segunda-feira, 29 de abril de 2013

Dilma a Cristina: não a barreiras comerciais


Por Sergio Leo
 
 
O governo brasileiro decidiu fazer um "acompanhamento interessado" das discussões da Vale com o governo argentino, como resultado da reunião, na quinta-feira, entre as presidentes Dilma Rousseff e Cristina Kirchner.

Como ficou evidente pela nada informativa entrevista das duas ao fim do encontro, ambas estão decididas a mostrar união e apoio mútuo - especialmente apoio do Brasil à Argentina, que, sob pressão de credores e forte especulação no mercado de câmbio do país, se arrisca a se tornar um pária no mercado financeiro internacional. Em síntese, busca-se uma saída honrosa, que garanta uma transição tranquila na saída da Vale no país, sem risco de confisco de seus ativos e sem abruptas demissões em massa.

Na sexta-feira, a Vale anunciou um acordo para garantir pagamento parcial por cinco meses e dispensar gradualmente funcionários ocupados no projeto Rio Colorado, de exploração de potássio, onde já enterrou cerca de US$ 2 bilhões, mas não vê como manter a previsão de investimentos, que chega a US$ 11 bilhões. Ela tem direito, porém, de manter por algum tempo a concessão das minas. Os argentinos chegaram a mostrar a Dilma uma proposta para redimensionar o projeto e baratear sua execução.

Vale: Dilma fará "acompanhamento interessado"

A declaração de que a Vale iria mesmo sair do país, feita no mesmo dia da visita, pelo presidente da empresa, Murilo Ferreira, chegou a irritar o governo, que viu, no anúncio do executivo, um ruído desnecessário em meio aos esforços de Dilma por garantias do governo argentino contra retaliações à companhia.

As conversas entre Dilma e Cristina foram muito além da questão da Vale, porém, e serviram, principalmente, para abrir espaço político a duras negociações técnicas, previstas para os próximos dias.
No topo das discussões, para o governo brasileiro, estiveram as barreiras ao comércio bilateral, especialmente a Djai, a Declaração Juramentada Antecipada de Importação, usada pelas autoridades argentinas para controlar a entrada de produtos importados no país, e responsável pela queda nas vendas de manufaturados brasileiros no mercado vizinho. 

Evitando o tom de confronto, Dilma disse à presidente argentina que a manutenção da Djai contamina a relação bilateral e dificulta os esforços do governo para mostrar sintonia na dupla Brasil-Argentina. Cristina teria autorizado seus auxiliares a buscar uma solução.

Em resumo, a visita serviu para os brasileiros deixarem claro que o relacionamento entre os dois países tem um trilho único, que não pode ser dividido em três vias diferentes, uma para o investimento, uma para o comércio e outra para financiamento. O governo Dilma está disposto a estimular a ida de empresas brasileiras à Argentina, inclusive com facilidades de financiamento; e apoiará os argentinos em suas dificuldades no mercado internacional; mas a boa vontade está intimamente ligada ao que se passar no comércio. Não haverá mudanças no regime automotivo, por exemplo, se, informalmente, o secretário de Comércio Interno, Guillermo Moreno, forçar montadoras a exportar US$ 1 para cada US$ 1 importado do Brasil.

No encontro dos técnicos, houve decisões positivas, que não foram anunciadas pelas presidentes, talvez porque chamariam atenção para obstáculos exóticos no suposto livre comércio entre os dois países: os brasileiros aceitaram levantar parcialmente as barreiras ao lagostim argentino (na verdade, camarões, grandes como não há no Brasil), com uma cota de até 20 mil toneladas, que começará com 5 mil, neste ano; os argentinos aceitaram dar uma cota de 2 mil toneladas mensais de importação para a carne suína brasileira. Está adiantada, ainda, a discussão para liberar a entrada, no Brasil, de limões produzidos em Tucumã, na Argentina.

Dilma teve duas horas de reunião com Cristina, a sós, e uma tarde de reunião com ministros de lado a lado, seguida da entrevista e de um jantar de trabalho. Na próxima semana, equipes dos dois países, chefiadas pelo ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, e pelo ministro do Planejamento argentino, Julio de Vido, devem voltar a se encontrar, em Montevidéu, às margens de uma reunião do Mercosul, para aparar arestas restantes.

Uma coincidência didática se seguiu ao encontro das presidentes: na sexta-feira, o mercado paralelo ("blue", como o chamam os argentinos) levou as cotações da moeda americana a uma alta recorde, para 9,37 pesos por dólar. Um indicativo dos temores de desvalorização na Argentina e de fuga para a moeda forte, velho hábito no país vizinho.

Não passou despercebida pelas agências de notícias a autorização de Cristina Kirchner, no começo do mês, para depósito de US$ 400 milhões do governo no Fundo Monetário Internacional (FMI), aumentando, assim, o acesso do país a socorro financeiro de emergência. O FMI, como se sabe, é demonizado pelo governo argentino, que o culpa, não sem razão, pela crise econômica argentina, no começo dos anos 2000.

A Argentina já foi um "país normal", elogiado pelos analistas de mercado e apontado como exemplo, pela sua fidelidade ao modelo ortodoxo; a adesão acrítica aos ditames do mercado empurrou o país ao fim do atrelamento do peso ao dólar e ao calote da dívida, e, hoje, serve de justificativa, na retórica oficial, até para barbaridades na gestão econômica, como o desesperado recurso ao controle de preços, na base de ameaças às empresas.

Mas o temor argentino de perder investimentos para a força gravitacional do mercado brasileiro tem grande fundamento, como demonstrou, na quarta-feira, a gigante do agronegócio El Tejar, ao anunciar a decisão de mover sua sede de Buenos Aires para São Paulo. Difícil imaginar que o governo Kirchner assistirá impassível a essa migração de negócios para o vizinho maior. As trocas de sorrisos e abraços entre Dilma e Cristina podem ser o começo de negociações para lidar com esse dilema. Ou revelar a incapacidade de harmonizar os interesses dos dois maiores sócios do Mercosul.
 
Sergio Leo é repórter especial e escreve às segundas-feiras
E-mail: sergio.leo@valor.com.br

Dosagem mais sutil


Por Angela Klinke
Claudio Belli/Valor / Claudio Belli/Valor 
Natalie Klein, criadora da NKStore: "O amadurecimento do mercado vai ajudar a criar consumidoras mais críticas"
 
Um amigo cunhou o termo e a paulistana Natalie Klein se identificou. O estilo que concebeu para sua multimarcas NKstore pode ser definido como "pós-chic". E o que significa? " É a sutileza, um comportamento mais recolhido. A peça tem de possibilitar um prazer pessoal. Ela não é um instrumento para você escancarar sua vida."

A estilista americana Tory Burch integra esta frente que busca outro sentido para o luxo. "Fazemos parte do mercado, mas num caminho diferente. O design é bonito e bem feito, mas o preço não é o determinante. Somos sofisticados, mas acessíveis." Diane Von Furstenberg, referência internacional de moda, se define como uma marca de luxo contemporânea que as mulheres compram para fazê-las sentir "como a melhor versão si mesmas."

Autogratificação, emoção, acesso, praticidade, confiança. Estas três empreendedoras do luxo que atendem o público feminino de moda estão menos interessadas no status que a exclusividade de suas peças oferecem, e mais em como se "conectar com as mulheres." Tory Burch lançou sua grife há nove anos; Natalie abriu sua loja há 16 e Diane criou o icônico "wrap dress" em 1973. Cada uma viveu momentos diferentes do mercado, mas todas afirmam que "cresceram com a marca".

Para Natalie, isso se reflete no aprimoramento de suas criações e na seleção de itens internacionais para que a moda não seja descartável. "Ninguém pode jogar o guarda-roupa fora a cada estação. Isso faz com que a moda perca a credibilidade. Trabalho com uma cartela de cores, por exemplo, que permite que as peças sejam combinadas em coleções mais antigas e mais recentes."

A equação para que cada temporada seja "comercial e conceitual" é ter em torno de 20% das tais "tendências". Mas, quando visita o showroom das marcas internacionais, Natalie não aceita o prato feito. "A partir do que as mulheres compram lá fora, essas empresas têm um estereótipo da brasileira na cabeça. Fujo disso. O grande desafio da NK é oferecer o que a cliente nunca imaginou ter." Em suas duas lojas, uma em São Paulo e outra no Rio, trabalha as marcas próprias NK e Talie - que representam 70% do faturamento - e outras 26 grifes internacionais. O e-commerce é só 0,5 % do resultado e "o ideal é que chegue a 3%."

Além disso, ela tem franquias das marcas Marc Jacobs e Marc by Marc, com lojas no shopping Iguatemi, em São Paulo. Tem crescido nos últimos anos entre 18 % e 22%, mas sentiu uma freada em 2012, não superando os 16%. "É um reflexo da operação direta das marcas de luxo e da chegada de novas grifes. Mas este é um momento de deslumbramento com as novidades. O amadurecimento do mercado vai ajudar a criar consumidoras mais críticas."

Como trabalha com uma franquia internacional "engessada" - "você precisa ter uma grade em profundidade, ou seja, é obrigada a comprar todas as cores de um determinado modelo e não dá para investir na peça diferente" -, Natalie sabe que as mulheres têm "mais chance de ousar na NKstore" do que numa monomarca. Tem investido em etiquetas diferentes e novos criadores para atender a consumidora informada que sabe dosar "mainstream" e peças "nichadas". "O modelo multimarcas é o mais viável. Por isso que, no médio prazo, acho que faz sentido levar a NK para Nova York, por exemplo."

Diane Von Furstenberg: luxo para fazer as consumidoras se sentirem como a "melhor versão de si mesmas"
 
Enquanto Natalie sonha em ir, Tory e Diane estão "satisfeitas" por ter vindo. A primeira abriu três lojas em São Paulo e uma no Rio no ano passado. A próxima será em Curitiba. "O Brasil é um mercado de luxo incrivelmente importante. Temos a coleção completa aqui, mas, além disso, desenvolvemos produtos específicos para o mercado, como biquínis e maiôs com corte brasileiro", diz Tory. Diane tem duas unidades em São Paulo e garante que "novas virão" para o país. A estilista belgo-americana, que tem uma longa relação com o Brasil e até já desenhou uma coleção de joias para a H.Stern, acredita que sua marca "tem total sintonia com as brasileiras". "Elas amam seus corpos e adoram cores. Não têm medo de impressionar e é isso é tão DVF!"

Mesmo com expectativas positivas para o mercado de luxo, em especial nos mercados emergentes, Tory tem pautado seu crescimento com "paciência e moderação". Foi assim que sua empresa foi avaliada em US$ 3 bilhões, depois de uma recente abertura de capital. Presente em 50 países, ela planeja novas lojas e a regionalização do e-commerce. Vai apostar em novas categorias como perfumaria, e lança neste ano sua fragrância em parceria com a Estée Lauder.

Com faturamento de US$ 500 milhões e 58 lojas, Diane quer fortalecer sua presença no varejo, expandir em novas categorias (como artigos para casa e perfumaria) e ampliar sua operação de e-commerce. Como percebeu que sua marca é "maior que o próprio negócio", trouxe o executivo Joel Horowitz (da Tommy Hilfiger) para "organizar o crescimento". "Este momento é muito excitante. Estamos procurando maneiras de inovar no on-line e vamos crescer nosso e-commerce nos Estados Unidos e no mundo. As formas com que as mulheres compram e se envolvem com as marcas estão evoluindo."

Este momento de transformação do mercado não se restringe ao Hemisfério Norte ou ao eixo Rio-São Paulo. No Recife, a multimarcas Dona Santa prepara sua expansão dos atuais 1,8 mil metros quadrados para a nova sede de 5 mil metros quadrados turbinada pelo crescimento das vendas no Nordeste, mas também pelo interesse de uma classe abonada na região Norte do país. O crescimento da estrutura física está sendo feito em paralelo à estruturação da operação de e-commerce. A Dona Santa tem hoje sete mil clientes ativos no mailing e um tíquete médio de R$ 3 mil.

A convivência com consumidores em patamares diferentes de conhecimento das grifes, exige de Juliana Santos - atual comandante do negócio fundado por sua mãe Lilia em 1995 - ser capaz de agradar ao mesmo tempo os novos ricos, a aristocracia e as consumidoras viajadas e superconectadas. Ela precisa ter um mix com marcas nacionais de prestígio, grifes de luxo internacionais consagradas e descobrir etiquetas de novos talentos como a franco-alemã Augustin Teboul e a libanesa Maison Rabih Kayrouz. "Meus clientes querem exclusividade. E isso pode ser conseguido com uma peça única, uma marca nova ou uma combinação inusitada. Mas o luxo começa na loja, no atendimento, na consultoria que a vendedora é treinada para oferecer. A consumidora brasileira de luxo precisa sentir este envolvimento", diz Juliana.

O mesmo vale para o mercado de beleza. A francesa Guerlain, que tinha uma distribuidora aqui, passou a operar a marca diretamente no país há três meses. A primeira providência da diretora, Perrine Provost, foi rever os 150 pontos de venda. Agora a consumidora só encontra os perfumes, itens de maquiagem e cosméticos da grife na Sephora. Em compensação, uma loja própria já está sendo cogitada no Brasil - hoje são 90 no mundo. "O alto luxo tem de ser trabalhado com muito cuidado. O atendimento define a venda e os consumidores brasileiros ainda não sabem o que é uma experiência Guerlain. E é isso que vamos fazer daqui para frente."

A missão de Perrine é fazer com que a Guerlain seja reconhecida no Brasil, assim como é em outro países, como " a mais luxuosa e exclusiva marca de beleza do mundo". Para isso, oferece o acesso ao clube vip da marca para quem comprar seus produtos com preço médio de R$ 200, mas com itens que superam os mil reais. Entre as vantagens, está um agendamento privilegiado no spa da grife em Paris. "A brasileira busca um sentido para sua compra. Não basta só ser uma grife. É preciso ser legítima", diz Perrine.

Mulheres poderosas


Por Angela Klinke
Claudio Belli/ValorDaniela Malouf, da Qualibest: rede fechada de pesquisa para desvendar a consumidora AAA
 
Elas trabalham e sabem valorizar o que é excepcionalmente ótimo. A imagem recorrente das madames acomodadas em "chaises" aguardando o marido chegar com presentes caros gradativamente perde espaço para um novo perfil de consumidora de luxo, a "power woman".

A definição foi feita pela consultoria Bain & Co, que todo ano realiza uma pesquisa global sobre o setor em parceria com a associação italiana Altagamma. "Da China para os demais emergentes, elas têm o poder da decisão de compra. São mais experientes e exigentes que as demais compradoras de luxo em todas as categorias passando por roupas, joias, relógios e até carros", diz Cláudia D'Arpizio, que coordena o estudo da consultoria.

Essa configuração também foi detectada pela Qualibest na La Clé, sua rede fechada de pesquisa com consumidoras AAA que gastam em média R$ 3,5 mil todo mês em itens pessoais. "Grande parte das participantes dos nossos levantamentos (47%) exerce uma função remunerada, com uma carga média de sete horas por dia. Em geral são advogadas, arquitetas, consultoras e empresárias", conta Daniela Chammas Malouf, sócia-diretora da Qualibest e criadora da La Clé.

As mulheres têm sido as grandes responsáveis pelo crescimento do mercado de produtos pessoais de luxo, que até recentemente era dominado por itens femininos de moda. Mas os homens estão cada vez mais ativos e interessados no universo fashion e cuidados pessoais, de tal forma que estão na frente em gastos nos países em desenvolvimento. Globalmente, elas são responsáveis hoje por "pouco menos de 60%, o equivalente a 119 bilhões de euros", diz Cláudia D'Arpizio. Mas o Brasil é uma exceção a esse fenômeno. "As mulheres respondem por 75% dos gastos do total do mercado brasileiro de 2,7 bilhões de euros em 2012", completa.

Com um poder tão absoluto sobre o luxo no país, essas consumidoras precisam constantemente ser investigadas. Não só sobre o que querem, mas em que segmentos podem influenciar. Nos levantamentos da La Clé, por exemplo, as mulheres revelaram que reinam nos guarda-roupas masculinos. "Elas dizem que os maridos e namorados só seguem as tendências e se interessam por grifes porque elas compram", conta Daniela.
Luis Ushirobira/ValorKika Rivetti, da Longchamp: atenção às preferências locais de consumidoras cada vez mais informadas
 
Na área da beleza, elas não só compram como esticam o mercado. Elas colocam nas sacolas sete subcategorias de cabelo e 15 só em tratamento para o rosto. Fora as vitaminas e complementos alimentares.

A empresária Cristiana Arcangeli, que começou no setor importando produtos top de beleza, tem clareza desta compartimentalização do mercado. "Nos últimos cinco anos, as mulheres estão mais conhecedoras e críticas. Quando eu trazia as marcas lá atrás, as consumidoras de luxo só diferenciavam se era importado ou nacional. Hoje, buscam o que melhor combina com seu estilo de vida."

Em 2010, ela lançou no mercado a Beauty In, uma nova categoria de produto que chama de "alimético" (alimento + cosmético). "Com uma distribuição seletiva, o conceito foi rapidamente absorvido pelas classes A e B. Agora vamos levá-lo aos supermercados e facilitar o acesso para as consumidoras." A marca também prepara sua expansão internacional.

As brasileiras são famosas gastadoras com beleza em todas as classes sociais. No mercado de luxo, sua sede de compras é ainda mais expressiva. Pelo levantamento da Bain & Co, os gastos com perfumes e cosméticos respondem por 60% do mercado de luxo no país.

Mas esse interesse está migrando para o, digamos, status. Esta é uma das razões que fizeram com que as grifes internacionais olhassem o Brasil com mais seriedade e fincassem suas bandeiras por aqui. "Essas marcas estão fazendo tudo para impulsionar o crescimento de vestuário e acessórios no Brasil. E este esforço já está dando resultado em especial em famílias com duas rendas e sem filhos", diz Cláudia.

Para atender a brasileira localmente, as empresas têm feito um mix regionalizado. Apostam aqui em itens coloridos e fáceis de usar, que mais se identificam com o "jeito de ser da terra", porque a consumidora tende a comprar os produtos com design europeu e americano nos países de origem, ou seja, quando viajam. " De uma forma geral, o design monocultural está sumindo do mercado de luxo", diz Cláudia.
Claudio Belli/ValorA empresária Cristina Arcangeli
 
Há particularidades, evidentemente. A marca francesa Longchamp se tornou conhecida por suas bolsas de nylon e pela versatilidade de suas peças. Nos últimos anos, contudo, tem buscado um posicionamento mais "high end".

 A parceria com a modelo Kate Moss foi fundamental para o rejuvenescimento da marca e sua entrada na categoria de "luxo acessível". Pois bem, as consumidoras brasileiras que entram em suas lojas hoje têm motivação bem diferente das demais compradoras da marca. "Aqui elas preferem as peças de couro porque querem coisas boas. Mas enquanto na Europa essa bolsa serve tanto no trabalho quanto para sair, aqui ela ainda quer ter peças diferentes para as duas ocasiões", diz Kika Rivetti, coordenadora de marketing da Longchamp no Brasil.

Como uma nação de novos ricos, é natural que as consumidoras estejam em vários estágios de relacionamento com as grifes. As dominantes neste momento, acredita Dimitri Mussard, sócio da Acaju do Brasil, são as ávidas por símbolos de pertencimento.

"A mulher da classe AAA do Brasil está, como em outros países emergentes, caracterizada por um comportamento irracional de compra. Está mais interessada em grifes e logos que as europeias", diz ele, que na sua empresa busca reunir marcas sofisticadas "com qualidade e design". Para Mussard, o termo "luxo" já ganhou um sentido pejorativo. Suas clientes, portanto, são uma categoria de "consumidora nova que valoriza o produto pelo design".

Há brasileiras que já passaram da fase do deslumbramento e, assim como as representantes de fino trato da "velha Europa", estão mais focadas na qualidade e no valor duradouro do luxo. "As mulheres tendem a preferir produtos mais caros que possam ser usados em várias ocasiões e por muitas estações. E compram as tendências nas varejistas de moda. Este comportamento é observado em todas as mulheres, mas ele é mais acentuado entre as consumidoras de luxo", diz Cláudia, da Bain & Co.

Em uma das pesquisas feitas com as integrantes da rede La Clé, a tendência hi-lo aparece bem acentuada. "Elas dizem que hoje não sentem tanto a falta de novas marcas de luxo no mercado. Acreditam que as principais já estão aqui. Mas destacam que queriam ter mais opções de marcas bacanas e com bom preço, como H&M e Banana Republic ", diz Daniela. Interessante também é que, apesar de aprovarem as coleções assinadas por estilistas consagrados para as grandes varejistas, elas temem pela linha tênue entre acesso e popularização.
Silvia Costanti/ValorCarolina Perez, organizadora da Travel Week: "Mulheres que têm tudo buscam novas emoções"
 
O ritual de compra na loja é fundamental para esta consumidora brasileira. Vendedora atenciosa, mas não invasiva ou petulante. Mas ela não rejeita novos canais para ter seu item preferido. Entre as pesquisadas da La Clé, 57% já compraram roupas pela internet e 30% já fizeram isso mais de dez vezes. E 62% não teriam restrição a adquirir uma bolsa num e-commerce. No mundo, apenas 4% das compras de luxo são feitas on-line, apesar de o percentual estar crescendo num ritmo de 25% a cada ano.

A moda é segmento mais exuberante entre as mulheres de fino trato. Mas há outras categorias em que elas se destacam. Viagens, por exemplo. E, é bom que se diga, não só as expedições de compras. " São elas que definem as férias da família e a opção romântica para o casal", diz Carolina Perez, organizadora da feira de turismo de luxo Travel Week. Recentemente, um outro modelo tem prosperado bastante entre as moçoilas, as "férias de maridos". "Estas mulheres já têm todas as bolsas, duas casas de lazer e tudo o que o dinheiro pode comprar. Então, elas buscam novas emoções e experiências", diz Carolina.

Depois dos 60 anos, as mulheres continuam preponderantes nos roteiros de luxo. "Elas vão em frente cheias de curiosidade. Os homens já se acomodam." Entre os destinos, nunca é demais repetir Paris, Londres, Nova York e Roma, mas a natureza e o exotismo seduzem em safáris na África, cavalgadas na Patagônia e na exuberância de Myanmar e Tailândia.

Com uma taça na mão, as mulheres determinam o espiríto do momento. Para a marca de champanhe Veuve Clicquot, elas respondem por metade das vendas. E nos Estados Unidos são mais relevantes, em especial em Nova York. "É um hábito das mulheres que moram lá. Consumir um champanhe é uma maneira de relaxar numa cidade tão estressante e curtir a companhia de um amigo a qualquer hora do dia", diz Jean-Marc Lacave, presidente da Maison Veuve Clicquot. No Brasil, 90% das moças da bacaneza bebem champanhe e o consomem de uma a duas vezes por semana, pelo levantamento da La Clé. Faz sentido. Elas têm muito que relaxar e comemorar. Estão podendo.

Não basta ter jato particular, ele tem de ter a cor e o couro certos

 
 
Por Virgínia Silveira | Para o Valor, de São José dos Campos 
 
Gosto não se discute. Quando o assunto é o design do interior de um jato executivo, as possibilidades hoje são infinitas para agradar aos mais diversos estilos e exigências de um público que compra um avião para ser usado como ferramenta de trabalho e produtividade ou simplesmente para ter mais privacidade.

Claudio Belli/Valor 
 
Marco Túlio Pellegrinni, vice-presidente de Operações da Embraer Aviação Executiva: cliente de jato particular busca "luxo inteligente, um conceito que presta mais atenção aos detalhes.
 
Na Embraer, fabricante que cresceu 15% em receita 2012, enquanto o restante da indústria amargou uma perda de 2%, o cliente que optar pela compra de um jato Lineage, o modelo mais caro da empresa, que custa US$ 55 milhões, tem à sua disposição 700 opções de tecido, 400 de couro, 60 de carpete e quase 6 mil configurações diferentes para a cabine.

Detalhes como cores, conforto e decoração interna deixaram de ser sinônimo de luxo, no sentido puro de opulência, e passaram a ter um peso importante na hora da compra de uma aeronave executiva. É a busca do chamado "luxo inteligente", um conceito que presta mais atenção aos detalhes e às necessidades dos usuários, explica o vice-presidente de Operações da Embraer Aviação Executiva, Marco Túlio Pellegrinni.

"O cliente não olha a máquina de ar condicionado do avião, mas repara na qualidade do verniz do mobiliário, no tipo de tecido do assento e nos sistemas de entretenimento disponíveis", destaca.

Foi para atender ao desejo de um dos seus clientes da China, por exemplo, que a Embraer desenvolveu um carpete com detalhes em seda. Em algumas situações, mesmo depois de ter participado da escolha de cada item do interior da aeronave e visualizado o projeto digitalmente, o cliente decide devolver o avião e arcar com os custos de uma pequena ou grande mudança.

"Tivemos um cliente que devolveu o avião que acabara de receber e pediu a troca do carpete por um novo tipo de piso em pedra de mármore, que ele viu em outra aeronave estacionada no hangar de entrega", relata o vice-presidente da Embraer. O avião em questão era um Legacy 650, avaliado em US$ 30 milhões.

A experiência de voar os jatos antes de comprá-los também é uma prática comum entre os endinheirados. "Num desses voos, o cliente levou a família e alguns itens de bagagem, como a prancha de surf do filho e sacolas de golfe, para ver se cabiam na aeronave", conta Pellegrinni.

Pellegrinni comenta que a equipe de engenheiros de designer de interior de jatos executivos da Embraer já passou semanas tentando fazer o ajuste de um tom de tinta verde até que ela atingisse o padrão de cor escolhido pelo cliente.

O serviço de customização do interior da aeronave permite até a produção de um carpete desenhado inteiro com o logotipo da empresa do proprietário da aeronave, opção que, inclusive, já foi pedida por um dos clientes da Embraer, lembra o executivo.

O conceito de luxo inteligente, de acordo com Pellegrinni, significa ainda uma área interna aconchegante, com mesa de jantar e um sofá que se transforma em cama, numa região completamente privada. "No caso do Lineage, esse lugar lembra a suíte de 74 metros quadrados de um quarto de hotel de luxo em Nova York." É o que a Embraer chama de "home away from home" (casa longe de casa).

"A ideia é oferecer todas as facilidades de uma casa sem comprometer a operação, os custos operacionais e a alta confiabilidade da aeronave", comenta o executivo. O Lineage é o único em sua categoria hoje no mundo que oferece como opção standard, uma cabine privativa com espaço para cama de casal e banheiro com chuveiro.

A instalação de um centro de design em Melbourne, na Flórida, sul dos Estados Unidos, e a expansão da fábrica de móveis de Gavião Peixoto são exemplos da nova estratégia da Embraer para conquistar clientes de jatos executivos, afirma Pellegrinni.

A empresa estima um crescimento entre 20% e 25% na receita da aviação executiva em 2013. No ano passado, esse segmento gerou um faturamento de nada menos do que US$ 1,3 bilhão. A Embraer já entregou mais de 600 jatos executivos em todo o mundo, sendo 80% deles nos últimos cinco anos. O Phenom 300, para até 8 passageiros, foi o jato mais entregue no mundo na sua categoria em 2012.

Quando decidiu entrar com força no mercado de aviação executiva, a Embraer contratou a BMW Designworks para ajudar a desenvolver o interior dos jatos Phenom 100 e Phenom 300. Dois anos depois, o Phenom 100 se tornou o jato executivo mais entregue no mundo e hoje conta com um número superior a 200 aeronaves em operação.

"A parceria com a BMW provocou uma mudança de paradigma na indústria de aviação, ao trazer alguém de fora para fazer desenvolvimento do interior de uma aeronave", lembra. Três anos depois, a francesa Dassault seguiu o mesmo caminho", lembra Pellegrinni. E isso criou uma "escola". A fábrica automóveis alemã Porsche, a exemplo da BMW, também decidiu criar um estúdio para oferecer serviços de design de interiores de aviões para os fabricantes de jatos.

Hoje, mais estruturada e amadurecida no segmento de aviação executiva, a Embraer já caminha com as próprias pernas. Conta com uma equipe de 25 engenheiros no seu novo centro de engenharia de interiores, criado nos Estados Unidos há cerca de um ano.

"É uma competência tão essencial e estratégica para a empresa que não podemos mais delegar essa atividade para terceiros", justifica. No mercado de aviação executiva, segundo ele, a inovação tecnológica é que faz a diferença e a Embraer, mais do que a BMW, conhece melhor o que os clientes esperam porque vivencia essa operação no dia a dia do seu trabalho.

EUA são contra eleição de brasileiro para comandar OMC


 
 
 
Neste mês de maio deverá ser escolhido o diretor da Organização Mundial do Comércio, que, pela primeira vez, será latino americano: ou Herminio Blanco, do México, que tem o total apoio do governo norte-americano, ou Roberto Azevêdo, do Brasil.

Os dois candidatos (foto) têm consciência dos desafios que a OMC enfrenta: a organização se encontra em situação crítica, com seu papel como negociador 
de acordos comerciais multilaterais sendo questionado pelo pendor crescente por acordos bilaterais e regionais. 

Segundo o Itamaraty, tanto Azevêdo quanto Blanco possuem o carisma necessário para construir consensos entre os países-membros.

Azevêdo, embaixador brasileiro na OMC desde 2008 e negociador chefe do Brasil na Rodada Doha de negociações, é tido em alta conta, sobtetudo pelos europeus e asiáticos. 

Azevêdo teria o apoio de diversos países africanos e dos Brics (bloco que além de Brasil reúne Rússia, Índia, China e África do Sul). 

Apoiado pela Casa Branca, Herminio Blanco, doutor pela Universidade de Chicago, é um dos decanos do movimento de livre comércio, tendo sido o negociador comercial chefe do México na Rodada Uruguai das negociações, que aconteceram entre 1986 e 1994 e resultaram na criação da OMC.

O México representa na OMC os interesses dos EUA, que, ostensivamente, estão trabalhando por Blanco e contra o candidato brasileiro.

EUA, Japão e UE acusarão Brasil de protecionismo amanhã na OMC

 
 
 
EUA, Japão e União Europeia pedirão nesta terça-feira (30/4), na Organização Mundial do Comércio (OMC), explicações ao Itamaraty sobre a 
política de incentivos fiscais que, para esses governos, violam regras do comércio. 

Essas normas estabelecem que países não podem usar medidas tributárias que discriminem produtos nacionais de importados. 

Num documento obtido pelo Estado, os países ricos deixam claras as preocupações e elevam a pressão sobre o Brasil. 

A questão irá primeiro a um comitê da organização no qual países podem questionar diretamente outros parceiros comerciais. 

As potências criticam Brasília por estender para décadas algumas medidas de incentivo que inicialmente seriam temporárias. 

O Planalto assegura que a política industrial segue as normas internacionais.

Essa não é a primeira vez que incentivos fiscais dados pelo Brasil são questionados na OMC.

Porém, pela primeira vez, as três principais economias desenvolvidas alertam que a política de incentivo poderia fazer parte de uma estratégia mais ampla de política industrial, com elementos "aparentemente discriminatórios".

A questão será levada ao comitê da OMC que trata justamente de políticas de investimentos, onde países podem levantar questões a outros parceiros comerciais.

Os ricos atacam o que chamam de "discriminação" contra produtos digitais, contra equipamentos de telecomunicações e semicondutores, setores que também foram alvo de políticas de incentivo fiscal. 

Os governos ricos querem saber como o Brasil justifica a lei que deu, desde 2 de abril, incentivos à indústria de fertilizantes, com redução de impostos sobre a aquisição de máquinas, e se acredita que a medida está dentro das regras globais.

Fonte: Estadão
 

Indústria adequa-se à resolução 13: nota fiscal sem conteúdo importado gera multa




 
Perto de acabar o prazo para que os industriais se adequem às novas regras estabelecidas pela Resolução 13/2012 do Senado Federal — que tenta desestimular a guerra dos portos —, empresários ainda não conseguiram regularizar seus sistemas e temem a fiscalização.

Os estados, como os do Ceará e de Pernambuco, já afirmaram que não deixarão passar incólumes erros na declaração do conteúdo importado nas notas fiscais. As novas regras entram em vigor no próximo dia 1º.

A norma é uma obrigação acessória estabelecida pelo Ajuste Sinief nº 19, criado pelo Conselho de Política Fazendária (Confaz) para regulamentar a Resolução.

O ajuste determina que produtos que contenham conteúdo nacional inferior a 60% serão considerados importados e terão uma redução da alíquota interestadual do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) para 4%.

Antes, a depender da região do país, esta alíquota era de 7% ou 12%. Além disso, o ajuste também definiu que os industriais devem entregar às Fazendas estaduais a Ficha de Conteúdo Importado (FCI) e discriminar o valor da importação e seu percentual sobre o valor da nota fiscal.

Esperava-se até a última semana que o Confaz, órgão que reúne todos os secretários de Fazenda, além do secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, prorrogasse o prazo em que a nova obrigação passaria a vigorar.

No entanto, na reunião realizada na semana anterior, ficou definido que não haverá esta postergação. Inclusive, alguns secretários exigiram que a fiscalização comece a partir do primeiro dia de vigência.

O coordenador do Confaz, Cláudio José Trinchão, afirma que não há acordo em nenhuma das negociações devido à complexidade do tema.

Ele explica que há um levante de estados que querem o adiamento do ajuste, mas perderam na votação. “Tudo indica que o ajuste deve entrar em vigor no dia 1º. Vamos tentar forçar a barra, mas é tudo muito complexo e alguns temas precisam de unanimidade”, explica Trinchão.

Advogados agora correm contra o tempo para conseguirem liminares a fim de suspender a ação deste ajuste. Seus argumentos são baseados no conceito do sigilo empresarial, presente inclusive na Constituição, e que estaria sendo violado com esta obrigação acessória. Segundo Carlos Eduardo Navarro, do escritório Machado Associados, nem 10% das companhias industriais estão preparadas para cumprir a determinação.

“Todos estavam esperando uma prorrogação de prazo, visto a dificuldade em adequar os sistemas contábeis das empresas”, afirma o advogado.

Em Santa Catarina, um dos pivôs da chamada guerra dos portos, dezenas de liminares já foram emitidas em favor dos empresários. Maiara Renata da Silva, tributarista do escritório Bornholdt Advogados, diz que há uma “chuva de liminares” no estado.

“O judiciário está se pronunciando a favor dos contribuintes”, afirma. “Ainda esperamos uma prorrogação do prazo. Se começarem a fiscalização agora, será um ‘Deus nos acuda’ as empresas”, conclui. 


Fonte: Brasil Econômico