A Sodexo já é a maior empresa de alimentação corporativa do Brasil. Agora, ela quer incluir em seu cardápio serviços de manutenção
Por Carlos Eduardo VALIM
O espanhol Juan Pablo Urruticoechea, formado em jornalismo e
com doutorado em administração de empresas e filosofia, passou os
últimos 18 meses no Brasil estudando um pouco mais. Nesse período, tanto
quanto procurar se adaptar aos costumes e hábitos locais, o executivo
de 52 anos usou boa parte do tempo para conhecer o ambiente de negócio,
em especial o do mercado de restaurantes corporativos. A preparação foi
uma prévia para assumir, em março, a posição de CEO da divisão de
serviços dentro da francesa Sodexo, que atua em 80 países e no Brasil é
líder com receita de R$ 2,7 bilhões. Mas o executivo acredita que pode
fazer mais.
Urruticoechea, o CEO da empresa, busca alvos para aquisições no Brasil
Urruticoechea está de olho nos demais departamentos das médias e
grandes empresas que atende de norte a sul. Hoje, 90% do faturamento
obtido no Brasil vem do feijão com arroz. O restante é obtido com outros
serviços, como limpeza e portaria. Uma relação bastante diferente da
existente nos demais países onde esses serviços gerais garantem 25% da
receita global de E 18 bilhões. Trata-se de um segmento que movimenta R$
22 bilhões por ano no Brasil e no qual o executivo espanhol vislumbra
grandes perspectivas. “Nossa estratégia é clara”, diz Urruticoechea.
“Enquanto prevemos crescer 10% no mercado de refeições coletivas,
podemos avançar 30% nessas outras áreas.”
O setor que entrou no cardápio da Sodexo é extremamente
pulverizado, o que abre espaço para que um jogador com a musculatura da
companhia francesa mire na aquisição de rivais de menor porte. “Queremos
comprar empresas no Brasil, mas ainda não achamos alguma com a
estrutura que nos interessa e que estivesse à venda”, afirma
Urruticoechea. O foco da multinacional será o chamado “serviço
pesado”, que inclui manutenção predial, instalação e administração de
sistemas de ar-condicionado e escadas mecânicas, bem como serviços
elétricos para fábricas e escritórios. Os demais, chamados de
leves ou complementares (limpeza, recepção e jardinagem), vão ser
oferecidos apenas para completar o portfólio dos clientes.
Os serviços de manutenção representam 25% da receita da Sodexo no mundo
Isso, por sinal, já vem sendo feito no caso de alguns clientes.
Para fechar um contrato de atendimento de 30 plataformas de petróleo, os
franceses precisaram agregar também serviços de hotelaria e limpeza.
“As grandes empresas querem que as suas prestadoras de serviços de
alimentação executem atividades complementares”, afirma Antonio
Guimarães, diretor-superintendente da Associação Brasileira das Empresas
de Refeições Coletivas. “A competição, além disso, é maior no segmento
de refeições, o que faz com que a rentabilidade seja baixa, entre 3% e
5% da receita.” Afora a Sodexo, duas outras grandes empresas disputam o
negócio: a GRSA, do grupo inglês Compass, e a paulista Sapore. O mercado
de alimentação empresarial está mais bem estruturado.
“A terceirização de refeições começou já nas décadas de 1960 e
1970, nos EUA, e depois na Europa, chegando ao Brasil nos anos 1980”,
diz o francês Aymeric Marraud, diretor de planejamento estratégico da
Sodexo. Um cenário bem diferente do que acontece na área de manutenção
predial. Para adicionar esse prato ao cardápio da companhia,
Urruticoechea sabe que terá de trabalhar duro. Até porque, para uma
operação que ocupa a segunda posição entre as 80 subsidiárias da Sodexo,
a cobrança será sempre maior. “O Brasil é um mercado prioritário para o
fundador e principal acionista da empresa, Pierre Bellon”, diz
Urruticoechea. “E seu desejo é ver os negócios se perpetuando por aqui.”
Com o chefe, não se discute.
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