O economista Dani Rodrik, de Princeton, derruba os fatores apontados tradicionalmente como problemas para a produtividade brasileira. Para ele, resposta está no comércio
São Paulo – Nem infraestrutura, nem educação ou mesmo a gestão macroeconômica das últimas décadas são os maiores entraves que o Brasil
enfrenta para vencer a corrida por uma maior produtividade, hoje em um
quinto da norte-americana. Para o professor Dani Rodrik, professor do
Instituto de Estudos Avançados de Princeton, o país deve se concentrar
no setor de serviços se quiser acabar com a distância entre o que produz
hoje um trabalhador nacional e um estrangeiro.
“É o caminho inevitável para Brasil avançar”, afirmou o economista especializado em produtividade no EXAME Fórum, que ocorre hoje na capital paulista.
As falas causaram espanto para a plateia de empresários e analistas presentes, já que a ineficiente infraestrutura e a pouca educação do trabalhador são sempre apontadas como um dos maiores gargalos brasileiros.
“Não é má infraestrutura. Há pouca evidência de que seja o centro do
problema”, afirmou Rodrik, que completou ainda que não se deve focar
também na baixa taxa de investimentos, hoje inferior a 20% do PIB - o
que ele acha pouco, mas mesmo assim não o mais sério entrave.
As declarações foram interpretadas pela plateia como uma forma do
professor norte-americano concentrar a atenção para o que detectou em
sua pesquisa.
O setor de serviços é responsável hoje por cerca de 60% da economia brasileira.
Por meio de estudos comparativos, Rodrik mostrou que a produtividade
brasileira cresceu pouco nas últimas duas décadas. Enquanto o Brasil
apresentou crescimento anual de 1,8% no período; México teve 2,2%;
Chile, 3,8%; Peru, 3,7%; Coreia do Sul; 5% e Turquia, 4%.
Como aumentar a produtividade
Segundo o professor, há duas maneiras de aumentar a produtividade de
um país: fazendo a mão de obra migar de setores menos produtivos para
mais produtivos ou fazendo com que ela aumente dentro de cada setor.
Para o especialista de Princeton, a segunda opção é o único caminho
viável para o Brasil, já que, na verdade, em duas décadas, os
trabalhadores brasileiros migraram para setores de produtividade
inferior, como serviços e administração pública. Este tem sido o caminho
de nações desenvolvidas, segundo ele.
Como a solução depende de cada setor, de acordo com Rodrik, nenhum é tão emergencial como o de serviços, especificamente o comércio.
Enquanto a produtividade brasileira no comércio moderno, simbolizado
pelos grandes varejistas, é de 75% da norte-americana, no segmento de
comércio tradicional, é de apenas 20% da dos Estados Unidos.
“Poderia-se dobrar a produtividade no setor diminuindo apenas o “gap” dentro dos segmentos de comércio”, afirmou ele.
Com isso, a solução passaria por uma série de reformas em sistemas
regulatórios e arranjos institucionais do Brasil. “Não há magia para uma
solução rápida”, sentenciou o professor.
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