10 de setembro de 2013 • 04h38 • atualizado 04h56
Apesar de a Síria não figurar entre os principais
parceiros comerciais do Brasil, uma eventual intervenção militar no
país, liderada pelos Estados Unidos, poderia ter um impacto negativo
sobre a economia brasileira, adiando a retomada esperada pelo governo.A opinião é de especialistas ouvidos pela BBC Brasil.
Eles ressalvam, entretanto, que a intensidade desse revés dependerá da
duração e da extensão do ataque ao país do Oriente Médio.Em
2011, quando teve início o levante contra o presidente Bashar al-Assad,
a Síria era apenas o 41º maior parceiro comercial do Brasil.Ainda
assim, segundo os especialistas, a economia brasileira não ficaria
imune a um possível contágio de um conflito no país, que viria,
principalmente, de um aumento na cotação internacional do petróleo.
Embora
não seja um grande produtor da matéria-prima (ocupa a 32º posição,
segundo um ranking global produzido pela Agência de Energia
Internacional), a Síria possui uma localização geopolítica importante no
Oriente Médio."A Síria está muito próxima de
grandes produtores de petróleo, como a Arábia Saudita, o Irã e o Iraque.
Uma intervenção militar no país poderia evoluir para um conflito
regional", diz à BBC Brasil Creomar de Souza, professor de Relações
Internacionais da Universidade Católica de Brasília.
"A
escalada do confronto poderia reduzir a oferta dessa matéria-prima e
isso se refletiria em um aumento dos preços em nível internacional",
acrescenta.Souza ressalta que tal quadro tenderia a
se agravar com a proximidade do inverno no Hemisfério Norte, no final
do ano, quando a demanda por petróleo para calefação costuma aumentar.
Custos maiores
"Com
o petróleo mais caro, o custo da energia sobe, o que prejudica diversos
setores da economia", avalia Heni Ozi Cukier, da Escola Superior de
Propaganda e Marketing (ESPM) de São Paulo."Se o combustível para o transporte de mercadorias aumenta, por exemplo, os produtos também ficam mais caros", acrescenta.Cukier
lembra ainda que o aumento da cotação internacional do petróleo
reduziria a competitividade da economia chinesa, essencialmente
exportadora.
Uma retração na atividade econômica da China, por sua vez,
ameaçaria a incipiente recuperação da economia mundial."Para o Brasil, os efeitos seriam mais nocivos porque a China é o nosso principal parceiro comercial", afirma Cukier.De
acordo com os especialistas, um eventual aumento na cotação
internacional do petróleo também elevaria a pressão por um reajuste no
preço dos combustíveis no Brasil, atualmente controlado pela Petrobras.
Hoje, para suprir a demanda interna, a estatal importa petróleo a preços de mercado e vende mais barato localmente.O
adiamento do repasse aos consumidores vem causando um rombo nas contas
da empresa, que poderia ser ampliado caso um conflito na Síria estoure,
lembram os especialistas.Por outro lado, destacam
eles, um reajuste no preço dos combustíveis, se concretizado, poderia
impactar negativamente o controle da inflação, que já está próxima da
meta determinada pelo governo (6,5%)."Mas para
garantir a saúde financeira da empresa, essa conta terá de ser paga pelo
consumidor, mais cedo ou mais tarde", diz Souza.
Efeito rebote
Além
de pagar mais pelo petróleo, o Brasil também poderia sofrer "um efeito
rebote" por causa de uma nova incursão militar dos EUA no Oriente Médio."Um
novo confronto armado agravaria o endividamento público dos Estados
Unidos, o que restringiria ainda mais os gastos do governo. Essa
limitação seria prejudicial em um momento em que a atividade econômica
dos EUA começa a dar os primeiros sinais de recuperação", afirma Creomar
de Souza, da Universidade Católica de Brasília.Neste
sentido, uma retração da economia nos EUA poderia contaminar o restante
do mundo, ameaçando a retomada da atividade econômica global, destacam
os especialistas.
Em última instância, poderia haver
ainda uma intensificação da migração de recursos do Brasil - bem como
de outros emergentes - para ativos mais seguros, como o dólar ou o ouro."Essa
saída de investimentos já vem ocorrendo diante da perspectiva de que o
Federal Reserve (Fed, o banco central americano) reduza os estímulos à
economia e tende a se fortalecer caso o conflito se agrave", diz Cukier,
da ESPM.
Investidores são avessos a riscos e
costumam, em momentos de grande instabilidade internacional, buscar
investimentos mais seguros, como títulos de dívida do Tesouro americano,
em detrimento de aplicações em bolsa de valores, especialmente dos
emergentes.Uma eventual fuga maciça de recursos
valorizaria ainda mais a moeda americana frente ao real, o que
encareceria os importados e impactaria negativamente a inflação."Diante de tal cenário, a economia brasileira poderia crescer menos", avalia Cukier.
Cenário internacional
Na
segunda-feira, em entrevista à rede de TV americana NBC, o presidente
dos EUA, Barack Obama, descreveu como um "avanço" a proposta de que o
governo de Bashar al-Assad coloque as supostas armas químicas sob
controle internacional para serem destruídas.A
sugestão havia sido dada pelo secretário de Estado americano, John
Kerry, e posteriormente endossada pelo chanceler russo, Sergei Lavrov,
para evitar uma intervenção militar dos EUA no país.
No mesmo dia, o Senado americano adiou para quarta-feira a votação sobre a intervenção militar na Síria.Obama
já havia demonstrado ser a favor de uma ação no país, inicialmente sem o
uso de forças terrestres. Ele aguarda, no entanto, o aval do Congresso
para dar sinal verde à ofensiva.
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