segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

O barão do aço retorna ao mercado

O Grupo Bozano, do ex-banqueiro Julio Bozano, volta à área de gestão de recursos com a compra de 30% do capital da Mercatto Investimentos.

Por Patrícia ALVES

Afastado do mercado financeiro há 13 anos, o empresário gaúcho Julio Bozano está de volta ao mundo das finanças. Após ter vendido o banco Meridional, controlador do Banco Bozano, Simonsen, para o espanhol Santander, no ano 2000, o grupo Bozano anunciou, na segunda-feira 21, a compra de 30% da gestora de recursos carioca Mercatto Investimentos por um valor não revelado. O ex-banqueiro, o 39º homem mais rico do Brasil em 2012, com uma fortuna estimada em R$ 2,56 bilhões, de acordo com a revista Forbes, ainda hoje é considerado um dos banqueiros mais bem-sucedidos do País. Com a aquisição da Mercatto, Bozano vai voltar a atuar na gestão de recursos, área em que seu grupo brilhou no fim dos anos 1990 (veja quadro "História de sucesso").
 
11.jpg
Julio Bozano: dono de uma fortuna estimada em R$ 2,56 bilhões, o gaúcho é considerado, ainda hoje,
um dos banqueiros mais bem-sucedidos do Brasil 
 
A Mercatto é uma das 15 maiores gestoras independentes do País, com R$ 2,8 bilhões sob gestão. Com a compra da participação, o grupo Bozano tornou-se o principal acionista individual da empresa, onde já investe boa parte de seu caixa. “A finalização definitiva do processo de venda do Bozano para o Santander ocorreu apenas em 2011. Até que isso acontecesse, o grupo preferiu atuar no mercado financeiro apenas como cliente”, afirma Sergio Eraldo Salles Pinto, presidente do grupo. 
 
“Do outro lado do balcão, tivemos tempo e experiência para analisar, com cuidado, uma série de gestoras, antes de definirmos a parceira.” Os principais sócios da Mercatto são executivos egressos do Bozano, como o diretor Regis Abreu, há dez anos na empresa e que vem administrando os recursos seguindo à risca a cartilha aprendida em seu trabalho anterior. 
 
12.jpg
Sérgio Eraldo Salles Pinto, presidente do grupo Bozano: "Muita gente
confia na percepção e diligência do grupo Bozano
e vai pegar carona na parceria"
 
“A maneira de a Mercatto pensar e gerir os recursos dos clientes é idêntica à do Bozano, que ligava a análise fundamentalista com governança corporativa e avaliação de risco de crédito”, afirma Abreu. “Essa fórmula pautou o início de minha carreira no Bozano e fez inúmeros clientes do grupo migrarem para a Mercatto.” Empresário arrojado, Julio Bozano ganhou o título de “barão do aço” no início da década de 1990, após arrematar as siderúrgicas estatais Usiminas, CST e Cosipa nos leilões de privatização. Seu grupo também se tornou o maior acionista individual da Embraer, a terceira maior fabricante de aviões do mundo, em um consórcio formado do qual faziam parte os fundos de pensão Previ e Sistel, além da Fundação Cesp. 
 
13.jpg
 
 
O investimento na empresa de São José dos Campos mostra bem o tino de Bozano para os negócios. Pelos 40% adquiridos em 1994, Bozano pagou o equivalente a R$ 61 milhões. Atualmente, essa fatia do capital valeria R$ 4,2 bilhões. O segredo foi ter comprado as ações da Embraer usando moedas de privatização. Títulos públicos vencidos e não pagos, conhecidos como “moedas podres”, eles eram considerados papéis muito arriscados e negociados a uma fração de seu valor de face. No entanto, foram aceitos como metal sonante nos leilões. Na prática, cada real investido por Bozano na privatização custou-lhe menos de 50 centavos. Salles Pinto não divulga a participação atual do grupo na Embraer, mas os dados mais recentes disponíveis indicam que o Bozano possui 4,2% das ações. 
 
Na ponta do lápis, mesmo tendo vendido boa parte de seus papéis, sua fatia no capital ainda vale R$ 420 milhões. Mesmo distante das funções executivas nesta nova empreitada do grupo, Bozano vai manter o papel que o caracterizou ao longo das últimas quatro décadas à frente das empresas que controlou: ser o formulador das estratégias do negócio. Boa parte das tacadas surgiu da participação de um ex-sócio de Bozano, o falecido economista e ex-ministro Mário Henrique Simonsen, seu colega dos tempos de Escola Naval. “Eu era o pior aluno da minha turma, por isso convidei o primeiro da classe para ser meu sócio”, costuma lembrar Bozano. No dia a dia, o banqueiro conta com os executivos a quem delega as funções. 
 
14.jpg
Os executivos: Regis Abreu (à esquerda), Luís Lobato (centro) e Nelson Assad comandam
a Mercatto Investimentos, que completa, em 2013, 15 anos de atuação
 
Na Mercatto Investimentos, o conselho será presidido por Salles Pinto, que terá ao seu lado, como um dos membros, o sócio fundador da Mercatto, Nelson Assad. Para Salles Pinto, o nome Bozano é um excelente ativo, pois o mercado ainda se lembra das estratégias vencedoras dos anos 1990. “Muita gente confia na percepção e diligência do Grupo Bozano e vai querer pegar carona nessa associação”, afirma. Segundo ele, a nova associação irá ajudar na captação de novos clientes e na atração de parceiros. “Nosso objetivo é crescer e abrir um portfólio de oportunidades, aproveitando uma estratégia vencedora”, diz Salles Pinto. A marca Bozano não irá aparecer imediatamente no mercado. 
 
O grupo vai criar a Bozano Investimentos, que servirá de plataforma para a consolidação de futuros negócios, mas que estará sob o nome Mercatto, uma marca já consolidada e respeitada no mercado. A Mercatto atua administrando fundos, tanto de investimento convencionais quanto de participações em empresas fechadas, os chamados private equity. Os principais clientes são fundos de pensão e alocadores financeiros. No novo cenário, de acordo com Abreu, há um grande potencial de crescimento na área de private banking, no qual a participação ainda é pequena, e na de familly offices. “Mais que o nome, o Bozano pautou uma tendência e criou uma importante forma de atuação financeira, seguida até hoje”, afirma Abreu. “Com o carimbo da marca e no atual momento do mercado, triplicar os números da Mercatto no curto ou médio prazo é um objetivo modesto.”
 
15.jpg

Nenhum comentário:

Postar um comentário