quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Barreiras argentinas carecem de solução, diz Figueiredo

Por Marina Guimarães, correspondente

O ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, reconheceu, nesta quinta-feira, 19, que os problemas gerados pelas barreiras argentinas por meio das Declarações Juramentadas Antecipadas de Importação (DJAI), podem contaminar a relação comercial. E, portanto, precisam ser resolvidas. "Não podemos deixar sem soluções algumas questões na área comercial porque podem contaminar a relação comercial como um todo", disse em entrevista a jornalistas brasileiros, na embaixada do Brasil em Buenos Aires, onde passou o dia em visita oficial.
 
O ministro fez uma advertência ao governo argentino ao dizer que "quando há entraves no comércio, as partes acabam buscando outros parceiros e não queremos que isso ocorra". Segundo Figueiredo, a Argentina precisa acelerar as tramitações dos pedidos de importações de produtos brasileiros e o assunto foi amplamente discutido com seu colega Héctor Timerman.

"O fato é que temos que destravar estas questões", disse, informando que o ministro argentino demonstrou vontade política para que o problema seja resolvido o mais rápido possível, como determinaram as presidentes Dilma Rousseff e Cristina Kirchner às suas respectivas equipes. "Há uma vontade política real das duas partes de dar uma solução a isso", insistiu.

"Não queremos que uma relação que foi construída durante tantos anos seja prejudicada por questões pontuais", comentou. Ele ponderou que nos últimos 10 anos o comércio bilateral saltou de US$ 7 bilhões (2002) para US$ 34,5 bilhões (2012), e que entre janeiro a agosto de 2013, o fluxo de comércio acumulou US$ 24,5 bilhões. "Até o fim do ano, a projeção é de atingir volume maior que do ano passado", afirmou, completando que "não há redução do comércio, não há prejuízo significativo para as duas partes". Neste cenário, Figueiredo reconheceu que, "embora as DJAI sejam um problema que vamos resolver, não estão afetando o comércio dos dois países de maneira radical".


União Europeia


Figueiredo informou que discutiu com seu colega argentino sobre as negociações do Mercosul com a União Europeia com vistas a um acordo de livre-comércio entre as duas regiões. O ministro confirmou informação antecipada pelo Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, de que ambos os países buscam "uma convergência de tempos e das ofertas". O Broadcast havia apurado que, na última segunda-feira, 16, em reunião entre autoridades argentinas e empresários, o governo de Cristina Kirchner descartou a apresentação de uma oferta diferenciada do Brasil e da Argentina.

O chanceler brasileiro afirmou que "as duas partes concordaram em que a oferta do Mercosul seja construída o mais rápido possível para ser apresentada antes do fim do ano". Ele disse que, no Brasil, as consultas internas estão bastante avançadas e o País está elaborando uma "oferta bastante robusta".

O ministro comentou que a Argentina está comprometida a também avançar na elaboração de sua lista de produtos para liberalização do comércio. Os empresários locais têm um prazo até o dia 15 de outubro para apresentar as propostas, que serão analisadas pelo governo para decidir sobre o volume dos produtos do comércio que pode ser liberalizado e em que prazo.
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Se é bom para ela, é bom para todos


Organizações que formam equipes com bom equilíbrio entre os sexos e dão oportunidades às mulheres beneficiam todos os funcionários

GRAZIELE OLIVEIRA
19/09/2013 07h00
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EQUILÍBRIO Cristhia Itano, tesoureira da Alcoa. Ela engravidou duas vezes na empresa, avançou na carreira e passa mais tempo com as crianças   (Foto: Ricardo Corrêa/ÉPOCA)
 EQUILÍBRIO
Cristhia Itano, tesoureira da Alcoa. Ela engravidou duas vezes na empresa, avançou na carreira e passa mais tempo com as crianças (Foto: Ricardo Corrêa/ÉPOCA)

 
Não basta convidar as mulheres para o baile – é preciso que elas gostem da música. As organizações atentas à diversidade já perceberam a diferença entre a mera diversidade nas equipes (necessária) e a verdadeira inclusão, que dá oportunidades a todos os profissionais. Para as empresas, ainda há desafios diversos, como atrair mulheres para carreiras tradicionalmente masculinas, fornecer modelos para as profissionais iniciantes e atender a necessidades femininas específicas.



 
As mulheres representam metade do total de colaboradores das 130 melhores empresas para trabalhar no GPTW – a parcela dobrou em 17 anos de pesquisa. Elas ocupam 41% dos cargos de chefia de equipes (em 1997, eram 11%). Em um terço das empresas premiadas, há políticas específicas para a ascensão profissional feminina. Algumas lições importantes sobre esse avanço podem ser aprendidas na observação da produtora de alumínio Alcoa, destaque no quesito diversidade de gênero na pesquisa de 2013 do GPTW.


A inclusão de mulheres representa um desafio para a Alcoa. A empresa trabalha com mineração e indústria pesada, áreas que costumam atrair mais estudantes homens. Do total de funcionários, 16% são mulheres. A companhia se empenha em obter o máximo de inclusão. “Fazemos isso porque é ético, moral e queremos trabalhar numa empresa que seja o espelho da sociedade nesse aspecto”, diz Franklin Feder, presidente da Alcoa América Latina e Caribe.

Uma ferramenta para isso é o programa Rede de Relacionamento das Mulheres da Alcoa (Alcoa Women’s Network), para atrair as profissionais e prepará-las para assumir cargos de chefia. A rede funciona desde 2005 e inclui homens, como Luiz Burgardt, gerente de relações trabalhistas e um dos responsáveis pela política de inclusão (não só de mulheres) na empresa. O desafio na Alcoa começa no processo de seleção. Os recrutadores devem apresentar aos gestores responsáveis pelas vagas listas com ao menos metade de candidatas mulheres. Em caso de igualdade de competências entre candidatos de sexos diferentes para a mesma vaga, a preferência é por mulheres, já que a participação delas na organização é muito inferior a 50%.



FEMINISTA Franklin Feder, presidente da Alcoa na América Latina. A empresa premia gestores que cumprem a meta de elevação da participação feminina (Foto: Ricardo Corrêa/ÉPOCA)

Para incentivar as adolescentes a escolher carreiras que possam levá-las à Alcoa, a empresa criou em 2005, em São Luís, o Projeto Sintonia. Engenheiras da Alcoa vão a classes de ensino médio e mostram às alunas como é possível trabalhar com engenharia na região onde vivem. Estudantes aprovadas em primeiro lugar nos cursos de graduação em engenharia ganham um curso de inglês pago pela Alcoa. Esse tipo de prática importa para enfraquecer noções preconceituosas, segundo as quais carreiras em ciências exatas são pouco femininas.

A Alcoa adotou também metas para o aumento na parcela de mulheres na organização – 10% ao ano. O alcance da meta numa equipe garante recompensa ao gestor responsável, na forma de remuneração variável. Feder explica que o resultado no bolso derruba mais um obstáculo à inclusão.

O desafio para a maior presença feminina nas empresas passa ainda pelo equilíbrio entre carreira e a decisão de começar uma família. Nas fábricas da Alcoa, há salas de amamentação para que as mães possam receber a visita dos filhos recém-nascidos, com poltronas adequadas e geladeira para o armazenamento do leite. A empresa investe em convênios com creches (o programa ainda não cobre todas as unidades – essa é outra meta). Como participante do Programa Empresa Cidadã, a Alcoa permite que a funcionária decida se quer estender por mais dois meses a licença-maternidade, além dos quatro previstos em lei. Atualmente, 41% das empresas premiadas no GPTW permitem às novas mães ficar com seus filhos mais do que os quatro meses mínimos previstos em lei.

Cristhia Itano, tesoureira da Alcoa, é um dos exemplos de como essa prática beneficia as mulheres, as famílias e as organizações – ou seja, toda a sociedade. Ela ficou grávida uma vez, logo quando foi convidada para integrar a equipe de um novo projeto na Alcoa em Nova York e, novamente, quando se candidatou a uma vaga na Tesouraria. Em ambos os momentos, Cristhia deu continuidade aos projetos, mesmo grávida, com o apoio dos chefes – todos homens. No segundo filho, optou por sair quatro meses de licença-maternidade convencional e outros dois em meio período. Assim, ela terá mais quatro meses para passar as tardes com as crianças. “Consigo amamentar e não houve uma separação brusca das crianças”, diz. Esse equilíbrio entre carreira e família é difícil para qualquer profissional. Mas as empresas podem investir em modelos compatíveis com as necessidades de cada um.

Plano de "isolar" a internet do Brasil é um erro, dizem especialistas


BRADLEY BROOKS
DA ASSOCIATED PRESS, NO RIO
FRANK BAJAK
DA ASSOCIATED PRESS, EM LIMA



O Brasil planeja se divorciar da internet centrada nos EUA por conta da espionagem on-line generalizada de Washington, em um movimento que especialistas temem ser um potencialmente perigoso primeiro passo rumo a uma fragmentação de uma rede construída com mínima interferência de governos. 

A presidente Dilma Rousseff ordenou uma série de medidas a fim de aumentar a autonomia on-line do Brasil após a revelação de que a NSA (Agência de Segurança Nacional dos EUA) interceptou comunicações suas, invadiu a rede da Petrobras e espionou brasileiros que confiaram seus dados pessoais a companhias americanas como Facebook e Google. 

A espionagem levou a tamanha ira da líder que ela cancelou uma viagem a Washington no próximo mês, onde ela tinha um jantar de honra programado. 

Felipe Dana - 25.nov.11/Associated Press
A presidente Dilma Rousseff durante cerimônia de entrega de navios da Transpetro em Niterói (RJ)
A presidente Dilma Rousseff durante cerimônia de entrega de navios da Transpetro em Niterói (RJ)

Especialistas em segurança e políticas de internet dizem que, apesar de compreensível, a reação do governo brasileiro à informação vazada pelo antigo agente da NSA Edward Snowden poderia iniciar um curso de balcanização da internet.
 

REAÇÃO GLOBAL
 
"A reação global está apenas começando e ficará muito mais severa nos próximos meses", disse Sascha Meinrath, diretor do Open Technology Institute na New America Foundation, um "think tank" de Washington. "Esta noção de soberania em privacidade nacional vai se tornar uma questão mais e mais relevante ao redor do mundo." 

Enquanto o Brasil não está propondo barrar seus cidadãos de serviços de web americanos, deseja que seus dados sejam armazenados localmente, enquanto a nação ganha mais controle sobre o uso de internet dos brasileiros, para os proteger da espionagem da NSA. 

O perigo de ordenar esse tipo de isolamento geográfico, disse Meinrath, é que isso poderia tornar inoperáveis serviços e programas e ameaçar a estrutura aberta e interligada da internet. 


CUSTO POLÍTICO

 
O esforço da maior economia da América Latina para se isolar digitalmente da espionagem dos EUA poderia ser não só custoso e complicado, mas também poderia encorajar governos autoritários a buscar maior controle técnico sobre a internet para esmagar a liberdade de expressão interna, dizem especialistas. 

Em dezembro, países que pregam maior "cibersoberania" pressionaram por tal tipo de controle em um encontro da ITU (União Internacional de Telecomunicações) em Dubai, com a oposição de países liderados por EUA e União Europeia. 

O especialista em segurança digital nos EUA Bruce Schneier disse que, enquanto a resposta do Brasil é uma reação racional à espionagem da NSA, pode potencialmente endossar "alguns dos piores países que existem a buscar mais controle sobre a internet de seus cidadãos. Isso seria a China, o Irã, a Rússia e a Síria."

Ricardo Moraes - 12.nov.07/Associated Press
Pessoas durante o Fórum de Governança da Internet (IGF) de 2007, realizado no Rio; Brasil quer maior "soberania" on-line
Pessoas durante o Fórum de Governança da Internet (IGF) de 2007, realizado no Rio; Brasil quer maior "soberania" on-line

Rousseff diz que pretende pressionar por regras internacionais sobre privacidade de segurança em hardware e software durante a assembleia-geral da ONU no final deste mês. Entre as revelações de Snowden: a NSA criou "janelas" de acesso em software e em serviços on-line. 

O Brasil está agora exercendo pressão mais agressivamente que qualquer outro país para dar fim à hegemonia comercial dos EUA sobre a internet. Mais de 80% da busca on-line, por exemplo, é controlada por companhias americanas. 

A maior parte do tráfego de internet brasileiro passa pelos EUA, então o governo de Rousseff planeja passar cabos de fibra ótica diretamente à Europa, e também ligar todos os países sul-americanos para criar o que seria uma rede livre da espionagem americana. 

Uma maior proteção da integridade de comunicações é esperada com os trabalhos da Telebras, estatal de telecomunicações, junto com parceiros para supervisionar o lançamento do primeiro satélite de comunicações do Brasil, para atividades on-line civis e militares. 

Os militares brasileiros atualmente dependem de um satélite controlado pela Embratel, dirigida pelo bilionário mexicano Carlos Slim. 


PRESSÃO INTERNA

 
Rousseff está tentando fazer com que o Congresso force o Facebook, o Google e demais companhias mantenham os dados gerados por brasileiros em servidores fisicamente localizados no Brasil, a fim de defendê-los da NSA. 

Se isso acontecer e levar outros países a fazerem o mesmo, o Vale do Silício poderia ver seu faturamento prejudicado por negócios perdidos e maiores custos operacionais: os brasileiros compõem a terceira maior nação no Facebook e a segunda maior no Twitter e no YouTube. 

Um estudo de agosto por uma respeitada organização sem fins lucrativos de políticas de internet estimou que os prejuízos às companhias de computação em nuvem americanas devem chegar a US$ 35 bilhões até 2016 por causa de negócios que deixarão de ser realizados. 

O Brasil também pretende construir mais "exchange points", lugares onde são armazenadas vastas quantidades de informação, a fim de canalizar o tráfego brasileiro longe de potencial interceptação. 


@CORREIOS

 
Os Correios também planejam criar um serviço de e-mail criptografado que poderia servir de alternativa aos serviços de Google e Yahoo!, que, segundo os documentos vazados por Snowden, estão entre as gigantes de internet americanas que colaboraram de maneira próxima com a NSA. 

"O Brasil pretende aumentar as conexões de internet independentes com outros países", disse o escritório de Rousseff em resposta a um e-mail da Associated Press. 

A mensagem citava um "entendimento mútuo" entre o Brasil e a União Europeia sobre privacidade de dados, e dizia que "negociações estão acontecendo na América do Sul para a divisão de conexões terrestres entre todas as nações." 

Dizia, também, que o Brasil planeja aumentar os investimentos em tecnologias domésticas e comprar exclusivamente software e hardware que atendam exigências governamentais sobre privacidade de dados. 

Enquanto os detalhes técnicos do plano ainda estão pendentes, especialistas dizem que ele será custoso ao país e que pode ser, no final das contas, desobedecido. Assim como as pessoas na China e no Irã passam por cima dos censores governamentais com ferramentas como proxy, os brasileiros poderiam driblar os controles de seu governo. 

Espiões internacionais, não só dos EUA, também poderão se adaptar, dizem especialistas. Passar um cabo até a Europa não tornará o Brasil mais seguro, segundo eles. A NSA alegadamente grampeou cabos submarinos por décadas.


SOLUÇÃO

 
Meinrath e outros argumentam que o que deve ser feito, na verdade, são fortes leis internacionais que tornem as nações responsáveis por garantir a privacidade on-line. 

"Não há nada viável que o Brasil possa de fato fazer para proteger seus cidadãos sem mudar o que os EUA estão fazendo", disse. 

Matthew Green, um especialista de segurança da computação da Johns Hopkins, disse que o Brasil não se protegerá de intrusos ao se isolar digitalmente. Isso também pode desencorajar inovação tecnológica, segundo ele, se toda a população for levada a usar um serviço de e-mail criptografado mantido pelo Estado. 

"É como um socialismo soviético na computação", disse, adicionando que o americano modelo "livre a todos funciona melhor." 


quarta-feira, 18 de setembro de 2013

FT': adiamento de Dilma pode afetar relações comerciais Brasil-EUA



Dilma Rousseff e Barack Obama | AP

Dilma considerou que o momento não é apropriado a viagem de Estado

Uma reportagem publicada no diário financeiro britânico Financial Times nesta quarta-feira afirma que o adiamento da viagem de Estado da presidente Dilma Rousseff a Washington, marcada para o mês que vem, pode afetar as relações comerciais entre os dois países. 

A decisão de Dilma, anunciada na terça-feira, foi motivada pelas denúncias de que a Agência de Segurança Americana (NSA) teria espionado comunicações da presidente e de empresas brasileiras, como a Petrobras.
"A briga ameaça provocar um retrocesso nos negócios entre os dois países, num momento em que a Embraer está de olho em contratos com departamentos militares americanos e em que a Boeing é uma das candidatas na disputa por um contrato com o maior país latino-americano para obter jatos de caça, afirma o texto, escrito por correspondentes do jornal em São Paulo e em Washington.

Leilão do pré-sal

A reportagem diz que o mal-estar nas relações entre os dois países ocorre semanas antes da realização do leilão da primeira área do pré-sal. E para analistas ouvidos pela reportagem do FT, por causa das alegações de espionagem contra a Petrobras, "o governo brasileiro ficará menos inclinado a conceder campos de exploração a petroleiras americanas". 

"Os riscos para companhias americanas operando em setores sensíveis com obstáculos políticos e até operacionais aumentaram, como é o caso das áreas de defesa, telecomunicações e energia."
O texto ainda avalia que os riscos de uma viagem agora seriam maiores do que os benefícios, diante da possibilidade de que novas denúncias de espionagem contra o governo brasileiro fossem divulgadas enquanto Dilma estivesse em Washington.

Licença para vender


A comercialização de produtos com os símbolos dos Jogos Olímpicos Rio 2016 deve render R$ 1 bilhão

Por Luciele VELLUTO


Camisetas, canetas, garrafas, joias, bichinhos de pelúcia e até carros já integram a lista dos produtos que ostentarão os anéis olímpicos e o símbolo dos Jogos de 2016, no Rio de Janeiro. No total, a expectativa é de que sejam produzidos 100 milhões de unidades de 12 mil produtos diferentes, representando um potencial de vendas de R$ 1 bilhão no varejo. “O montante é próximo do que foi obtido em Londres, em 2012”, afirma Sylmara Multini, diretora da área de licenciamentos do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016. 


 
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De olho no caixa: Sylmara, do COB, espera credenciar 70 empresas até meados de 2014
 
Alguns parceiros já estão definidos, como a têxtil catarinense Malwee, a montadora japonesa Nissan e a chinesa Honav, fabricante de broches. Os demais serão conhecidos até meados de 2014, completando a lista dos 70 fornecedores que terão direito a abastecer as 150 lojas oficiais e os cerca de 40 mil pontos de venda em todo o País. “Queremos estar na maioria dos locais e com produtos de todos os tipos e valores”, diz ela. “Dessa forma, esperamos inibir a pirataria.”
 
Além da ação dos falsificadores, o uso indevido dos símbolos dos Jogos ocupa o topo na lista de preocupações do Comitê, que estabeleceu parcerias com a polícia e órgãos de combate à pirataria. Segundo a gerente de proteção às marcas da organização, Adriana Barbedo, a marca olímpica vale US$ 96,1 bilhões, perdendo apenas para a Apple, avaliada em US$ 142 bilhões. “Vamos coibir o uso de qualquer elemento que remeta aos Jogos, como a tocha e as medalhas, se a empresa não for licenciada”, afirma ela. Entre junho de 2012 e julho deste ano, 270 empresas foram notificadas. E a vigilância só tende a aumentar.
 
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Além do feijão com arroz


A Sodexo já é a maior empresa de alimentação corporativa do Brasil. Agora, ela quer incluir em seu cardápio serviços de manutenção

Por Carlos Eduardo VALIM
O espanhol Juan Pablo Urruticoechea, formado em jornalismo e com doutorado em administração de empresas e filosofia, passou os últimos 18 meses no Brasil estudando um pouco mais. Nesse período, tanto quanto procurar se adaptar aos costumes e hábitos locais, o executivo de 52 anos usou boa parte do tempo para conhecer o ambiente de negócio, em especial o do mercado de restaurantes corporativos. A preparação foi uma prévia para assumir, em março, a posição de CEO da divisão de serviços dentro da francesa Sodexo, que atua em 80 países e no Brasil é líder com receita de R$ 2,7 bilhões. Mas o executivo acredita que pode fazer mais. 
 
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Urruticoechea, o CEO da empresa, busca alvos para aquisições no Brasil
 
Urruticoechea está de olho nos demais departamentos das médias e grandes empresas que atende de norte a sul. Hoje, 90% do faturamento obtido no Brasil vem do feijão com arroz. O restante é obtido com outros serviços, como limpeza e portaria. Uma relação bastante diferente da existente nos demais países onde esses serviços gerais garantem 25% da receita global de E 18 bilhões. Trata-se de um segmento que movimenta R$ 22 bilhões por ano no Brasil e no qual o executivo espanhol vislumbra grandes perspectivas. “Nossa estratégia é clara”, diz Urruticoechea. “Enquanto prevemos crescer 10% no mercado de refeições coletivas, podemos avançar 30% nessas outras áreas.”
 
O setor que entrou no cardápio da Sodexo é extremamente pulverizado, o que abre espaço para que um jogador com a musculatura da companhia francesa mire na aquisição de rivais de menor porte. “Queremos comprar empresas no Brasil, mas ainda não achamos alguma com a estrutura que nos interessa e que estivesse à venda”, afirma Urruticoechea. O foco da multinacional será o chamado “serviço pesado”, que inclui manutenção predial, instalação e administração de sistemas de ar-condicionado e escadas mecânicas, bem como serviços elétricos para fábricas e escritórios. Os demais, chamados de leves ou complementares (limpeza, recepção e jardinagem), vão ser oferecidos apenas para completar o portfólio dos clientes. 
 
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Os serviços de manutenção representam 25% da receita da Sodexo no mundo
 
Isso, por sinal, já vem sendo feito no caso de alguns clientes. Para fechar um contrato de atendimento de 30 plataformas de petróleo, os franceses precisaram agregar também serviços de hotelaria e limpeza. “As grandes empresas querem que as suas prestadoras de serviços de alimentação executem atividades complementares”, afirma Antonio Guimarães, diretor-superintendente da Associação Brasileira das Empresas de Refeições Coletivas. “A competição, além disso, é maior no segmento de refeições, o que faz com que a rentabilidade seja baixa, entre 3% e 5% da receita.” Afora a Sodexo, duas outras grandes empresas disputam o negócio: a GRSA, do grupo inglês Compass, e a paulista Sapore. O mercado de alimentação empresarial está mais bem estruturado. 
 
“A terceirização de refeições começou já nas décadas de 1960 e 1970, nos EUA, e depois na Europa, chegando ao Brasil nos anos 1980”, diz o francês Aymeric Marraud, diretor de planejamento estratégico da Sodexo. Um cenário bem diferente do que acontece na área de manutenção predial. Para adicionar esse prato ao cardápio da companhia, Urruticoechea sabe que terá de trabalhar duro. Até porque, para uma operação que ocupa a segunda posição entre as 80 subsidiárias da Sodexo, a cobrança será sempre maior. “O Brasil é um mercado prioritário para o fundador e principal acionista da empresa, Pierre Bellon”, diz Urruticoechea. “E seu desejo é ver os negócios se perpetuando por aqui.” Com o chefe, não se discute.
 
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Cancelada


 

A um ano de enfrentar as urnas, qualquer presidente brasileiro pensaria duas vezes antes de embarcar para os Estados Unidos em meio a um escândalo de espionagem.
Para Dilma, os benefícios da visita seriam parcos, pois a cesta de produtos negociados até ontem era bem frustrante. 

Os riscos de viajar, no entanto, são vastos. Ela poderia ser humilhada por novas revelações, especialmente a respeito da gestão da Petrobras. E as oposições poderiam usar sua foto com Obama como bazuca. 

Quais os custos de ficar em casa? 

Do ponto de vista prático, muito poucos. O leilão do pré-sal avança. Um pernoite na Casa Branca não reverteria o clima de hesitação entre investidores estrangeiros. 

Há, sem dúvida, custos intangíveis. Afinal, ganham força aqueles que, no governo americano, enxergam o Brasil como "país-problema". 

Idem para quem vê o Brasil como fraco. Até ontem à noite, diplomatas em Londres e Berlim diziam que o cancelamento não é dignidade altiva, mas medo de ir para a briga na hora do aperto.
*
O que seria ir para a briga? Passei os últimos dias perguntando isso a gente no governo, na imprensa e no setor privado norte-americano. 

Em um cenário hipotético, Dilma faria a visita. Ela denunciaria a espionagem nos jardins da Casa Branca e anunciaria um grupo de trabalho bilateral para limitar o estrago e restringir a bisbilhotice futura. 

Ela aproveitaria os holofotes para emplacar a capa de uma revista semanal de alcance global, na qual apresentaria a proposta brasileira de novas regras multilaterais para uma internet livre, a grande briga de foice que vem aí.

Dilma levaria na comitiva Ricardo Ferraço, presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado. Ele faria barulho junto ao principal aliado brasileiro na questão: o possante grupo de senadores norte-americanos que rejeita a violação de privacidade e agora prepara uma ofensiva parlamentar. 

*
Mas o mundo é real, e o cancelamento é plenamente justificado. Restam duas prioridades imediatas. 

A primeira é o discurso da semana que vem na Assembleia Geral da ONU. Precisa ser uma paulada forte, mas apresentada em termos universais. Em anos anteriores, os textos de Dilma na ONU foram inócuos e maçantes. Desta vez, não dá. 

O segundo desafio é impedir que a relação com os Estados Unidos chafurde na lama. Não há clima para grandes gestos neste ano. Mas a hora de preparar o terreno é agora, aproveitando a chapa quente.
*
Funcionário do governo americano me disse que "a bravata brasileira sobre a espionagem é pirotecnia pura". "Espera aí", respondi confuso. "Se vocês acham isso mesmo, estão mal informados." 

Meu interlocutor reclinou-se na poltrona lentamente e abriu o sorriso reservado aos idiotas. 

"Se fosse para valer", explicou com calma, "ministros e diplomatas em Brasília já teriam deixado de tratar de seus negócios oficiais por Gmail e WhatsApp." 



Matias Spektor Matias Spektor ensina relações internacionais na FGV. É autor de "Kissinger e o Brasil". Trabalhou para as Nações Unidas antes de completar seu doutorado na Universidade de Oxford, no Reino Unido. Foi pesquisador visitante no Council on Foreign Relations, em Washington, e em King's College, Londres. Escreve às quartas, a cada duas semanas, em "Mundo".