Enquanto em Harvard, nos EUA, a média de alunos estrangeiros
chega a 20%, nas estaduais paulistas (as mais ‘internacionais’ do país) o
percentual não passa de de 2%. E ainda, a maioria vem de países
vizinhos, como Argentina e Colômbia, ou Portugal.
As universidades de elite de todo o mundo têm pelo menos uma obsessão
comum: a busca por estudantes e professores estrangeiros. Egressos de
outros países trazem um repertório diversificado de ideias, problemas e
soluções, o que enriquece o ambiente de ensino –e, no caso dos alunos
importados, também o caixa das instituições.
No Brasil, porém, o movimento de internacionalização está
engatinhando. Além da falta de uma política de atração de estrangeiros,
ensinar em português é um grande empecilho.
Em países como Holanda, Alemanha e Dinamarca, a maioria das
universidades dá aulas em inglês, para permitir a o intercâmbio de
alunos e docentes. Recentemente, até a vetusta Universidade Sorbonne
aderiu a aulas no idioma de Shakespeare.
“A quantidade de disciplinas em inglês é o principal fator de
internacionalização em universidades de países de língua não-inglesa”,
analisa Laura Ripoll, da Universidade de Girona, na Espanha, que criou
metodologia para analisar a internacionalização de universidades de seu
país.
A ausência do inglês nas salas de aula é reflexo da pouca fluência
nacional, como mostra o Ciência sem Fronteiras, programa federal que já
enviou cerca de 50 mil alunos para o exterior e planeja chegar a 100
mil.
As seis universidades que mais receberam bolsistas brasileiros quando
o programa foi lançado eram portuguesas. A campeã foi a Universidade de
Coimbra (709 alunos). Portugal acabou sendo retirado do programa.
Mobilidade engessada
Enquanto em Harvard, nos EUA, a média de alunos estrangeiros chega a
20%, nas estaduais paulistas é de 2%. A maioria vem de países vizinhos,
como Argentina, Colômbia e Portugal.
A universidade mais “internacional” do Brasil, UFABC, e a melhor do
país, USP, ainda não têm planos de dar aulas em inglês. A Unicamp chegou
a estudar a possibilidade, mas o assunto saiu da pauta do conselho
universitário.
A resistência vem da própria comunidade acadêmica, que alega que
aulas em inglês afetariam a igualdade nas condições de acesso e
permanência na escola.
As estaduais paulistas já podem promover concursos para docentes em
outros idiomas. “Nas universidades federais, no entanto, um estrangeiro
teria de ser concursado em português para dar aula”, diz Leandro
Tessler, ex-coordenador de relações internacionais da Unicamp.
Avalizado por especialistas, para quem a inserção internacional é uma
necessidade imposta pela globalização cada mais acentuada de pesquisa e
ensino, o RUF 2013 incorporou três subindicadores para aferir o grau de
reconhecimento das universidades brasileiras no exterior.
Entre os líderes da lista desse indicador, há quatro universidades públicas e uma privada. Nenhuma delas têm aulas em inglês.
Sabine Righetti
(Folha de SP – 09/09/2013)
Nenhum comentário:
Postar um comentário