- Rendimento da parcela de 1% dos trabalhadores que ganham mais subiu 10,8%, de R$ 17.048 para R$ 18.889. Nenhuma outra faixa de renda chegou perto desse valor
- Número de pessoas trabalhando subiu 1,6%, o que significa mais 1,4 milhão de ocupados
- Desemprego caiu ao menor nível desde 2001 e rendimento foi o mais alto desde 2004
Cássia Almeida (Email)
RIO - A melhora do mercado de trabalho, com escassez de mão de obra
qualificada pode ter feito parar a melhoria na distribuição de renda. O
índice de Gini, que mede a concentração de renda, caiu muito pouco no
mundo do trabalho: passou de 0,501 para 0,498, a primeira vez que fica
abaixo de 0,5 (quanto mais próximo de zero, melhor a distribuição de
renda no país), de acordo com os números da Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios (Pnad), divulgados nesta sexta-feira pelo IBGE.
No
rendimento domiciliar, esse mesmo indicador pouco variou: foi de 0,501
em 2011 e em 2012, chegou a 0,500. Uma das explicações pode estar no
aumento expressivo do rendimento dos trabalhadores que estão na faixa do
1% que ganham mais que subiu 10,8%, passando de R$ 17.048 para R$
18.889.
Entre as faixas de renda, foi a maior alta. Nenhuma outra
conseguiu chegar perto desse valor. A segunda maior alta foi na faixa do
salário mínimo, que subiu de R$ 576 para R$ 622. No Nordeste, o Índice
de Gini voltou a subir. Passou de 0,520 para 0,529. De 2005 para 2006,
isso já tinha acontecido
-
A subida no rendimento dos 1% mais ricos é uma novidade na Pnad. A
participação deles na renda total do trabalho deu um bom pulo, de 12% em
2011 para 12,5% em 2012. Pode ser um fato isolado. É uma variação
atípica desde 2004. Eu diria que a pressão no mercado de trabalho por
profissionais muito qualificados começou a aparecer. A ver os próximos
capítulos, para saber se vai realmente parar de cair - afirmou Sonia
Rocha, economista do Instituto de Estudos de Trabalho e Sociedade
(Iets).
Para o economista no Insper-SP, Naercio Menezes Filho, o
que chamou a atenção na Pnad foi a estabilidade nos índices de Gini, do
trabalho, de todas as fontes (que inclui aposentadorias, pensões, ganhos
com juros) e o domiciliar):
- Vínhamos numa queda da desigualdade persistente. O importante agora é entender os fatores por trás disso.
Ele acredita que algumas causas já possam ser apontadas.
-
O programa de transferência de renda, como o Bolsa Família, não está se
expandindo na mesma velocidade. Há também um certo esgotamento na queda
do prêmio pela educação. Os jovens que concluíram o ensino médio estão
indo trabalhar e não entrando na universidade. O grande diferencial de
renda permanece no ensino superior.
O mercado de trabalho
brasileiro avançou bastante em 2012. A taxa de desemprego caiu de 6,7%
para 6,1%, a menor desde 2001, quando o desemprego atingia 9,3% da força
de trabalho. E o rendimento real alcançou o valor mais alto desde 2004,
R$ 1.507, com alta de 5,8%, puxado pelo salário mínimo que teve aumento
real próximo de 7%.
O número de pessoas trabalhando também subiu
1,6%, o que significa mais 1,4 milhão de trabalhadores ocupados. Desse
total, 1,1 milhão a mais com carteira assinada, uma expansão de 2,7%. O
IBGE, porém, diz que essa variação, na verdade, indica estabilidade do
emprego.
- Emprego com carteira, embora esteja com variação, a
gente viu que esse número não é representativo. A gente observou
estabilidade no emprego com carteira, após uma tendência de crescimento
do emprego com carteira nos últimos anos - disse nesta sexta-feira Maria
Lúcia Vieira, coordenadora da Pnad.
Houve aumento também nos trabalhadores que contribuem para Previdência Social: a parcela subiu de 59,1% para 60,2%.
Para
o ministro-chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) e
presidente do Ipea, Marcelo Neri, o ciclo de queda da desigualdade não
chegou ao fim. Segundo ele, dados do mercado de trabalho em 2013,
coletados na Pesquisa Mensal do Emprego neste ano, apontam para uma
retomada da redução da desigualdade após um período de estabilidade em
2012. Segundo o Gini medido pela renda per capita do trabalho (calculada
a partir da Pesquisa Mensal de Emprego) em março de 2012, era de
0,5610, passou para 0,5615, em fevereiro deste ano, e passou para 0,547,
em julho de 2013.
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