MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A XANGAI
ENVIADO ESPECIAL A XANGAI
A China inaugurou ontem em Xangai a primeira zona franca do país,
projetada como um laboratório das reformas que o governo promete para
reduzir a presença do Estado na economia e torná-la mais atraente aos
investidores estrangeiros.
Além da livre conversão do yuan, a moeda chinesa, a zona franca de
Xangai vai testar a adoção de taxas de juros determinadas pelo mercado e
não pelo Banco do Povo da China (PBOC, o banco central do país).
O plano inclui o relaxamento de restrições ao investimento estrangeiro e
ao fluxo de capitais. Será reduzido o controle sobre 18 áreas do setor
de serviços, de transações financeiras ao comércio marítimo.
Outros setores até agora sob forte restrição, em que empresas
estrangeiras poderão operar na nova zona franca de forma experimental,
são educação, saúde, assessoria legal e engenharia.
A expansão do setor de serviços é uma das prioridades do projeto de
reformas do governo chinês, que busca aumentar o consumo nos próximos
anos para depender menos de investimentos e da indústria exportadora.
Na cerimônia de abertura, 36 empresas ganharam licença para operar na
nova zona franca, que cobre uma área de 28,78 km2 na periferia de
Xangai. Por ora, só dois bancos estrangeiros terão operações na área,
Citigroup e DBS, de Cingapura.
Em um sinal da expectativa gerada pela nova zona franca, a mídia estatal
chegou a compará-la com a primeira Zona Econômica Especial de Shenzhen,
criada em 1980, que tornou-se um símbolo da pioneira abertura econômica
inaugurada pelo então presidente, Deng Xiaoping.
China inaugura primeira zona franca
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Operário trabalha na região da nova zona franca chinesa, inaugurada em Xangai
Considerado o pai do novo projeto de reformas, o premiê Li Keqiang era
esperado na cerimônia de abertura, mas não apareceu. Sua ausência foi
vista por observadores como um sinal de que o governo chinês quer baixar
as expectativas em relação à zona franca.
Analistas também manifestam cautela sobre os resultados a curto prazo.
Numa sondagem realizada pela agência Bloomberg, 16 entre os 17 analistas
consultados disseram que a zona franca terá impacto mínimo no
crescimento econômico da China nos próximos anos.
Inicialmente a nova zona franca não deverá ter impacto significativo
para empresas brasileiras, afirmaram especialistas consultados pela
Folha, que pediram para não ser identificados.
Empresas financeiras brasileiras não costumam estar na vanguarda desse tipo de experimento, afirmam.
Como exemplo de oportunidade pouco explorada pelos brasileiros, um dos
analistas citou a internacionalização do yuan iniciada em 2009, e a
criação de serviços financeiros na moeda chinesa, como emissão de
títulos.
A Folha apurou que o Banco do Brasil foi convidado a operar na zona franca e está estudando a possibilidade.
Presente na China com um escritório de representação desde 2010, o BB
está com quase tudo pronto para abrir uma agência em Xangai, a primeira
de um banco brasileiro no país. Isso deve ocorrer em janeiro.
Entre as informações que circularam no últimos mês esteve a de que a
zona franca de Xangai passaria a centralizar o comércio de alimentos,
inclusive tendo papel de formação de preços.
Se confirmado, esse protagonismo poderia ter impacto na exportação de commodities agrícolas do Brasil.
Questionado pela Folha na entrevista de apresentação da zona
franca, Yin Zong Hua, chefe de relações internacionais do ministério do
Comércio, deu uma resposta vaga: "A meta é promover o comércio como um
todo".
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