Há quatro anos, The Economist dizia que o País havia decolado em termos de desenvolvimento econômico
De
um foguete que apontava para o alto para uma aeronave desgovernada nos
céus. Essa é a comparação feita pela capa da revista britânica The
Economist ao tratar da evolução do Brasil nos últimos quatro anos. A
edição distribuída na América Latina, que chega às bancas neste fim de
semana, tem na capa uma imagem do Cristo Redentor fazendo piruetas no
céu do Rio de Janeiro com a pergunta: "Has Brazil blown it?". A questão
pode ser traduzida como "O Brasil estragou tudo?" ou "O Brasil se
perdeu?".
A reportagem especial de 14 páginas sobre o Brasil é
assinado pela jornalista Helen Joyce, correspondente da revista no País.
"Na década de 2000, o Brasil decolou e, mesmo com a crise econômica
mundial, o País cresceu 7,5% em 2010. No entanto, tem parado
recentemente. Desde 2011, o Brasil conseguiu apenas um crescimento anual
de 2%. Seus cidadãos estão descontentes - em julho, eles foram às ruas
para protestar contra o alto custo de vida, serviços públicos
deficientes e a corrupção dos políticos", diz a revista.
"Pode
Dilma Rousseff, a presidente do Brasil, reiniciar os motores?",
pergunta a publicação. "Será que a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos
oferecerão ajuda para a recuperação do Brasil ou simplesmente trarão
mais dívida", questiona a revista. O conteúdo da revista ainda não está
disponível na íntegra na internet.
Na capa, a Economist fez
uma auto referência a uma capa da própria publicação que ficou
conhecida no Brasil ao mostrar o mesmo Cristo Redentor decolando como se
fosse um foguete. "O Brasil decola" foi capa da edição de 12 de
novembro de 2009, quando a revista rasgava elogios ao País que, naquele
momento, crescia rapidamente a despeito da crise financeira global.
Interferência.
A reportagem afirma ainda que Dilma Rousseff tem sido relutante ou
incapaz de enfrentar problemas estruturais do Brasil e interfere mais
que o antecessor na economia, o que tem assustado investidores
estrangeiros para longe de projetos de infraestrutura e mina a reputação
conquistada a duras penas pela retidão macroeconômica.
Para
a revista, a falta de ação do governo Dilma é a principal razão para o
chamado "voo de galinha" do País, em referência ao baixo crescimento
econômico. "A economia estagnada, um Estado inchado e protestos em massa
significam que Dilma Rousseff deve mudar de rumo", resume o editorial
da publicação.
O texto reconhece que outros emergentes
também desaceleraram após o boom que teve o auge em 2010 para o Brasil.
"Mas o Brasil fez muito pouco para reformar seu governo durante os anos
de boom", diz a revista. Um dos problemas apontados pela reportagem é o
setor público, que "impõe um fardo particularmente pesado para o setor
privado". Um dos exemplos é a carga tributária que chega a adicionar 58%
em tributos e impostos sobre os salários. Esses impostos são destinados
a prioridades questionadas pela The Economist. "Apesar de ser um país
jovem, o Brasil gasta tanto com pensões como países do sul da Europa,
onde a proporção de idosos é três vezes maior", diz o texto que também
lembra que o Brasil investe menos da metade da média mundial em
infraestrutura.
Problemas antigos. A publicação reconhece
que muitos desses problemas são antigos, mas Dilma Rousseff tem sido
"relutante ou incapaz" de resolvê-los e criou novos "interferindo muito
mais que o pragmático Lula". "Ela tem afastado investidores estrangeiros
para longe dos projetos de infraestrutura e minou a reputação
conquistada a duras penas pela retidão macroeconômica incomodando
publicamente o presidente do Banco Central a cortar a taxa de juro. Como
resultado, as taxas estão subindo atualmente mais para conter a
inflação persistente", diz o texto. "A dívida bruta subiu para 60% ou
70% do PIB - dependendo da definição - e os mercados não confiam na
senhora Rousseff", completa o texto.
Apesar das críticas, a
revista demonstra otimismo com o futuro a longo prazo do Brasil.
"Felizmente, o Brasil tem grandes vantagens. Graças aos seus
agricultores e empresários eficientes, o País é o terceiro maior
exportador de alimentos do mundo", diz o texto, lembrando que o País
será um grande exportador de petróleo até 2020. The Economist elogia,
ainda, a pesquisa em biotecnologia, ciência genética e tecnologia de gás
e petróleo em águas profundas. Além disso, a revista lembra que, apesar
dos protestos populares, o Brasil "não tem divisões sociais ou étnicas
que mancham outras economias emergentes, como a Índia e a Turquia".
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