JULIA BORBA
DE BRASÍLIA
DE BRASÍLIA
O governo fez uma manobra inédita para distribuir entre os usuários de
todo o país um custo extra da energia do Nordeste, resultado da ligação
de usinas termelétricas.
Depois do apagão no mês passado, que deixou todos os Estados da região
sem luz, o governo autorizou o uso temporário dessas geradoras, mas
lançou mão de uma estratégia nova para compartilhar os gastos.
O valor adicional com a geração térmica ficou em R$ 134 milhões ao mês, segundo a Folha
apurou. Isso equivale à incorporação de até mil megawatts no sistema do
Nordeste --quantidade que o governo estimou ser suficiente para
resolver o problema.
Para não sobrecarregar consumidores ou empresas, a solução encontrada
para diluir essa conta passou pela alteração de regra da Aneel (Agência
Nacional de Energia Elétrica) e pela adaptação do discurso interno para
justificar o uso das térmicas.
O governo enquadrou o uso das usinas como uma necessidade "elétrica". Ou
seja, decorrente de uma fragilidade na ligação dos sistemas entre
Nordeste e Norte.
Essa solução não onera as distribuidoras de energia, com quem o governo
trava batalhas judiciais em torno de mudanças que aumentaram os custos
das empresas com a compra de energia.
A alternativa mais defensável seria considerar a ligação das usinas uma
necessidade "energética" --o fato de os reservatórios estarem baixos por
causa da seca justificaria o procedimento.
Neste modelo, contudo, o gasto extra recairia sobre geradores, distribuidores e consumidores de energia.
O governo então optou por classificar o uso como necessidade elétrica.
Ocorre que, pela regras, problemas elétricos devem ser resolvidos com
recursos apenas dos consumidores das áreas afetadas.
Para que o preço não alterasse excessivamente as tarifas, o governo
decidiu mudar as regras, tornando possível a distribuição dos custos
nacionalmente.
Assim, os próximos reajustes de tarifas autorizados pela Aneel às
geradoras terão que cobrir essa despesa adicional. Como a expectativa é
que todos os consumidores paguem o incremento, o acréscimo na tarifa
será praticamente desprezível.
A decisão de ratear esse custo foi tomada apesar de a consulta pública
sobre o tema ainda estar em andamento. Ela foi aberta pela Aneel no
último dia 17 e o prazo para contribuições só termina no dia 21 do
próximo mês. Esta é a primeira vez que a agência atropela os
procedimentos dessa forma.
Para se preservar, a Aneel deixou claro, em discussão com o Ministério
de Minas e Energia, que, se a divisão não for aceita na audiência, o
governo vai ter de voltar atrás e indenizar os pagamentos que já tenham
sido feitos.
A Folha procurou o ministério e a Aneel sobre o assunto, mas não obteve resposta.
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