29/09/2013 | 00:03 | Ribeirão Claro, Carlópolis, Jacarezinho e Pinhalão Cíntia Junges, enviada especial
Chuvas e geadas desafiam os cafeicultores
Depois do excesso de chuva que caiu nos meses da colheita, em junho
e julho, os produtores de cafés especiais ainda enfrentaram as
rigorosas geadas que atingiram a região no final de julho. De 30% a 50%
da safra de grãos especiais do próximo ano sofreu algum tipo de dano,
segundo estimativa da Associação de Cafés Especiais do Norte Pioneiro do
Paraná (Acenpp). Para uma avaliação mais consistente das perdas, é
preciso aguardar o período da florada, que acontece entre setembro e
outubro, segundo José Rezende da Silva, especialista em cafés de alta
qualidade da Acenpp.
Os cafeicultores vão aproveitar para renovar o
cafezal, antecipando um projeto de médio prazo. Cerca de 20% da área
atingida pela geada deve ser renovada. “Vamos trabalhar com variedades
mais adequadas à produção de cafés especiais, fazendo um escalonamento
das espécies conforme o clima da região evitando variedades tardias em
locais em que o clima propicia uma maturação mais tardia”, afirma Silva.
Exemplo
União de produtores faz a força para criar grãos campeões em qualidade
O trabalho conjunto de vinte cafeicultores do distrito de Lavrinha, a
15 quilômetros do centro de Pinhalão, transformou a localidade em
referência na produção de cafés especiais dentro do projeto. O grupo se
formou há dois anos por iniciativa do produtor Sebastião Vieira
Sobrinho, o Tião Batata, que enxergou uma oportunidade de agregar valor
ao café e desenvolver a região. Eles investiram R$ 400 mil em recursos
próprios na construção de uma sede e na compra de máquinas para o
beneficiamento dos cafés especiais.
A maioria cultiva, em média, oito
hectares de grãos especiais. Se antes era cada um por si e o preço era a
única forma de diferenciar os cafés produzidos na Lavrinha, agora eles
seguem à risca as orientações do projeto para garantir que o produto
atinja e mantenha a pontuação desejada pelo mercado. No ano passado, o
grupo exportou, via cooperativa, um contêiner com 340 sacas de café
Fairtrade. Neste ano a expectativa é exportar mais de mil sacas. No
início deste ano, importadores dos Estados Unidos, Coreia do Norte,
Japão e Austrália visitaram a Lavrinha para conhecer os cafés produzidos
pelo grupo.
“Começamos com 40 produtores, mas depois ficou quem
realmente tinha interesse no projeto. Alguns desistiram porque achavam
que era perda de tempo”, conta Tião, que se emociona ao falar das
conquistas do grupo. Tião explica que ainda não é possível falar em
retorno financeiro, sobretudo por causa do volume do investimento
individual, mas todos sabem que esse é um projeto de longo prazo.
Quem faz
• Início: 2006, com apoio do Sebrae-PR.• Onde é feito: 45 municípios do Norte Pioneiro do Paraná.
• Área: Cafeicultura.
• Produtores: 7.500 cafeicultores.
• Posição no mercado: Os grãos especiais equivalem a 1% da produção total do Paraná, mas a região é a única do estado com indicação geográfica.
• Produção: 1,3 milhão de sacas beneficiadas por ano.
• Porque é bem feito: Porque está transformando o Norte Pioneiro por meio de um processo de desenvolvimento local focado na capacitação dos produtores para a produção de cafés especiais.
Graças a um projeto criado em 2006 por produtores locais em parceria
com o Sebrae-PR, a primeira Indicação Geográfica de Procedência do
Paraná tem aroma e sabor de café especial produzido no Norte Pioneiro do
estado. A região recebeu, no ano passado, o reconhecimento do Instituto
Nacional de Propriedade Industrial (INPI) e se juntou ao Cerrado
Mineiro e a Serra da Mantiqueira, ambas em Minas Gerais - as únicas três
regiões do país com o registro oficial na produção de grãos especiais.
SLIDESHOW: Confira as fotos dos cafés especiais do Norte Pioneiro
A conquista beneficiou 7,5 mil cafeicultores de 45 municípios do Norte Pioneiro do Paraná e colocou a região definitivamente em um mercado que cresce entre 10% e 15% ao ano, segundo a Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA), na sigla em inglês – enquanto o segmento de cafés tradicionais cresce apenas 3% ao ano.
Do total, 85% são pequenos produtores familiares como o casal Ademir e Joana Baggio de Ribeirão Claro. Aos 63 anos, eles representam uma nova geração de cafeicultores que aceitou o desafio de produzir cafés especiais depois de uma vida dedicada ao cultivo do café commodity. Baggio foi um dos primeiros a entrar para o Projeto de Cafés Especiais, em 2009. Da lavoura de dois hectares, herdada do pai, já saíram grãos exportados para os Estados Unidos, Japão e Peru.
“Por enquanto, cada produtor busca atingir 30% de sua produção com grãos especiais”, diz José Rezende da Silva, superintendente da Associação de Cafés Especiais do Norte Pioneiro do Paraná (Acenpp). Somada, a produção de cafés especiais chega a 1,3 milhão de sacas beneficiadas por ano, mas representa apenas 1% de todo o café produzido no estado.
As propriedades que participam do projeto são certificadas Fairtrade – comércio justo, em inglês –, selo que garante um preço entre 30% e 40% acima do mercado de café convencional para a produção baseada em boas práticas ambientais e sociais. Pelas regras do Fairtrade, cada contêiner para exportação precisa ter, no mínimo, 51% de cafés especiais provenientes de pequenos produtores.
Além da indicação geográfica – que atribuiu identidade aos cafés da região e agrega valor de mercado ao produto – a adequação do processo produtivo foi decisiva para alcançar o mercado internacional, destino de 100% dos cafés especiais Fairtrade da região. Os principais compradores são Estados Unidos, Japão e alguns países da Europa.
Desafio
Desenvolver um padrão capaz de repetir a qualidade ao longo dos anos é o próximo grande desafio. “Enquanto no Sul de Minas a topografia é desfavorável e no Cerrado Mineiro o solo exige irrigação, no Norte Pioneiro temos topografia favorável e solo fértil, mas precisamos lidar com a chuva na colheita. Nada que conhecimento e técnicas apropriadas de manejo não possam resolver”, ressalta o presidente da Acenpp, Luiz Roberto Saldanha Rodrigues. Segundo ele, felizmente os produtores entenderam que isso não é custo e sim, investimento.
Cafés especiais ampliar
Ademir Baggio, produtor de Ribeirão Claro. Aos 63 anos, ele encarou o desafio de produzir grãos especiaisBrunno Covello/Gazeta do Povo
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