Depois de uma capa perguntando se o Brasil havia "estragado tudo",
a revista britânica “The Economist” voltou à carga com uma reportagem
sobre os preços elevados no país. O texto, intitulado "O preço está
errado", foi publicado neste sábado no site da revista, e começa com a
mesma referência usada pelo “New York Times” em reportagem de julho, no
auge dos protestos nas ruas, à "pizza de queijo de US$ 30" encontrada em
São Paulo. O objetivo, aparentemente, é explicar por que os produtos e
serviços são tão caros, depois de listar as já conhecidas distorções da
economia brasileira, principalmente em relação aos países mais
avançados.
A
revista destaca que um quarto de hotel sem janelas na orla do Rio pode
ter diária de US$ 250, os carros e eletrodomésticos de maior porte (como
geladeiras e fogões) custam cerca de 50% a mais que nos demais países e
o Big Mac sai 72% mais caro que a média. O poder aquisitivo dos
brasileiros é também colocado em xeque. Segundo "The Economist", os
mexicanos conseguem comprar 45% mais do que no exterior. No Brasil, o
poder aquisitivo quase se equipara.
A
complexidade e o peso da carga tributária, que representa cerca de 36%
do PIB e faz o tempo necessário para uma empresa calcular seus impostos
devidos ser de 2,6 mil horas, dez vezes mais do que a média global estão
entre os principais motivos apontados pela revista britânica.
"Ao
permanecer nas sombras (informalidade), um varejista pode mais do que
triplicar sua margem, mas ao custo de abrir mão de investimento e
economia de escala", afirma a revista, citando um relatório da McKinsey
de sete anos atrás. "Um regime simplificado para pequenas firmas
introduzido desde então persuadiu muitos a se registrarem, mas os ganhos
resultantes de eficiência são limitados por um novo problema: muitas
firmas 'Peter Pan' que não estão dispostas a crescer e perder seus
privilégios".
Também
há críticas para a "rigidez" da legislação trabalhistas, que encarece
contratações e demissões e favorece processos trabalhistas - foram 3,2
milhões no ano passado. O mesmo ocorre com os problemas de
infraestrutura, como as más condições das estradas e a limitada malha
ferroviária, que encarecem o frete.
"The
Economist" aponta que, com os preços estratosféricos, uma solução dos
brasileiros é parcelar intensamente as compras, e não se preocupar com o
custo total da compra - basta ter o dinheiro para pagar as parcelas. A
outra saída é o aeroporto.
"Os
brasileiros respondem às acachapantes diferenças de preços com surtos de
compras no exterior. Turistas brasileiros gastaram US$ 22,2 bilhões em
países estrangeiros no ano passado, um recorde, e parece que (os gastos)
vão subir ainda mais este ano", afirma o texto.
Citando
artigo de Regis Bonelli e Julia Fontes, Fundação Getúlio Vargas, a
revista argumenta que o país tem dificuldades com a produtividade, que é
equivalente a 18% da produtividade nos EUA - uma piora de 1 ponto
percentual, enquanto a China ganhou 11 pontos percentuais na comparação.
E encerra em tom de conselho:
"O
relatório anual do Banco Mundial sobre fazer negócios em vários países
parece uma lista de tarefas de produtividade para o Brasil: simplifique a
abertura de empresas; corte e organize as taxas; aumente a poupança e o
investimento domésticos. Para mais dicas, o país pode se voltar para um
dos poucos setores onde a produtividade cresceu consistentemente em
anos recentes: a agricultura".
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