O Grupo Bozano, do ex-banqueiro Julio Bozano, volta à área de gestão de recursos com a compra de 30% do capital da Mercatto Investimentos.
Por Patrícia ALVES
Afastado do mercado financeiro há 13 anos, o empresário gaúcho
Julio Bozano está de volta ao mundo das finanças. Após ter vendido o
banco Meridional, controlador do Banco Bozano, Simonsen, para o espanhol
Santander, no ano 2000, o grupo Bozano anunciou, na segunda-feira 21, a
compra de 30% da gestora de recursos carioca Mercatto Investimentos por
um valor não revelado. O ex-banqueiro, o 39º homem mais rico do Brasil
em 2012, com uma fortuna estimada em R$ 2,56 bilhões, de acordo com a
revista Forbes, ainda hoje é considerado um dos banqueiros mais
bem-sucedidos do País. Com a aquisição da Mercatto, Bozano vai voltar a
atuar na gestão de recursos, área em que seu grupo brilhou no fim dos
anos 1990 (veja quadro "História de sucesso").
Julio Bozano: dono de uma fortuna estimada em R$ 2,56 bilhões, o gaúcho é considerado, ainda hoje,
um dos banqueiros mais bem-sucedidos do Brasil
A Mercatto é uma das 15 maiores gestoras independentes do País, com
R$ 2,8 bilhões sob gestão. Com a compra da participação, o grupo Bozano
tornou-se o principal acionista individual da empresa, onde já investe
boa parte de seu caixa. “A finalização definitiva do processo de venda
do Bozano para o Santander ocorreu apenas em 2011. Até que isso
acontecesse, o grupo preferiu atuar no mercado financeiro apenas como
cliente”, afirma Sergio Eraldo Salles Pinto, presidente do grupo.
“Do
outro lado do balcão, tivemos tempo e experiência para analisar, com
cuidado, uma série de gestoras, antes de definirmos a parceira.” Os
principais sócios da Mercatto são executivos egressos do Bozano, como o
diretor Regis Abreu, há dez anos na empresa e que vem administrando os
recursos seguindo à risca a cartilha aprendida em seu trabalho
anterior.
Sérgio Eraldo Salles Pinto, presidente do grupo Bozano: "Muita gente
confia na percepção e diligência do grupo Bozano
e vai pegar carona na parceria"
“A maneira de a Mercatto pensar e gerir os recursos dos clientes é
idêntica à do Bozano, que ligava a análise fundamentalista com
governança corporativa e avaliação de risco de crédito”, afirma Abreu.
“Essa fórmula pautou o início de minha carreira no Bozano e fez inúmeros
clientes do grupo migrarem para a Mercatto.” Empresário
arrojado, Julio Bozano ganhou o título de “barão do aço” no início da
década de 1990, após arrematar as siderúrgicas estatais Usiminas, CST e
Cosipa nos leilões de privatização. Seu grupo também se tornou o
maior acionista individual da Embraer, a terceira maior fabricante de
aviões do mundo, em um consórcio formado do qual faziam parte os fundos
de pensão Previ e Sistel, além da Fundação Cesp.
O investimento na empresa de São José dos Campos mostra bem o tino
de Bozano para os negócios. Pelos 40% adquiridos em 1994, Bozano pagou o
equivalente a R$ 61 milhões. Atualmente, essa fatia do capital valeria
R$ 4,2 bilhões. O segredo foi ter comprado as ações da Embraer usando
moedas de privatização. Títulos públicos vencidos e não pagos,
conhecidos como “moedas podres”, eles eram considerados papéis muito
arriscados e negociados a uma fração de seu valor de face. No entanto,
foram aceitos como metal sonante nos leilões. Na prática, cada real
investido por Bozano na privatização custou-lhe menos de 50 centavos.
Salles Pinto não divulga a participação atual do grupo na Embraer, mas
os dados mais recentes disponíveis indicam que o Bozano possui 4,2% das
ações.
Na ponta do lápis, mesmo tendo vendido boa parte de seus papéis,
sua fatia no capital ainda vale R$ 420 milhões. Mesmo distante das
funções executivas nesta nova empreitada do grupo, Bozano vai manter o
papel que o caracterizou ao longo das últimas quatro décadas à frente
das empresas que controlou: ser o formulador das estratégias do negócio.
Boa parte das tacadas surgiu da participação de um ex-sócio de Bozano, o
falecido economista e ex-ministro Mário Henrique Simonsen, seu colega
dos tempos de Escola Naval. “Eu era o pior aluno da minha turma, por
isso convidei o primeiro da classe para ser meu sócio”, costuma lembrar
Bozano. No dia a dia, o banqueiro conta com os executivos a quem delega
as funções.
Os executivos: Regis Abreu (à esquerda), Luís Lobato (centro) e Nelson Assad comandam
a Mercatto Investimentos, que completa, em 2013, 15 anos de atuação
Na Mercatto Investimentos, o conselho será presidido por Salles
Pinto, que terá ao seu lado, como um dos membros, o sócio fundador da
Mercatto, Nelson Assad. Para Salles Pinto, o nome Bozano é um excelente
ativo, pois o mercado ainda se lembra das estratégias vencedoras dos
anos 1990. “Muita gente confia na percepção e diligência do Grupo Bozano
e vai querer pegar carona nessa associação”, afirma. Segundo ele, a
nova associação irá ajudar na captação de novos clientes e na atração de
parceiros. “Nosso objetivo é crescer e abrir um portfólio de
oportunidades, aproveitando uma estratégia vencedora”, diz Salles Pinto.
A marca Bozano não irá aparecer imediatamente no mercado.
O grupo vai criar a Bozano Investimentos, que servirá de plataforma
para a consolidação de futuros negócios, mas que estará sob o nome
Mercatto, uma marca já consolidada e respeitada no mercado. A Mercatto
atua administrando fundos, tanto de investimento convencionais quanto de
participações em empresas fechadas, os chamados private equity. Os
principais clientes são fundos de pensão e alocadores financeiros. No
novo cenário, de acordo com Abreu, há um grande potencial de crescimento
na área de private banking, no qual a participação ainda é pequena, e
na de familly offices. “Mais que o nome, o Bozano pautou uma tendência e
criou uma importante forma de atuação financeira, seguida até hoje”,
afirma Abreu. “Com o carimbo da marca e no atual momento do mercado,
triplicar os números da Mercatto no curto ou médio prazo é um objetivo
modesto.”
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