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Atuação: Consultoria multidisciplinar, onde desenvolvemos trabalhos nas seguintes áreas: fusão e aquisição e internacionalização de empresas, tributária, linhas de crédito nacionais e internacionais, inclusive para as áreas culturais e políticas públicas.
domingo, 28 de abril de 2013
Apex promoverá o Brasil na Copa das Confederações a importadores de 60 países
DOS FATORES MIGRATÓRIOS: ENTRE REALIDADE SOCIAL E IMAGEM MIDIÁTICA
Os atuais movimentos migratórios estão relacionados, entre
outros motivos, a razões econômicas muito fortemente ligadas à crise de
2008. Mas o poder de atração da mídia e a facilidade possibilitada pelos
meios de comunicação não devem ser desprezados.
Para a professora de comunicação e pesquisadora em migrações
transnacionais, Denise Cogo, “os fatores econômicos, tais como a busca
de trabalho e a fuga de situações de pobreza, são importantes
impulsionadores dos fluxos migratórios globais, o que ajuda a entender
porque esses fluxos têm se dirigido prioritariamente aos chamados países
e regiões de maior desenvolvimento como América do Norte e Europa
Ocidental, ou, ainda, o Oriente Médio e alguns países asiáticos como
Japão”.
As migrações transnacionais, explica a pesquisadora, são uma
experiência humana e um fenômeno sociocultural, econômico e político que
conformam a história de nossas sociedades. Os movimentos e fluxos
migratórios são dinâmicos e assumem especificidades em diferentes etapas
e contextos históricos, podendo ser mais permanentes ou transitórios.
Múltiplos fatores vêm colaborando para impulsionar fluxos e ciclos
migratórios em todo o mundo tais como as guerras, os regimes
ditatoriais, as crises econômicas, os desastres ambientais, as políticas
de incentivo ou repressão às migrações por parte de Estados e governos.
As próprias redes migratórias operam também como espaços de interação
sociocomunicacional entre os migrantes, podendo colaborar para a
constituição, ampliação ou reforço de determinadas rotas e movimentos de
migração entre nações ou regiões.
Como exemplo contemporâneo desses fluxos, podemos lembrar o papel
preponderante desempenhado pelos imigrantes turcos na reconstrução da
Alemanha no período pós-guerra. Outro exemplo é o da Espanha, que se
constituiu por muito tempo como um país de emigração em decorrência da
pobreza, desemprego e de episódios como a Guerra Civil e a ditadura
franquista, que impulsionaram o exílio de espanhóis.
Posteriormente, a
partir do final dos anos 1990 até 2008, especialmente a partir da
criação da União Europeia, a Espanha se tornou um dos principais países
receptores de imigrantes no contexto europeu e internacional, passando a
abrigar populações de várias nacionalidades oriundas, dentre outros, da
América Latina, de países árabes, da Ásia e do próprio Leste Europeu,
atraídas especialmente pelas oportunidades econômicas e de trabalho em
setores como o da construção civil.
Com a crise econômica desencadeada em 2008 e que vem afetando, de
modo importante, os Estados Unidos e os países da Europa, a Espanha e
outras nações europeias, como Portugal e Grécia, voltaram a ser países
com significativa emigração ao mesmo tempo em que países da América do
Sul como Brasil e Argentina vão vivenciando um crescimento dos fluxos
migratórios oriundos da Europa, Estados Unidos e da América Latina.
Um dos fluxos migratórios recentes e que vêm se intensificando no
Brasil é o dos haitianos que começaram a chegar ao país após o terremoto
que atingiu o país em 2010. Dados do Ministério do Trabalho revelam
que, em 2012, cresceu em 3,5% os vistos de trabalho concedido a
estrangeiros no Brasil, números que não incluem imigrantes que não
dispõem de autorizações ou vistos de trabalho e aqueles que não
conseguiram a regularização jurídica no país.
Novo cenário
Nesse novo cenário de crise global, avalia Cogo, devemos levar em
conta o retorno significativo de imigrantes sul-americanos, dentre os
quais se situam brasileiros que compõem contingentes de imigrantes de
retorno de países como Portugal, Estados Unidos e Japão, contextos que
se transformaram nos principais destinos da migração brasileira no
exterior. Por conta desse crescimento da imigração para o Brasil e do
retorno de brasileiros, o governo, os movimentos migratórios e
organizações de apoio às migrações passaram a discutir a necessidade de
definição de políticas migratórias que atendam às necessidades de
inserção desses novos fluxos que chegam ao país uma vez que a imigração é
regida, ainda, pelo Estatuto do Estrangeiro criado na época da
ditadura.
Ela lembra, ainda, que fatores econômicos, tais como a busca de
trabalho e a fuga de situações de pobreza, são importantes
impulsionadores dos fluxos migratórios globais, o que ajuda a entender
porque esses fluxos têm se dirigido prioritariamente aos chamados países
e regiões de maior desenvolvimento como América do Norte e Europa
Ocidental, ou, ainda, o Oriente Médio e alguns países asiáticos como
Japão.
Por outro lado, a produção e circulação de informação, assim como a
confiabilidade atribuída a tais informações, é uma das dinâmicas
historicamente presentes na trajetória dos migrantes e as redes
migratórias transnacionais. As interações comunicacionais interpessoais
foram e são imprescindíveis para a circulação e intercâmbio dessas
informações no interior dos grupos de referência dos migrantes.
O pesquisador Oswaldo Truzzi observa que, nas migrações do final do
século XIX, os contatos pessoais assumiam maior importância do que as
informações não pessoais como fontes de informação para aqueles que
desejavam migrar. Segundo o autor, a pessoa ou família que pensava em
migrar tendia a confiar mais nas informações fornecidas, ao vivo ou por
carta, por um parente, vizinho ou amigo, por exemplo, que nos folhetos
de propaganda distribuídos por um agente recrutador, cujos lucros
dependiam apenas do número de indivíduos que conseguisse colocar a bordo
de um vapor.
Assim, analisa Cogo, nas últimas décadas, esse cenário se reconfigura
com a intensa presença e consumo das tecnologias da comunicação – como a
internet e o telefone celular –, que vêm colaborando para um
reordenamento territorial das experiências dos migrantes em âmbito local
e global e nas experiências do transnacionalismo migrante e das redes
migratórias.
Como assinala o pesquisador Alejandro Portes, embora existam, na
história das migrações, exemplos de transnacionalismo, o fenômeno
recebeu um forte impulso com o advento das tecnologias na área dos
transportes e das telecomunicações, que vieram facilitar enormemente a
comunicação rápida das fronteiras nacionais e a grandes distâncias.
Pesquisador do tema das migrações, Rogerio Haesbaert situa igualmente na
maior velocidade dos meios de transporte e no acesso às tecnologias da
comunicação os fatores primordiais que impulsionaram experiências de
multiterritorialização relacionadas preponderantemente aos movimentos
migratórios e, que, de certa forma reconfiguraram, ao longo do século
XX, a dinâmica socioespacial e geográfica contemporânea, possibilitando
aos migrantes a vivência concomitante de pertencimento a distintos
territórios.
Sociedade de consumo
“Sem dúvida, no contexto da sociedade de consumo, eu preferiria falar
de sociedade da informação, a facilidade de contato e interação,
através das tecnologias da comunicação, com um intenso e acelerado fluxo
de imagens, representações e imaginários sobre modos de vida de
diferentes culturas, sobre os cenários e conjunturas políticas e
econômicas de nações e regiões, fatores que podem motivar o desejo de
migrar, favorecer o conhecimento sobre possíveis lugares de migração,
contatar com migrantes e redes migratórias etc..” afirma ela.
Pesquisas acadêmicas e reflexões geradas no contexto de pastorais e
organizações de atendimento às migrações já começam a evidenciar que,
nos fluxos recentes de imigrantes haitianos para o Brasil, não se pode
desprezar a força de imagens do nosso país como “potência econômica”,
das oportunidades de trabalho possibilitadas pelos grandes eventos como a
Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos. Isso se evidencia em expectativas
expressas por imigrantes haitianos sobre o Brasil como destino
migratório, ainda que essas expectativas não se cumpram necessariamente.
Expectativas que podem estar relacionadas ao consumo das tecnologias
midiáticas por parte desses imigrantes que possibilitam interações com o
Brasil previamente à emigração, ou às interações cotidianas da
população haitiana com brasileiros integrantes da Missão das Nações
Unidas para a Estabilização no Haiti (Minustah).
“Evidentemente que isso não nos leva a desconsiderar outros fatores
que colaboram nesses processos migratórios como a necessidade de emigrar
desencadeada pela situação de precariedade vivenciada pelos haitianos,
agravada com o terremoto que assolou o país em 2010 ou, ainda, o contato
com redes migratórias de outros haitianos já estabelecidos no Brasil
assim como a ação das máfias de migrante que atuam para que essa
migração se concretize”
Portanto, explica Cogo, essa relação entre impulso à migração e
sociedade de consumo ou sociedade da informação não pode ser vista de
modo causal, uma vez que os migrantes, embora condicionados por
diferentes estruturas e fatores – econômicos, políticos, sociais e
culturais –, são também sujeitos de suas próprias histórias migratórias e
atuam, com o capital material e simbólico de que dispõem, de modo ativo
na constituição de seus próprios processos migratórios nos quais
concorrem a mediação ou não desses imaginários sobre os lugares de
emigração.
As motivações para migrar são frequentemente multifatoriais.
Múltiplas variáveis e com pesos distintos concorrem na decisão e
implementação dos processos migratórios. A questão da clandestinidade é
uma dessas variáveis que assume várias dimensões, derivando seja das
políticas e leis migratórias mais ou menos restritivas, seja da presença
de máfias que sustentam a migração clandestina, ou ainda do interesse
de empresários e governos em manter a mão de obra de menor custo de
imigrantes etc.
De fato, se, na análise das relações entre mídias e migrações,
adotarmos o entendimento proposto por Bakhtin da linguagem como matéria
social e dialógica, expressão simbólica ou representativa dos conceitos,
preconceitos e valores, que resulta senão da convivência e embates
coletivos entre os sujeitos situados social e historicamente, poderemos
entender que tanto as migrações (como experiência humana e fenômeno
social) quanto os meios de comunicação (como espaços simbólicos de
construção, visibilidade e circulação de ideias e imagens) não são fatos
dados, mas produtos da ação humana que se constituem na linguagem
através de espaços de interação verbal ocupadas por diferentes sujeitos.
As categorias e conceitos, como as próprias noções relacionadas com
as migrações, que resultam das disputas e relações de poder que envolvem
desses diferentes sujeitos ocupantes destes espaços de interação, não
são portanto apenas descritivos, mas também constitutivos e explicativos
da realidade social. Com base nesse entendimento, pesquisas acadêmicas
realizadas em diferentes contextos nacionais têm se ocupado, já há
alguns anos, em refletir sobre a crescente presença de representações
midiáticas criminalizadoras das migrações contemporâneas através da
frequente associação dos migrantes a “problemas, ameaças e conflitos”
ou, ainda, a “ilegalidade”.
Tais representações têm contribuído para fixar sentidos e compor um
tipo de memória sobre as migrações transnacionais que não favorece o
entendimento da alteridade migratória e nem colabora para as relações
interculturais e processos de cidadania das migrações. No caso do
Brasil, com o crescimento da imigração internacional para o país, mais
recentemente podemos observar também que a mídia vem atuando na
construção do conceito de “imigração qualificada” ou de “mão de obra
qualificada,” para fazer referência a imigrantes portadores de níveis
diferenciados de escolaridade e especialização profissional, assim como
de padrões de desenvolvimento econômico e social das nações das quais
procedem – especialmente as europeias -, os quais estariam preparados
para ocupar postos de trabalhos carentes de mão de obra no Brasil.
Na construção da noção de “imigração qualificada”, a mídia não deixa,
assim, de atualizar sentidos em torno dessa memória sobre um “ser
europeu” ou uma “europeidade” a partir da construção da qualificação da
nova imigração procedente da Europa em contraponto a não qualificação e,
às vezes, conflitividade em que aparecem enquadrados os imigrantes
oriundos de outros contextos, como América Latina e África, alguns dos
quais já presentes no Brasil anteriormente a esse novo fluxo migratório
europeu. Claro que, nesse processo, a mídia não está sozinha, mas outras
instituições, como as governamentais, desempenham um papel importante
nessa construção.
Disputas de hegemonia
Precisamos entender, insiste a pesquisadora, que essas tendências de
criminalização das migrações disputam hegemonia com outras narrativas
sobre as migrações que são construídas e circulam em diferentes
contextos.
Em primeiro lugar, porque o universo das mídias é homogêneo. Em
segundo lugar, porque no atual cenário da chamada sociedade em rede as
disputas narrativas sobre fenômenos e experiências sociais, tais como as
migrações, são favorecidas pelo próprio advento das mídias digitais
como internet e de suas características como a hipertextualidade, a
multimidialidade, a interatividade que possibilitam processos
transmidiáticos e transnarrativos que vão compor fluxos do que alguns
pesquisadores vêm chamando de “conversações públicas” em torno do tema
das migrações, contribuindo para pluralizar os imaginários e memórias
sobre as migrações contemporâneas e inserir, na agenda pública, demandas
relacionadas aos direitos humanos dos migrantes.
Nesse contexto, os próprios migrantes, suas redes, associações e as
organizações de apoio às migrações vêm fazendo amplo uso das mídias
digitais e impressas – seja produzindo meios de comunicação próprios e
se aproveitando de espaços como a das redes sociais, conforme pudemos
ver em nossa última pesquisa em que estudamos dez experiências de
produção midiática de imigrantes latino-americanos nas cidades de Porto
Alegre, São Paulo, Buenos Aires, Lisboa e Barcelona. Ao usar as mídias,
os imigrantes que pesquisamos buscam construir, organizar e dar
visibilidade pública às suas lutas por direitos humanos e cidadania em
âmbito local e global, exercitando o que denominamos de cidadania
comunicativa das migrações latino-americanas.
Com diferentes usos das mídias, os imigrantes promovem uma
articulação identitária da diáspora latino-americana dispersa pelo
mundo; atribuem visibilidade à diversidade que compõe a própria cultura
latino-americana; esforçam-se por constituir um campo discursivo
contra-hegemônico de construção midiática das migrações transnacionais
em contraposição à criminalização das migrações e usam essas mídias para
constituir estratégias de mobilização no campo das políticas
migratórias nacionais e supranacionais relacionadas às demandas por
cidadania universal das migrações, buscando a universalização dos
direitos sociais e políticos para além do pertencimento a territórios
nacionais.
Experiências
Outra experiência recente de apropriação da internet é o da Plataforma “No nos vamos nos echan”,
criada e mantida por jovens espanhóis e que vem se capilarizando por
vários espaços da internet como um esforço de articulação à diáspora
espanhola juvenil, dentro e fora do espaço da internet, em torno do
debate, denúncia e busca de alternativas acerca do que esses jovens
denominam de exílio forçado da juventude espanhola que decorre da crise
econômica vivida pela Espanha.
No último dia 9 de abril, o grupo convocou uma manifestação pública
em capitais de países para onde emigraram jovens espanhóis (Paris,
Bruxelas, Buenos Aires, etc.) utilizando redes sociais como Facebook,
Twitter, YouTube, etc. Em seu site o grupo disponibiliza um mapa
interativo onde os jovens imigrantes podem propor breves relatos sobre
sua condição de imigrantes e de precariedade juvenil através do
preenchimento de um formulário que inclui, dentre outros, dados como
nome, idade, em que país vive, situação laboral, profissão, história de
precariedade, condição de migração forçada, desejo de retorno, etc.
Interessante que aqui poderíamos falar de jovens que lutam pelo direito à
não migração ou pelo menos pela construção de um espaço de autonomia
juvenil que possibilite vivenciar a imigração como um desejo ou projeto.
“Na perspectiva de colaborar para o deslocamento da dimensão
criminalizadora que vem pautando a cobertura das migrações
contemporâneas e contribuir com subsídios para comunicadores e
jornalistas que atuam na cobertura da realidade das migrações
transnacionais em crescimento no Brasil, lançamos recentemente o Guia das migrações transnacionais e diversidade cultural para comunicadores
– migrantes no Brasil, que está disponível em versão online para
download gratuito e em versão impressa.
Este guia é produto de um
trabalho de mais de dois anos que buscou dar aplicabilidade para mais de
dez anos de pesquisas sobre o tema das mídias e migrações. Foi
elaborado em parceria com a jornalista e pesquisadora Maria Badet, que
reside em Barcelona e em colaboração com um grupo de investigadores de
universidades nacionais e internacionais, sendo editado pelo Instituto
de la Comunicación da Universidade Autônoma de Barcelona e pelo
Instituto Humanitas com o apoio do CNPq.
Abordando as dinâmicas de cidadania intercultural e sua relação à
questão migratória, Denise Cogo explica que é necessário fazer uma
diferenciação entre migração como experiência humana e o caráter social e
jurídico que vai assumir essa migração em uma etapa da nossa história. A
figura social e jurídica do imigrante-emigrante não existiu desde
sempre, mas se consolidou no contexto de criação dos Estados-nação e do
nacionalismo na América e na Europa no século XX, como uma categoria
definidora daquele que abandona um país para se estabelecer em outro e
que se torna alvo de vigilância e controle de Estados e governos.
No entanto, como experiência humana, as migrações não se desenrolaram
e nem se desenrolam limitadas a esse espaço “objetivo”, de caráter
institucional e soberano vinculado à ideia de nação, ou seja, as
migrações se constituem também por sua dimensão humana e subjetiva de
movimento e ação que implica a vivência de múltiplas territorialidades e
experiências simbólicas em torno das quais o ser cidadão, para os
imigrantes, não tem a ver unicamente com os direitos reconhecidos pelo
Estado ou com modos de pertença a uma nacionalidade, mas com práticas
sociais e culturais que vão sendo gestadas pelos próprios migrantes em
seus processos cotidianos de trânsito e/ou permanências em contextos
diferenciados que envolvem os lugares de origem com o de destino.
As dimensões jurídicas (relacionadas à obtenção de documentação para
permanência) assim como a dimensão material e econômica (relacionada a
trabalho, moradia, etc.) são fundamentais para a constituição dos
processos de cidadania dos migrantes, mas não esgotam o espectro das
subjetividades que compõe as experiências migratórias.
Teorias da cultura
Nessa perspectiva, no marco das teorias da cultura e do
multiculturalismo, a interculturalidade, destaca ela, é um conceito útil
para que nos indaguemos sobre a necessidade de os migrantes serem
reconhecidos como sujeitos de direitos sociais e culturais nas múltiplas
dimensões que compõem sua subjetividade, e não apenas econômica ou
jurídica.
Embora muitos governos e instituições tendam a enfatizar quase
que exclusivamente uma dimensão economicista das migrações quando, por
exemplo, restringem com leis a circulação de pessoas ou quando promovem a
chamada “migração qualificada”, os migrantes, suas redes e organizações
têm se empenhado em forjar espaços de diálogo que permitam a produção
de um “lugar” ou uma “ética” não assimilacionista que seja capaz de
fazer convergir dimensões culturais e identitárias universais e/ou
particulares relacionadas tanto aos contextos de origem quanto de
destino dos migrantes.
Podemos dizer, conclui a pesquisadora, que a cidadania intercultural
se evidencia no desejo e esforço dos migrantes de serem compreendidos
como Outro em sua cultura, de gestarem espaços para a expressão de sua
diversidade histórica e cultural na expectativa de que suas experiências
identitárias não sejam geradoras de desigualdades de situações e
oportunidades. A própria luta pela chamada cidadania universal tem
servido para evidenciar o quanto os migrantes são vistos como
pertencendo a outro governo e com lealdade a outra soberania.
(A partir da entrevista concedida por e-mail a IHU On-Line – 15/04/2013)
sábado, 27 de abril de 2013
Número de empresas em crise que pedem proteção da Justiça bate recorde
Entre janeiro e março, 247 companhias entraram com pedidos de recuperação judicial, o maior número desde que a nova Lei de Falências entrou em vigor
Leandro Modé, de O Estado de S. Paulo
SÃO PAULO - O número de pedidos de recuperação judicial
disparou no primeiro trimestre e levanta dúvidas sobre a velocidade de
retomada da economia brasileira em 2013. Segundo dados compilados pela
Serasa Experian, foram 247 pedidos entre janeiro e março, quantidade
recorde desde que a nova Lei de Falências entrou em vigor no País, em
meados de 2005.
"É um momento pior que o de 2009, quando as empresas brasileiras
sofreram os efeitos da crise internacional", disse o advogado Fernando
De Luizi, sócio de um dos maiores escritórios do Brasil nessa área. "Nós
entramos com 27 pedidos até hoje (ontem), mais que o dobro se
compararmos com o mesmo período do ano passado."
A recuperação é um expediente ao qual uma empresa recorre quando sua
situação financeira chegou a um limite crítico. Caso seja deferida pela
Justiça, significa, entre outras coisas, que a companhia em questão tem
suspensas suas obrigações vencidas ou a vencer até a aprovação de um
plano de recuperação por parte de seus credores.
De Luizi e outros especialistas que acompanham o drama dessas
empresas explicam quais as principais razões por trás dos pedidos: baixa
demanda no mercado interno; dificuldade para tomar crédito nos bancos;
fraqueza dos clientes internacionais, no caso de exportadores; e
inflação alta, que aumenta os custos.
"Percebemos que os problemas enfrentados pelas empresas brasileiras
no ano passado persistem, na contramão das expectativas", afirmou Carlos
Henrique de Almeida, economista da Serasa Experian.
Ele faz a ressalva de que, em 2012, o principal fator que afetou a
saúde financeira das empresas foi a alta da inadimplência. Neste ano,
observa, esse item pesa menos, pois os indicadores vêm apontando melhora
nos calotes (como ontem mesmo mostraram dados divulgados pelo Banco
Central).
No entanto, um banqueiro consultado pelo Estado relativiza essa
melhora. "Na realidade, a inadimplência só vem caindo, e, mesmo assim,
lentamente, porque os bancos estão sendo muito mais cautelosos na
concessão de empréstimos", disse, confirmando, portanto, a maior
seletividade das instituições financeiras.
Segundo esse profissional, que dirige um dos maiores bancos do País, o
cenário para as pequenas e médias empresas, em especial, é preocupante.
"É triste, mas estamos assistindo a um filme muito parecido ao de
2012", afirmou. "Estou certo de que vamos crescer mais do que o 0,9% do
ano passado, mas não acredito que a alta do PIB chegue a 3%. Está mais
para 2,5%."
De Luizi relatou à reportagem um exemplo real de maior seletividade
no crédito. "O problema não é o custo, que realmente diminuiu, mas a
exigência de garantias. Hoje, uma empresa consegue levantar entre R$ 20
milhões e R$ 25 milhões ao oferecer como garantia um imóvel de R$ 40
milhões. Há alguns anos, ela conseguia obter R$ 35 milhões", comentou.
A Boa Vista, que administra o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC),
nota que tanto o número de pedidos de recuperação judicial quanto de
falências continuam elevados. "Mas nossa expectativa é de melhora ao
longo do ano", disse o economista Flávio Calife.
sexta-feira, 26 de abril de 2013
Citi corta recomendação da Embraer para venda
Por Daniela Meibak
SÃO PAULO -
O Citi Research cortou a recomendação da fabricante de aeronaves
Embraer de neutra para venda e manteve o preço-alvo dos ADRs da
companhia em US$ 30, valor que é 12,7% inferior ao fechamento de ontem,
de US$ 34,37. As ações da companhia recuam hoje 3,91%, a R$ 16,24, na
BM&FBovespa.
O corte reflete a expectativa da casa de análise de um trimestre mais
fraco neste começo de ano, com menores entregas de jatos e do Phenom,
levando a uma pequena revisão nas estimativas dos ganhos da empresa.
Segundo o relatório, a Embraer é negociada por um múltiplo do valor
da empresa pela carteira de pedidos (EV/backlog) de 0,5 vez, enquanto a
média do setor é de 0,2 vez. A situação persiste apesar de a companhia
ser a única com declínio grande em sua carteira de pedidos por vários
anos e ter apontado menores entregas de aeronaves comerciais em 2013,
segundo a equipe do Citi.
Enquanto aeronaves comerciais proporcionam oportunidades de
negociação no curto prazo, a geração de margem e receita pode desapontar
com o declínio na qualidade da carteira de pedidos, para os analistas
Stephen Trent, Raian Santos e Juliano Navarro.
Outro ponto destacado pelo Citi é que apesar de a Embraer ser uma
“campeã nacional”, isso não significa que o governo brasileiro vai
priorizar a compra de produtos da companhia em detrimento de gastos com
estradas, ferrovias, portos, aeroportos, estádios de futebol e jatos
estrangeiros, além da crescente variedade de cortes de impostos em
diversos setores.
“Acreditamos que o Brasil está muito propenso a encomendar um grande
KC-390, avião militar de transporte, nos próximos trimestres, mas os
gastos com os itens citados podem aumentar o tempo que a Embraer terá
que esperar para reverter isso em receita.”
(Daniela Meibak)
Setor de serviços lidera atração de investimento
Por Rodrigo Pedroso e Arícia Martins | De São Paulo
No primeiro trimestre
deste ano o Brasil recebeu menos investimento direto estrangeiro do que
em igual período do ano passado. E os recursos externos que entraram no
país para projetos produtivos nos diferentes setores da economia
preferiram o segmento de serviços. De acordo com os dados do Banco
Central, o setor recebeu, somadas as duas modalidades - participação no
capital e investimento intercompanhias - de ingresso de recursos, 45% do
total, enquanto a indústria absorveu 35%, e a agricultura e o setor
extrativista, incluindo petróleo, ficaram com o restante.
No mesmo
período do ano passado, a indústria ficou com 46,4% do total, e
serviços, 29%. Os dados consideram o ingresso de recursos, sem descontar
as saídas.
A troca da indústria pelo setor de serviços, na visão de analistas, indica onde o setor externo está vendo maior rentabilidade.
O investimento ligado à participação no capital caiu 31% no primeiro trimestre, ao atingir US$ 8,7 bilhões. Depois de os estrangeiros investirem US$ 6,5 bilhões no país nos três primeiros meses de 2012, o total para a indústria neste ano encolheu para US$ 2,8 bilhões. O resultado se deve ao menor interesse pela área de insumos mais básicos da indústria.
Metalurgia, que havia recebido quase a metade do total no ano
passado, registrou 77% a menos de investimento do exterior. Recuos
significativos foram observados em produtos alimentícios (40,3%),
químicos (67%) e farmacêuticos (93%), sempre considerando participação
no capital.
O setor de serviços registrou aumento de peso em investimentos no
comércio e nas telecomunicações, conseguindo manter os US$ 4 bilhões do
ano passado. Nenhuma das duas áreas estava na lista de desoneração da
folha de pagamento para o setor anunciada pelo governo no início do mês.
Para Andrea Bastos Damico, economista do Bradesco, os segmentos de
serviços ligados às concessões podem ser promissores para o investimento
estrangeiro direto a partir de 2014, mas, neste ano, sua contribuição
será incipiente, devido aos atrasos nos processos de leilões.
A agricultura e o setor extrativista mineral receberam um pouco menos
de investimento (US$ 1,8 bilhão), mas, em função da queda total,
aumentaram sua participação para 20,5%. Petróleo e gás foram
responsáveis por 75% do investimento no setor.
Julio Gomes de Almeida, ex-secretário de Política Econômica do
Ministério da Fazenda, diz que a redução de investimento na indústria
ocorre principalmente em áreas onde a produção enfrenta substancial
competição externa e os produtos contêm menor valor agregado. "Aos olhos
do capital estrangeiro, a economia brasileira não foi muito atrativa
neste primeiro trimestre. O que se perdeu na indústria, se manteve em
serviços, o que é muito revelador para onde pode estar indo a economia,
já que esse tipo de investimento é de longo prazo e sempre olha a
situação futura esperada."
Os resultados do investimento intercompanhias diferem em relação à
participação da indústria, mas seguem com aumento de espaço por parte de
serviços. Os empréstimos totais de matrizes estrangeiras para filiais
no Brasil cresceram 22% no primeiro trimestre e somaram US$ 7,2 bilhões.
Apesar do incremento, as divisas enviadas às filiais ligadas à
agricultura e ao setor extrativista mineral caíram pela metade (US$ 1,2
bilhão). As remessas destinadas a empresas que atuam em serviços mais
que duplicaram, para US$ 3,3 bilhões. Só no comércio, o montante
triplicou, para US$ 901 milhões. Também em telecomunicações, muito em
função dos investimentos ligados à tecnologia 4G, o montante saltou de
US$ 18 milhões para US$ 703 milhões. Saúde teve progressão similar (de
US$ 3 milhões para US$ 648 milhões), sempre considerando o investimento
intercompanhias. Esse aumento tem a ver com a compra da Amil pelo grupo
United Health.
As indústrias estrangeiras já instaladas em território brasileiro
aumentaram em 5,2 pontos percentuais a participação no total de
investimentos, que somaram US$ 2,7 bilhões. Químicos, veículos e
celulose e papel mais que duplicaram o recebimento de investimentos.
Segundo Andrea, do Bradesco, o maior ingresso via empréstimos
intercompanhias no setor automotivo pode ser um primeiro indício de que o
novo regime do governo, o Inovar-Auto, está de fato surtindo efeito.
Ela nota que a participação de veículos nessa modalidade de investimento
foi de 1,6% na média dos últimos três anos e, neste primeiro trimestre,
saltou para 6,9%. "É preciso que essa participação elevada se mantenha
para confirmarmos essa hipótese", disse.
O investimento intercompanhias é mais volátil, pois tem um prazo
menor de maturação e pode ser retirado com maior facilidade pelo
investidor, de acordo com Luís Afonso Lima, presidente da Sociedade
Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização
Econômica (Sobeet).
Para ele, o fato de esse tipo de investimento crescer e o de
participação no capital cair "não é um bom sinal". O aumento de espaço
de serviços com diminuição da indústria revela "que o país está deixando
cada vez mais de ter uma percepção positiva como plataforma de
exportação, para ser mais visto como um mercado de consumo de bens e
serviços", diz Lima.
BC 'corrige' ata e dá sinais de maior aperto monetário
Por Cristiano Romero e José de Castro | De São Paulo
Poucas
horas após divulgar a ata da reunião do Comitê de Política Monetária
indicando "cautela" no novo ciclo de alta dos juros, o Banco Central
sinalizou que pode intensificar o aperto monetário iniciado na semana
passada, quando elevou a taxa básica de juros (Selic) de 7,25% para 7,5%
ao ano. Em evento em São Paulo, o diretor de Política Econômica do BC,
Carlos Hamilton de Araújo, subiu o tom da preocupação com a alta dos
preços. "Cresce em mim a convicção de que o Copom poderá ser instado a
refletir sobre a possibilidade de intensificar o uso do instrumento de
política monetária [a taxa Selic]", disse, em conferência promovida pelo
Itaú BBA.
O discurso surpreendeu o mercado porque a ata do Copom trouxe um tom moderado. Após sua divulgação, as taxas de juros no mercado futuro chegaram a cair. Depois do discurso de Hamilton, fecharam em alta.
Fontes graduadas do governo informaram ao Valor PRO, serviço de notícias em tempo real do Valor,
que Hamilton falou em nome de toda a diretoria do Banco Central. A
apresentação feita na conferência de ontem foi preparada a quatro mãos
com o presidente da instituição, Alexandre Tombini.
Tombini teria opinado também na confecção das apresentações feitas em Washington pelo diretor de Assuntos Internacionais do BC, Luiz Awazu Pereira, durante eventos paralelos à reunião de primavera do Fundo Monetário Internacional. Nos casos dos dois diretores, os recados foram claros: o Brasil vive um problema de pressão de demanda, que está tornando a inflação difusa e persistentemente elevada, e o remédio para controlá-la é o aumento da taxa Selic.
Hamilton disse que o crescimento potencial do país está bem próximo da projeção que o BC fez para este ano - expansão de 3,1%. Pela primeira vez surge uma reestimativa oficial do PIB potencial, que ficou bem menor. Caso a demanda cresça "sistematicamente muito acima" de 3,1% ao ano, disse ele, haverá pressões inflacionárias.
O mercado retomou o cenário de um possível aumento de 0,5 ponto percentual na taxa Selic na próxima reunião do Copom, nos dias 28 e 29 de maio. Agora, ressurgem apostas, ainda minoritárias, não só de maior elevação na taxa de juros, mas também de um ciclo mais intenso de aperto monetário.
O discurso surpreendeu o mercado porque a ata do Copom trouxe um tom moderado. Após sua divulgação, as taxas de juros no mercado futuro chegaram a cair. Depois do discurso de Hamilton, fecharam em alta.
Tombini teria opinado também na confecção das apresentações feitas em Washington pelo diretor de Assuntos Internacionais do BC, Luiz Awazu Pereira, durante eventos paralelos à reunião de primavera do Fundo Monetário Internacional. Nos casos dos dois diretores, os recados foram claros: o Brasil vive um problema de pressão de demanda, que está tornando a inflação difusa e persistentemente elevada, e o remédio para controlá-la é o aumento da taxa Selic.
Hamilton disse que o crescimento potencial do país está bem próximo da projeção que o BC fez para este ano - expansão de 3,1%. Pela primeira vez surge uma reestimativa oficial do PIB potencial, que ficou bem menor. Caso a demanda cresça "sistematicamente muito acima" de 3,1% ao ano, disse ele, haverá pressões inflacionárias.
O mercado retomou o cenário de um possível aumento de 0,5 ponto percentual na taxa Selic na próxima reunião do Copom, nos dias 28 e 29 de maio. Agora, ressurgem apostas, ainda minoritárias, não só de maior elevação na taxa de juros, mas também de um ciclo mais intenso de aperto monetário.
Dura 7 horas reunião de Dilma e Cristina sobre agenda econômica bilateral
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