Na comparação com países desenvolvidos, o Brasil fica atrás em matrículas em engenharia, mas não tanto. O que complica tudo é que a taxa de evasão é muito maior aqui
São Paulo – Ninguém contesta que o Brasil precisa de engenheiros para dar conta das obras de infraestrutura que virão: o governo estuda até mesmo importá-los.
Já se o país precisa também de mais artistas, historiadores, filósofos e
cia, é outra discussão. Mas o fato é que eles estão em desvantagem
ainda maior quando se compara o Brasil a nações desenvolvidas.
Dados do Censo do Ensino Superior 2012, divulgado nesta semana pelo Ministério da Educação, mostram que as matrículas em cursos de engenharia somam 12,6% do total no Brasil.
Na média dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE)
– formada por nações ricas – este número é de (um não tão distante)
14,1% - embora haja aí uma pegadinha, a da evasão (veja os números ao
final da reportagem).
Já alunos de artes
e humanidades, que chegam a rivalizar em quantidade com engenheiros em
países desenvolvidos, são apenas 2,3% dos estudantes brasileiros nas
universidades. Veja a tabela comparativa:
Área | Proporção dos alunos no BRASIL (2012) | Proporção dos alunos na OCDE (2010) | Diferença (pontos percentuais) |
---|---|---|---|
Ciências sociais, negócios e direito | 41,3% | 36,3% | 5,0 |
Educação | 19,4% | 9,9% | 9,5 |
Saúde e bem estar-Social | 13,7% | 13,0% | 0,7 |
Engenharia, produção e construção | 12,6% | 14,1% | -1,4 |
Ciências, matemática e computação | 6,1% | 8,5% | -2,3 |
Agricultura e veterinária | 2,4% | 1,7% | 0,7 |
Humanidades e artes | 2,3% | 11,4% | -9,2 |
Serviços | 2,2% | 5,1% | -2,9 |
TOTAL | 100% | 100% |
Como explicação, o economista especialista em Educação, Cláudio de Moura Castro, disse ao jornal O Estado de S. Paulo acreditar que, no país, cursos de humanidades e artes ainda são vistos como um “luxo”, enquanto setores estratégicos precisam enormemente de pessoal.
Pegadinha
Mas se nas matrículas em engenharia o Brasil já começou a reagir – o crescimento foi de 16,6% entre 2011 e 2012, o maior entre todas as áreas – na hora de concluir a faculdade, a vantagem desses outros países aumenta.
Quando se trata de entrar no mercado de trabalho – que é, afinal, o que importa – a desvantagem entre brasileiros e a média da OCDE mais do que triplica: vai de 1,4 ponto percentual para 4,8 pontos.
Área | Proporção de concluintes BRASIL (2012) | Proporção de concluintes OCDE (2010) | Diferença |
---|---|---|---|
Ciências sociais, negócios e direito | 43,5% | 34,4% | 9,0 |
Educação | 21,3% | 10,8% | 10,5 |
Saúde e bem estar-Social | 15,4% | 15,1% | 0,2 |
Engenharia, produção e construção | 7,0% | 11,8% | -4,8 |
Ciências, matemática e computação | 5,5% | 8,2% | -2,7 |
Agricultura e veterinária | 1,7% | 1,4% | 0,3 |
Humanidades e artes | 2,7% | 12,4% | -9,7 |
Serviços | 3,0% | 5,8% | -2,8 |
TOTAL | 100% | 100% |
O Brasil vem aumentando a cada ano o número de alunos nas engenharias. Já é esperado, portanto, que primeiro se observe um crescimento no total de matriculados e apenas mais tardiamente também no de concluintes.
Mas os cursos da área apresentam elevada evasão, um problema cuja solução – ligada, entre outras coisas, à qualidade da educação básica brasileira – não é de fácil implantação.
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