Empresa passou da segunda para a quarta colocação na lista de maiores empresas de gás e petróleo dos Estados Unidos e América Latina, segundo estudo da Economatica.
A Petrobrás perdeu 40% do seu valor de mercado em três anos e passou da
segunda para a quarta posição no ranking das maiores empresas de gás e
petróleo dos Estados Unidos e da América Latina, segundo levantamento da
consultoria Economatica para o Estado.
A estatal valia US$ 199,3 bilhões no dia 1º de janeiro de 2010, valor
que despencou para US$ 119,9 bilhões nesta quarta-feira - uma diferença
de quase US$ 80 bilhões. Em 2012, a Petrobrás foi ultrapassada pela
primeira vez pela Ecopetrol e a diferença agora se amplia. A empresa
colombiana está avaliada hoje em US$ 130,1 bilhões e ocupa o terceiro
lugar no ranking.
Com trajetória oposta à da concorrente brasileira, a Ecopetrol viu o seu
valor de mercado disparar 165% no mesmo período, roubando o posto da
Petrobrás de maior empresa latino-americana. As norte-americanas
ExxonMobil e Chevron, que atualmente lideram o ranking do setor, também
se valorizaram entre 2010 e 2013, com altas de 27,7% e 47,5%,
respectivamente.
Para o professor de finanças do Insper Ricardo Almeida, o principal
fator que explica o descolamento da Petrobrás é a decepção dos
acionistas minoritários com a bilionária capitalização da companhia,
realizada em setembro de 2010. "O governo fez a cessão onerosa de uma
forma que as regras ficaram muito questionáveis. Houve um desequilibro
entre as condições do governo e a dos outros investidores", explica
Almeida.
A chamada cessão onerosa foi uma troca feita entre a União e a
Petrobrás. O governo "cedeu" barris de petróleo do pré-sal para a
estatal e, em troca, recebeu ações da empresa. Nessa operação, na visão
do mercado , o governo aumentou a sua participação na companhia com base
em um valor superestimado do barril.
"Temos ainda um componente de incerteza que é a revisão dessa cessão
onerosa, quando teremos as mesmas dúvidas que ocorreram em 2010 em
relação ao preço do barril", destaca Almeida. Para ele, enquanto a
revisão estiver pendente, o papel da empresa seguirá pressionado. A nova
leitura está marcada para setembro de 2014.
Interferência
Para o analista-chefe da corretora SLW, Pedro Galdi, prevalece a
sensação de que o governo está interferindo fortemente na Petrobrás,
destruindo seu valor. "Lá na frente, a empresa pode ficar sufocada por
prejuízos e não conseguir nem mesmo tocar o pré-sal."
Na visão de Galdi, a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados
(IPI) impulsionou a produção de carros no País, sem que o refino de
combustíveis tenha crescido na mesma proporção. "Por esse motivo, a
companhia precisa importar e paga um preço maior lá fora do que vende
aqui dentro."
O reajuste de 6,6% para a gasolina e de 5,4% para o diesel, anunciado
pela estatal na última terça-feira, não foi suficiente para mudar o
ânimo dos investidores. Apenas no pregão desta quarta-feira, as ações ON
da Petrobrás recuaram 5,12%, enquanto as PN caíram 4,76%. Grande parte
dos analistas esperava um reajuste maior, entre 7% e 10%. Segundo Galdi,
mesmo com a alta nos preços, ainda resta uma defasagem de 6% no valor
da gasolina.
Ânimo minado
A perda de valor de mercado da Petrobrás nos últimos três anos também é
reflexo da frustração dos investidores com a empresa, afirma o analista
da corretora Coinvalores Bruno Piagentini. "O ânimo com o pré-sal foi
minado ao longo do tempo com números de produção abaixo da meta e
atrasos em projetos, que elevaram os custos." Segundo ele, o mercado
agora está apenas precificando a forte ingerência do governo na empresa.
Piagentini destaca, contudo, que a troca de comando na companhia - agora
presidida por Graça Foster - trouxe mais transparência, além de um
planejamento mais realista. "Não acredito que s papéis vão despencar
muito mais. Agora os investidores estão de olho nos números de
produção. " Os dados financeiros e de produção serão publicados na
próxima segunda-feira, dia 4
(O Estado de S.Paulo, 31/1/13)