modernos data centers são desenhados para ser autônomos. Temos que ter geradores a mais", explica Paulo Sartório, gerente de marketing de produtos da Terremark.
Sartório garante que o data center da Terremark tem um plano contingência que permite que a empresa se mantenha até 72 horas em funcionamento em caso de apagão. "Estamos tranquilos porque nossas instalações foram construídas, levando em conta esse tipo de ameaça", afirma ele. 
"Temos uma pequena usina hidrelétrica porque energia é crítica para nosso negócio. Todo mês há uma queda. A energia do Brasil não é de boa qualidade e oscila muito", informa Marco Fonseca, diretor de operações da Locaweb, justificando a necessidade de essas empresas terem esquemas alternativos.
"Se tivéssemos a opção de termos duas concessionárias, não seria preciso investir tanto", diz o executivo, que acha que energia deveria ser como links de telecomunicações e internet, que é possível terem rotas redundantes com diferentes fornecedores. 

Falhas podem acontecer

Outros data centers como T-Systems, Uol Diveo, Embratel, Telefônica e Oi também estão reforçando seus planos de contingência. Entretanto, nem sempre ter esquemas alternativos de energia garantem que as empresas se mantenha no ar em caso de blecaute.
Segundo os especialistas, elas precisam ter pessoal treinado e fazer manutenção constante dos geradores e ter bancos de baterias de qualidade. Os equipamentos devem ser ligados constantemente e os planos precisam ser revisados sempre para funcionarem em caso de incidentes.
Prova disso, foi que no último apagão que o Brasil sofreu em 15 de dezembro do ano passado que afetou cidades de nove estados do País. Um grande data center bem equipado, localizado em São Paulo, ficou fora do ar e prejudicou clientes que tinham aplicações de missão crítica hospedadas em suas unidades.
Segundo especialistas, o motivo da falha não foi ausência de tecnologia, mas dificuldade para colocar os sistemas em operação e mantê-los em funcionamento após a queda do fornecimento de energia da distribuidora. Os geradores e nobreaks foram ativados, mas entraram em pane e o data center interropeu operações.
"Mesmo que não sejam usados, os geradores precisam passar por testes smenais para que funcionem corretamente quando falta energia. É preciso fazer a manutenção do óleo diesel", relata Peter Catta Preta, diretor de infraestrutura da Alog. Ele observa que essas máquinas são como um grande motor de caminhão que têm que ser revisados constantemente e ficarem pré-aquecidos para darem partida no momento certo.
A Alog conta com três data centers, sendo dois em São Paulo e outro no Rio. O localizado no centro da capital paulista conta com cinco geradores e o de Tamboré (Barueri) tem dois equipamentos desses, enquanto o do Rio possue oito equiopamentos para situações de emergência. Essa quantidade, segundo Catta Preta é suficientes para garantir as operações em caso de incidente por até uma semana.

Exigências de SLAs e boas práticas
Com a popularização do modelo de cloud computing, mais empresas estão recorrendo aos data centers para terceirizar serviços de TI. Para que essas companhias tenham garantias de que suas aplicações não vão ficar fora do ar com eventuais quedas de energia, especialistas recomendam que fiquem mais atentas com os acordos de nível de serviço (SLA) e que contratem parceiros que sigam as melhores práticas do mercado.

Uma das formas de avaliar se o prestador de serviço está em conformidade com as regras do mercado são as certificações que exigem que os data centers estejam instalados em locais adequados e se têm planos de contingências.

O Uptime Institute é uma das organizações internacionais que auditam data centers e atesta se eles oferecem alta disponibilidade com credenciais Tier III e IV. Essa última ninguém possui no Brasil, mas alguns prestadores de serviço comerciais já alcançaram a segunda que são Ativa, T-System, Alog e Embratel.

A Vivo e Petrobras também obtiveram esse selo para seus data centers para uso interno. A certificação Tier III, audita os sites que foram construídos para oferecer disponibilidade de 99,98% 24 horas aos sete dias da semana, avaliando planos de contingência. Outros prestadores de serviço afirmam que atendem aos requisitos dessa norma, mas ainda não passaram pelo crivo do Uptime Institute.

Ivan Semkovski, COO da Globalweb Outsourcing, conta que fez a lição de casa de conferir SLA e certificações quando a empresa decidiu atender seus clientes por meio de terceiros. "Fizemos um estudo para verificar se teríamos data center próprio ou usaríamos infraestrutura de um parceiro. Constamos que não justificava fazer esse investimento", explica o executivo.

Hoje a Globalweb atende seus cerca de 95 clientes ativos por meio de três data centers. No Brasil, a empresa utiliza a infraestrutura da Oi e Terremark. No exterior, a empresa tem acordo com o CoreSite, localizado em Miami (EUA). Segundo Semkovski, todos eles possuem planos de contingência para manter as operações em caso de
falta de energia ou outras ameaças.
"Um possível apagão regional não nos preocupa porque se a Terremark cair, vamos para os data centers da Oi e vice-versa", diz o COO da Globalweb, que considera ser uma vantagem usar a infraestrutura da operadora com sites distribuídos pelo País. Ainda segundo ele, há alternativa de ir para o CoreSite, caso essas empresas sejam derrubas por blecautes.Share82

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