terça-feira, 10 de setembro de 2013

Negócios na Copa devem movimentar US$ 2 bilhões


A Apex-Brasil, por exemplo, convidará autoridades e empresários para assistir aos jogos e, entre uma jogada e outra, espera vender produtos e serviços

Murilo Rodrigues Alves, do
REUTERS/Marcos Brindicci
Copa do mundo de 2014
Copa do Mundo de 2014: a Apex comprou da Fifa uma cota de patrocínio dos dois eventos esportivos na categoria “national supporter” apoiador local”


Brasília - Enquanto se discute qual legado a Copa do Mundo vai deixar, um grupo de empresários brasileiros não tem dúvidas de que essa será uma oportunidade única para fazer novos negócios.

A Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) convidará autoridades e empresários do mundo inteiro para assistir aos jogos do Mundial e, entre uma jogada e outra, espera vender produtos e serviços brasileiros.

Embalada pelo US$ 1,8 bilhão de negócios para os próximos 12 meses fechados durante a Copa das Confederações, a agência do governo vai reunir 67 entidades hoje em São Paulo para lançar a edição da Copa do Mundo do projeto.

A meta é que os negócios em 2014 superem os valores alcançados neste ano, sem incluir na conta os investimentos que são maturados a longo prazo.

A Apex comprou da Fifa uma cota de patrocínio dos dois eventos esportivos na categoria “national supporter” (“apoiador local”), que garante o direito de uso das marcas das competições e ingressos e espaços nos estádios.

Depois de muita conversa, a federação internacional de futebol aceitou que a Apex aplicasse nos torneios esse tipo de ação de relacionamento já feita durante o Carnaval, no Rio, e na etapa brasileira da Indy, em São Paulo.

Ricardo Santana, diretor de negócios da agência, diz que seria um “sacrilégio” não aproveitar esse momento em que todos os olhos estão voltados para o Brasil para melhorar o “approach” entre empresários. “A plataforma tem o objetivo de estreitarmos mais a relação entre CPFs do que entre CNPJs”.

 As entidades parceiras vão indicar hoje quais estrangeiros querem convidar para assistir aos jogos no ano que vem. A Apex, que cede as entradas, é responsável por analisar o perfil dos compradores e investidores convidados e validar as agendas de negócios paralelas, que, obrigatoriamente, devem ocorrer. O setor privado banca os custos das passagens internacionais e dos trechos internos que não envolvem os jogos.


Casos


A maior fabricante de incubadoras neonatais brasileira, a Fanem, de São Paulo, convidou os donos de um importante distribuidor nigeriano de equipamentos médicos para assistir ao confronto entre Espanha e Nigéria, em Fortaleza. Em vez de apenas dois dias, os empresários ficaram duas semanas no Brasil e acabaram fechando um contrato de US$ 100 mil com a Fanem.

Já o Instituto Brasileiro de Vinho (Ibravin) trouxe dez convidados dos EUA, da Alemanha, da Inglaterra e da Holanda, os principais mercados-alvo do setor, para quatro jogos da Copa das Confederações, incluindo a abertura em Brasília e a final no Rio. Ao todo, 23 empresas brasileiras associadas ao Ibravin participaram das agendas de negócios.

Como resultado, foram vendidos US$ 500 mil em vinhos e espumantes para os próximos 12 meses e assinado contrato entre um importador holandês e uma vinícola brasileira. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Cacau Show compra Brigaderia


A previsão da companhia é promover a expansão da rede especializada em brigadeiros por meio de franquias - serão 50 unidades até 2015

Daniela Toviansky/EXAME.com
Loja da Cacau Show
Loja da Cacau Show: a aquisição é a primeira da holding

São Paulo - A Cacau Par, holding criada pelo fundador da Cacau Show, Alexandre Tadeu Costa, anunciou a compra de 50,1% da Brigaderia, rede especializada em brigadeiros que tem dez lojas no Estado de São Paulo. A aquisição, cujo valor não foi revelado, é a primeira da holding, que tem um orçamento de US$ 50 milhões para investimentos na área de alimentos premium.

A previsão da companhia é promover a expansão da Brigaderia por meio de franquias - serão 50 unidades até 2015 e 200 até 2018. Taciana Kalili, fundadora da Brigaderia, continuará na gestão do negócio.

As lojas da Brigaderia são reconhecidas pela venda de brigadeiros sofisticados e pela decoração rica em estampas coloridas (também presentes nas diversas embalagens dos doces). Esse estilo está relacionado à formação da empresária, que já havia trabalhado como designer de estamparia na indústria têxtil. Ela também formou-se em administração de empresas e especializou-se em moda.

A primeira loja da Brigaderia, aberta em março de 2010 no Shopping Market Place, foi concebida para ser um ambiente diferente daqueles encontrados em grandes centros comerciais, com a proposta de proporcionar ao cliente aconchego no momento do consumo do doce.


Empreendedor


A Cacau Show foi criada quando Alexandre Costa tinha 17 anos. Após aceitar a encomenda de 2 mil ovos de 50 gramas, o empresário descobriu que a fábrica da qual era cliente não produzia o produto com o peso necessário. Ele não desistiu e bateu na porta de vinte atacadistas até conhecer uma senhora que fazia chocolate caseiro e que o ajudou a entregar o pedido em apenas três dias. Até o fim deste ano, a estimativa da Cacau Show é ter 1.540 lojas no Brasil. Para 2015, a previsão é de 2 mil unidades. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Entenda como o governo controla a oscilação do dólar




O dólar americano vem apresentando um cenário de intensa volatilidade no mercado mundial, chegando a valorizar 19,8% em relação ao real, no período de 2 de janeiro desse ano até 22 de agosto, pico de alta em que a moeda americana chegou R$ 2,44. A inflação é apontada por especialistas como o principal problema que a alta da moeda ocasiona no País, pois as pessoas perdem seu poder de compra, já que grande parte das mercadorias é cotada em dólar. Com a moeda valorizada frente ao real, o preço dos produtos inflaciona. “Mesmo o comércio interno do Brasil é afetado pela valorização do dólar, pois o preço da mercadoria é definido de acordo com o preço que o produtor nacional exporta”, complementa o professor de finanças do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper) Alexandre Chaia.

Além da inflação, a grande oscilação do dólar pode gerar problemas na captação de recursos nas empresas, porque as negociações ficam paralisadas até que o mercado cambial se estabilize. Tentando evitar esses problemas, o Banco Central do Brasil (BC) utiliza medidas de proteção cambial (hedge) aos agentes econômicos nacionais, tentando manter a liquidez do mercado. “O trabalho diário do BC é conter as oscilações do dólar, para evitar a inflação e a paralisação do mercado”, explica Chaia.

Também há benefícios para a economia brasileira com a valorização do dólar, principalmente na exportação, pois quem vende pode diminuir o preço de sua mercadoria, ganhando vantagem competitiva no mercado internacional. Apesar disso, segundo o economista da Tendências Consultoria Felipe Salto, a oscilação intensa não é positiva para a economia, pois é o dólar que define as ações de comércio exterior do País, que podem ficar desestabilizadas com a grande volatilidade da moeda americana.

 
Aumento dos juros

 
No dia 28 de agosto, o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou para 9% a taxa Selic, o juro básico da economia brasileira. A medida, segundo o Banco Central, visa a colocar a taxa inflacionária em declínio. Segundo Chaia, deve aumentar também a quantidade de dólares que entram no Brasil. “Aumentando os juros, os investidores estrangeiros se interessam em investir no Brasil, e a liquidez da moeda aumenta”, aponta. Para Salto, o BC deveria apostar em uma medida mais austera. “Se o objetivo é controlar essa recente disparada do dólar, um ajuste mais forte na taxa Selic, aumentariam os resultados a curto prazo”, afirma. 

No início de agosto, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, eliminou o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de 6% sobre aplicações de renda fixa de estrangeiros no País. “A medida incentiva o investimento no Brasil, mas acaba gerando incerteza, pois o investidor pensa que, da mesma forma que o governo retirou o imposto, ele pode colocar de volta a qualquer momento”, completa Chaia.
 

Venda de dólares
 

Umas das operações do mercado à vista é a venda dos dólares da reserva do BC, de mais de US$ 370 bilhões. Os dólares podem ser colocados ou retirados do mercado para conter as oscilações da moeda. A venda à vista das reservas nacionais é utilizada apenas em situações extremas, pois o BC não tem um retorno confirmado. A reserva de dólares serve como um seguro para a quantidade de moeda americana que circula no Brasil. 

Para Chaia, a quantidade ideal de dólares que o País deve manter na reserva depende da situação do mercado nacional e da credibilidade que o investidor estrangeiro tem no País. Na visão do professor, a confiança para se investir no Brasil vem caindo porque o governo brasileiro altera muito as regras de concessão e investimento, causando instabilidade. “Os benefícios fiscais dados a empresas nacionais no ano passado, juntamente com o fator inflacionário ajudaram a diminuir a credibilidade da economia brasileira”, explica.
 

Leilões

 
A venda de dólares pode ser feita por meio dos leilões de troca cambial, conhecidos como swap cambial, ou por vendas com compromisso de recompra. No caso do swap, que vem sendo utilizado pelo Banco Central desde o dia 23 de agosto, são vendidos contratos de dólar no futuro. O BC fixa uma taxa e vende os contratos nos prazos anunciados. Na data final, que é definida pelo BC de acordo com o cenário do mercado nacional, os agentes econômicos são ressarcidos, caso haja apreciação do dólar, ou ressarcem o BC, se o dólar desapreciar. 

O swap auxilia na melhora da liquidez cambial. Também nos leilões de venda com compromisso de recompra, o BC fixa o preço que venderá os dólares e os recompra quando o contrato termina pela taxa fixada. Dessa maneira, o dólar continua circulando no País, mas não se perde na reserva nacional, pois os dólares serão recomprados. Foram anunciados pelo BC leilões com recompra no valor de R$ 1 bilhão, realizados toda sexta-feira, até o dia 31 de dezembro.
 

Especialistas: conflito na Síria pode impactar crescimento do Brasil

10 de setembro de 2013 • 04h38 •  atualizado 04h56


Apesar de a Síria não figurar entre os principais parceiros comerciais do Brasil, uma eventual intervenção militar no país, liderada pelos Estados Unidos, poderia ter um impacto negativo sobre a economia brasileira, adiando a retomada esperada pelo governo.A opinião é de especialistas ouvidos pela BBC Brasil
 
Eles ressalvam, entretanto, que a intensidade desse revés dependerá da duração e da extensão do ataque ao país do Oriente Médio.Em 2011, quando teve início o levante contra o presidente Bashar al-Assad, a Síria era apenas o 41º maior parceiro comercial do Brasil.Ainda assim, segundo os especialistas, a economia brasileira não ficaria imune a um possível contágio de um conflito no país, que viria, principalmente, de um aumento na cotação internacional do petróleo.
 
Embora não seja um grande produtor da matéria-prima (ocupa a 32º posição, segundo um ranking global produzido pela Agência de Energia Internacional), a Síria possui uma localização geopolítica importante no Oriente Médio."A Síria está muito próxima de grandes produtores de petróleo, como a Arábia Saudita, o Irã e o Iraque. Uma intervenção militar no país poderia evoluir para um conflito regional", diz à BBC Brasil Creomar de Souza, professor de Relações Internacionais da Universidade Católica de Brasília.
 
"A escalada do confronto poderia reduzir a oferta dessa matéria-prima e isso se refletiria em um aumento dos preços em nível internacional", acrescenta.Souza ressalta que tal quadro tenderia a se agravar com a proximidade do inverno no Hemisfério Norte, no final do ano, quando a demanda por petróleo para calefação costuma aumentar. 
 
 
Custos maiores
 
 
"Com o petróleo mais caro, o custo da energia sobe, o que prejudica diversos setores da economia", avalia Heni Ozi Cukier, da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) de São Paulo."Se o combustível para o transporte de mercadorias aumenta, por exemplo, os produtos também ficam mais caros", acrescenta.Cukier lembra ainda que o aumento da cotação internacional do petróleo reduziria a competitividade da economia chinesa, essencialmente exportadora. 
 
Uma retração na atividade econômica da China, por sua vez, ameaçaria a incipiente recuperação da economia mundial."Para o Brasil, os efeitos seriam mais nocivos porque a China é o nosso principal parceiro comercial", afirma Cukier.De acordo com os especialistas, um eventual aumento na cotação internacional do petróleo também elevaria a pressão por um reajuste no preço dos combustíveis no Brasil, atualmente controlado pela Petrobras.
 
Hoje, para suprir a demanda interna, a estatal importa petróleo a preços de mercado e vende mais barato localmente.O adiamento do repasse aos consumidores vem causando um rombo nas contas da empresa, que poderia ser ampliado caso um conflito na Síria estoure, lembram os especialistas.Por outro lado, destacam eles, um reajuste no preço dos combustíveis, se concretizado, poderia impactar negativamente o controle da inflação, que já está próxima da meta determinada pelo governo (6,5%)."Mas para garantir a saúde financeira da empresa, essa conta terá de ser paga pelo consumidor, mais cedo ou mais tarde", diz Souza.
 
 
Efeito rebote
 
 
Além de pagar mais pelo petróleo, o Brasil também poderia sofrer "um efeito rebote" por causa de uma nova incursão militar dos EUA no Oriente Médio."Um novo confronto armado agravaria o endividamento público dos Estados Unidos, o que restringiria ainda mais os gastos do governo. Essa limitação seria prejudicial em um momento em que a atividade econômica dos EUA começa a dar os primeiros sinais de recuperação", afirma Creomar de Souza, da Universidade Católica de Brasília.Neste sentido, uma retração da economia nos EUA poderia contaminar o restante do mundo, ameaçando a retomada da atividade econômica global, destacam os especialistas.
 
Em última instância, poderia haver ainda uma intensificação da migração de recursos do Brasil - bem como de outros emergentes - para ativos mais seguros, como o dólar ou o ouro."Essa saída de investimentos já vem ocorrendo diante da perspectiva de que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) reduza os estímulos à economia e tende a se fortalecer caso o conflito se agrave", diz Cukier, da ESPM.
 
Investidores são avessos a riscos e costumam, em momentos de grande instabilidade internacional, buscar investimentos mais seguros, como títulos de dívida do Tesouro americano, em detrimento de aplicações em bolsa de valores, especialmente dos emergentes.Uma eventual fuga maciça de recursos valorizaria ainda mais a moeda americana frente ao real, o que encareceria os importados e impactaria negativamente a inflação."Diante de tal cenário, a economia brasileira poderia crescer menos", avalia Cukier. 
 
 
Cenário internacional
 
 
Na segunda-feira, em entrevista à rede de TV americana NBC, o presidente dos EUA, Barack Obama, descreveu como um "avanço" a proposta de que o governo de Bashar al-Assad coloque as supostas armas químicas sob controle internacional para serem destruídas.A sugestão havia sido dada pelo secretário de Estado americano, John Kerry, e posteriormente endossada pelo chanceler russo, Sergei Lavrov, para evitar uma intervenção militar dos EUA no país.
 
No mesmo dia, o Senado americano adiou para quarta-feira a votação sobre a intervenção militar na Síria.Obama já havia demonstrado ser a favor de uma ação no país, inicialmente sem o uso de forças terrestres. Ele aguarda, no entanto, o aval do Congresso para dar sinal verde à ofensiva.

Liminar proíbe Receita de fiscalizar arbitragens

 
 
 
 
 
Uma liminar da Justiça Federal de São Paulo proibiu a Receita Federal de exigir informações de arbitragens feitas pelo Centro de Arbitragem e Mediação da Câmara de Comércio Brasil-Canadá. A decisão barra uma das investidas do Fisco feitas contra diversas câmaras arbitrais em busca de checar a veracidade de informações prestadas por empresas em declarações fiscais. Como as arbitragens são sigilosas, as empresas que delas participam teriam menos receio de mostrar, nos processos, detalhes que não contariam se questionadas diretamente pela Receita.

No caso da Câmara Brasil-Canadá, a Receita a intimou, em maio, a entregar informações como confirmações sobre se foi ou não prolatada sentença em determinados procedimentos arbitrais entre janeiro de 2009 e dezembro de 2012. Foi exigido inclusive que a Câmara deixasse seus procedimentos arbitrais, inclusive os ainda em curso, à disposição da fiscalização tributária.

A liminar em favor da Câmara foi expedida no dia 23 de julho pela 4ª Vara Federal Cível de São Paulo. "A exigência se refere a dados atinentes às partes envolvidas nos autos acima mencionados, e não acerca da documentação relativa às próprias atividades da impetrante", diz na decisão o juiz federal Luciano dos Santos Mendes, substituto na 4ª Vara.

Seu argumento é que tanto o Regulamento da Câmara Arbitral quanto a Lei de Arbitragem — a Lei 9.307/1996 — garantem o sigilo dos procedimentos arbitrais, oponível ao interesse do Fisco. O regulamento ainda proíbe julgadores, partes e peritos a divulgar informações de terceiros a que tenham acesso devido ao ofício desempenhado na Câmara. Segundo o juiz Luciano Mendes, profissionais liberais como advogados e contadores podem incorrer inclusive em infração penal se revelarem informações de clientes a terceiros, salvo se obrigados pela Justiça.

O entendimento do juiz não é único. De acordo com o jornal Valor Econômico, pelo menos mais uma câmara arbitral conseguiu liminar que impede a Receita Federal de ter acesso a informações de julgamentos dos últimos cinco anos. Ambas as decisões impedem a Receita Federal de multar ou aplicar qualquer outro tipo de punição contra as câmaras.

O Centro Brasileiro de Mediação e Arbitragem (CBMA), com sede no Rio, foi outro fiscalizado, assim como a Câmara FGV de Conciliação e Arbitragem do Rio de Janeiro, uma das mais procuradas do país no setor. Ela foi a primeira a ser notificada. O processo começou logo após o Carnaval. No Termo de Fiscalização, a Receita exigiu a entrega das sentenças com a ameaça de multá-la em caso de desobediência, por descumprimento de obrigação acessória. A Fundação Getulio Vargas, patrocinadora da Câmara, já disponibilizou todos os documentos ao Fisco.


Alvos na mira

O alto valor recebido em honorários pelos árbitros é o que parece ter acendido o sinal de alerta da Receita, pois indicaria grandes valores de transações levadas a julgamento. Nas notificações, o Fisco pede às câmaras que informem valores recebidos pelas partes e seus advogados nos processos terminados.

Outra preocupação é com o pagamento de contribuições previdenciárias pelas empresas, incidentes sobre os altos salários de executivos. É comum esses profissionais serem remunerados com planos de previdência privada, ações na Bolsa de Valores e outros programas de marketing de incentivo que reclamam a não incidência das contribuições ao INSS. Como conflitos envolvendo demissões de altos executivos costumam ser resolvidos em arbitragem e não em ações na Justiça, obter essas decisões permitiria à Receita apurar possíveis dribles previdenciários.

Tributaristas temem ainda uma investida sobre planejamentos tributários de terceiros. De posse de sentenças arbitrais, o Fisco teria mais munição para desqualificar planejamentos tributários ao avaliar operações societárias — como fusões, cisões e compra de participações acionárias — consideradas sem outro propósito que não seja o de somente economizar em tributos. As informações obtidas nas câmaras serviriam, por exemplo, para contestar explicações dadas pelas empresas em julgamentos administrativos que impugnam autuações fiscais.

“Pediram tudo, sem um critério”, conta Carlos Suplicy de Figueiredo Forbes, vice-presidente do Comitê Brasileiro de Arbitragem (CBar). “Por isso, o foco da fiscalização ainda é um mistério, não conseguimos entender.” Outro aspecto intrigante em relação aos objetivos do Fisco é que, devido a um convênio com a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica, boa parte das arbitragens feitas pelo centro da FGV Rio envolvem órgãos públicos, o que exige que elas sejam divulgadas. “Não são comuns contratos de empreitada ou disputas societárias”, explica Forbes.

Segundo ele, os procedimentos arbitrais não foram pinçados pelos fiscais, mas exigidos em massa, por período. “Ocorre que a informação não é do centro, que só a administra. Se entrego informações que não são minhas, mas de terceiros, não é o Fisco quem está quebrando o sigilo, mas eu.”

Clique aqui para ler a liminar em favor da Câmara Brasil-Canadá.

Salomão acena com nova Lei de Arbitragem mais ampla


Se ainda havia receios quanto à limitação do escopo da arbitragem no Brasil, eles foram dissipados pelo ministro do Superior Tribunal de Justiça, Luís Felipe Salomão. Na manhã desta segunda-feira (9/9), na sede da Federação do Comércio do Rio de Janeiro, o ministro, que preside a Comissão de Reforma da Lei de Arbitragem (Lei 9.307/96), afastou qualquer possibilidade de se enfraquecer o instituto no país.

O ministro elencou uma série de novas hipóteses de aplicação da lei, hoje não previstas. Salomão acenou com a possibilidade de estender o uso da solução extrajudicial nas relações de consumo, na relação trabalhista, na administração pública e no Direito Societário. O ministro aventou a hipótese de se prever prazos de prescrição no processo e anunciou a intenção de aprofundar e regular melhor as possibilidades de concessão de cautelares — aspectos em que a legislação hoje é omissa. (Na foto, ministro Luís Felipe Salomão, advogado Rodrigo Cândido de Oliveira, Orlando Diniz e ministro Paulo de Tarso Sanseverino)

O ministro evitou entrar em detalhes e concordou apenas em relacionar tópicos do que se discute na comissão — que deverá apresentar as propostas de aperfeiçoamento da lei até o dia 30 deste mês. Mas advertiu que nos casos das relações de consumo e trabalhistas, o processo só seria válido com anuência e iniciativa do consumidor e do trabalhador. Salomão ressalvou, no entanto, que no possível uso da arbitragem para relações de consumo e de trabalho, não se pretende massificar os processos arbitrais.

“O instrumento próprio para solução de grandes volumes de casos é a mediação”, explicou. O ministro reafirmou que o exemplo ideal é a Lei Modelo sobre Arbitragem Comercial Internacional elaborada pela Uncitral, Comissão das Nações Unidas para o Direito Comercial Internacional. Informou, ainda, que a Comissão do Senado trabalha nesse campo com a Comissão criada pela Secretaria da Reforma do Judiciário do Ministério da Justiça, e que os dois colegiados atuam no sentido de regular, num mesmo contexto, tanto a mediação judicial quanto a extrajudicial.

“No capítulo da mediação há muito que evoluir”, afirmou, lamentando que até hoje ainda não exista a disciplina de Mediação nos cursos de Direito. Mas a boa notícia, segundo ele, é que a Ordem dos Advogados do Brasil já se dispôs a defender a inclusão da matéria no currículo básico dos cursos de Direito.

“Aprendemos a fazer petição inicial, mas não aprendemos a mediar. Eu acredito num processo que é cultural que vai demandar uma mudança de perspectiva, que não virá senão através de gerações”, concluiu.

Participaram do evento, também, o ministro do Superior Tribunal de Justiça Paulo de Tarso Sanseverino; o advogado Igor Mauler Santiago; o desembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, Luciano Rinaldi; o presidente do Centro de Mediação e Arbitragem da Câmara de Comércio Brasil-Canadá (CAM-CCBC), Frederico Straube, e o presidente do Comitê Brasileiro de Arbitragem, Lauro Gama Jr, além do presidente da Fecomércio, Orlando Diniz, e do advogado Rodrigo Candido de Oliveira, coordenador e mediador do encontro.

Consultor Juridico

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

UNIVERSIDADES BRASILEIRAS: DESAFIOS DA INTERNACIONALIZAÇÃO

 

 

 

 

Enquanto em Harvard, nos EUA, a média de alunos estrangeiros chega a 20%, nas estaduais paulistas (as mais ‘internacionais’ do país) o percentual não passa de de 2%. E ainda, a maioria vem de países vizinhos, como Argentina e Colômbia, ou Portugal.

As universidades de elite de todo o mundo têm pelo menos uma obsessão comum: a busca por estudantes e professores estrangeiros. Egressos de outros países trazem um repertório diversificado de ideias, problemas e soluções, o que enriquece o ambiente de ensino –e, no caso dos alunos importados, também o caixa das instituições.

No Brasil, porém, o movimento de internacionalização está engatinhando. Além da falta de uma política de atração de estrangeiros, ensinar em português é um grande empecilho.
Em países como Holanda, Alemanha e Dinamarca, a maioria das universidades dá aulas em inglês, para permitir a o intercâmbio de alunos e docentes. Recentemente, até a vetusta Universidade Sorbonne aderiu a aulas no idioma de Shakespeare.

“A quantidade de disciplinas em inglês é o principal fator de internacionalização em universidades de países de língua não-inglesa”, analisa Laura Ripoll, da Universidade de Girona, na Espanha, que criou metodologia para analisar a internacionalização de universidades de seu país.

A ausência do inglês nas salas de aula é reflexo da pouca fluência nacional, como mostra o Ciência sem Fronteiras, programa federal que já enviou cerca de 50 mil alunos para o exterior e planeja chegar a 100 mil.

As seis universidades que mais receberam bolsistas brasileiros quando o programa foi lançado eram portuguesas. A campeã foi a Universidade de Coimbra (709 alunos). Portugal acabou sendo retirado do programa.


Mobilidade engessada


Enquanto em Harvard, nos EUA, a média de alunos estrangeiros chega a 20%, nas estaduais paulistas é de 2%. A maioria vem de países vizinhos, como Argentina, Colômbia e Portugal.

A universidade mais “internacional” do Brasil, UFABC, e a melhor do país, USP, ainda não têm planos de dar aulas em inglês. A Unicamp chegou a estudar a possibilidade, mas o assunto saiu da pauta do conselho universitário.

A resistência vem da própria comunidade acadêmica, que alega que aulas em inglês afetariam a igualdade nas condições de acesso e permanência na escola.

As estaduais paulistas já podem promover concursos para docentes em outros idiomas. “Nas universidades federais, no entanto, um estrangeiro teria de ser concursado em português para dar aula”, diz Leandro Tessler, ex-coordenador de relações internacionais da Unicamp.

Avalizado por especialistas, para quem a inserção internacional é uma necessidade imposta pela globalização cada mais acentuada de pesquisa e ensino, o RUF 2013 incorporou três subindicadores para aferir o grau de reconhecimento das universidades brasileiras no exterior.

Entre os líderes da lista desse indicador, há quatro universidades públicas e uma privada. Nenhuma delas têm aulas em inglês.

Sabine Righetti
(Folha de SP – 09/09/2013)