sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Recuo da desigualdade em 2012 foi o mais fraco em oito anos



Por Alessandra Saraiva e Diogo Martins | Valor

RIO  -  (Atualizada às 10h32) O recuo na desigualdade de renda no país registrou, em 2012, o ritmo mais fraco dos últimos oito anos – e permaneceu praticamente estacionado no ano passado. É o que mostram os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2012, divulgada nesta sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O levantamento abrange amostra de 147 mil domicílios no país. 

O instituto apurou que o índice de Gini, que mede o grau de desigualdade existente na distribuição de indivíduos segundo a renda domiciliar per capita - sendo que, quanto mais próximo de zero, menos concentrada é a distribuição dos rendimentos -, praticamente parou de cair, e passou de 0,501 para 0,500 entre 2011 e 2012. Esse foi o menor movimento de desaceleração no indicador, usado como termômetro para apurar a redução de desigualdade no país, desde 2004, quando estava em 0,535. Desde então, caiu para 0,532 em 2005; recuou de 0,528 para 0,521 entre 2006 e 2007; e conseguiu desacelerar de forma mais intensa até mesmo durante a crise global, passando de 0,513 para 0,509 na passagem de 2008 para 2009.


Mais desigual



O quadro desfavorável na redução da desigualdade de renda pode ser percebido em algumas regiões – que chegaram até a apresentar aumento no patamar do indicador, entre 2011 e 2012. É o caso das regiões Nordeste (de 0,511 para 0,513) e Sudeste (de 0,478 para 0,480). No Sul, o indicador permaneceu praticamente parado (de 0,454 para 0,455) no período. Houve, porém, queda nos índices de Gini das regiões Norte (de 0,499 para 0,477) e Centro-Oeste (de 0,521 para 0,513), no mesmo período.

No caso específico da renda originada do trabalho, o ritmo da queda do indicador também enfraqueceu. O índice de Gini nesse segmento diminuiu de 0,501 para 0,498 entre 2011 e 2012. Esse nível de recuo foi equivalente ao observado no período da crise global, quando o indicador caiu de 0,521 para 0,518, de 2008 para 2009; e o mais fraco em seis anos.

O quadro desfavorável índice de Gini para a renda do trabalho em 2012 — ano em que o salário mínimo teve reajuste real de 7,5% —, em relação ao ano anterior, é perceptível na evolução da renda média mensal real de todos os trabalhos das pessoas entre os 10% com renda mais baixa, que subiu 6,4% de 2011 para 2012, para R$ 215.

A diferença entre os extremos na renda do trabalho também permaneceu praticamente inalterada no período, assim como ocorreu no índice de Gini. No ano passado, os 10% de população ocupada no mercado de trabalho com a renda mais elevada concentraram 41,2% do total da renda do trabalho – enquanto os 10% com os ganhos do trabalho mais baixos detiveram 1,4% do total das remunerações daquele ano. Em 2011, esses valores eram praticamente idênticos, respectivamente 41,4% e 1,4%.

No entanto, a renda total do brasileiro mostrou expansão entre 2011 e 2012. O rendimento médio mensal real de todas as fontes de renda dos brasileiros acima de 15 anos ou mais de idade, incluindo renda do trabalho, subiu 5,6% de 2011 para 2012, atingindo R$ 1.437,00 no ano passado. Ao se detalhar a evolução dos ganhos das famílias, o instituto informou que a renda média mensal real dos domicílios permanentes particulares avançou 6,5% em 2012 ante ano anterior, para R$ 2.721,00.  Somente o rendimento originado do trabalho cresceu 5,8% entre 2011 e 2012, atingindo R$ 1.507,00 no ano passado.


Trabalho infantil


O trabalho infantil manteve tendência de queda em 2012. É o que mostram os dados apurados pela Pnad. Segundo o levantamento, no ano passado o Brasil registrava 3,5 milhões de trabalhadores de cinco a 17 anos – 156 mil a menos do apurado em 2011. Isso, na prática, representou um recuo de 2,7% no total dos trabalhadores infantis no Brasil entre 2011 e 2012.

Entretanto, mesmo com a queda, ao considerar os residentes no Brasil em 2012, de 196,9 milhões de pessoas, é possível perceber que os trabalhadores infantis ainda representam 1,7% da população brasileira. As crianças e jovens também abrangiam 3,6% do total da população ocupada no mercado de trabalho em 2012 (94,7 milhões).

Ao detalhar os resultados, o instituto informou que, entre os trabalhadores infantis, 81 mil eram crianças entre cinco e nove anos; e 473 mil eram jovens de dez a 13 anos.

Mas a grande maioria se concentrou entre adolescentes de 14 a 17 anos: três milhões se concentram nessa faixa etária.

O instituto, no entanto, destacou que a diminuição no volume de trabalhadores infantis reduziu o avanço da população ocupada entre cinco e 17 anos no mercado de trabalho. O IBGE detalhou que o nível de ocupação nessa faixa etária foi de 8,3% em 2012, contra 8,6% em 2011. Em 2009, essa parcela era ainda maior, de 9,8%, acrescentou o instituto – o que comprova tendência de queda no trabalho infantil no país.

Mais de um terço (35,6%) dos trabalhadores infantis em 2012 se concentravam na atividade agrícola – sendo que, no caso dos jovens entre 5 e 13 anos, 60,2% dessa faixa etária, especificamente, se encontrava no campo.

A carga horária dos trabalhadores infantis de cinco a 17 anos atingiu em média 27,5 horas por semana em 2012. O rendimento médio mensal dos trabalhadores nessa faixa etária foi de R$ 512, no mesmo ano.  Do total de trabalhadores infantis em 2012, mais da metade (2,2 milhões) eram homens.


Valor de mercado da Petrobras não é justo, diz Foster


Por Marta Nogueira e Rodrigo Polito | Valor
 
Dado Galdieri/Bloomberg


RIO  -  A presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, afirmou há pouco que o valor de mercado da companhia hoje não é “justo”. Segundo ela, ao se observar todos os ativos e investimentos em andamento pela companhia, o valor da ação hoje “não fecha”.

“Tenho certeza que com a produção crescente e esse volume de refino, e com a disciplina que temos, vamos entregar aquilo que analistas e investidores querem ver”, afirmou Graça, em entrevista coletiva, na sede da companhia, no Rio de Janeiro.


Alavancagem


A executiva afirmou ainda que a alavancagem da companhia "está batendo no teto". Entretanto, frisou que a petroleira tem projetos nas mãos para desenvolver a empresa e gerar caixa. A presidente explicou que até o fim deste ano, não há necessidade de captação.

"Temos recursos para chegar ao fim do ano sem necessidade de captação", disse Graça Foster.
Para o próximo ano, a executiva destacou que a principal fonte de recursos será a geração de caixa. Entretanto, ponderou que a petroleira estará atenta a possíveis oportunidades de captação.


Ativos


Foster reiterou que a venda de ativos, prevista no plano de desinvestimentos da companhia para este ano, de US$ 9,9 bilhões, já chegou ao fim. Até o momento, segundo ela, a companhia atingiu cerca de 50% da venda dos ativos programados.

“Aqui no Brasil não tem nada mais [para vender], a não ser que tenha uma boa oportunidade”, disse.
(Marta Nogueira e Rodrigo Polito | Valor)

Governo tem superávit primário de R$ 87 milhões em agosto




Por Leandra Peres e Lucas Marchesini | Valor
 
BRASÍLIA  -  (Atualizada às 16h05) O governo central, que reúne as contas do Tesouro Nacional, Previdência Social e Banco Central, registrou superávit primário – economia para pagamento de juros da dívida pública –de R$ 87 milhões em agosto, ante resultado positivo de R$ 1,607 bilhão no mesmo mês do ano passado. O superávit de agosto de 2013 é o pior para o mês desde o início da série histórica, em 1997.
 
No acumulado do ano, o superávit primário do governo central foi de R$ 38,473 bilhões, equivalente a 1,23% do Produto Interno Bruto (PIB), contra R$ 53,580 bilhões ou 1,86% do PIB em igual período do ano passado.
 
Segundo números do Tesouro Nacional, divulgados nesta quinta-feira, 27, o resultado de agosto é reflexo de um superávit do Tesouro Nacional de R$ 5,797 bilhões, déficit da Previdência Social de R$ 5,733 bilhões e resultado positivo do Banco Central R$ 22,8 milhões.
 
Este foi o pior resultado para o período desde 2010, quando o saldo ficou positivo em R$ 29,681 bilhões.
 
 
Desempenho em queda
 
 
O desempenho das contas do governo central no acumulado de 2013 representa uma queda de 28,2% em relação a igual período de 2012, quando o superávit acumulado foi de R$ 53,6 bilhões.
 
Desde 2011, o indicador fiscal vem apresentando seguidos recuos nos primeiros oito meses na comparação com o ano anterior. O superávit primário registrado de janeiro a agosto de 2011 foi de R$ 69,9 bilhões.
 
O resultado primário do governo central até agora foi puxado pelo primeiro mês do ano. Em janeiro, o superávit foi de R$ 26,2 bilhões. Fevereiro teve déficit nas contas públicas, com saldo negativo de R$ 6,6 bilhões. 
 
Os últimos cinco meses voltaram a registrar superávit: R$ 276 milhões, em março; R$ 7,2 bilhões, em abril; R$ 6 bilhões, em maio; R$ 1,3 bilhões, em junho; R$ 3,7 bilhões em julho e os R$ 87 milhões de agosto, divulgados hoje.
 
 
Meta
 
 
Em 2013, o governo central tem de entregar um superávit de R$ 108 bilhões. A meta fixada para setor público consolidado é de R$ 155,9 bilhões.
 
O governo já informou, no entanto, que contará com o abatimento de até R$ 45 bilhões de investimentos referentes ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e desonerações, entregando superávit equivalente a 2,3% do PIB.
 
 
Investimentos
 
 
Os investimentos totais do governo federal somaram R$ 42,1 bilhões no ano até agosto de 2013. A cifra é 0,8% menor do que os R$ 42,5 bilhões apurados no mesmo período do ano passado. Os valores incluem os dispêndios com o programa Minha Casa Minha Vida.
 
Só no programa habitacional, os desembolsos entre janeiro e agosto foram de R$ 10,1 bilhões — resultado R$ 623,3 milhões inferior ao de igual período de 2012.
 
Olhando apenas as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), até agosto, os desembolsos foram de R$ 29 bilhões no ano, contra R$ 27,3 bilhões registrados nos oito primeiros meses de 2012. Um avanço de 6,2%.
 
Na comparação de janeiro a julho de 2013 com os mesmos meses de 2012 é verificada uma alta de 0,1% no investimento.
 
 
Augustin
 
 
O secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, acredita que a queda do investimento verificada em agosto vai se recuperar a partir de setembro. “Há uma tendência de recuperar o investimento. Mantemos previsão de que vai avançar bastante nos próximos meses”, avaliou Augustin.
 
Ainda, de acordo com o secretário, esse número negativo apurado em agosto foi influenciado por “sazonalidades”, como a greve dos servidores do Departamento Nacional de Infraestrutura de Trânsito (DNIT).
 
Questionado, o secretário disse que espera que, ao fim do ano, o crescimento do investimento seja semelhante ao apurado nos gastos de custeio.
 
(Leandra Peres e Lucas Marchesini | Valor)

Credit Suisse vai fechar contas de clientes em 50 países

Banco estipulou quantia mínima de 800 mil euros para mantê-lás

Por AFP

O Credit Suisse, o número dois do setor bancário na Suíça, vai fechar as contas de clientes em 50 países, informou nesta terça-feira o jornal Tages-Anzeiger.
Os clientes que em suas contas não tiverem uma quantia mínima - o limite normalmente é de um milhão de francos suíços (800.000 euros) - terão de fechá-las, já que o Credit Suisse deixará de trabalhar com esses países, informou jornal suíço.
 
A iniciativa afetará em particular países africanos como Congo ou Angola, mas também estão na lista Turcomenistão, Uzbequistão e Belarus.
 
"Em outros países, o Credit Suisse quer concentrar-se nos ricos e super-ricos, como Dinamarca e Israel", afirmou o Tages-Anzeiger.
 
Contactado pela AFP, o banco recordou que estas medidas fazem parte das linhas anunciadas por ocasião da publicação de seus resultados do segundo trimestre, no final de julho.
 

Os donos da bola


Empresas campeãs, como Ambev, Bradesco, Burger King, Danone, Netshoes, Pepsico, Seara, Sky, TIM e Unilever, criam um programa de benefícios que pode colocar R$ 1 bilhão por ano no futebol brasileiro - e ainda salvar seu time

Por Ralphe MANZONI Jr.
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Assista à entrevista com o editor Ralphe Manzoni Jr.

Era uma tarde ensolarada de domingo no fim de julho, em Belo Horizonte. O estádio do Mineirão, recém-reformado para os jogos da Copa do Mundo, contava com um público de 36 mil espectadores para assistir ao clássico regional Cruzeiro versus Atlético, pela 9ª rodada do Campeonato Brasileiro. Antes da partida, de forma surpreendente, um carro-forte “invade” o gramado com os dizeres “Patrimônio do Sócio do Futebol” e estaciona atrás de um dos gols. Quando sua porta é aberta, o meia-atacante Júlio Baptista, a nova contratação do time azul e branco, aparece saudando os torcedores. 
 
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Ex-jogador da Seleção Brasileira e do Málaga, da Espanha, o atleta de 31 anos volta ao Brasil na condição de estrela e com um salário estimado em mais de R$ 500 mil mensais. A compra de seus direitos, no entanto, só foi possível graças ao programa sócio-torcedor do Cruzeiro, cujo número de associados multiplicou-se por cinco desde janeiro deste ano. Hoje, são 35 mil fanáticos da Raposa, como é conhecido o time celeste, que participam do programa, gerando uma receita anual de quase R$ 28 milhões, inferior apenas à cota da televisão e superior ao dinheiro gerado pela transferência de atletas, patrocínios e publicidade, em 2012. “O sócio-torcedor é a redenção do clube”, afirma Gilvan de Pinho Tavares, presidente do Cruzeiro. 
 
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“É uma receita fixa, ao contrário da incerteza da renda de bilheteria.” Assim como o Cruzeiro, outros clubes brasileiros começam a percorrer um caminho no qual os gaúchos Internacional e Grêmio estão bastante avançados: transformar o torcedor em uma fonte estável e crescente de recursos, reduzindo a dependência das cotas de tevê e dos patrocínios. Nesse percurso, eles estão contando com a ajuda de dez craques dos negócios. Uma seleção de executivos de empresas como Ambev, Bradesco, Burger King, Danone, Netshoes, Pepsico, Seara, Sky, TIM e Unilever entrou em campo com um programa de benefícios, batizado de “Movimento por um futebol melhor”, que concede descontos em diversos produtos e serviços para quem é sócio-torcedor. 
 
A ambição desse time de elite não é pequena. “A Seleção Brasileira já é a mais vitoriosa do mundo”, diz João Castro Neves, presidente da Ambev, companhia que liderou a criação desse programa. “Acreditamos que podemos investir aqui, ajudando os clubes a se tornarem mais fortes e competitivos, para termos o melhor campeonato do mundo.” O esquema tático bolado pelos “professores” das empresas é de uma simplicidade surpreendente. Ao se associar a um programa de sócio-torcedor de seu time, o torcedor adquire centenas de produtos e serviços com descontos em diversas redes de supermercados, mediante apenas a apresentação do número de seu CPF. 
 
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A lógica foi promover o que todos os executivos chamam de uma relação ganha-ganha-ganha. O clube aumenta o número de sócios-torcedores e, por consequência, cria uma nova fonte de receita capaz de manter seus craques no Brasil – ou repatriar os que estão lá fora, como foi o caso de Júlio Baptista. O torcedor, por sua vez, ajuda seu clube de coração e pode receber de volta o dinheiro pago nas mensalidades, na casa dos R$ 30, em compra de produtos. E, por fim, as empresas associam suas imagens a um contingente de milhões de consumidores, que podem se transformar em clientes fiéis – o sonho de todas elas. 
 
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“Antes comprava Coca-Cola, agora bebo Pepsi, que faz parte da promoção”, afirma o mineiro Gustavo Bueno, estudante de direito e torcedor do Cruzeiro, que tem conseguido uma média mensal de R$ 120 em descontos – ele paga R$ 150, por mês, no programa Sócio do Futebol. “Variava a cerveja que tomava antes do jogo, mas agora é só Brahma.” O programa tem metas ambiciosas. O plano é chegar a um milhão de sócios-torcedores até o fim deste ano. Em 2015, o objetivo é contar com três milhões de adesões, o que pode resultar numa receita adicional de R$ 1 bilhão aos cofres dos principais times brasileiros. 
 
“A tendência é de que os programas de sócios se tornem a segunda fonte de receita dos clubes, atrás apenas da cota de tevê”, diz Fernando Ferreira, diretor da Pluri Consultoria, especializada em futebol. Os primeiros resultados são animadores. Em janeiro deste ano, quando o programa foi lançado, havia 160 mil sócios-torcedores. Hoje, são quase 600 mil, o que já rendeu uma receita adicional de R$ 80 milhões, segundo estimativas. É um dinheiro que já está beneficiando os clubes. O Flamengo, do Rio de Janeiro, por exemplo, saiu do zero para 37 mil sócios-torcedores – a meta é ter 50 mil até o fim deste ano. 
 
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“Todo o dinheiro vai ser usado no futebol”, afirma Eduardo Bandeira de Mello, presidente do Flamengo. Segundo ele, a contratação do atacante Marcelo Moreno pelo clube da Gávea foi bancada por recursos desse programa. O Cruzeiro saltou de sete mil sócios-torcedores para 35 mil. O zagueiro Dedé, que veio do Vasco carioca, foi apresentado à torcida no supermercado Super Nosso, uma das redes regionais nas quais os torcedores podem fazer compras com desconto. O Palmeiras, que tinha nove mil sócios, hoje conta com quase 33 mil. “É uma fonte nova e muito substancial de recursos no médio prazo”, afirma Paulo Nobre, presidente do time paulista.
 
MENOS CARTOLAS, MAIS EXECUTIVOS O Brasil é o país do futebol. O esporte bretão é uma paixão nacional. A Seleção Brasileira é a única pentacampeã mundial. Dos nossos gramados nascem craques a granel, que são exportados para todos os cantos do mundo – Neymar, o mais recente deles, deixou o Santos pelo Barcelona. No entanto, esses predicados não impedem a maioria dos clubes brasileiros de viver em uma situação de penúria, quase falimentar, na maior parte das vezes. Suas dívidas cresceram 358% em dez anos, chegando a R$ 5,5 bilhões em 2012, de acordo com estimativa do consultor de marketing e gestão esportiva Amir Somoggi. 
 
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Para complicar, a média de público no Campeonato Brasileiro foi de apenas 13 mil torcedores por partida, em 2012, um terço da média da liga alemã. Pior: os campeonatos nacionais dos Estados Unidos, da China, do Japão e das segundas divisões da Inglaterra e Alemanha levam mais torcedores aos estádios do que o Brasileirão. “Temos de melhorar a organização das competições e o ambiente de negócios”, afirma Somoggi. A boa notícia é que, mesmo com essas dificuldades, há sinais de que esse quadro pode ser revertido. No ano passado, os 24 maiores clubes brasileiros tiveram um superávit de R$ 20,1 milhões – 11 deles chegaram mesmo a fechar no azul. 
 
Parece pouco, mas é um alento quando se sabe que essas agremiações reverteram um déficit de R$ 387,5 milhões de 2011, segundo pesquisa da consultoria BDO. Em cinco anos, é a primeira vez que dão lucro, graças à contabilização das receitas dos novos estádios do Palmeiras e do Atlético/PR – sem elas, teriam um prejuízo de R$ 160,9 milhões, bem menos que a metade do registrado no ano anterior. Por isso mesmo, a inauguração das novas arenas para a Copa do Mundo é outro elemento que ajuda a vislumbrar um cenário mais positivo no horizonte de curto prazo. Confortáveis e com serviços de primeira linha, elas vão atrair mais torcedores para os estádios – e ajudar a trazer mais receitas aos cofres dos clubes. 
 
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“Todos os torcedores deveriam ser tratados como clientes VIP”, diz Gerardo Molina, CEO da consultoria Euroamericas Sport Marketing. Nada disso adiantaria se o futebol brasileiro não estivesse passando por uma fase de profissionalização de seus dirigentes. Saem de cena os cartolas folclóricos, ou simplesmente mal-intencionados, que usam o prestígio do cargo para promoção e enriquecimento pessoal. Em seus lugares, os novos presidentes trazem para dentro dos vestiários a experiência do mundo corporativo (leia quadro “Choque de gestão”). Nobre, presidente do Palmeiras, é investidor do mercado financeiro. Mello, do Flamengo, é um ex-executivo do BNDES e conta com o apoio de uma equipe de empresários na sua administração. 
 
Entre eles, o executivo Luiz Eduardo Baptista, presidente da operadora de tevê por assinatura Sky. No Santos, o hoje licenciado presidente Luis Álvaro de Oliveira Ribeiro criou um comitê gestor, recheado de pesos-pesados do mercado financeiro e da indústria. Esse quadro mais animador está por trás da iniciativa do “Movimento por um futebol melhor”. Há dois anos, a Ambev começou a pesquisar formas de deixar um legado para a Copa do Mundo, que fosse além do patrocínio tradicional. Como é de praxe na cervejaria brasileira, executivos da companhia saíram mundo afora em busca de modelos de sucesso, em especial as experiências dos clubes espanhóis, italianos e britânicos, os mais ricos do planeta bola. 
 
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Presente valioso: Júlio Baptista sai de dentro de um carro-forte e é apresentado
como atleta do Cruzeiro. O salário será pago pelos torcedores 
 
“O que chamava a atenção era que uma fatia considerável dos times contava com programas de sócios”, diz Marcel Marcondes, diretor da Ambev.”Com a cota de tevê e o dinheiro do programa, eles se garantiam e não precisavam vender jogadores.” Mas foi em Portugal que os homens da cervejaria encontraram o exemplo perfeito para adaptar ao futebol brasileiro: o Benfica. O time lisboeta criou um programa de benefícios que o ajudou a ter a maior quantidade de sócios-torcedores do mundo (saiba mais sobre como funciona esse programa ao final da reportagem em "O que o Benfica pode ensinar aos clubes brasileiros"). De volta ao Brasil, os executivos da Ambev encomendaram uma pesquisa para entender por que os brasileiros não se associavam a um programa de sócio-torcedor. 
 
Afinal, diversos times já contavam com a iniciativa, mas poucos deles atingiram o sucesso do Internacional e do Grêmio, de Porto Alegre. A primeira constatação foi óbvia: os torcedores não confiavam em quem iria gerir seu dinheiro. O segundo ponto mostrou que os clubes não ofereciam vantagens aos torcedores para atraí-los, abrindo uma avenida para que se aplicasse aqui o modelo do Benfica. Como a nova safra de dirigentes que começava a comandar os principais times do País era mais profissional, estava armado o cenário para a Ambev avançar com sua estratégia. O passo seguinte foi bater na porta de grandes empresas. 
 
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O objetivo era contar com a maior rede de parceiros de qualidade possível. “Ter uma operação de consumo no Brasil e não se conectar ao futebol não parece lógico”, afirma Vasco Luce, presidente da divisão de bebidas da Pepsico, uma das primeiras a aderir ao projeto. Em janeiro, com a presença do craque Ronaldo Fenômeno, Ambev, Bradesco, Burger King, Danone, Netshoes, Pepsico, Seara, Sky e Unilever (a TIM aderiu mais tarde) colocaram em campo seu esquema tático para levar o futebol brasileiro a um novo patamar. “O futebol ainda não é bem explorado no Brasil”, diz Domingos Abreu, vice-presidente do Bradesco. “O torcedor vibra, mas não contribui muito para o sucesso de seu clube.”
 
CONEXÃO EMOCIONAL “O futebol não é uma questão de vida ou morte. É muito mais do que isso.” A frase atribuída ao jogador e treinador de futebol escocês Bill Shankly exprime à perfeição a paixão que move o esporte mais popular do mundo. Afinal, o nobre esporte bretão é a coisa mais importante entre as coisas mais desimportantes, diz o dito popular. Às vésperas da Copa do Mundo no Brasil, estabelecer uma conexão emocional com milhões de torcedores é a oportunidade de construir relações duradouras. Não custa lembrar que o campeonato de seleções nacionais dura apenas um mês. O amor dos torcedores pelos seus clubes é praticamente eterno. 
 
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“Se o Fluminense jogasse no céu, eu morreria para vê-lo jogar”, escreveu o jornalista e dramaturgo Nelson Rodrigues, tricolor de quatro-costados. A maioria das empresas que aderiu ao “Movimento por um futebol melhor” já mantinha uma relação com o futebol. Boa parte delas patrocina alguns times. Outra fornece materiais esportivos. Algumas compram cotas de televisão. Nenhuma, no entanto, estava tão próxima do torcedor quanto agora. “Do ponto de vista de negócios, é importante estar associado a algo com apego emocional para os brasileiros”, afirma o argentino Fernando Fernandez, presidente da Unilever. “O futebol é um veículo vital de comunicação de nossas marcas.” 
 
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Rodrigo Abreu, presidente da TIM, que estampa seu logo em diversas camisas, concorda. “É uma maneira de apoiar não só o clube”, diz. “Mas o ambiente de futebol de maneira mais integrada.” Apesar de ajudarem os clubes de futebol, as companhias não estão apoiando o “Movimento por um futebol melhor” apenas por benemerência. “Temos o sentido comercial”, afirma Mariano Lozano, presidente da Danone. “Somos uma empresa e não uma ONG.” Todas elas, de alguma forma, já apresentam resultados (leia os quadros ao lado das fotos dos presidentes das empresas). 
 
A Netshoes, maior site de venda online de artigos esportivos do País, por exemplo, observou que o tíquete médio das vendas para os sócios-torcedores é 7% maior. “O futebol mais organizado gera uma onda positiva sobre outros esportes”, diz Márcio Kumruian, presidente da Netshoes. “E isso gera um aumento de vendas de outras categorias esportivas.” Como diria Neném Prancha, um roupeiro, massagista e técnico que ganhou o apelido de O Filósofo do Futebol do jornalista Armando Nogueira. “Futebol é muito simples: quem tem a bola ataca, quem não tem defende.” As empresas foram para o ataque. O gol delas está ajudando o seu time.
 
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Choque de gestão
 
“Os dirigentes têm uma vaidade muito grande em ganhar títulos e destruir as contas.” A frase é de Paulo Nobre, presidente do Palmeiras, que herdou um time endividado e rebaixado para a segunda divisão do futebol brasileiro. Nobre, no entanto, faz parte de uma nova geração de dirigentes que está descobrindo o óbvio: uma gestão profissional não só ajuda a equilibrar as contas como também a ganhar títulos. Por essa razão, práticas do mundo corporativo começam a fazer parte do dia a dia dos clubes. 
 
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No Palmeiras, Nobre resolveu estabelecer uma nova forma de pagar o “bicho”, prêmio extra que os atletas recebem quando a equipe vence. Seguindo uma norma do mercado financeiro, de onde vem o dirigente, os atletas agora recebem uma quantia pequena por partida. Caso a equipe atinja as metas estabelecidas, o prêmio é maior, uma espécie de bônus, como acontece em grandes empresas. “Eles entenderam a lógica”, afirma Nobre. No Flamengo, comandado por Eduardo Bandeira de Mello, ex-executivo do BNDES, a regra é austeridade fiscal total. A ordem foi cortar os custos em 40% e fazer caixa para pagar as dívidas estimadas em mais de R$ 750 milhões. “Entregamos o primeiro escalão do Flamengo à administração profissional”, diz Mello.
 
 
 
O que o benfica pode ensinar aos clubes brasileiros
 
Qual o time com a maior quantidade de sócios do mundo: Barcelona, Manchester United ou Bayer de Munique? Nenhum deles. A honraria cabe ao português Benfica, que conta com 231 mil sócios-torcedores, num país com uma população muito menor do que a da Espanha, Inglaterra ou Alemanha. A forma como o clube lisboeta conseguiu essa façanha pode ensinar muito às agremiações brasileiras. Em 2004, seus diretores fizeram uma pesquisa e descobriram que havia poucas razões para ser sócio do clube. De forma resumida, os interessados tinham uma forte relação emocional com o time, votavam na escolha do presidente e ganhavam descontos nas compras do ingresso. “Entendemos que era muito pouco”, afirma Miguel Bento, diretor-comercial e de marketing do Benfica.
 
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Para atrair aqueles que não são fanáticos, o clube definiu uma estratégia de parcerias. A lógica era simples: criar uma rede de empresas que dão benefícios para quem é sócio do Benfica. Além disso, o clube criou um kit sócio distribuído em mais de mil pontos de vendas, incluindo supermercados. “O que fizemos foi tornar estupidamente fácil ser sócio do Benfica”, diz Bento. Em apenas seis meses, o número de sócios saltou de 94 mil para 156 mil. O segredo do clube lisboeta foi construir uma rede eclética de parceiros, que inclui desde postos de gasolina e lanchonetes a restaurantes simples da capital portuguesa. Até uma agência funerária, a ServiLusa, oferece descontos para os sócios. 
 
A rede de postos de gasolina Repsol é a mais utilizada. Mensalmente, 70 mil sócios abastecem seus carros nela. Desse universo, 56 mil são clientes fiéis, de acordo com Bento. “A mensagem que passamos é que os novos sócios poderiam pagar sua cota com os descontos”, afirma Bento. Tão importante quanto a rede de parceiros foi criar um sistema de débito automático. “Se o Benfica não ganha, há muitas razões para o torcedor não pagar suas mensalidades”, diz Bento. E, ultimamente, o clube vermelho e branco não está em sua melhor fase. No século XXI, venceu apenas duas vezes o campeonato português. Anualmente, os sócios-torcedores acrescentam o equivalente a R$ 42 milhões aos cofres do Benfica. “É a nossa Liga dos Campeões”, diz Bento, referindo-se ao principal torneio europeu de clubes, vencido pelo Benfica em duas ocasiões, na década de 1960.
 

Augustin: Brasil fará emissão soberana até o fim do ano

Por Adriana Fernandes e Renata Veríssimo


O secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, afirma categoricamente que haverá uma emissão externa soberana até o fim do ano. No fim da entrevista à imprensa sobre contas públicas nesta sexta-feira, 27, ele foi questionado sobre a possibilidade e respondeu em tom forte: "Vai ter". Em seguida, deixou a sala sem dar detalhes da operação. 
 
Augustin avaliou como "neutro" o resultado primário de agosto, que alcançou um superávit de apenas R$ 87 milhões - o pior para o mês na série histórica. "Está em linha com o nosso esforço de cumprir a meta. Lógico que não é um resultado ótimo." 

Ele se comprometeu a trabalhar para o governo divulgar uma previsão de arrecadação com os parcelamentos tributários incluídos na Medida Provisória (MP) 615. A MP foi aprovada este mês pelo Congresso e o governo conta com esses recursos para reforçar o caixa. "Não tenho expectativa neste momento; não vou fazer a estimativa", afirmou, acrescentando que caberia à Receita Federal informar.

Confrontado com a informação de que o secretário-adjunto da Receita, Luiz Fernando Nunes, não quis dar a informação em entrevista coletiva da arrecadação, na última segunda-feira, 23, Augustin se comprometeu a conversar internamente no Ministério da Fazenda para ter a estimativa.

O secretário designou o subsecretário do Tesouro, Cléber Oliveira, para informar quando os recursos do primeiro pagamento do Refis entrarão no caixa, se em novembro ou dezembro. A informação também não foi transmitida na segunda-feira pela Receita Federal.

O secretário do Tesouro defendeu a negociação dos Refis pelo governo. "Há uma avaliação nova que esses Refis permitirão que uma conjunto de contenciosos judiciais seja resolvido administrativamente."

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Cachaça de café está entre os 11 produtos que vão representar o Brasil no Exterior


Serão investidos R$ 5,6 milhões para promover produtos com características nacionais

Por Luiz Gustavo PACETE

A Enivrance, agência francesa de design de alimentos e bebidas, no Brasil desde 2010, vai lançar nesta quinta-feira (26), em parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), o projeto “Seleção Brasileira de Alimentos”. A ideia, segundo o CEO da agência, Edouard Malbois, é levar 11 produtos, entre eles açaí, cachaça, pão de queijo e vinho para serem expostos em feiras na Europa, Ásia e Estados Unidos. 

Com a assinatura dos chef´s David Hertz e Katia Barbosa, a “turnê” vai até julho de 2014. Participam do projeto as empresas Baggio Café, Bauducco, Globalbev, JBS, Maricota, Seara, Servida Alimentos, Vinícola Aurora e outras. O valor total do projeto é de R$ 5,6 milhões, investimento conjunto da Enivrance e da Apex-Brasil que inclui o desenvolvimento da linha de produtos, projetos de comunicação, eventos e a turnê mundial. 
 
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Um dos produtos desenvolvidos, a rosquinha de Romeu e Julieta
 
Malbois explica que o principal objetivo do projeto é aumentar as exportações da indústria alimentícia nacional em mercados potenciais como Ásia, Europa e Américas. “Percorreremos o mundo em feiras do setor alimentício, em encontros com a imprensa e em eventos com empresários. O próximo passo será a fabricação desses produtos, sendo que alguns já estão nesse processo.”
 
Entre os principais produtos estão misturas de tradicionalismo e inovação como é o caso do café torrado com cachaça ou dos cubos de carne suína cobertos por sementes e frutas secas. O grupo também é composto por suco de açaí, pão de queijo com goiabada e macaron de carne seca. 
 
Futebol na mesa
 
O número 11 é uma homenagem à Seleção Brasileira de Futebol e para entrarem no projeto as empresas tinham como principal critério serem representativas em seus segmentos. “Cada empresa investiu um valor determinado para desenvolver o conceito dos produtos. Ao todo foram propostos seis conceitos de produtos nos quais a empresa é a detentora dos direitos comerciais”. 
 
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Cachaça de café
 
O aprimoramento na utilização dos produtos fica por conta dos chef´s David Hertz e Katia Barbosa que viajarão junto com a seleção de alimentos. “Eles foram escolhidos para comporem o time junto com as outras empresas porque têm um trabalho reconhecido de comprometimento com a comida brasileira e sua identidade”, explica Malbois.
 
A Enivrance foi criada em 2002 e sempre atuou no Brasil abrindo seu escritório em São Paulo no ano de 2010. A agência desenvolveu por aqui projetos juntamente com as empresas PepsiCo, McDonald’s e Cargill.