JOANA CUNHA
DE NOVA YORK
GABRIELA MANZINI
ENVIADA ESPECIAL A NOVA YORK
DE NOVA YORK
GABRIELA MANZINI
ENVIADA ESPECIAL A NOVA YORK
Atualizado às 11h13.
Em tom rígido, Dilma Rousseff levou nesta terça-feira à 68ª Assembleia
Geral da ONU, em Nova York, as críticas do país ao governo americano,
acusado de espionar inclusive as comunicações pessoais da presidente
brasileira.
Na plenária, Dilma qualificou o programa de inteligência dos EUA de "uma
grave violação dos direitos humanos e das liberdades civis; de invasão e
captura de informações sigilosas relativas a atividades empresariais e,
sobretudo, de desrespeito à soberania nacional".
Dilma afirmou que as denúncias causaram "indignação e repúdio" e que
foram "ainda mais graves" no Brasil, "pois aparecemos como alvo dessa
intrusão". Disse ainda que "governos e sociedades amigos, que buscam
consolidar uma parceria efetivamente estratégica, como é o nosso caso,
não podem permitir que ações ilegais, recorrentes, tenham curso como se
fossem normais".
"Elas são inadmissíveis", completou.
Timothy Clary/AFP | ||
Em discurso na Assembleia-Geral da ONU, Dilma Rousseff defende criação de marco de internet para evitar intrusão |
Conforme a brasileira, o Brasil "fez saber ao governo norte-americano
nosso protesto, exigindo explicações, desculpas e garantias de que tais
procedimentos não se repetirão".
Há uma semana, a presidente cancelou a visita de Estado que faria ao
colega Barack Obama em outubro que vem, em Washington, por "falta de
apuração" sobre as denúncias de que a inteligência americana espionou as
comunicações pessoais da brasileira, além da Petrobras.
Para ela, "imiscuir-se dessa forma na vida de outros países fere o
direito internacional e afronta os princípios que devem reger as
relações entre elas, sobretudo entre nações amigas".
Dilma também foi extraordinariamente dura ao rebater frontalmente o
argumento americano de que a espionagem visa combater o terrorismo e,
portanto, proteger cidadãos não só dos EUA como de todo o mundo.
Para Dilma, o argumento "não se sustenta". "Jamais pode uma soberania
firmar-se em detrimento de outra. Jamais pode o direito à segurança dos
cidadãos de um país ser garantido mediante a violação de direitos
humanos fundamentais dos cidadãos de outro país."
"O Brasil, senhor presidente [da Assembleia Geral], sabe proteger-se.
Repudia, combate e não dá abrigo a grupos terroristas", disse.
No discurso, Dilma ainda fez referência ao seu passado de militante
contra a ditadura brasileira. "Lutei contra o arbítrio e a censura e não
posso deixar de defender a privacidade dos cidadãos e a soberania do
nosso país", afirmou.
O Brasil faz o discurso de abertura da reunião anual desde que o embaixador Oswaldo Aranha iniciou a tradição, em 1947.
SÍRIA
Em relação ao confronto na Síria, Dilma mencionou que o Brasil possui
"na ascendência síria um componente importante de nossa nacionalidade" e
voltou a se posicionar contra uma eventual intervenção militar.
Ela também criticou a disposição dos EUA e de seus aliados de agir sem
apoio do Conselho de Segurança da ONU. "O abandono do multilateralismo é
o prenúncio de guerras", disse.
Dilma conectou o assunto à reforma do conselho, uma das mais antigas reivindicações da diplomacia brasileira.
Ela afirmou que a "polarização" entre os membros permanentes --ou seja,
com direito a veto-- do conselho provocam um "imobilismo perigoso". Ela
defendeu que sejam somadas ao órgão "vozes independentes e
construtivas".
"Só a ampliação do número de membros permanentes e não permanentes
permitirá sanar o atual déficit de representatividade e legitimidade do
conselho", disse.
PROTESTOS
No seu discurso, a presidente brasileira também mencionou a onda de
protestos ocorrida em junho passado. Disse que seu governo "não as
reprimiu" porque também "veio das ruas". "Para nós, todos os avanços são
sempre só um começo. Nossa estratégia de desenvolvimento exige mais,
tal como querem todos os brasileiros e as brasileiras."
Em relação à economia, ela afirmou que o país "está retomando o
crescimento" graças a "políticas macroeconômicas" e que seu governo
possui "compromisso com a estabilidade, com o controle da inflação, com a
melhoria da qualidade do gasto público".
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