RENATA AGOSTINI
DE SÃO PAULO
DE SÃO PAULO
O governo brasileiro já trabalha com a possibilidade de negociar com a
União Europeia seus próprios termos para a criação de uma área de livre
comércio.
O Mercosul se comprometeu a fazer, até dezembro deste ano, uma oferta
com quais produtos passariam a ser comercializados com tarifa zero entre
os dois blocos e em que prazos.
A negociação, que se arrasta há anos, é considerada estratégica para o
Palácio do Planalto, e a determinação é que o prazo não seja
desrespeitado.
Diante disso, negociadores brasileiros já trabalham com a alternativa de
os países do Mercosul -Argentina, Uruguai e Venezuela, além do Brasil-
enviarem ofertas em separado ao bloco europeu. O Paraguai foi suspenso
do bloco regional em junho de 2012, após o impeachment do presidente
Fernando Lugo.
A possibilidade, que vinha sendo negada pelo Itamaraty, foi confirmada
pelo secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Ricardo
Schaefer.
"[Trabalhar com listas diferentes] é uma hipótese caso não venhamos a conseguir consolidar uma oferta comum. Temos alternativas técnicas que nos permitem atuar dessa maneira, e os europeus não vão considerar isso ruim", afirmou.
Segundo apurou a reportagem, é possível, até mesmo, que um país eventualmente fique de fora da primeira rodada de negociações.
As normas do Mercosul preveem que acordos comerciais envolvendo
"preferências tarifárias" de bens devem ser feitos em conjunto. A
cláusula não é específica, contudo, sobre a necessidade de uma oferta
única e consensual ou sobre prazos.
"[A cláusula ser vaga] é a possibilidade que a gente tem para pensar em
alternativas caso não consigamos ter uma oferta consolidada do bloco",
disse Schaefer.
De acordo com ele, o governo brasileiro continua trabalhando para que se
chegue a um consenso, mas sabe que as negociações podem ser difíceis.
"A história nos mostra que tudo é muito complexo dentro do bloco.
Sabemos da dificuldade [econômica] da Argentina, tem a questão do
Paraguai [que foi suspenso do bloco]. A Venezuela está entrando", disse.
Ele afirmou que a proposta brasileira ficará pronta no mês que vem, mas
ainda não há uma data agendada para que os países se reúnam e iniciem as
conversas para uma lista única.
Segundo a Folha apurou, a Argentina se comprometeu a entregar sua
oferta também em setembro, mas há incerteza em relação ao conteúdo da
proposta e se ela divergirá muito da lista brasileira.
Teme-se que o país vizinho crie dificuldades para que se chegue a uma oferta comum. Os argentinos foram resistentes até mesmo em aceitar o prazo de dezembro para a retomada das negociações, relatam técnicos do governo.
A Venezuela, que entrou no bloco em 2012, já sinalizou que não tem condições de entregar sua proposta até o fim deste ano.